Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 6 | nº X | Outubro | 2012 Serra Talhada - PE
Feira Agroecológica de Serra Talhada Espaço que constrói economia solidária
No ano 2000, um grupo de agricultores e agricultoras familiares agroecológicos sentindo a necessidade de expor e comercializar seus produtos implanta a Feira Agroecológica de Serra Talhada (Fast), a primeira do Sertão pernambucano. Esse espaço de comercialização surgiu com o apoio e acompanhamento de um conjunto de organizações, como o Centro de Educação Comunitária Rural (Cecor), Centro Sabiá e Associação de Desenvolvimento Rural Sustentável da Serra da Baixa Verde (Adessu) e movimento sindical dos trabalhadores rurais. Aos poucos, os agricultores e agricultoras foram se juntando e somando esforços para estruturar a Feira. Atualmente, a Feira funciona na Praça Sérgio Magalhães, no Centro de Serra Talhada, Consumo consciente de alimentos com qualidade todos os sábado a partir das 06h. Passou a ser um espaço não só para a comercialização de produtos agroecológicos, mas também para ser um ambiente de trocas de saberes e experiências entre consumidores e agricultores. Com o passar do tempo, a Feira foi se reestruturando. Através do apoio das organizações parceiras, as famílias conseguiram bancas padronizadas e uniformes. Criaram regimento interno com coordenadora, secretária e tesoureira. Implantaram um Fundo de Reserva para custear as despesas e eventos da Fast, proveniente da contribuição de uma taxa paga semanalmente. O sucesso e a união do grupo se devem à organização, gestão e discussão política. A renda média por mês, de cada família, ultrapassa um salário mínimo. Hoje, 22 famílias de comunidades rurais dos municípios de Serra Talhada, Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo comercializam no espaço. Produzem alimentos de qualidade com diversificação e sem o uso de agrotóxicos, como frutas, hortaliças, legumes, grãos, polpas de frutas, produtos de origem animal (ovo e galinha da capoeira, peixe, bode e derivados de leite) e caldo da cana de açúcar. Uma orientação para participar da Fast é que a família seja assessorada por uma das organizações parceiras ou sócia de uma associação comunitária rural. Os agricultores e agricultoras adotam a estocagem de água através das cisternas, tanto para o consumo como para a produção, como estratégia de convivência com o Semiárido fortalecendo as práticas agroecológicas, principalmente no período de escassez de chuva. Uma característica marcante da Feira Agroecológica é o envolvimento da família em todas as etapas do processo de produção, com destaque para a participação das mulheres em todas as atividades. Inclusive, elas são a maioria na Fast, sendo pioneiras na implantação dos sistemas agroecológicos, com o papel desafiador de articular a família nessa proposta.
Pernambuco
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Maria Silvolúsia Mendes, da comunidade Queteimporta, município de Triunfo, comercializa há oito anos da Feira Agroecológica. Ela saiu da agricultura tradicional, onde produzia com agrotóxicos, para o sistema agroecológico. “Mudou tudo na minha vida. Conheci novas tecnologias, novas pessoas, novas amizades e aprendi muito. Aumentei a minha produção com mais diversidade e qualidade”, fala orgulhosa. O que antes era monocultura se transformou num espaço de riqueza de alimentos com a produção de banana, macaxeira, abóbora, tomate, quiabo, vagem, laranja, mamão e graviola. Há 12 anos, a Fast se tornou um ambiente onde os laços de amizades Agricultora Silvolúsia interagindo com os consumidores são construídos e fortalecidos e a economia solidária é colocada em prática, com preço justo sem a presença de atravessadores e valorização da agricultura familiar agroecológica. É um importante espaço de confraternização, encontro com os amigos, entretenimento e troca de saberes, que vai desde uma informação sobre um remédio caseiro, receitas de bolos e chás até às notícias da política local. Os agricultores e agricultoras atendem aos consumidores de forma diferenciada, numa relação direta proporcionando uma nova vivência de mercado, priorizando a segurança e a soberania alimentar das famílias. No intuito de aproximar produtor e consumidor, frequentemente acontecem momentos de formação e de visita às experiências nas áreas produtivas das famílias. A ideia é mostrar na prática como funciona a agricultura familiar agroecológica, desde o plantio na comunidade até o produto chegar na banca. A empresária Eliane Gomes frequenta a Feira desde a fundação. Para ela, é quase que um ritual sagrado ir todos os sábados pela manhã comprar produtos de qualidade e conversar com os agricultores e agricultoras. “Além de está adquirindo uma alimentação de qualidade, estou incentivando o trabalho da agricultura familiar agroecológica, promovendo geração de renda e sustentabilidade para as famílias e me 'alimentando' da sabedoria do homem e da mulher do campo”, reconheceu Eliane. CONTROLE SOCIAL – A Fast foi reconhecida pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como Organização de Controle Social (OCS), que oficializa a venda direta entre o produtor e o consumidor final, sem a presença de atravessadores. Esse processo faz parte de uma conquista para a agricultura familiar. A comercialização de produtos agroecológicos permite uma relação de confiança entre produtores e consumidores, na qual são estabelecidos preços mais justos e os agricultores e agricultoras desempenham um importante papel de garantir alimentos de qualidade, contribuindo ainda para melhorar as condições de saúde das pessoas e preservar a natureza. (Texto: Daniel Ferreira, Kelle Souza e Rivaneide Almeida) Apoio:
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Apostando no Semiárido