Ano 9 • nº1953 Março/2015
Lagoa Seca Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Parceiros na agricultura e na construção de cisternas: a experiência de Lula e Sibiu Luciene, conhecida como “Lula”, e Severino, conhecido como “Sibiu”, cresceram e se criaram no Sítio Retiro, município de Lagoa Seca, entre o Agreste e o Brejo Paraibano. Casaram-se em 1982 e foram morar na terra de um irmão de Sibiu, no sítio vizinho, Lagoa de Gravatá. Os dois tiveram 5 filhos, Edilma hoje com 30 anos, Janaína 28, Josiene 25, Jocimar 20 e Daysiane, com 22 anos. Com exceção de uma morada de seis meses em Campina Grande e de nove meses no Rio de Janeiro, a família passou mais de 20 anos nesse sítio. Até que Sibiu recebeu de herança uma terra dos pais e comprou partes de seus irmãos, somando uma terra de 2 hectares, também no Sítio Lagoa de Gravatá, para onde os dois se mudaram. Nesta terra o casal morou quase 10 anos, inclusive conseguiram comprar mais um hectare no sítio Retiro, onde só iam trabalhar, pois não havia casa. Em 2012, o casal vendeu a terra de 2 hectares e comprou uma casa na cidade. Já com a venda da terra de um hectare, junto com a renda de uma vaca, compraram a terra de 1,5 hectare onde vivem hoje. Sibiu e Lula explicam que sentiram a necessidade de ter uma casa na cidade por motivo de segurança e transporte, pois os seus filhos estavam estudando à noite e não conseguiam transporte próximo de casa. Quando compraram o local onde vivem hoje, no Sítio Retiro, já havia a casa, a cisterna de beber e algumas fruteiras. Tinha ainda uma barragem que servia a terra deles e a outra propriedade. Em 2013, com recursos próprios, eles pagaram uma máquina para cavar e dividir a barragem. Hoje com os filhos crescidos fazendo faculdade e trabalhando, o casal passa o dia no Sítio e à noite vai dormir na cidade com os filhos. Mas se preparam para logo, logo voltarem a viver definitivamente nas suas terras, para se dedicar mais à agricultura. O casal bota roçados de feijão faveta, macassa, preto e carioca, fava orelha de vó, milho 1051, macaxeira, mandioca, batatinha, batata doce e jerimum. Plantam capim elefante e cultivam as fruteiras de coco, graviola, manga, acerola, banana e abacate.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba
Tem ainda algumas plantas medicinais como mastruz, hortelã da folha miúda e eucalipto. No inverno eles costumam plantar hortaliças como couve, quiabo, maxixe e coentro dentro dos roçados. A produção vai para o consumo da família, mas o excedente eles vendem em uma barraca que têm na feira central de Campina Grande. O s d o i s c o s t u m a m trabalhar sozinhos, mas quando precisa os filhos vem ajudar. Já criaram e gostam de criar vacas, porcos, galinhas e gado, mas no momento estão sem animais. Desde a chegada das primeiras cisternas na comunidade, por meio de Fundos Rotativos Solidários, em 1994, Sibiu aprendeu e começou a se envolver na construção. Ele concilia desde então essa atividade com a da agricultura. Eu gosto porque não atrapalha o trabalho na agricultura, pois as construções são mais no período da estiagem, explica o agricultor. É uma atividade extra, pra complementar a renda, porque ninguém vai entregar o que a gente precisa na porta, não, a pessoa tem é que correr atrás, complementa Sibiu. Acostumada a observar o marido trabalhar, Lula diz que, com o aumento da demanda pelo serviço, começou a ajudar nas construções e foi tomando gosto. Ela diz que, durante todo este tempo, fazia o papel de servente para o marido, mas no ano passado, começou a construir cisternas sozinha. Fiz um curso de capacitação na construção das novas cisternas em 2014, no modelo cuscuz, mas eu já sabia construir, aprendi só a montar a nova tampa, conta Lula. A agricultora conta que já sofreu preconceito por ser mulher em uma atividade que tem em sua maioria homens. Uma vez estava construindo uma cisterna com meu esposo e a dona da casa disse: na reunião eles disseram que viria um pedreiro e um servente, mas eu vou reclamar lá, porque mandaram foi um pedreiro e uma mulher, conta. Lula diz não se importar com esse tipo de postura. As mulheres ficam de boca aberta e dizem, isso não é serviço pra tu, não, mas eu digo que o trabalho na agricultura também é pesado e eu tô acostumada, explica Luciene. Sibiu elogia e reconhece a habilidade e a garra da esposa e diz que a mulher é durona: um dia lá no outro sítio que a gente morava, tinha uma pedra com umas duas toneladas, não teve homem que levantasse, pois ela foi lá e tirou a pedra. Os homens que tem por aqui não aguentam trabalhar de servente com ela não! Comenta o agricultor. Lula e Sibiu contam que já construíram mais de 150 reservatórios, principalmente os de 16 mil litros. Com força a determinação, os dois seguem com as atividades de agricultores pedreiros, construtores de cisternas, e se planejam para, no futuro, vender a casa de Lagoa Seca e aumentar o seu sítio. Também sonham em retomar as criações de animais. Na cidade a gente não está por gosto e vontade, mas porque fomos obrigados, gostamos é de morar no sítio, finaliza Sibiu.
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