Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 6 | nº 933 | Dezembro | 2012 São Julião - Piauí
Do aluno ao professor A história dos pedreiros Zequinha e Francinaldo No alto dos morros da comunidade Porcos, município de São Julião, situada a 78km de Picos, uma dupla de pedreiros trabalham dando forma à cisterna-calçadão: um reservatório com capacidade para armazenar 52 mil litros de água da chuva, construído pela UGT/Picos da Cáritas Brasileira Regional Piauí, entidade membro da ASA Brasil para ajudar na convivência com o semiárido. Desde 2000, a cor branca das cisternas compõe a paisagem da semiárido piauiense. Mas no grupo que construía a cisterna havia duas pessoas especiais: Francinaldo Leal de Carvalho e José Cícero Carvalho Filho, os amigos Zequinha e Francinaldo. Os dois possuem várias coisas em comum: ambos são de Padre Marcos, município da região Pico e; têm 36 anos; são casados e cada Pedreiros no processo de construção da cisterna-calçadão um tem um casal de filhos adolescentes. O mais importante que eles têm comum, porém, além de grande amizade, é a satisfação em poder trabalhar para ajudar as pessoas do semiárido. Francinaldo era líder comunitário da Chapada do Jiló, em Padre Marcos, em 2002. Nesse ano, a Cáritas Diocesana de Picos recebeu recursos para realizar ações naquela região, e ele fez um projeto pedindo a construção de cisternas para a sua comunidade. Na época, foram construídas 33 cisternas, mas ainda era um processo em que as próprias famílias se responsabilizariam pelas construções. Segundo ele, o Governo Federal ainda não participava desses projetos em parceria com a Cáritas/ASA. Só em 2004 ele recebeu a primeira capacitação para construir a cisterna de 16 mil litros implantada pelo P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas).
Francinaldo e Zequinha: experiência na construção de cisternas
Zequinha mora no povoado Canto Alegre. O pedreiro viveu a experiência de sair da sua terra e buscar outras oportunidades fora, porque estava estava sem trabalho e a seca já maltratava. Ele trabalhou como ajudante de maquinário numa fazenda no Mato Grosso, onde morou de 2002 a 2004. Após três meses lá, ele também levou a família. Porém, a esperança de ter uma vida
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melhor ficou ainda mais distante, pois trabalhava muito e não tinha garantia alguma de estabilidade. Por isso ele decidiu voltar para o Piauí, trabalhando como ajudante de pedreiro. Então, em 2007 recebeu a capacitação para construção das cisternas do P1MC. O encontro dos dois aconteceu em 2009, quando receberam a capacitação para trabalharem com a cisterna-calçadão pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). De lá para cá, já construíram para mais de 100 cisternas e passaram pelos municípios de Pio IX, Fronteiras, Caridade do Piauí, Massapê do Piauí, Simões, Marcolândia, Padre Marcos, e os mais recentes, que são Alegrete, São Julião, Preparação das placas de cimento que serão colocadas na cisterna Jaicós e Vila Nova. Construíram, inclusive, uma cisterna numa escola em Teresina, e outra no município de Oeiras. Ambas voltadas para produção de hortas para manter a merenda escolar. Zequinha e Francinaldo hoje capacitam pedreiros para trabalharem com a cisterna-calçadão, e Zequinha capacita também para a produção da cisterna de enxurrada. A história dos pedreiros não para por aí. Pela dedicação e competência, os dois amigos foram convidados para capacitar outros pedreiros. O primeiro curso foi realizado em 2011 na comunidade Serra dos Cláudios, no município de Simões. Eles contam que ficaram muito felizes com a confiança que a Cáritas depositou neles, pois têm acompanhado o desenvolvimento das famílias após a construção das tecnologias. Zequinha até cita o exemplo de seu Severino, que mora em Simões. Segundo o agricultor, conta Zequinha, ele tem atraído muitas pessoas que buscam por alimentos mais saudáveis, que são livres de agrotóxicos. Por essa razão, seu Severino tem produzido bastante. Além de contar sobre as famílias beneficiadas, eles falam do próprio crescimento depois de trabalhar com a Cáritas/ASA. Zequinha é criador de pequenos animais e toda renda que ele consegue na construção das cisternas ele investe na sua criação. Francinaldo investe na educação dos filhos. Com o lucro do seu trabalho, ele pode pagar aulas de reforço particular para a filha caçula.
Cisterna-calçadão - São Julião (PI)
A construção das cisternas é um processo que aproxima as pessoas em torno do trabalho em comunidade
Os dois amigos contam também que o maior benefício desse trabalho é a construção de relações de amizade e companheirismo. São 07 dias em mutirão na casa de cada família beneficiada. Se construídas mais de uma cisterna numa mesma comunidade, o tempo de permanência deles em cada município é longo e todos se tornam grandes amigos. São como se fossem da nossa família, disse Francinaldo.
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