A luta e a conquista da terra no Alto Sertão paraibano

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Ano 1 | nº 04 |Julho | 2007 Soledade - Paraíba Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Projeto Demonstrativo

Onde a organização e o conhecimento fazem a diferença A experiência da comunidade de Lajedo de Timbaúba do município de Soledade-PB revela como as famílias agricultoras superaram as dificuldades para melhor convivência com as condições locais. Até o ano de 1922, a área de 200 hectares pertencia a um único dono conhecido pelo nome de Vô Goiano que foi pai de 11 filhos. A partir daí a propriedade começou a ser dividida em heranças. Nesta época, a região que tinha um grande lajedo era rica em mata nativa com árvores de sipaúba, daí seu nome - Lajedo de Timbaúba. Hoje a comunidade é formada por mais de 26 famílias com propriedades que variam de 3 a 19 hectares. Estas famílias têm como principal atividade a agricultura seguida pela criação animal. A divisão de terras por herança, a exploração agrícola e a necessidade de retirar a madeira provocou um desequilíbrio na área deixando a terra fraca. Também não havia água suficiente para atender as necessidades de todas famílias, de seus plantios e suas criações. Segundo elas, a região antes era abastecida com carros-pipa que colocavam água no tanque da emergência. Essa água era para o consumo humano, mas era insuficiente para agüentar o verão. Os animais bebiam a água do poço que era salgada. Diante dessa dificuldade, as famílias começaram a deixar o local. A maioria dos jovens, por falta de alternativa, foi embora para outras regiões. Teve casos na comunidade onde um único agricultor, seu Inácio Tota, fez 26 viagens para o sul do país. Numa destas andanças assistiu no programa de televisão uma reportagem sobre a experiência das barragens subterrâneas de Ouricurí-PE. A partir desta informação, ele percebeu que se fizesse algo parecido, a vida no Cariri poderia ser melhor e resolveu experimentar. A necessidade de sobrevivência fez com que as famílias se organizassem para buscar novos conhecimentos. A organização se fortalece no ano de 1999 por ocasião de uma grande seca, quando eles buscaram o Sindicato para apoiar e reforçar seus interesses, pois estava claro para estas famílias que sozinhos eles não iam avançar muito. De acordo com dona Maria do Céu, uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto e, assim, a organização foi a forma encontrada para superar as dificuldades presentes na vida destas famílias. A partir das iniciativas da comunidade conquistaram o apoio de algumas instituições como sindicato, igreja e organizações não governamentais o que favoreceu trocas de experiências e conhecimentos para melhor aproveitar os recursos disponíveis. As cisternas, as barragens subterrâneas, o beneficiamento e armazenamento de frutas e forragem e o banco de sementes são algumas das alternativas encontradas para melhorar a convivência com a região. A mudança começa a ganhar forma com a chegada das cisternas de placas que armazenam água da chuva para o consumo humano. Este processo se deu a partir do fundo rotativo organizado na comunidade. Uniam-se em grupos de 5 famílias onde 3 recebiam as cisternas e


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