Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Pernambuco Paraíba Já Seu Dedé cria umas vaquinhas para produção de leite, diz que hoje só está tirando 25 litros de leite por dia, mas é porque as vacas estão tourejadas, prenhes. Além do leite, lembra que delas aproveita muita coisa, vende as crias, usa a urina para defensivos e o esterco como adubo.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
| |nº 70 | abril | 2011 AnoAno 3 | nº524 Setembro | 2009 Pesqueira PE Solânea- Paraíba
Da luta à liberdade de um povo
O leite está sendo comercializado por um preço adequado a 75 centavos, pois melhoraram as condições de higiene e armazenamento e estão dentro de um programa oficial de garantia de preço e comercialização. Dedé nos canteiros de hortaliças
A área indígena recebeu 6 tanques de resfriamento de leite, dos quais os mais próximos ficam na aldeia Couro Dantas, pra onde seu Dedé leva o leite que é coletado por 2 lacticínios e 1 fabrica de doce. Muitos dos povos indígenas se destacam pelo seu artesanato, não seria diferente com os Xukuru. Por muito tempo Seu Dedé confeccionou diferentes tipos de peças entre elas, colares, pulseiras, anéis e brincos, sempre usando sementes, ossos, madeiras, palhas e barro. Hoje seu filho mais velho que mora com ele dá continuidade a esse trabalho e é o professor de arte da área indígena. Já Dona Everalda, como não gosta de ficar sem atividades, dedica parte do período da tarde a fazer a renda renascença, tipo de renda tradicional da região, bastante valorizada por seus ricos detalhes. Todas as peças já são feitas sobre encomendas, o cliente diz o que quer, o tamanho e os detalhes e ajustam o valor. O dinheiro das verduras e a ajuda do dinheiro do leite e da renascença servem para comprar outras coisas que não conseguem produzir na propriedade. Na certeza de que a vida mudou e numa tentativa de corrigir os anos de exploração, o povo Xukuru retoma sua dignidade e o prazer de ser índio. E como passos, a comunidade indígena conquistou escolas com o sistema de ensino diferenciado e em processo de construção, o Ponto de Cultura Memorial Xikão Xukuru juventude, sociedade e arte, que servirá como centro de formação para a comunidade e a mais importante, a liberdade de ir e vir. Seu Dedé não deixa de lembrar que parte das conquistas foram motivadas pela organização do povo, algumas, fruto da articulação da Associação da Comunidade Indígena Xukuru de Ororubá. Guardando sempre a orientação do cacique Xikão Xukuru que dizia que as matas são os cabelos da terra, as pedras são os ossos da terra e a água é o sangue da terra, e num gesto de gratidão, não param de citar: Salve Tamain, Salve Tupã, Salve cacique Xikão, Salve Mestre Rei do Ororubá e todo o povo Xukuru!
ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO
Everalda e a família só cultivam frutas e hortaliças orgânicas
No município de Pesqueira, a 214 km do Recife, vive o povo indígena Xukuru de Ororubá, distribuído em 25 aldeias. Segundo dados oficiais, são 2.167 famílias com 11.235 índios e ocupam uma área de 27.555 hectares. Na aldeia Santana mora José Vanderlei da Paz, Seu Dedé como é conhecido na comunidade, líder da sua aldeia e conhecedor da historia do seu povo, que relata o quanto foi difícil à conquista da terra. Após anos de dominação e subserviência aos fazendeiros da região, ao assumir o caciquado em 1986 o índio Xikão Xukuru reforçou a organização social do seu povo em busca da demarcação territorial e do direito de exercer a cidadania indígena. Pelo empenho do cacique na defesa do seu povo, numa tentativa de intimidação, foi assassinado em 20 de maio 1998. Em 21 maio de 2001 foi homologada a demarcação das suas terras, dentro da qual havia 281 posseiros na maioria grandes fazendeiros, mas, só a partir de 2002 com a desintrusão, palavra dada para desapropriação dos posseiros, os índios puderam trabalhar e cultivar a filosofia do bom viver.
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