Ano 7 - n°1218
Januária
EDUCAR OS FILHOS A PARTIR DA SABEDORIA DOS PAIS E DA TERRA BARRA DO TAMBORIL é uma comunidade rural que fica a 100 km de Januária, lugar onde se chega por estrada de chão, que ainda não existe antena de celular, a água consumida é captada do Rio Pardo, sem tratamento, mas que ainda sim existe uma das melhores experiências escolares do município. Fátima Ferreira Costa de Melo e Daniel Rodrigues Uchôa, professores da Escola Estadual Maria Rosa Nunes, que foi fundada em 1986, nos ajuda a contar um pouco do diferencial desta escola, fruto desta comunidade muito unida e organizada. Uma Escola que abriu suas portas à comunidade se tornando um espaço da troca de conhecimento entre professores, pais e alunos, o primeiro motivo desta partilha foi a preocupação com a água. A escola começou apenas com as séries iniciais, onde tinha o objetivo de ser Alunos da E. E Maria Rosa Nunes alfabetizadora da comunidade. Num segundo momento a escola se estendeu ate o 8ª série, começando então naquela época a preocupação da escola e de toda a comunidade com os rios da região, como contam os professores Fátima e Daniel. Contam que a fonte principal que abastece a comunidade é o Rio Pardo, que não fica sem água na época da seca e tem o uso pelas famílias, principalmente para banhos, beber, cozinhar, plantar, além de recreação até para visitantes na comunidade, tendo como problema principal a preocupação com a possibilidade de o rio secar, visto que seus afluentes já estão neste processo. Além disso, é um rio que fica distante para muitas famílias e há pouca qualidade das águas, pois o rio é barrento em período chuvoso e, segundo análises da COPASA, é impróprio para consumo humano por apresentar altas taxas de coliformes totais. Neste contexto, surge uma Escola diferente que organiza atividades junto à Associação Comunitária, Igreja, Cáritas, instituições públicas e todos aqueles que estejam preocupados com a preservação do rio. Aulas decampo ocorrem ao leito dos rios afluentes do Rio Pardo, que estão secos, debatendo o porquê daquele fenômeno. Aulas de redação, Biologia, Ciências, Educação Ambiental, Geografia, todas as disciplinas se envolvem voltadas para a conscientização dos alunos.
Com o início do Ensino Médio na Escola, em 2005, aumentou a parceria para desenvolver projetos na linha de sustentabilidade e convivência com o semiárido.Professores regentes de turmas de anos iniciais e de aulas de Geografia, Educação Ambiental, Horticultura, Biologia e Ciências sempre trabalhavam estas temáticas com os alunos através de formas diversas como Festivais, gincanas, visita a casa de sementes, excursão para o rio Catulé, rio Pandeiros, Horto Florestal, Grutas do Brejo do Amparo, as belezas naturais da região. A Escola sabe que não há como resgatar o rio e desenvolver a comunidade se não abrir as portas para que todos juntos compartilhem do conhecimento. Assim a escola está sempre aberta às ações da comunidade, nos explica Fátima. Com esforços e parcerias, ali se constroem projetos como Minas em destaque e Festas juninas. Parceria com instituições como a própria Associação com a Casa de Sementes Crioulas, a Cáritas Diocesana de Januária, Instituto Estadual de Floresta, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e a UFMG na promoção de debates, cursos e oficinas. A UFMG campi Montes Claros trouxe oficinas de práticas de conservação do solo, artesanato com cabacinhas, educação ambiental, minhocário doméstico, hortaliças nativas e não convencionais, técnicas de conservação do doce e arte de reciclagem. Todos estes projetos visam valorizar e melhorar a vida dos agricultores e agricultoras no semiárido e conscientizar da importância da preservação para garantir a água. Todas as atividades na escola sçao realizadas com inscrições abertas para toda comunidade e não apenas aos estudantes da escola. Neste ano um dos projetos da Escola é um grande festival de comemoração. Querem apresentar aos pais, mães e à toda comunidade do Tamboril o trabalho dos alunos sobre convivência com o semiárido, culminando com a entrega da cisterna na escola construída pela Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais em 2013. Tecnologia que captará a água da chuva garantindo Professora Fátima mostra registro das atividades realizadas na escola. água de qualidade para todos na escola. Para eles é uma conquista merecida que reflete as ações já desenvolvidas pela comunidade para preservar e viver bem no semiárido mineiro. Com uma educação que se baseia no conhecimento dos pais e dos alunos, mostrando a importância dele na formação da comunidade e valorizando as práticas que ajudam na preservação das águas, recurso que é muito caro à sobrevivência da agricultura familiar, a Escola Estadual Maria Rosa Nunes se destaca tendo como fruto o aumento do número de alunos que se formam e voltam à comunidade com sonhos de uma boa vida no campo.
CÁRITAS BRASILERIA REGIONAL MINAS GERAIS