Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 6 | nº 926 | Outubro | 2012 Calçados - Pernambuco
Inteligência e Força no Agreste Pernambucano No município de Calçados, agreste de Pernambuco, a agricultura é uma característica muito forte do caráter produtivo e conseqüentemente econômico da cidade. É um município de solo bastante arenoso, propício aos plantios de grãos e hortaliças. Tanto, que durante três dias do mês de setembro, os moradores fazem a festa da lavoura, que tem como atrativo principal, mostrar o que produzido na agricultura familiar. Localizado na região semiárida, as chuvas esporádicas dificultam um planejamento do melhor período para começar o plantio e por isso os produtores têm que estar mais atentos aos sinais da natureza, para não terem prejuízo com perca ou redução da produção. Calçado é um lugar de povo hospitaleiro e nesse contexto encontramos mais uma dessas Senhor Manoel pessoas no sitio Melancia. O senhor Manoel Joaquim dos Santos natural de Jurema, Pernambuco, casado com a senhora Maria de Lourdes Gomes dos Santos, natural de Calçados, chegou nessa localidade ainda criança aos nove anos. O seu pai adoentado veio a falecer e ele ainda era muito pequeno quando junto a sua mãe, veio cuidar dos irmãos mais novos tornando-se arrimo de família. Resolveram trabalhar de dia à noite para não entrar em caminhos errados. Procuravam trabalhar em madrugadas de lua no plantio da mandioca e feijão. Em 1968 casou-se, mesmo assim, trabalhava para o sustento de sua mãe e irmãos. Mas logo seus irmãos foram para o sudeste então ele ficou com duas irmãs para trabalhar a terra e cuidar da família. Dessa maneira nunca passou fome. Sempre teve a consciência de que deveria trabalhar com suas posses evitando assim estar na mão de bancos e financiadores da iniciativa privada. Tendo em vista a necessidade de aumentar a produção, trabalhava da maneira mais rustica, já que não possuía máquinas para lhe auxiliar nas atividades. Dentre as alternativas encontradas para a convivência com o semiárido, está à busca por água na localidade, a seca é um fator climático natural, onde devem haver alternativas para Barreiro feito por elel capitação desse recurso. Sendo assim, muito
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antes de existir o programa P1MC, ele com as forças dos seus braços, cavou três poços (amazonas) na tentativa de encontrar água, mais sem sucesso. Depois cavou um barreiro onde aguardava a chuva vir para poder utilizar a água da melhor maneira possível, demonstrando assim a coragem de um povo que não desiste. O barreiro é útil, mas com algumas restrições de uso, tendo em vista o acesso de animais e os componentes resultantes de resíduos dos agrotóxicos, que estão presentes na água, impossibilitando-a para o consumo humano. Então, a chegada da cisterna do P1MC, (Programa Um Milhão de Cisternas) possibilitou isso, já que, o método de capitação da água é do telhado e dona Lourdes não quer que nem os caminhões pipas a abasteçam, pois desconfia Banco de sementes particular dos cuidados que estão tendo com a qualidade da água no momento da retirada da fonte e as condições do transporte. Antes da cisterna, o jeito era beber a água do barreiro, já conhecendo os riscos, mas quando ele secava tinha que ir buscar a 6 km de distância de sua residência em uma fonte de outra comunidade rural. Dessa maneira, havia a necessidade para disposição para o trabalho e a inteligência, procurou meios para ter sua renda, utilizando as melhores alternativas, já que não possuía a água disponível que desejava e várias pessoas dependiam daquele plantio para seu sustento. Uma dessas praticas é um banco de sementes crioulas particular, que seu Manoel possui para que dessa maneira ele tenha uma alimentação saudável e ainda, assegure as sementes para plantar no período consecutivo e nas entressafras. Já faz essa prática há 17 anos, e assim não existem gastos com a aquisição de sementes, adequando à necessidade de produzir e se alimentar, com a economia de recurso financeiro. Vale ressaltar que além de sustentável, essa alternativa é cultural e ainda aproxima as pessoas do bom convívio quando essas sementes são repassadas de um pra outro. Nem sempre foi assim. Antes de começar a fazer seu banco de sementes crioulas, utilizava veneno para manter as sementes da próxima safra e isso o incomodava, pois fora o gasto, o cheiro era forte, evidenciando assim um potencial tóxico do produto. Segundo seu Manoel, ainda nos dias de hoje se faz a utilização de agrotóxicos, e ele tem consciência que essa prática causa danos que ultrapassa o meio rural, pois o excedente é comercializado nas feiras e o produtor que nem sempre se protege no momento da aplicação, inala substancias, ou seja, há prejuízos ambientais e saúde humana. Com a água para consumo já disponível pelo P1MC, agora ele está sendo beneficiado com o P1+2, ( Programa Uma Terra e Duas Águas) com uma cisterna calçadão. Seu Manoel já faz planos para aumentar a produção, melhorando assim a alimentação da família. Seu Manoel hoje com 73 anos, se diz orgulhoso de ser nordestino, gosta de trabalhar. Apesar da idade ele não esmorece e faz o que tem que ser feito no braço, em afazeres que são necessários para manutenção do seu sítio. Por estar firme em seus ideais de trabalhar na terra com qualidade de vida, pelos métodos de capitação de água que ele, com sua coragem e força iniciou, as sementes crioulas que procura há anos armazenar, sua consciência ecológica e sua visão comunitária, seu Manoel é um exemplo da convivência com o semiárido. Apoio:
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Programa Cisternas