Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 6 | nº 984 | Novembro | 2012 Jucás - Ceará
A Força da Mulher na Agroecologia A mulher sempre encarou a vida de maneira muito diferente do homem. A mulher não briga com a vida. Ela é mais acolhedora, mais conciliadora, mas nem por isso menos batalhadora. É desta maneira que dona Delcina Batista e suas filhas, juntamente com mais nove famílias, cuidam de um belíssimo projeto de horticultura e agrofloresta na comunidade Minador, situada no município de jucás – CE a 30 km da sede. Durante este período de estiagem os homens da comunidade quase sempre se encontram ausentes de suas casas realizando tarefas mais pesadas e em atividades extras até mesmo fora da comunidade para complementar a renda das famílias, ficando as mulheres com a importante As mulheres da comunidade cuidando da horta. tarefa de realizar os afazeres domésticos e cuidar do projeto da horta orgânica e da agrofloresta que já demonstram uma transformação visível na vida das pessoas daquela comunidade. Mas segundo Irene, filha de dona Delcina Batista e seu Antonio Francelino, nem sempre a paisagem da comunidade Minador esbanjou este verde diversificado nos períodos de estiagem. Ela conta que eles sempre praticaram a agricultura da forma repassada pelos mais velhos: brocavam e queimavam a terra, aguardando a chuva e quando ela chegava, eles faziam o plantio com a utilização de agrotóxicos para eliminar as pragas e o mato que crescia ao redor da plantação, acreditando que desta maneira eles teriam uma colheita mais forte e abundante. Mas o tempo foi passando e a terra foi dando seus primeiros sinais de cansaço fazendo com que aquelas famílias necessitassem com urgência de uma nova alternativa para enfrentar e conviver com as estiagens prolongadas do nosso sertão.
A horta produz uma diversidade grande de legumes e verduras
Foi então que em dezembro de 2006, a comunidade recebeu a primeira visita dos agentes da Cáritas Diocesana de Iguatu, que chegaram com a proposta de uma agricultura diferente que contestava completamente com os princípios da cultura daquele povo. A proposta apresentada em questão foi à inicialização do projeto de agrofloresta, que consta em um modelo de produção agrícola adaptada à região, tendo o cuidado em manter a vegetação nativa, combinando-a com plantas frutíferas de cultivos temporários e de ciclo anual. O processo de plantio
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inicia com o roço e no local, deixa-se tudo que foi roçado e podado das árvores no próprio solo, para que se transformem em adubo natural mantendo a terra mais protegida do calor intenso do semiárido. E assim eles iniciaram essa nova forma de produção agrícola com o plantio do feijão de porco e da palma, foi iniciada também a horta orgânica com o plantio das primeiras mudas de hortaliças e leguminosas. Mas com esse novo jeito de plantar também foram aparecendo as primeiras dificuldades como: levar água até a horta e até a agrofloresta para manter viva as plantas mais sensíveis; conseguir envolver todos os membros das famílias no projeto; a invasão dos animais devido as cercas frágeis; a falta de sementes de As bananeiras revelam os resultados da agrofloresta. qualidade e de mudas para dar continuidade ao programa. Mas mesmo diante de todas essas dificuldades eles conseguiram se manter unidos e aos poucos contornar essa situação. Irene lembra que com a união e participação de todos, conseguiram comprar um motor para fazer chegar à água do cacimbão até a área da agrofloresta e com o apoio da Cáritas Regional do Ceará conseguiram as mudas das fruteiras e a tela para cercar a área da agrofloresta impedindo a entrada dos animais. Foi criada também uma casa de sementes e tudo isso somado foi dando a visão aos moradores daquela comunidade, que unidos eles poderiam superar todas as dificuldades que iriam surgindo e com isso ainda praticavam uma agricultura que respeita o meio ambiente e potencializa a produção, trazendo além do próprio sustento uma renda extra com o excedente que é produzido, pois o que ultrapassa a quantidade necessária para o consumo eles comercializam nas comunidades vizinhas. Hoje todos exaltam com alegria o fato de não mais ser preciso se deslocar até a cidade para comprar frutas e verduras. A comunidade já produz banana, mamão, caju, maracujá, coco, cebola, alface, coentro, batata, macaxeira, entre outros. Alem disso também estão experimentando outras atividades como à criação de caprinos e galinhas e ressaltou que até mesmo a alimentação desses animais já estão sendo produzidas na própria comunidade com as pastagens nativas e outras culturas como palma e leucena. Varias capacitações e intercâmbios foram e continuam sendo realizados através do Instituto Elo amigo para garantir a continuidade desse programa de sustentabilidade no semiárido, que hoje ganha espaço e proporções positivas nas comunidades menos propícias. A criação de caprinos cresce forte na comunidade
Apoio:
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