Barragem Subterrânea: a experiência da Família de seu Inácio

Ano 1 | nº 20 | Julho | 2007 Soledade - Paraíba

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Projeto Demonstrativo

Barragem Subterrânea: a experiência da Família de seu Inácio Seu Inácio Tota é um agricultor familiar que vive e trabalha no Cariri da Paraíba. Foi no sítio Lajedo de Timbaúba, em Soledade, que seu Inácio escolheu morar, vizinho às terras de seu avô, quem lhe criou. Casado com dona Maria da Glória desde 1981, tiveram 3 filhos.

A família de seu Inácio Tota desenvolve muitas experiências em suas terras.

Plantam milho, feijão e algodão. Criam gado, ovelhas, bodes, galinhas, perus, guinés e ainda criam abelhas. No sítio tem banana, coco, goiaba, pinha, graviola, batata, cajú, umbu e mu ito mais. Plantam muito capim, cana, leucena e gliricídea. Possuem campos de palma consorciada. Fazem silo sincho e trincheira para armazenar a ração para os animais. Possuem cisterna de placas, barreiro, poço artesiano a cata-vento, mas seu Inácio Tota é um grande mestre na construção da barragem subterrânea.

Em 1999, seu Inácio e outros companheiros foram fazer uma vista de intercâmbio ao CAATINGA, em Ouricuri - Pernambuco. Lá ficaram conhecendo a experiência da barragem subterrânea. Seu Inácio conta que nessa visita, se encantou pela barragem, aí chegou em casa e logo fez uma em suas terras. Lá é uma região mais seca do que a minha, aí foi um privilégio conhecer a barragem, conta seu Inácio.

Seu Inácio já viajou um bocado e trabalhou muito em obra, o que lhe permitiu aprender o modo de construir a barragem muito rápido.

E agora ele vai nos ensinar como a gente pode fazer também em nossa terra.

Primeiro, devemos procurar a descida da água. Precisamos analisar o solo, ensina seu Inácio. Tem que ter profundidade. Se for raso não vale a pena construir porque acumula pouca água. E se for profundo, dá até para fazer um açude debaixo do chão.

Depois temos que procurar uma área mais estreita no riacho para fechar as ombreiras. Para fazer uma grande barragem, temos que olhar também o espalho do desenho da barragem. O ideal é uma área mais plana, um baixio de meio a 1 hectare que será atingida pela barragem.

Depois de escolher o melhor local, temos que marcar a vala que servirá de alicerce. Para marcar o balde usamos a mesma referência na ombreira da barragem. Para isso, basta bater uma linha de nível de um ombro ao outro.

A barragem subterrânea pode ser feita com barro batido ou com lona plástica. A barragem de barro, segundo seu Inácio, leva mais tempo para fazer e depende muito do solo em que é feita. Às vezes pode não

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Projeto Demonstrativo

ter barro suficiente para fechar a vala. A barragem feita de lona é mais rápida e prática, além de ser mais barata também.

Se for de barro batido, devemos então cavar uma vala de 50 centímetros de largura. Temos que cavar até chegar o solo impermeável, ou seja, até o barro duro. No meio dessa vala, cavamos ainda uma espécie de funil de aproximadamente 15 centímetros de largura e uns 20 centímetros de profundidade. Esse funil servirá para ajudar a prensar o barro batido. Seu Inácio ainda lembra que devemos começar com camadas pequenas, de 10 centímetros, para não dar passagem para a água.

Se for construir a barragem com lona, devemos cavar uma vala de 80 centímetros de largura. Largura ideal para fazer a colagem da lona e o acompanhamento do fechamento da vala. Depois de cavar até o solo impermeável, temos que fazer, no pé da parede contrária do caminho da água, uma pequena vala de 15 centímetros de largura por 20 centímetros de altura para chumbar a lona. Com essa vala molhada, colocamos então a ponta da lona e enchemos de cimento. Para esticar e prender a com maior eficiência a lona, seu Inácio Tota aconselha que se estique a lona na corda, assim fica mais fácil para puxar ela para dentro da valeta sem que embole.

Temos que fazer também um sangrador para a barragem. O ideal é que a gente respeite o caminho natural da água. Então temos que medir 2 pontos nesse local para levantar duas paredes e chumbar o sangrador com a lona dentro. Melhor se esse sangrador for ladrilhado ou cimentado. O restante da barragem é fechado com barro batido. O barro é usado para prender a lona plástica em toda sua extensão.

Depois é aguardar a chuva chegar e plantar muito. Seu Inácio aconselha a plantar árvores de raiz profunda ao lado da barragem e, no meio, pode até plantar arroz na época de chuva. Seu Inácio conta que a barragem subterrânea é a geladeira do agricultor.

Segundo seu Inácio Tota, a barragem subterrânea possui inúmeras vantagens em relação às outras barragens com espelho d'água. A grande diferença é que o que ela tem de camarote, fica cheio de água e a água não aparecendo, diminuímos o efeito do vento e do sol e evitamos a evaporação.

Seu Inácio Tota conta ainda que depois que conheceu a experiência da barragem subterrânea a vida de sua família vem mudando muito. Têm conseguido armazenar legumes, o que antes era difícil, seu rebanho está saudável, já conseguiram comprar um outro pedacinho de terra e, sobretudo, a barragem lhes abriram um novo mundo. Passaram a conhecer coisas que não conhecia, surgiram novas oportunidades de trocar idéias com outras pessoas. Sabem e desenvolvem inúmeras experiências e ainda possuem o coração aberto para ensinar para outros agricultores e agricultoras tudo aquilo que eles tiveram a oportunidade de aprender.

2

www.asabrasil.org.br