O amor de dona Arlinda pelas plantas

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1694 Outubro/2014

Nos últimos 10 anos, dona Arlinda e seus familiares passaram por vários problemas de saúde e ela precisou se ausentar da comunidade e das atividades por um tempo. Mas, este ano, dona Arlinda voltou a participar da Comissão de Mulheres, onde contribui com seus conhecimentos acumulados em tantos anos de experiência. Ela também voltou a estudar e está cursando uma universidade.

Lagoa Seca/PB

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Ela vem participando de vários encontros do Sindicato, reuniões, cursos, oficinas e também já participou de novas visitas de intercâmbio. No mês de setembro de 2014, dona Arlinda e outras famílias visitaram dona Irene, que também é uma agricultora-experimentadora e participante da Comissão de Mulheres do município de Solânea. Na visita, dona Irene contou a todas que, a primeira planta que trouxe para sua faxina foi da casa de dona Arlinda, há 15 anos, em uma visita igual aquela que estava recebendo. Nas plantas, dona Arlinda encontrou forças para continuar sorrindo e retomar essas atividades que lhe proporcionam tantas alegrias.

O amor de dona Arlinda pelas plantas

Através das visitas de intercâmbio, ela também conheceu a experiência das cisternas para produção de alimentos a qual sua nora foi beneficiada. Como são vizinhas e trabalham em família, também compartilharão da água da cisterna e juntas pensam em como ampliar o viveiro de mudas, aumentar a criação de animais e cultivar uma horta de produção natural pertinho de casa.

Receita para combater infecção urinária. Planta utilizada: Cajuru

Arlinda Freitas Silva ou dona Arlinda, como é conhecida, mora no sítio Mineiro, na comunidade São Francisco, município de Lagoa Seca/PB. Ela é casada com Paulo Luiz da Silva. Juntos tiveram 10 filhos, mas apenas 8 se criaram: Dimas, Paulinho, Francisco, Terezinha, Regina Celi, Lucimar, Liomar e Lindomar, que faleceu há 10 anos. Dimas e Paulinho são solteiros e moram com os pais, Francisco mora em outra casa, no mesmo terreno, Terezinha mora na cidade e Regina, Lucimar e Liomar, moram em sítios vizinhos. Antes, dona Arlinda morava em Campina Grande, depois do casamento, passou a morar em Lagoa Seca. Na época que chegou tinha 23 anos de idade. Ela conta que nunca pensou em viver no sítio. Hoje se sente abençoada por Deus, por ser agricultora e morar no Mineiro, onde vive há 45 anos. O sítio está localizado na região de Brejo do município. A propriedade em que trabalha tem 2 hectares. Na propriedade a família produz: carábabão, feijão carioca, guandu, milho, fava, batata, macaxeira e jerimum. O sítio também é bastante diversificado com fruteiras como: abacate, graviola, jaca, caju, manga, acerola, goiaba, jabuticaba, banana e laranja. Dona Arlinda cria umas 15 galinhas e alguns patos, cria também abelhas que a cunhada deixou para ela. No arredor de casa, cultiva um viveiro de plantas que somam mais de 300 espécies entre ornamentais e medicinais.

Dona Arlinda escrevendo a receita. Foto editada

Dona Arlinda no viveiro de mudas mostrando a planta Cajuru

Realização

Apoio

Seu Paulo, dona Arlinda e Paulinho, além de serem agricultores, são comerciantes. Tudo o que é produzido na propriedade é dividido entre o consumo de casa e a venda nas feiras. Dona Arlinda é comerciante há 25 anos, iniciou vendendo bolo e café. Paulinho e Dimas eram sua companhia. Paulinho continuou sendo feirante e tem seu próprio ponto de venda. Seu Paulo deixou de freqüentar a feira quando houve a implantação do “Plano Cruzado” em 1986. Ele deixou porque não entendia como funcionava a moeda, explicou dona Arlinda.


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Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba

A formação Dona Arlinda explica que o amor pelas plantas é tradição familiar. A mãe cultivava plantas ornamentais e a avó gostava de plantas medicinais. Quando dona Arlinda se casou, a avó veio morar com ela no sítio e, durante 20 anos, foi lhe passando os conhecimentos sobre as plantas. Conta também que, as visitas de intercâmbio foram fundamentais para aprofundar e ampliar o conhecimento sobre as plantas e suas propriedades medicinais.

Para levar os produtos para a feira, dona Arlinda encontrava muitas dificuldades: precisava caminhar por 15 minutos, acompanhada dos filhos ainda pequenos, carregando balaios cheios de produtos até um determinado ponto da estrada, onde pegavam carona, junto com outros feirantes. Era uma dificuldade a questão do transporte, conta a agricultora. Em 1994, dona Arlinda foi convidada para participar da Feira-Agro de Campina Grande, ganhou dois pontos de venda na cidade. Um espaço está localizado no Parque do Povo, as sextasfeiras e outro no mercado das Malvinas, aos sábados. Ela conta que o local da feira é fixo, mas quando tem festa no Parque do Povo, os feirantes ficam sem lugar. Há um ano, ela também negocia com plantas ornamentais, troca, compra e vende. Além da atividade de agricultora e de feirante, dona Arlinda trabalhou de enfermeira no município de Lagoa Seca. Na comunidade exercia o papel de catequista e, quando necessário, era parteira. No Sindicato dos Trabalhadores Rurais, foi a primeira secretária mulher, representando as companheiras por duas gestões e fiscal em outra. Foi uma das fundadoras da Comissão de Mulheres do Sindicato e na Comissão, sempre participava das visitas de intercâmbio dentro e fora do Estado. Foi uma das fundadoras da Pastoral da Criança no município de Lagoa Seca. Recentemente recebeu uma homenagem pelos 25 anos da criação da Pastoral. Foi representante da paróquia por vários anos. Para o Polo da Borborema, dona Arlinda é uma referência no processo de formação e organização do trabalho com as mulheres. É uma agricultora-experimentadora que através do cultivo de plantas medicinais e ornamentais, incentiva outras mulheres a melhorarem seus arredores de casa e perceberem a importância desse espaço para a família.

Através da Comissão de Mulheres, conheceu a experiência da Fitoterapia, com Dr. Celerino, em Recife. Fitoterapia consiste na utilização das plantas para produzir medicamentos naturais a partir do conhecimento tradicional das famílias. Na Bahia, conheceu outros trabalhos com plantas medicinais e junto à Comissão de Mulheres, iniciaram uma série de visitas de intercâmbio dentro do município, para trocar conhecimentos e repassar o que tinham aprendido nas visitas. Ela conta que conhece todas as plantas medicinais que estão no seu quintal e sabe como usá-las, guarda as receitas na memória. Entre as ornamentais, as que não conhece pelo nome, ela coloca apelido. São muitas variedades no viveiro como: violetas, orquídeas, trepadeiras e muitas plantas medicinais que ela cuida com muito amor e carinho. Para dona Arlinda, as plantas lhe proporcionam muito prazer e energia positiva. Quando não amanhece bem, vai até as plantinhas, conversa com elas e, elas melhoram sua auto-estima. Para cuidar e manter as plantas não é fácil, precisa de muito tempo e dedicação. Ela sempre utiliza água limpa para aguar as plantas. Na seca, pega água em uma cacimba que fica perto de casa. Há plantas que são mais delicadas, o manejo é diferenciado, como é o caso das violetas. Dona Arlinda tem o hábito de trocar mudas com as vizinhas e amigas por outras que não possui. Tem plantas que ela faz para doar e também compra. As plantas raras, ela compra nas casas de plantas ornamentais na cidade de Campina Grande quando vai para feira. As plantas medicinais são distribuídas paras as pessoas quando há necessidade, não vende. Também não gosta de vender orquídeas porque ganhou de presente.


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