Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 5 | nº 86 | Agosto | 2011 Santo André - Paraíba
Receitas de Agroecologia e Vida no Cariri Paraibano Em períodos de chuva as estradas da comunidade Caraça, em Santo André na Paraíba, tornam-se intransitáveis. Mas é também nesse mesmo período que todas as famílias da região se enchem de alegria e otimismo, pois é com a água que é armazenada que os habitantes dessa região do semiárido paraibano sobrevivem durante os períodos de seca e escassez de água. Nessa comunidade mora a família de Jacinta Firmino da Costa Filho (51 anos) e José da Costa Filho (50 anos). Seu José é conhecido na região como Zé de Souza. O casal está a 26 anos casados e durante esse tempo tiveram sete filhos. Atualmente na Zé de Souza mostrando os tomate agroecológicos casa moram Dona Jacinta, Zé de Souza, Rafaela da Costa Filho, Irineui da Costa Filho e o pequeno Igor Costa Ramos (06 anos), neto do casal. Os demais filhos moram em Santo André, João Pessoa e no Rio de Janeiro. A propriedade tem 5ha e meio, herança da mãe de Zé de Souza. Na área existem implementações de grande importância para a família no período de seca, comuns nesta região do semiárido paraibano. A Cisterna para captar água da chuva para bebere cozinhar, construída em 2002, com apoio do projeto Cooperar. Nos fundos da casa de Zé de Souza e dona Jacinta, há uma paisagem muito bonita, “é uma barragem trincheira”, diz com orgulho Zé de Souza. A barragem, construída há 10 anos, foi reformada pela família algumas vezes, e recebeu contribuição de todas as famílias da comunidade. Já que a água é acessada por toda a comunidade. Além da família a comunidade também se abastece com a água da barragem. Dona Jacinta afirma que nunca falta água na barragem: “Pode até baixar, nos períodos de seca, mas aqui nunca falta água, graças a Deus, se faltar é porque a situação deve tá braba por aí por fora”.
Zé de Souza e dona Jacinta ao lado da Barragem
Atualmente no roçado da propriedade é cultivado apenas milho e feijão, seu Zé de Souza conta que devido às chuvas desse período não tem conseguido produzir hortaliças nos canteiros.
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Ele comenta que a produção de hortaliças está paralisada devido ao ecesso de chuvas: “a gente planta de tudo um pouco aqui no arredor de casa, só não tem muita coisa agora por causa da chuva, mas depois que estiar a gente volta a plantar tudo de novo”. O arredor de casa da família é uma beleza só, a casa é praticamente cercada por uma diversidade de plantas que dá gosto de ver. Lá tem de tudo um pouco: mamão, bananeira, acerola, coco, pinha, graviola, abacate, laranja, goiaba, caju, manga, entre outras espécies. Dona Jacinta comenta que toda produção está nova: “Tudo que a gente tá plantando tem Jacinta, Zé de Souza e Igor (neto), Tato e Alex (articuladores municipais) apenas dois anos, mas algumas plantas já tão produzindo, pouquinho, mas tão. No começo nós tivemos formação do Sebrae, mas muita coisa a gente aprendeu depois testando”. Na propriedade eles ainda possuem uma pequena criação, com: bovinos, galinha, ganso e porco. Toda a criação serve apenas para o consumo da família. Além do recurso que a família adquire com a venda do excedente dona Jacinta informa que é beneficiária do programa do governo federal, Bolsa Família. O grande diferencial da experiência da família está na forma com eles cultivam a terra. Dá pra perceber o carinho com que seu Zé de Souza fala sobre sua produção e tudo o que aprendeu sobre defensivos naturais. “Eu uso angico, maniçoba, urtiga branca. Descasco, piso e retiro o sumo, depois é só pulverizar nas plantas”. O agricultor afirma que não utiliza mais o fogo na terra: “antigamente eu tinha o costume de por fogo na limpeza, retirava o mato e queimava, hoje eu dou conselhos para todos que deixe os matos como adubar a terra e como alimentos pra formiga”. Outra dica que seu Zé de Souza sempre passa aos amigos é o uso da casca de laranja, como defensivo agroecológico. Para controlar as formigas ele corta as cascas da laranja e coloca dentro da água até ficar fermentada, depois ele colocar as cascas dentro do formigueiro, isso contribui para controlar o avanço das formigas sobre as plantações. Outra alternativa de defensivo ensinada pelo agricultor é uma engenharia muito interessante é um equipamento feito com garrafa pet ou lata. Zé de Souza explica: “Você passa graxa em volta de uma lata, e coloca uma lâmpada acesa, ou uma vela dentro, os insetos vão atrás da luz e ficam presos na graxa”. Seu Zé de Souza comenta também sobre o prazer e a alegria que sente com o trabalho que faz na propriedade: “Gosto mesmo de plantar, mas plantar pra só dar pros bichos não tem resultado”. E diz que a única coisa que ainda sente falta é de um espaço para escoar sua produção. “De que adianta plantar, colher e ter todo esse trabalho pra não ter onde vender e ver as coisas se perder, isso é o que me dá mais desgosto”. Atualmente o agricultor comercializa seus produtos de porta em porta na comunidade e nas comunidades vizinhas.
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ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO