Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 6 | nº 922 | mês | 2012 Januária - Minas Gerais
Sementes da Gente Em uma região do cerrado fica a Comunidade de Barra do Tamboril. A comunidade que reconheceu e vem preservando sua biodiversidade cada vez mais, está localizada as margens do rio Tamboril e rio Pardo, a 100 quilômetros de Januária. Em meados de 2000 houve na região um período de pouca chuva por 4 anos consecutivos o que levou a falta de condições e parada da produção de arroz e feijão e a diminuição de outras culturas. Com isso veio à preocupação de como retornar as plantações um dia se as sementes fossem extintas pelo desuso. A partir daí um pequeno grupo de agricultores Produção de sementes da gente, livre de agrotoxico. juntamente com a Cáritas Diocesana de Januária, começou a trabalhar a preocupação com as sementes através de reuniões e encontros a partir do qual trouxeram em 2005 a Casa de Sementes de Barra do Tamboril. A casa de sementes que hoje conta com mais de 30 variedades possui uma comissão gestora com presidente, vice, tesoureiro e dois fiscais. A responsabilidade pela entrada e saída das sementes fica por parte do tesoureiro. Lá os agricultores diferenciam as sementes dos grãos. Para eles as sementes são aquelas selecionadas pelos guardiões, livres de venenos e que não houve cruzamento com outras variedades. Já os grãos são aqueles que sobram após ter sido feita à seleção das sementes e aquelas que foram emprestadas para os agricultores que não estão envolvidos com o grupo e a seleção. A preocupação do grupo com o empréstimo das sementes surge por causa das variedades transgênicas. As sementes crioulas podem cruzar com essas sementes transgênicas perdendo a Local de armazenamento das sementes. fertilidade e a produção da semente pura. Jaime
Minas Gerais
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conta que as sementes crioulas são sempre férteis, o que garanti a autonomia do agricultor que as estoca tanto para alimentar quanto para plantar, não tendo que gastar dinheiro comprando na cidade. O grupo complementa ainda que a intenção deles é tecer uma rede de sementes, que as pessoas plantem e continuem a caminhada para que as sementes nunca fiquem extintas. Mesmo com a falta de água, de terras suficiente para uma produção maior e não conseguindo acessar nenhum tipo de projeto, o grupo permanece unido em busca de soluções. Eles Grupo da casa de sementes e ao pés exposição de contam que nunca conseguiram acessar o suas variedades. PRONAF, PNAE ou PAA por causa da burocracia. Já tentaram comprar coletivamente uma terra maior, porém sem êxito. Jaime conta que eles têm muitas variedades, porém não tem quantidade porque as terras são pequenas e que o sonho deles é ter um espaço para trabalhar juntos, não querem trabalhar individualmente. Segundo Jaime, hoje o povo tem consciência que as sementes híbridas e transgênicas oferecidas pelo governo eram carregadas de veneno o que faziam com que fosse necessário o uso de mais veneno para que elas crescessem e desenvolvessem. No final se alimentavam deste veneno e o que era pior tinha de comprar para o plantio, pois além de envenenadas elas não são reprodutivas, se tornando dependentes do mercado de semente e de agrotóxico inviabilizando a vida no campo. Muitos ainda acham mais fácil bater veneno ao invés de ter que capinar a plantação. Dona Santana diz “o veneno poupa tempo de trabalho, mas até o esterco da vaca que come aquele capim contaminado não serve nem de adubo, imagina se a carne da vaca vai servir para gente comer”. Outro desafio é o resgate e a permanência da agricultura familiar tradicional junto aos jovens e estimular o interesse deles por uma agricultura que abasteça a mesa do povo brasileiro, com uma alimentação saudável. Para isso a Casa de Sementes fez uma parceria com a Escola Estadual Maria Rosa Nunes. Leonardo Diretor da escola conta que existe no currículo escolar o trabalho com a educação ambiental trazendo a reflexão e conscientização sobre o meio ambiente. O grupo conta que hoje estão mais unidos, tem autonomia, não precisa mais comprar para plantar. Estão orgulhosos de poder emprestar as sementes para os vizinhos e conscientizar sobre o quanto é sadio trabalhar com as sementes crioulas, ajudando a comunidade a viver mais e melhor. A missão da casa de semente da Barra do Tamboril é preservar a biodiversidade, usar semente tradicional, utilizar de praticas de cultivo livre de agrotóxico com a intenção de garantir a saúde da terra, da água, dos animais e dos seres humanos. Apoio:
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