Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 6 | nº 935 | Setembro| 2012 São Raimundo Nonato - PI
Oásis no sertão: A água como fonte de vida A terra e a água são fontes de vida. Esse foi o pensamento que norteou toda a vida da agricultora Matilde Costa Cavalcante Santos. Com 63 anos, na tranquilidade da casa em que vive em Bonfim do Piauí ao lado de um filho, ela olha para trás e sente orgulho dos rumos que sua vida tomou. Mãe de cinco filhos, viúva e incansável na arte da lavoura, dona Matilde é exemplo de dedicação e persistência. Junto com o marido, com quem trabalhou arduamente durante toda a vida, lutou para sobreviver e manter a família com a maior dignidade possível em meio às secas que teimam em castigar o semiárido nordestino. Há mais de 15 anos, ela percebeu que a família precisava de uma renda complementar para sobreviver com tranquilidade. Morando próximo “A terra dá de tudo”, lembra a agricultora Matilde Santos a uma fonte de água – uma barragem no povoado Pedra Vermelha, em Bonfim do Piauí – a dona de casa plantou os primeiros canteiros de coentro, pimentão e cebolinha na esperança de melhorar a qualidade e o sabor dos alimentos que levava à panela. A inspiração para o primeiro passo veio da visita à casa de uma irmã que mantinha belos canteiros e vendia todo o excedente em feiras da região.
Sem medo de arriscar Os canteiros de dona Matilde deram certo. Com pouco tempo de trabalho as plantas vingaram. O esposo, que desde o início ajudou na construção da pequena horta, começou a se interessar ainda mais pelo cultivo de hortaliças. As verduras eram garbosas e com a dedicação e cuidados a elas dedicados, logo o espaço para produção se tornou pequeno. Veio a necessidade de encontrar um destino para aquilo que não tinha condições de ser consumido pela família e também o desejo de produzir mais, embora a água fosse uma grande dificuldade àquela época. Canteiros são atração para quem visita a cidade
“Eu vi que tinha saída, então comecei a vender a minha produção em feiras de São Raimundo
Piauí
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Nonato, depois Anísio de Abreu e Campo Alegre”, revela. O dinheiro que conseguia era todo destinado aos cuidados com a casa e com os filhos: “eu gastava tudo com os filhos: alimentação, roupas, calçados e tudo o que faltasse em casa. A [produção] roça só dava para comer”, acrescenta dona Matilde. A solução encontrada para dar um destino a tudo o que a família não consumia foi vender toda a produção excedente em feiras de municípios vizinhos. A atitude deu tão certo que em pouco tempo a família de dona Matilde se viu obrigada a mudar de lar: precisavam de uma fonte de água maior e permanente para manter o plantio das hortaliças. O dinheiro que entrava já representava uma parte importante do orçamento apertado e precisava se tornar uma fonte permanente para os membros da família.
Produção é livre de agrotóxico: aqui veneno não tem vez
O homem do semiárido persegue os mesmos caminhos que a água. O pai de dona Matilde tratou logo de comprar um pedaço de chão às margens do açude que cerca o município de Bonfim do Piauí. O terreno foi loteado entre os filhos, que usavam as áreas de vazantes para produzir hortaliças, legumes e verduras. O segundo lar de dona Matilde foi uma casa alugada às margens desse açude, um oasis no coração da região. Os cômodos não eram grandes, mas suficiente para quem carregava consigo uma necessidade maior que a de espaço físico. E o melhor de tudo é que a nova casa ficava a poucos metros da terra que seu pai lhe destinou: uma área com cerca de 2 hectares. Os canteiros logo começaram a ser construídos. A água do açude era usada para regar todas as manhãs, uma tarefa que os filhos ajudavam a realizar cotidianamente. Apesar da tentativa de manter as andorinhas no ninho, três dos quatro filhos de dona Matilde saírem mundo a fora em busca de uma vida melhor. Fugindo das longas secas, eles partiram para as regiões Sul e Sudeste e hoje vivem no Paraná, Tocantins e São Paulo, respectivamente. Dois deles vivem em Bonfim do Piauí, um tomou para si a tarefa de cuidar da mãe e divide a morada com dona Matilde. Mas a missão da mãe estava cumprida. Ao lado do esposo, garantiu uma criação de qualidade para os filhos e uma vida cercada de trabalho e realizações.
Produção abastece mercado de cidades vizinhas Apoio:
MARCA UGT CÁRITAS DIOCESANA DE SÃO RAIMUNDO NONATO
Programa Cisternas