Ano 1 | nº 8 | Julho | 2007 Cacimbas - Paraíba
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Projeto Demonstrativo
Fundo Rotativo Solidário: uma experiência de convivência com o semi-árido A comunidade Ventania localiza-se no município de Cacimbas, médio sertão da Paraíba. Lá vivem 21 famílias que aprenderam que com a organização podem construir projetos para uma melhor convivência com o semi-árido. Através do Fundo Rotativo Solidário vêm desenvolvendo de forma coletiva algumas estratégias de acesso e manejo da água para o consumo familiar e a produção de alimentos orgânicos. O Fundo Rotativo foi formado em 1999 com a construção de 8 cisternas de placas apoiadas pela Cáritas e pelo Programa Capacitação para Desenvolvimento Local. As famílias se reuniram em grupos e estipularam as regras de devolução dos recursos. Cada uma contribuía mensalmente de acordo com as suas condições até completar o valor correspondente ao necessário para a construção de uma cisterna. Aquelas construídas a partir do apoio da Cáritas, tinham seus recursos repassados para o Fundo Nacional da Cáritas. Para as demais cisternas, o repasse do recurso foi feito para o Conselho Municipal de Fundo Rotativo Solidário. Em 2003 as famílias receberam novos recursos e os utilizaram para o fortalecimento de um novo Fundo Rotativo, agora comunitário, fruto do projeto de descentralização do Conselho Municipal. Agora as comunidades de Cacimbas passaram a ter autonomia decidindo em que e como utilizar os recursos do Fundo. Com esse apoio, mais famílias de Ventania sentiram-se motivadas e resolveram participar desta dinâmica. Com o aprendizado as famílias passaram então a utilizar esses Fundos em necessidades diversas, principalmente para melhorar a quantidade e a qualidade da água para a produção de alimentos e dos outros gastos do consumo familiar. Já que a comunidade tinha garantido pelo P1MC a água de beber e cozinhar. O primeiro projeto foi a estruturação da Associação Comunitária e o destino do recurso foi cobrir despesas de registros de documentos e abertura de uma conta. Com a Associação legalizada discutiram a necessidade da construção de uma sede e em 2004 compraram um terreno de 12 hectares. Perceberam que o terreno tanto serviria para a construção da sede da associação quanto para a produção coletiva de alimentos. Com o apoio de outras parcerias e o trabalho em mutirão construíram a tão desejada sede que vem servindo para realização das reuniões e eventos da comunidade. Organizaram no restante do terreno a produção diversificada de alimentos orgânicos. Cultivam hortaliças em canteiros com economia de água; plantam roça de forma consorciada: mudas de frutíferas e medicinais irrigadas através de um sistema de
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gotejamento e construíram um viveiro de mudas para a plantação em fundo de quintal. Reservaram ainda uma área de proteção ambiental onde as espécies de plantas nativas são preservadas e também começaram a aproveitá-la para a criação de abelhas. Toda a água para a produção e para o consumo familiar vinha de um tanque de pedra que, através do Fundo Rotativo, passou a ser encanada. Parte dessa água era armazenada em uma cisterna comunitária onde as famílias pegavam para o consumo de casa, até o ano de 2005, quando boa parte das famílias já tinha a água de beber garantida com as cisternas que foram construídas por meio do P1MC. A outra parte era armazenada numa pequena mandala que atendia a produção. O consumo da água do tanque servia praticamente para todos os outros gastos. Contudo, em pouco tempo a produção foi aumentando e a água já não era mais suficiente para atender a demanda de consumo. A partir daí, começaram a pensar num projeto que pudesse atender as novas necessidades. A este projeto foi dado o nome de Água em nossas casas. Esse projeto consiste em trazer a água para a comunidade através de uma encanação feita de um poço amazonas da comunidade vizinha, São Gonçalo, e que fica a 1 quilômetro e meio. Acreditaram que seria possível a realização do projeto e, com recursos do Fundo Rotativo, compraram um motor bomba e pagaram as despesas com a extensão da rede elétrica. Para a compra do motor foi desenvolvida uma nova dinâmica de contribuição do Fundo Rotativo Solidário onde todas as famílias contribuíram. Buscaram parceria com a Prefeitura Municipal que financiou parte dos canos, e com o Centro de Educação Popular e Formação Sindical – CEPFS que apoiou a construção de 2 cisternas de placas de 30 mil litros de água cada. A encanação foi feita do poço para uma dessas cisternas que foi construída num local estratégico. Pela força da gravidade a água acumulada é distribuída para a casa das famílias e para a outra cisterna que se encontra na área da produção comunitária. Os canos que distribuem a água da cisterna para as casas das famílias foram comprados com recursos do Fundo Rotativo comunitário. O abastecimento das duas cisternas que atende o consumo familiar e a produção de alimentos é feito apenas uma vez por semana. Hoje 18 famílias já têm água disponível na torneira de casa. O manejo adequado da água vem sendo trabalhado em algumas reuniões mensais que acontecem na comunidade. A iniciativa da comunidade Ventania conta com a participação de 41 famílias moradoras também das comunidades de São Gonçalo, Covão e Monteiro. A pretensão é de levar água encanada para todas elas. Os moradores da comunidade de Ventania afirmam que o Fundo Rotativo tem ajudado a fortalecer o associativismo, garantindo a segurança alimentar e contribuído de forma significativa com a melhoria da qualidade de vida das famílias.
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