Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 5 | nº 166 | setembro | 2011 Caém- Bahia
Beneficiamento do licuri une mulheres do sertão O licuri é um coquinho que cresce dentro de uma casca amadeirada de formato oval, coberta com uma grossa camada de fibra da cor verde e marrom nas extremidades, mede em média 2 cm de diâmetro e é nativo do Semiárido. O fruto é produzido pelo licurizeiro, que alcança até 10 metros de altura e pode produzir em média oito cachos de licuri ao ano. O sabor marcante da amêndoa pode ser apreciado cru ou cozido, na produção do doce ou na extração do óleo e do leite, para o tempero de comidas. Por muito tempo a árvore era desmatada pelos proprietários das terras onde brotava por não considerarem o potencial do fruto do licurizeiro. Assim como ainda tem regiões em que este fruto se perde ou é subutilizado. Mas, em outras, a atividade da quebra do licuri é fundamental para garantir uma parte da renda familiar a partir da comercialização da amêndoa e da produção da ração para os animais, embora em muitos locais o preço ainda é desvalorizado. Outro subproduto é o artesanato produzido a partir da palha da planta. Na comunidade de Inácio João, no município de Caém, Bahia, a 330 km de Salvador, cinco famílias descobriram, há mais de um ano, o potencial gastronômico e outras finalidades do fruto. Janete Rodrigues (40) e seu marido Aparecido Calegari (50), Marieta dos Santos (68), Rita Cerqueira (56), Sirleide Fernandes (25), Marinez Barreto (47) são as seis pessoas que tiveram esta iniciativa e narram pra gente a história delas com o trabalho do beneficiamento do licuri.
Como tudo começou e quais os desafios No ano de 2010, Janete, agente de saúde da sua comunidade e presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Fazenda Inácio João, vendo a subutilização de matéria prima sentiu a necessidade de encontrar formas de utilizá-la como fonte de renda e aumentar o seu valor comercial, já que a disponibilidade do licuri era abundante. “Um dia eu fui pegar adubo de palmeira lá em cima e vi que estava perdendo muito licuri, como Caldeirão Grande já trabalhava com o beneficiamento de licuri, pensei que a gente também poderia tá trabalhando aqui”, lembra Janete. A partir disto, apresentou a proposta na reunião comunitária e convidou as pessoas da comunidade a formarem um grupo para trabalhar com o beneficiamento do licuri. Diante do baixo valor comercial da venda do licuri na região, apenas quatro famílias acreditaram que seria possível garantir renda com este trabalho. Para iniciar explicam que foi preciso ter O grupo é formado por Marinez, Marieta, muita coragem e persistência, pois não tiveram apoio e nem incentivo. Este Rita, Janete, Cirleide e Cido (foto do verso) foi o primeiro desafio que encontraram, atualmente, são estas mesmas pessoas que continuam engajadas com o projeto, “quem acreditou está começando a colher os resultados”, afirma Janete. Além da falta de apoio comunitário para realizar o trabalho, elas também enfrentaram dificuldades financeiras para sustentar o ideal de trabalhar com o licuri. “Se a gente fosse desistir, já tinha desistido, pois quando a gente comprou o motor gastou 965 reais e a gente não tinha um real, foi a coragem mesmo”, desabafa Marieta. Depois tiveram problemas com o motor e tiveram que comprar outro para não parar o trabalho que foi pago só com o trabalho do licuri. Passado este momento inicial de dificuldades e de muita vontade de trabalhar, começaram a ter resultados positivos. Um deles foi a doação da máquina forrageira, o pagamento dos motores, de despesas e os lucros que estão surgindo, o conhecimento adquirido, a união do grupo, entre outros. “O pessoal achou que a gente era tão louca que disse que essa mulher [Rita] ia ficar pobre de tanto pagar passagem para vim trabalhar para não fazer nada. E agora a gente já tá vendo resultado”, explica D. Marieta.
Bahia