Seu Moacir tinha um sonho: uma terra para plantar

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Ano 8 • nº1735 Outubro/2014

Francisco Santos Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Seu Moacir tinha um sonho: uma terra para plantar! O agricultor Moacir Tinto de Sousa, de 53 anos, morador de Baixa dos Barreiros, zona rural do município de Francisco Santos, no Piauí, conta que sempre gostou de viver na comunidade onde mora com sua esposa Maria das Dores de Barros, de 55 anos. Mas alguns anos atrás viajou para o Pará em busca da aventura de garimpo. A intenção era ganhar dinheiro e voltar para comprar uma propriedade, para morar e fazer uma roça e trabalhar com agricultura, juntamente com a sua companheira e os filhos José Frederico e Maria Felicia. Com essa viagem ele conseguiu alcançar seu objetivo, juntou dinheiro e voltou. Comprou uma terra às margens do riacho São João, e com essa riqueza já existente facilitou a realização do seu sonho, pois no período chuvoso consegue juntar um pouco de água.

Depois da meta alcançada abriu espaço para novos planos. Logo que iniciou a preparação da terra resolveu plantar caju e mandioca. Essas eram as principais culturas da sua região. Naquela época os invernos eram melhores, a sua produção prosperou e as expectativas de seu Moacir logo foram superadas. Mas, tempos depois vieram os longos períodos de estiagem e comprometeu a sua produção. Foi aí que ele resolveu experimentar cultivar hortaliças. “Eu vi que tinha um pouco de água na minha propriedade que dava pra gente ir jogando. Aí fiz o experimento e tô me dando bem. Tô otimista apesar dos tempos quentes e as águas poucas. Mais a gente aprende a trabalhar com água pouca. Como não esta chovendo muito eu cheguei a conclusão de que a melhor saída seria plantar algo que se adequasse ao clima”. Quando o inverno chega o riacho enche e ele diversifica mais o plantio. Só tem o cheiro verde que costuma diminuir por que não tem venda, pois em quase todas as casas as famílias fazem canteiros em seus quintais. Ele conquistou a cisterna de 16 mil litros, construída em 2009. ''Esta cisterna foi um presente muito bom e valioso. Um avanço tão grande. Antes dela a vida aqui era mais difícil. Pra gente ir buscar um gole de água pra beber era preciso botar a carga no jumento, saía à boca da noite rumo à outra comunidade. Chegava de volta em casa meia noite ou de madrugadinha, tocando as cargas de água.'' ''Para preparar canteiros eu uso o paú de moita e esterco de gado. Misturo os dois e faço o cheio do canteiro. Aí boto uma camada de areia do rio, porque a areia de lá ajuda o canteiro ficar molhado por mais tempo. Aí dou uma aguada por três dias sem muito encharcar a terra. Aí faço o plantio e para aguar eu uso o sistema de gotejamento.


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Articulação Semiárido Brasileiro – Piauí

O resto de folhas que caem das árvores eu junto e boto num buraco. Quando passa alguns dias eu tiro e espalho na propriedade. Já tá boa para adubar a terra, mas tem gente que fala que sou meio maluco porque faço isso. Eu não uso agrotóxico, sou contra aquilo. Faz mal a saúde das pessoas, mata, dá muitas doenças. Tem muita gente que as vezes diz: rapaz, se tu botasse agrotóxicos tuas verduras ficava mais graúda, rendia mais. Ai eu digo: eu vou amarrar o laço pra botar a cabeça? Aí eles falam, não, você só vende para os outros. Você faz seu canteiro separado. Aí eu digo: aquilo que eu não quero de ruim para mim eu não dou para os outros. Mode eu me valorizar, eu tenho que valorizar os outros também. Todo mundo é cristão e merece viver. E se a gente não puder fazer o bem que não faça o mal.'’ Seu Moacir aguarda a conquista de outra tecnologia, dessa vez é a cisterna-calçadão. Até o fim do ano ele espera a chegada desta e está cheio de expectativa. ''Eu tô muito animado para receber esta cisterna. Vai facilitar pra gente, porque minha mulher não anda muito na roça, porque é distante de casa e ela só vive mais é doente. Não me ajuda muito e agora a cisterna perto de casa é bom porque nós pode aguar as verduras qualquer hora do dia. Acho que vou ganhar mais um extrazinho, né ?'' O agricultor tem prazer de trabalhar com a terra. É um homem que nasceu para viver no campo e cuidar do que existe lá. ''Eu não aguento viver na cidade, não deixo a roça por nada, deus me livre. Quando vou pra cidade pela manhã, a tarde venho embora. Não me dou muito com zuada e sem fazer nada eu me enfado. Quando passo o dia trabalhando na lavoura não me canso tanto, mas quando vou pra cidade resolver alguma coisa aquele dia é muito cansativo, não gosto muito não. Eu sou um homem que não sabe viver na cidade.” O interesse de cultivar hortaliças partiu dele, revela seu Moacir. ''Eu acreditei na minha coragem, tá dando até pra fornecer verduras para as escolas do município através do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Mas além da atividade na roça ele trabalha com artesanato. Faz redes por encomenda e prepara garrafadas com cascas de algumas árvores e ervas medicinais, que serve para curar várias doenças. Fica evidente o sentimento de pertença do seu Moacir quando ele se agarra as alternativas de convivência com o Semiárido para superar os desafios da região.

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FETAG-PI


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