Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 9 • nº1923 Abril/2015
O sentimento que a família tem é de poder contribuir com a comunidade. “Graças a Deus com o projeto das cisternas tirou a crise de muitas pessoas, além da cisterna eu tenho um poço que vem todos pegar água aqui e quando a cisterna tiver cheia também não nego água para ninguém”, fala Vera. Seu Ubirani conta que as pessoas passam mais dificuldade por que não viviam zelando do meio ambiente. “Meus pais mesmo não tinham esses ensinamentos que estamos tendo hoje, a tecnologia da informação está muito avançada, se eles e os vizinhos naquele tempo tivessem reservado umas áreas de trabalhar e outra de preservar, por que esse desmatamento vem muito desequilibrando o tempo. A chuva vem através da natureza. Eu observo que a chuva aqui na região vai mais aonde tem árvores, nas serras onde tem mais mato, por isso que a gente tem que zelar pelo meio ambiente”, conta Ubirani. Muitos sonhos têm essa família, mais o maior deles é expandir, querem que a produção seja tanta que dê para comprar um carro facilitando assim na entrega das hortaliças e dos produtos da roça, por que no momento trabalham apenas com uma moto e dificulta muito. O outro sonho é que seus filhos se formem. O filho mais velho do casal gosta de trabalhar na roça, não pensa em sair da comunidade e os pais querem que ele estude e se forme em agronomia para saber cuidar melhor do solo.
Canapi
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Conhecimento que se propagam e geram bons resultados na convivência com o semiárido
As reuniões e os cursos que a ASA vem desenvolvendo através dos diversos projetos no semiárido brasileiro, tem mudado o jeito das famílias enxergarem e conviverem no sertão. Os educadores de Gerenciamento da Água para Produção de Alimento (GAPA) e Sistema Simplificado de Água para Produção (SISMA), fazem com que o agricultor/a reflita sobre o melhor aproveitamento da terra e dos recursos que dispõe, assim como melhor proveito e armazenamento da água. Realização
Apoio
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Alagoas
Nas reuniões os facilitadores discutem sobre agroecologia, sementes, desertificação, comunicação, entre outros assuntos relevantes para o agricultor/a. No sitio Barros Branco em Canapi vivem seu Ubirani Santos Silva, a esposa Veralucia Barbosa da Silva e os filhos Jonas e Raysa. Ubirani fala que “através do facilitador Florisval, no curso de SISMA, aprendemos a plantar hortaliças, e aprendemos a cuidar do solo e dos animais. Ficamos sabendo que um tambor de água dá para 30 cabeças de ovelha beber em um dia, e um tambor não dá para 3 gados beber, então eu vendi o gado e comecei a criar ovelha por que dá menos despesas”. Antes de receberem a cisterna da segunda água, a família vivia apenas dos programas do governo, bicos e da plantação de feijão para complementar a renda. Veralucia, conhecida como Vera, passou 13 anos lavando roupa na casa de um senhor, mas graça a sua hortaliça não tem tempo e nem precisão de continuar a trabalhar para os outros. “Antes da cisterna ninguém plantava, depois dela é que melhorou muito para gente, pois a verdura que a gente comprava na cidade, hoje nos colhemos no quintal de casa e é de onde tá saindo nosso pão de cada dia. Plantamos agroecologicamente, é mais saudável, e falando de saúde é uma coisa que melhorou muito, através da minha esposa. Quando ela começou a andar nessas reuniões, melhorou muito por que tomamos conhecimento de como plantar sem usar veneno”, descreve Ubirani.
A família Silva sempre morou em Canapi, quando pensaram em se mudar para São Paulo, só conseguiram ficar um ano, pois o lugar onde nasceram e se criaram falou mais alto. “Eu gosto do meu lugar porque é um lugar muito bom de se morar. Eu não pretendo nunca mais sair daqui porque eu me criei aqui e quero ficar aqui pelo resto da minha vida”, complementa Ubirani. Na comunidade a família é vista como centro de apoio, com uma boa convivência na vizinhança, Vera que é líder comunitária diz que “as pessoas sempre me procuram para ajeitar aqui ou ali, acham que eu posso reagir no que eles estão pensando para a comunidade. Como eu ando muito nas reuniões e o sindicato dos trabalhadores sempre me apoia, todos me respeitam, por conta do meu carisma e por sempre estar pronta a ajudar na medida em que posso. Logo no começo eles não acreditavam em associação, mas comecei a lutar pelos nossos direitos e consegui trazer 13 cisternas aqui para a comunidade. E eu espero que venha mais projetos para beneficiar mais ainda a nossa comunidade”.
A agricultura tem trazido bons resultados, porém quem vive da lavoura é um jogo e que precisa de muito esforço por parte de todos, complementa seu Ubirani. De crenças religiosas fortes, acreditam que tudo que tem vem da parte de Deus. “Ele quem manda nosso pão de cada dia e seguimos nossa religião para ganhar a salvação, fazendo o bem e hoje agradecemos a Deus por tudo, pela saúde, por termos disposição para trabalhar, assim termos o que comer e vestir”, fala emocionado seu Ubirani. Hoje, com um número bem diversificado de produção como o feijão, milho, algodão, abóbora, palma, melancia, hortaliça e a criação de ovelha, possibilita a família ter mais visibilidade de mercado. Como vem tendo assim a oportunidade de fazer entrega de berinjela, maracujá, alface, acelga, cebolinha e coentro para um restaurante, que toda a semana dona Vera vai levar, além de vender na feira agroecológica de Canapi e o pessoal da comunidade que vai procurar em sua propriedade. Além de cuidar das hortaliças e de participar das reuniões, Vera ama fazer crochê e tem lhe rendido bem. Quando lhe pergunta o que mais gosta de fazer ela abre um sorriso e diz: “crochê, faço para ajudar na renda, por onde eu vou as pessoas já me conhecem, pois levo sempre comigo, é uma coisa mesmo que eu gosto de fazer”. Ela aprendeu a fazer crochê em 1999, em São Paulo. Fazia artesanato em bolsa plástica, quando chegou a sua comunidade começou a ter conhecimento das pessoas que faziam artesanato em crochê e foi comprando agulha, linha e começou a fazer paninhos. Hoje ela faz artesanato por encomenda. “É tanta gente me procurando que até para São Paulo eu vendo os meus produtos. A técnica do crochê me faz esquecer dos problemas, até para enfrentar fila de banco eu levo”, Vera conta com sorriso nos lábios.