Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
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Amparo já possui 2 cisternas. Com essa proposta de guardar água para beber, despertou a necessidade de discutir na comunidade e com o CEOP (Centro de Educação e Organização Popular) outras formas de convivência com a seca. Em 2000, Manuel participou da primeira visita de intercâmbio no município de Puxinanã. Conheceu a experiência de divisão de pastagens e algumas formas de preservação do meio ambiente. Na volta, começou a pensar a propriedade, deixando uma área preservada e outras em recuperação. Já que antes, por falta de conhecimento, usava veneno na lavoura, queimava coivara e essa forma de plantar estava deixando a terra pobre e cheia de erosão. Foi assim que Manuel despertou o desejo de conhecer outras experiências. Em 2002 participou de outra visita de intercâmbio. Dessa vez em Soledade, onde conheceu a barragem subterrânea. Ao retornar da visita, verificou que no seu sítio também era possível fazer uma barragem desse tipo. Por conta própria começou a escavar uma valeta, próxima da parede de um barreiro aterrado, que chegou a quase 5 metros de profundidade por 100 metros de comprimento. Maria conta que ficou muito preocupada com a escavação, desde o dia em que caiu uma barreira e, por sorte, fazia pouco tempo que Manuel tinha saído do local. A princípio, ele recebeu orientações
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Maria observa que a diversidade de cultivos tem entretido as pragas, diminuído os ataques na lavoura, além de oferecer segurança alimentar. Ao lado da barragem, Manuel deixou uma área de mata preservada. Ele garante que a terra ficou mais forte com as folhas do mato. Reparam que alguns animais voltaram a viver no local e hoje é comum encontrar nele espécies como asa branca, juriti, rolinhacascavel, camaleão, soinho e muitos outros tipos de bichos. Notam que as abelhas melhoraram a produção na barragem. Elas ajudam na polinização das flores. As formigas atacam menos hoje em dia. Isso se deve porque agora elas têm alimento no meio do mato, afirma Manuel Gavião. A família de Manuel e Maria tem participado de outras atividades de intercâmbio. Isso vem rendendo mais experiência de melhoramento da terra. Samuel conta, por exemplo, que passaram a reutilizar a água da louça e do banho para aguar as plantas ao redor do terreiro. Construíram também pequenos tanques feitos nas pedras, que hoje servem para armazenar água por um bom período. Para aproveitar a água do açude, construíram uma mandala que garante alimentação saudável para a família. Por meio dela é possível comer alface, cenoura, coentro sem ter que usar veneno. O controle das pragas é feito pelos patos e peixes que ficam dentro da mandala. Manuel comenta que para fazer essas coisas, o agricultor precisa respeitar mais os elementos da natureza. Para provar o que diz, ficou observando o movimento de um papa-sebo, que visitou a lavoura 15 vezes e sempre levava uma lagarta no bico para alimentar seus filhotes. Se não tivesse vegetação por perto, também não teria o papa-sebo e isso aumentaria a praga na lavoura.
de outros agricultores para usar estrume na vala, mas percebeu que a água ainda ficava vazando. No ano seguinte, se reuniu com 4 agricultores para cavarem a vala novamente. Dessa vez foi colocada uma lona impermeável. A experiência foi ampliada para todo o grupo e em mutirão foram construídas barragens subterrâneas em cada propriedade. Todos consideram o resultado muito bom, pois antes, quando o período das chuvas passava, em poucos dias a terra ficava seca na vazante do barreiro. Agora, com a barragem subterrânea, dependendo das chuvas, é possível produzir duas vezes no ano. Desse jeito a família não precisa plantar nas terras de outras pessoas. Além de milho e feijão, cultivam de tudo um pouco na barragem: melancia, jerimum, pepino, melão, macaxeira e outras variedades de alimentos.
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Ele conta com muita segurança que hoje não mata mais cobra ou nenhum outro bicho. Também não desmata. Aprendeu que cada bicho e cada planta tem uma função na natureza. Outra forma encontrada pela família para preservar a área onde mora é não queimar mais coivara. Manuel observou que nas partes onde queimava estava virando uma terra fraca, cheia de salitre e com erosão. Hoje os galhos de árvores são deixados nesses locais. A coivara, que era queimada,
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Ano 1 | nº 5 | Julho | 2007 Picuí - Paraíba Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Projeto Demonstrativo
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hoje é usada para tampar os buracos deixados pela erosão. Assim a vegetação nasce mais depressa. Isso serve também para refugiar alguns animais como preá e pássaros, que levam sementes para essas áreas. O resultado é que a terra está ganhando vida. Desde 2005, para enfrentar a falta de alimento para o gado durante a seca, a comunidade tem discutido na associação o armazenamento de forragem. Em mutirão, durante o período do inverno, armazena ração em silos feitos de lona. Maniçoba, capim e outras plantas forrageiras como gliricídia e leucena são cultivadas na barragem e utilizadas no silo. Mesmo em tempo de seca prolongada o gado tem o que comer e não é mais preciso queimar espinho. Para reforçar a alimentação dos animais ainda utiliza a palma forrageira e também o cardeiro que fica na cerca viva. A propriedade tem 72 hectares. Nela se criam 18 cabeças de gado, 2 porcos, 14 patos, 2 gansos e 10 galinhas. Num chiqueiro feito de tela fabricada pela própria família, os porcos ficam presos. Manuel explica que essa experiência de convivência com a seca tem sido multiplicada para agricultores da sua comunidade e de outros municípios. Prova disso são os mais de 10 intercâmbios realizados na sua propriedade com a participação de mais de 300 agricultores e agricultoras, além das visitas de alunos das escolas do município de Picuí. Angélica comenta que isso tem sido importante para que outras famílias possam também fazer melhorias em suas propriedades.
Experiência da Família de Manuel Gavião e Maria do Amparo Manuel Severino, mais conhecido por Manuel Gavião, 49 anos e Maria do Amparo 39, junto com os filhos Márcia 21, Marília 20, Angélica 15 e Samuel de 10 anos, moram no sítio Tanquinhos, distante 12 quilômetros da cidade de Picuí, Curimataú/Seridó da Paraíba. A família desenvolve atualmente uma experiência de trabalhar na terra de forma diferente e mostra que é possível conviver com a seca e ter qualidade de vida. Conta Manuel Gavião que desde criança trabalha na agricultura. Maria do Amparo também sempre desenvolveu atividades da agricultura juntamente com seus familiares. Quando casaram em 1984 vieram morar no sítio Tanquinhos, de propriedade do pai de Maria. Eles contam que nessa época as coisas eram muito difíceis. Tinham que cortar lenha e queimar espinhos para o gado. Maria conta que mesmo grávida, juntava lenha no meio do mato e ainda plantava em vazantes de vizinhos. A grande dificuldade da família se dava pela falta d'água. A única fonte disponível no sítio era um cacimbão de água salobra que secava em pouco tempo. Marília lembra que, por diversas vezes, saía à noite para pegar água em um açude distante. Porque se fosse durante o dia, só encontrava lama. Em 1993, Manuel e outros agricultores foram trabalhar na emergência recuperando estradas. Depois começaram a fazer um pequeno açude na sua propriedade, foi quando as coisas começaram a melhorar.
Márcia conta que em 2005 foi educadora de Jovens e Adultos no projeto Todas as Letras e, segundo ela, as discussões sobre convivência com o semi-árido foram temas de debates entre os seus alunos. Manuel Gavião afirma que essa forma de cuidar da terra é o que todo mundo chama de agroecologia.
Em 1998, foi construído outro açude para a comunidade. Até hoje, quando enche, dura o ano todo. Maria lembra que naquela época a água, mesmo sendo doce, não era boa para beber porque não existiam fossas nas casas e as fezes eram jogadas diretamente no riacho, contaminando a água. Por volta de 1999, surgiu a proposta de construir cisternas de placas através de um fundo rotativo. O primeiro grupo foi formado por 5 famílias. Através dessa iniciativa, a família de Manuel Gavião e Maria do
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