Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano I | nº.02 |Outubro| 2009 Aparecida - Paraíba
Feira Agroecológica no Alto Sertão Paraibano Cultivando a Vida e Produzindo Saúde
As feiras agroecológicas acontecem desde 2004 em Cajazeiras no alto sertão da Paraíba, e começaram a ter maior visibilidade a partir da sua expansão para outras cidades, a exemplo do municipio de Aparecida com o apoio da CPT – Comissão Pastoral da Terra e a CAAASP – Central das Associações dos Assentamentos do Alto Sertão Paraibano, onde desenvolveram um trabalho de assistencia técnica, capacitações, e estrutura. Levando para os agricultotes/as a ideia do uso de defensivos naturais, defendendo o cultivo de alimentos sem o uso de agrotóxicos, adubos químicos ou sementes transgênicas. Trazendo como proposta um novo modelo da agricultura familiar, com o uso racional da água, respeitando a natureza e a vida humana. As famílias que aderiram a esse novo modelo se sentiram motivadas com a nova idéia de comer e vender um alimento saudável, contudo, começaram a produzir inicialmente para o consumo próprio, mas com a Feira livre de Aparecida cres cen te p ro dução viu- se a necessi dade da comercialização do excedente, foi então, um dos pontos determinante para o surgimento das feiras agroecológicas. Então em julho desse mesmo ano os agricultores e agricultoras assentados da reforma agrária do Assentamento Acauã, localizado a 03 quilômetros da sede do município de Aparecida - se juntaram e realizaram a primeira feira agroecológica no mercado público municipal. Logo de inicio, nada era fácil, principalmente no transporte dos produtos no período em que as chuvas enchiam o rio, precisando passar de canoa ou câmara de ar. Outro grande desafio era quanto à venda do produto, que o cliente não acreditava no plantio de frutas e verduras sem veneno, mas com o passar do tempo a persistência e o trabalho direcionado para uma agricultura familiar que mostrava bons resultados, fortalecia o conjunto de agricultores/as que competiam com os grande feirantes de produtos cultivados a base de agrotóxico. Ainda assim conquistaram o espaço e criaram uma ligação entre campo e cidade mostrando produtos saudáveis tanto para quem produz quanto para quem consume. Conseguiram se manter nesse ritmo e todos os domingos as famílias que participam da feira colocam seus produtos em bancas padronizadas e se vestem com um avental ou camiseta, uma forma de divulgação do trabalho, e chegam a tirar uma renda mensal de 01 salário mínimo que dar para equilibrar as despesas, e o gasto familiar. Os agricultores/as agroecológicos também entregam boa parte Produtor agroecológico - João Machado da produção ao P.A. A – Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal em convenio com o município, só nesse ano de 2009 já chegaram à média, no valor de R$ 10.000,00 Reais. Atualmente um grupo de 04 famílias desenvolve um trabalho exclusivo na mandala comunitária, um sistema técnico de produção em forma de círculo que armazena água no centro e redistribui para as
do Programa Uma Terra e Duas Águas
Paraíba
hortas. Segundo o Técnico Agrícola Francisco Senna, que assessora os agricultores/as, a teoria da mandala acompanha um sistema lógico – “as plantações em círculos favorecem o desempenho uma da outra, no primeiro ciclo vem à banana, no segundo vem o mamão que serve como sombrito, no terceiro vêm às hortaliças e aos fundos da mandala outras plantas como a macaxeira. A mata ao lado da cerca viva, como a gliricídea e o neen, servem como quebra vento”, explica. A água que abastece a mandala vem do açude comunitário que recebe água do canal da Redenção do Açude de Coremas, onde também outras famílias produzem ao lado do mesmo canal e nos baixios. A produção é bastante diversificada: alface, coentro, pimenta de cheiro, cebolinha, couve, macaxeira, mamão, banana, pimentão, acerola, cenoura, beterraba, rúcula e berinjela. Produtor agroecológico - Ismael Fernandes Parte desses produtos sai da mandala comunitária e outra vem dos canteiros econômicos feitos nos quintais de suas casas. No controle das pragas as famílias mantem um manejo todo especial, utilizam os defensivos naturais à base de pimenta, neen, cebola, urina de vaca e fumo de rolo, além de cuidar da adubação da terra com a ajuda do composto orgânico – feito com resto de comida, mato verde e seco, esterco de gado, todos os ingrediente colocados por camada, e em 90 dias fica pronto para ser levado para os canteiros. De lá pra cá, a cada ano que se passa, as famílias vem se organizando entorno dessa atividade, elas se reúnem semanalmente para traçar metas, planejar as tarefas, pois cada família assume um lote e todos trabalham coletivamente recebendo por igual. No grupo existe uma comissão formada por 03 pessoas que estão diretamente responsáveis para cuidar e pensar nos assuntos relacionados a feira e aos cultivos, bem como dos encaminhamentos que exija aperfeiçoamento técnico. Sempre na busca de estarem organizados criaram o Núcleo de Produtores Agroecológico Camponês para maior unidade nas ações, e ainda são ligados a Rede de Cultivo Agroecológico. E já no ano de 2009 receberam o apoio do Projeto Produzindo Solidariedade – um projeto que tem o caráter de Fundo Rotativo Solidário, tendo a frente como gestora do projeto o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aparecida – STRA em convênio com o Banco do Nordeste do Brasil – BNB e colaboração da Associação Sócio Educacional, Cultural e Ambiental – ASCA. Os agricultores/as se estruturaram mais com o projeto, adquiriram caixotes, reboques, outras bancas, além da padronização de vestes para a divulgação da feira agroecológica. Segundo depoimentos das famílias mudanças positivas vêm sendo somadas, e resultados vêm sendo colhidos, vê-se que o cultivo agroecológico melhora na qualidade de vida, e no hábito alimentar, quando se tem uma alimentação livre de venenos, e Quintal - Produtor João Neves Júnior conseqüentemente uma boa saúde. Melhora o meio ambiente e produz uma nova consciência, principalmente quando existe a participação dos jovens estimulando a educação na organização comunitária e familiar.
Apoio:
Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome