A luta por território do povo Xakriabá

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 6 | nº 923 | mês | 2012 São João das Missões- Januária

A luta por território do povo xakriabá Os povos indígenas xakriábas são a maior população remanescente do Estado de Minas Gerais, são 34 aldeias onde vivem mais de 10 mil índios no município de São João das Missões, a 106 quilômetros de Januária. A área foi demarcada em 1979 com 46.414 hectares, deixando de fora a área de Rancharia e reduzindo para menos de um terço a área original da reserva. Morro Vermelho é uma aldeia que esta fora da reserva indígena dos xakriabá e luta por ser integrada. O território é fundamental para que este povo possam garantir a subsistência e a vida espiritual. Celebração sagrada. Para conseguir a demarcação do território o cacique Santo começou investigando a historia da parente xakriabá Dona Carmelita. Em 2003 o cacique Santo conseguiu reunir provas como fotos , a história de famílias dos xakriabás que ali viveram, resgatando o local onde eles enterravam seus ancestrais, localizando no Morro Vermelho a Lapa onde fica as pinturas e peças de cerâmicas onde os antepassados faziam as danças, os rituais e onde fica o toar de onde se tira a tinta para pintar, mostrando que a data da existência daquele povo naquele território é verdadeiramente muito anterior a dos fazendeiros. Dona Carmelita a mais antiga moradora da aldeia conta que nasceu em outra aldeia e com um ano de idade sua família foi para Catito, onde hoje chamam de Morro Vermelho, levados por um índio veio chamado Sartoni que morava lá próximo em um lugar chamado por eles de Boqueirão. Ela teve doze irmãos, cresceu, casou e todos que iam casando foram morando em volta da casa do pai. Cacique Santo.

Minas Gerais


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Xakriabá Carmelita conta que quando ela já estava em seu quarto filho apareceu um senhor com nome de Agenor pedindo ao pai de Carmelita um pedaço de terra para plantar mandioca, ele dizia ser xacriabá, mas ninguém sabe de qual aldeia. Ela conta que no primeiro ano ele plantou mandioca e depois foi desmatando, trazendo mais gente para morar, colocando cerca, a cerca foi crescendo, ele foi botando pasto e carvoaria. Em 1970 outros fazendeiros além de Agenor roubam a terra indígena com o incentivo da Rural Minas que deu titulou os fazendeiros Manisfestação na Justiça Federal pelo reconhecimento ignorando a existência dos indígenas. Admê do direito ao território tradicional xakriabá liderança da aldeia conta que a RURALMINAS veio e legalizou a terra para qualquer pessoa de fora. Alguns fazendeiros conseguiram comprar terra dos índios porem através do medo. Os índios que resistiam eram amedrontados com a quebra da cerca onde o gado dos brancos comiam as hortas e até roupas estendidas no varal. E pior, parentes xakriabá começaram a desaparecer. Com medo as famílias xakriabá foram abandonando a terra. Com as provas reunidas por Cacique Santo, a FUNAI criou um grupo para tomar conhecimento de quantos índios ainda estavam fora da reserva. O antropólogo Marcos Paulo apresentou o documento comprovando a necessidade de aumentar a reserva. Depois de 4 anos deste relatório a FUNAI nada fez e então no dia 2 de maio de 2006 os povos xakriabá se organizaram e retomaram o território. A primeira liminar foi de reintegração de posse para os fazendeiros. A FUNAI montou uma equipe técnica de identificação da área indígena e a segunda liminar deu direito de posse aos indígenas, dando a posse provisória de três fazendas Boqueirão, Catito e São Bento, o processo da ampliação da reserva esta quase no fim, mas mesmo assim os índios ainda são ameaçados pelos fazendeiros. A ofensiva dos fazendeiros não acabou, Admê a liderança da aldeia Morro Vermelho conta que enquanto andava de moto pela comunidade em julho do ano passado levou uma pedrada que rachou o capacete. Cacique Santos fala que as ameaças de morte a ele são muitas e que no inicio do ano de 2012 foi cercado por dois carros no caminho da cidade para a aldeia e foi se embreando no mato com a moto e apenas sobreviveu porque apareceu uma carroça em uma das estradas entre ele e os carros que o perseguiam e conseguiu fugir. Apesar das ameaças a vida os xakriabá continuam lutando, Cacique Santo explica que se você não defende a terra você não tem nada da vida, não tem saúde ou alimento que vem das plantas, águas e animais e perde a ligação com os antepassados e a natureza. A terra oferece tudo para nós índios, é a nossa casa e nossa força espiritual. Apoio:

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