Ano 8 • nº 1543 Dezembro/2014 Afogados da Ingazeira Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Apicultura gera união, trabalho e renda no Semiárido Além das propriedades nutricionais e medicinais do mel, o produto vem ampliando a renda e garantindo a sustentabilidade de famílias nos municípios de Afogados da Ingazeira e Tabira, no Sertão de Pernambuco. Tudo começou pelo agricultor Ivanildo Ângelo de Siqueira, 45 anos, que ainda nos anos 80, a partir de um projeto de extensão da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), despertou o interesse pela apicultura e resolver investir. Apesar de, na época, não ter o conhecimento específico sobre esse tipo de produção, ele resolveu arriscar, e inicialmente passou cerca de cinco anos sem ter resultados positivos. Após acompanhamento técnico de um professor da UFRPE, aprendeu algumas metodologias que foram aprimoradas ao longo dos anos, e hoje fala orgulhoso das práticas de apicultura para convivência com o Semiárido que adquiriu, a partir de várias tentativas, para produzir em meio às dificuldades climáticas. “Hoje sabemos que a apicultura é uma grande oportunidade de vida e tem garantido a permanência das famílias no campo”, conta Ivanildo. O apicultor relembra que quando passou a trabalhar no sistema de cooperativismo e associativismo teve um retorno financeiro maior, gerando sustentabilidade, trabalho e renda para algumas famílias. Como resultado, a partir da formação da Associação Rural de Carapuça, com 15 pessoas, localizada na Fazenda Caroá em Afogados da Ingazeira, conseguiram uma unidade de beneficiamento de mel através da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Através da proposta para comercializar os produtos por meio da Cooperativa para o Desenvolvimento da Apicultura do Nordeste (Coodapis), que fica em Tabira, Sertão de Pernambuco, a situação melhorou. “Toda a nossa produção está sendo vendida e muito bem. Agora estamos vendo uma luz no final do túnel”, ressalta Ivanildo. Outra grande conquista foi o selo IBD- Instituto de Biodinâmica, maior certificador de produtos orgânicos do Brasil. “Agora temos a autorização para produzir e vender mel orgânico.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco
Transformamos o sistema convencional de apicultura em um sistema orgânico e produzimos imitando a natureza, com um novo modelo de produção e de técnicas de manejo”, conta orgulhoso. Após a divulgação dos benefícios medicinais do mel ele conseguiu ampliar as vendas, inclusive para a Alemanha. Atualmente a comercialização se resume a Pernambuco, prioritariamente, e outros estados do Nordeste. O grupo trabalha com a abelha africanizada, em razão da maior adaptabilidade dessa raça às condições climáticas e apresentam alta produtividade. Em média a produção anual é de 80 kg de mel por caixa e ocorre em períodos alternados, entre fevereiro a agosto ou entre abril a dezembro, tendo em vista que o inverno no Semiárido é curto. Nessa estação a flora da localidade é formada por algumas espécies de plantas melíferas como a Batatinha, Camelinha, Angelin e Batoma, entre outras. Ivanildo Siqueira explica que o diferencia das técnicas de manejo adotadas é a instalação de bebedouros próximos aos apiários que deixam livre a área de voo da abelha, poupando tempo e esforço para a mesma. Ele consegue manter em uma caixa entre 80 a 100 mil operários. “No método convencional você mata a rainha em larva antes de voar. Nós não matamos, mas investimos na operária para que o enxame produza o número de operárias para melhorar o volume de mel. Também não deixamos a abelha parada. Encheu a melgueira levamos para a casa de mel e em seguida repomos no apiário, devido a vida útil da abelha que é de 21 dias em média”, orienta Ivanildo. Outra técnica é no verão deixar a caixa “hibernando”. “Só vamos ao apiário olhar e não mexemos nas caixas. Quanto menos mexer na caixa a produção é melhor. A posição dela também contribui para a produção do mel”, explica. Outra técnica adotada foi o aumento da quantidade de melgueiras sobre os ninhos, chegando a três caixas. A conservação do material recolhido é feita em tambores de 200 litros de aço revestidos com uma resina. Para não cristalizar, a técnica usada é coar o mel em uma peneira grossa formando uma película de cera em cima do tambor. Como resultado de todo esse esforço a Unidade de Beneficiamento de Mel e a Coodapis recebem frequentemente intercâmbios dos estados brasileiros e de outros países. A história dessas famílias confirma que a produção de mel é uma atividade viável no Semiárido e a renda gerada pela produção apícula tem garantido a permanência no campo, melhorado a qualidade de vida e ampliado a produção orgânica.
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