Familia Maia, exemplo de convivência com o Semiárido

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Ano 8 • nº 1.643 Julho/2014 Ourolândia

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Família Maia, exemplo de convivência com o Semiárido A história da família de seu Geraldo Maia, da comunidade de São Bento, em Ourolândia, tem início no município de Várzea Nova, onde morava com o pai. “Desde pequeno eu ajudava pai no campo, até que o patrão dele faleceu, a gente tinha um pedaço de terra lá, pai vendeu e compramos esta área de terra aqui, depois que meu pai faleceu eu continuei aqui com minha mãe, tamo aqui até hoje”. Casado há 18 anos com dona Luciene, com quem teve 2 filhos, João Neto, de 17 anos, e Larissa Maia, de 14, seu Geraldo fez da agricultura familiar uma opção de vida, tirando do campo o que precisa para viver. “Daqui a gente tira o sustento com criação de cabra, ovelha, gado e plantação de mamona, milho, feijão, melancia... o serviço da roça é todo minha família que faz”. Dona Luciene completa: “Depois que Geraldo se acidentou e não pode mais trabalhar, todo mundo faz o que pode aqui na roça, a renda mesmo que prevalece é a nossa agricultura familiar”. Família Maia frente à residência Dona Luciene, além de secretária da Associação Comunitária do Povoado de São Bento, é uma das líderes da comunidade, e faz parte de várias comissões e conselhos municipais, a exemplo do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA) e Conselho Municipal de Assistência social (CMAS). Ela sabe da importância de ocupar estes espaços como forma de garantir que as políticas públicas cheguem até a comunidade.

Neto colhe melancia com seu Geraldo

Neto, o filho mais velho do casal, é aluno da EFA – Escola Família Agrícola de Quixabeira, quando não está na escola ajuda a família na produção agrícola, “aqui eu ajudo pai a tirar o leite, prender as vacas, colocar ração, levar água pras cabras... faço de tudo um pouco, já que pai não pode”. Mesmo após concluir os estudos, Neto pensa em continuar na comunidade de São Bento. “Eu penso em ficar aqui pra ajudar meus pais e ajudar a desenvolver mais a comunidade que tá precisando”. Sua vontade é levar aos vizinhos os conhecimentos do campo aperfeiçoados na escola. Seu Geraldo conta as dificuldades do período de estiagem que enfrenta com a união da família. “Uma das dificuldades é quando chega a seca, aí a gente já tem o costume de fazer feno, um pouco de palma, silagem. Ano passado mesmo foi brabo... Perdi bicho por doença, mas por fome não.


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Muita gente perdeu animal. Tem gente que não tem o costume de guardar e ignora quando a gente tá fazendo feno e diz: pra que isto? e isso presta? eu não tô nem aí, porque sei que o caminho é esse”. Ele sabe que no Semiárido, é necessário aprender a conviver e guardar nos períodos de fartura para os períodos de escassez, e assim sempre ter quando mais precisar. Também reconhece a importância de aprender novas técnicas com outras experiências a exemplo do intercâmbio que participou no Rio Grande do Norte “lá eles fazem feno até de malva, destas que a gente chama de malva de jegue. Aqui a gente arranca a malva dizendo que é praga. A gente vive num lugar bom, e as vezes ainda se queixa da sorte, a gente só não aprendeu a trabalhar.” Uma tradição presente na comunidade de São Bento, realizada no mês de agosto, é a Pega do Boi que representa bem a identidade da comunidade. “Vem gente de todo lugar!”, diz seu Geraldo enquanto Dona Luciene, enfatiza orgulhosa que é a tradição que o filho Neto mais gosta e participa. Seu Geraldo explica que além do Pega de Boi há também a participação de sambas de roda vindos de municípios Vizinhos. O acesso à água sempre foi uma grande dificuldade. A família usava água de cacimba para o consumo e afazeres de casa, e quando secava compravam de carro-pipa. Para os animais, seu Geraldo conta que era obrigado a andar até 4 léguas. Esta realidade mudou com a chegada da cisterna de consumo. “Depois que a cisterna chegou nunca mais faltou água, nunca secou. Melhorou demais! água doce, que a gente só usa pra beber e cozinhar”. A família também está conquistando uma cisterna de produção, com apoio do Movimento de Organização Comunitária (MOC) em parceria com Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI) e a Fundação Banco do Brasil (FBB). Esta conquista tem aumentado as expectativas de seu Geraldo e Neto que atualmente cultivam milho, melancia e feijão de corda. Eles desejam diversificar a produção e continuar produzindo de maneira orgânica, utilizando o esterco da própria roça. “A cisterna chegou no tempo certo. Aqui eu quero ver um quintal agroflorestal que nem o que eu vi na Paraíba. Já tem bastante coisa plantada e vai ter mais ainda”. A Família Maia tem se esforçado para armazenar forragens e assim garantir alimento para os animais. Desta forma, além de uma área de capim de corte, faz feno de leucena, algaroba e palha de feijão. Todo o feno é armazenado cuidadosamente e protegido do sol e da chuva em galpão destinado só para isso. Ele construiu um Paiol de alvenaria para armazenar vagens de algaroba, onde na última colheita só neste paiol guardou mais de 80 sacos. Numa “carcaça” de geladeira faz feno de capim e palha de feijão.

Produção de Feno com palha de feijão

Além destas forrageiras, na propriedade há o plantio de três variedades de palma: a gigante, a doce e a orelha de onça. Esta palma é preservada para os animais no período em que as pastagens não são suficientes. Este é o exemplo da Família Maia, que no campo do Semiárido inventa, adequa e reinventa, melhorando suas condições de vida e fazendo do sertão um lugar rico, transformando dificuldades em possibilidades de convivência sem perder de vista suas origens e seu jeito de ser, produzir e viver.

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