Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 5 | nº 100 | Setembro | 2011 Potiretama - Ceará
Superação e conquistas da família camponesa Um imenso chapadão com vegetação predominante caatinga deu origem ao nome Caatinga Grande, comunidade que faz parte do município de Potiretama, distante 20 quilômetros de sua sede, no baixo Jaguaribe cearense. É em meio a esta grande área, com padrões florísticos variados, que reside dona Francisca das Chagas Bezerra de Moura, conhecida como dona Chaguinha, 60 anos e seu Ramiro Patrício de Moura, 73 anos. Um casal resistente, que busca a cada dia novas alternativas de vida. Alegre, otimista e muito brincalhona, assim é dona Chaguinha, uma mulher guerreira, que sempre batalhou para viver. Vendo-a sorridente, ninguém imagina que de um rosto contagiante, um dia caiu lágrimas, por não ter, se quer água para beber, devido ás consequências de uma região semiárida, em que as chuvas são escassas e faltam políticas públicas favoráveis.
Dona Chaguinha e seu Ramiro
Dona Chaguinha nasceu em Iracema, também no Jaguaribe, desde os sete anos trabalha na agricultura. Casou-se aos dezenove e teve três filhos. O início da vida do casal foi marcado por grandes dificuldades, a primeira foi a falta de terra. Ficaram trabalhando em terras arrendadas, somente depois, com a venda de algumas vaquinhas, conseguiram adquirir doze hectares de terra.
Hortaliças
A batalha não se resumia apenas à falta de terra, a comunidade toda enfrentava grandes desafios com a falta de água para beber. Dona Chaguinha conta que ela e seu Ramiro acordavam três horas da manhã, selava o jumento, apoiavam duas ancas, pegavam as latas e saiam para a cacimba, distante seis quilômetros da comunidade. Lá enchiam as vasilhas e voltavam para casa, muito embora devido ao grande número de pessoas para pegar água, muitas vezes esperavam que minasse. Agradeciam a Deus quando chegava o período chuvoso para pegar água da bica. “Quando o
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trovão começava a se alavancar eu já tava me preparando dentro de casa. Quando a chuva chegava eu abria a janela, aparava água em balde e enchia os potes e latas para no outro dia não ter que ir buscar no açude”, diz a agricultora. Com a presença da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, começaram a se articular. E com a organização, a comunidade foi contemplada com o Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC), da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA). Na primeira etapa de execução do programa em Caatinga Grande, a família de dona Chaguinha foi beneficiada. “Deus nos ajudou que chegou essa cisterna que é minha salva guarda, uma bênção. Quando chove fico tranquila, não preciso mais levantar-me para apanhar água”, diz dona Chaguinha.
Dona Chaguinha descascando urucum
Reconhecendo a grande importância da água para o consumo humano e produção, a família não se contentou apenas com a pequena cisterna de 16 mil litros, construiu um pequeno reservatório, para com a água fazer as atividades domiciliares e regar as plantas. No ano de 2011 a família foi beneficiada com o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), também da ASA, executado pela Organização Barreira Amigos Solidários (Obas). Dona Chaguinha, que sempre participa das reuniões comunitárias, não pensou duas vezes. Quando a comunidade a escolheu para receber a cisterna-calçadão, de 52 mil litros, ela nem esperou o parecer do seu Ramiro, disse logo que queria. Com a água da cisterna cultivam hortaliças e frutíferas, dentre elas, mamão, laranja, limão, urucum e banana. A família sonha em ampliar a plantação de verduras e frutas e fortalecer a comercialização dos produtos já fornecidos para a comunidade e vizinhança. A venda é feita em casa. Além do cultivo agrícola, a família de dona Chaguinha fornece tapioca para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A venda dos produtos é viabilizado pela Associação Comunitária. O período de fornecimento corresponde ao período de aulas e é feito durante três dias por semana, segunda, quarta e sexta-feira. Dona Chaguinha faz um breve histórico do beneficiamento das tapiocas: no período de fornecimento é muito bom. Durante o dia molho a goma e deixo na geladeira. Durmo às 20 horas e levanto-me meia noite. Faço minha garrafa de café, boto na mesa e vou cuidar na tapioca, ai eu vou quebrar o coco, passar no liquidificador e fazer o leite para molhar a tapioca. A cada 25 tapiocas que faço, paro para molhar, enrolar, botar numa sacola e arrumar dentro da vasilha. Nesse intervalo tomo uma xícara de café para espertar o sono, ligo o rádio encostado de mim e continuo fazendo minhas tapiocas. Quando o dia clareia já tenho 350 tapiocas. Cada tapioca custa R$ 0,25 centavos. O período de venda corresponde a quatro meses em média, ao final soma uma renda de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais). Assim, segue as conquistas da família, que reconhece que a vida de agricultores e agricultoras no semiárido pode ser melhor, se acreditarem na organização e luta, no cuidado com a terra e o meio em que vive. Apoio:
www.asabrasil.org.br