Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 6 | nº 907 | Outubro | 2012 Ipupiara - Bahia
Judite e a esperança na fruticultura familiar ma das vertentes produtivas mais fortes na Bahia e que ainda carece e de incentivo entre os agricultores familiares é o cultivo de frutas. Em algumas regiões Semiáridas do Estado onde, antes, se acreditava ser impossível plantar árvores frutíferas em maior escala, com investimento em irrigação e qualificação dos processos produtivos, o plantio de frutas se fortalece e coloca produtores, herdeiros de uma terra pouco aproveitada até então, dentre os principais produtores desse gênero alimentício no país. A agricultora Judite Ribeiro, da comunidade de Bela Sombra, no Município de Ipupiara aposta no cultivo de frutas orgânicas e acredita que essa será uma alternativa para a segurança alimentar, nutricional e econômica de sua família. Na sua labuta diária, Dona Judite é a prova de que a fruticultura pode ser mantida dentro dos padrões da agricultura das famílias do semiárido. Basta, para isso, que se tenha um mínimo de planejamento, oportunidade e persistência. Foto: Henrique Oliveira | Arquivo CAA
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Terra produtiva Há cinco anos, ter uma pequena produção de frutas na Comunidade de Bela Sombra, para Dona Judite, parecia impossível. As poucas terras que a agricultora possuía não tinham acesso á nenhuma fonte de água para produção e o pouco que a família cultivava dependia da água de um a pequena cacimba que atendia a toda a comunidade. Dona Judite conta que, nessa época, era preciso andar quilômetros para conseguir um pouco de água e manter uma pequena horta e duas mangueiras. Eram tempos difíceis. Principalmente na época das secas quando a chuva rareava e as Foto: Henrique Oliveira | Arquivo CAA plantações e pequenas criações padeciam sem ter o que beber. Porém, uma esperança brotava na cabeça de dona Judite: ela já tinha ouvido falar das chamadas cisternas de produção e, mesmo
Bahia
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Bahia Foto: Henrique Oliveira | Arquivo CAA
sem entender como funcionava a tecnologia, esperava que a melhoria chegasse para a sua família. Um ano depois, através do trabalho do Centro de Assessoria do Assuruá (CAA) e da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) a tão esperada cisterna foi construída na roça de Dona Judite e, já na primeira chuva, ela se viu com a água que precisava para cultivar suas frutas e criar seus rebanhos. A agricultora com a ajuda do marido, João Sodré e dos filhos, cultivou com afinco a terra deixada como herança de família em Ipupiara. E, com uma rotina que começa já nas primeiras horas da manhã, João Sodré, marido de D. judite, durante a lida no pomar da famíliar tendo em punho um pequeno regador, a família de Dona Judite conseguiu manter produtivo, mesmo na seca, um pequeno pomar, onde se planta, colhe e até comercializa nas feiras de produtos orgânicos do município, frutas como caju, manga, maracujá, banana, dentre outros. O forte da produção, segundo a agricultora, são os quase 50 cajueiros mantidos com água estocada na cisterna desde a última chuva (ocorrida no início de 2012). Cada planta do pomar é cuidada com muito carinho e sem qualquer tipo de agrotóxico ou insumo químico – uma formula que vem virando exemplo para toda a comunidade do povoado onde vive a família de Dona Judite. Antes da cisterna de enxurrada recebida pela família de D. Judite a terra onde hoje está o pomar da família, estava esquecida e completamente improdutiva. “A gente recebeu a cisterna e trabalhamos duro. Porque, se não trabalhar para cultivar a cisterna não resolve nada”, afirma a agricultora, orgulhosa. Primeiros de muitos passos Já não é novidade que a agricultura familiar coloca a maior parte dos alimentos nas mesas dos brasileiros. Segundo o pesquisador Alberto Duque Portugal, a agricultura familiar constituída por pequenos e médios produtores representa a imensa maioria de produtores rurais no Brasil. Segundo ele, no país existem em torno de 4,5 milhões de Unidade Produtivas Familiares, dos quais 50% estão localizadas no Nordeste. A produção das pequenas propriedades no nosso país detêm, nada mais, nada menos, que 20% das terras e responde por 30% da produção global do que consumimos, sendo que, no caso de produtos básicos da dieta do brasileiro como o feijão, arroz, milho, hortaliças, mandioca e pequenos animais a produção familiar chega a ser responsável por 60% do que se come... Nesse cenário, a fruticultura familiar ainda não ocupa um espaço relevante. Mas, iniciativas como a de Dona Judite, aos poucos pode ir mudando a história. Afinal, está comprovado que as terras do Semiárido baiano são mais do que apropriadas para o cultivo de frutas frescas. E, sem dúvida, a aptidão produtiva de Dona judite e de outros agricultores familiares que apostaram na fruticultura como opção de cultivo e incremento da renda familiar é o primeiro de muitos passos rumos à intensificação desse potencial produtivo orgânico na bahia. Da mesma forma que as cisternas de produção foram vistas com certa desconfiança por parte de muitos, a fruticultura familiar terá muito o que provar no próximo ano. Afinal, num cenário em que ainda domina o agronegócio, sempre é maior os desafios para os pequenos produtores. Nada que, com trabalho e oportunidade, não possa ser ultrapassado.
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Programa Cisternas