Ano 8 • nº 1883 Outubro/2014 São João do Sabugi Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Casal desenvolve técnicas de agricultura familiar no Seridó
Dona Francisca e seu Inácio
Para conviver com o semiárido é preciso ser homem e mulher de inteligência, com capacidade para criar melhorias de acordo com as necessidades do momento, se adaptando ao clima seco e a temperatura elevada. No município de São João do Sabugi, Seridó do Rio Grande do Norte, encontramos um casal que todos os dias supera a capacidade de criar e reinventar técnicas para essa convivência no Sítio Campo Grande. O senhor Inácio de Loiola Medeiros e dona Francisca da Costa Medeiros, pais de Camila Gabriele Costa Medeiros, Tássio Gabriel Costa Medeiros e Tyrone Gabriel Costa Medeiros, desenvolvem plantações a partir das sementes crioulas que são guardadas, em garrafas, e pela troca de mudas de plantas com os vizinhos. Cultivando, sem o uso de agrotóxico, e utilizando a água da cisterna enxurrada para fazer pequenas irrigações nas hortas que cuidam para consumo próprio. “Eu aprendo com o dia-a-dia, sempre tem algo novo que me deixa interessado, aí eu vou lá e presto atenção em como fazer aquilo direito e faço”, revelou seu Inácio. Por falta de oportunidades e passando por várias necessidades, seu Inácio passou muitos anos trabalhando em outros estados da
região Sudeste e Centro Oeste, ajudando sua mãe a criar os filhos, pois seu pai faleceu quando ele e os irmãos ainda eram pequenos. Quando seu Inácio resolveu voltar para casa, no sertão potiguar, se casou com dona Francisca e passou um tempo morando com a mãe, até se mudar de vez para seu sítio. “Sempre gostei de sítio, nunca gostei de cidade”, disse seu Inácio. O casal fez um projeto para criação de gado assim que se casou, com esperança de melhorar a renda da família, mas a seca acabou com todos os planos que foram feitos, os animais morreram e o prejuízo foi alto. “Fiz um projeto grande para criar gado, mas não deu certo e acabou tudo. Não tinha experiência de criar nada e deu tudo errado, a seca acabou com o que a gente tinha pensado, e eu gastei muito procurando água, mas nunca acertei”, contou seu Inácio. Os pais de dona Francisca sempre gostaram de praticar a agricultura e esse gosto foi passado para filha, que sempre cuidou de hortas em casa, junto com o marido, e vendiam para as cidades que cercam a região de São João do Sabugi, até mesmo para o estado vizinho, a Paraíba.
Seu Inácio e dona Francisca mostrando a plantação
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte
Era muito trabalho para garantir que os filhos fossem bem criados e tivessem um futuro melhor. “A gente trabalhava demais e não tinha nada, era muito sacrifício e a gente não via lucro nenhum com essa correria toda”, afirmou dona Francisca. Eles decidiram que esse trabalho todo não contribuía para o crescimento da família, trazia muitos problemas e era difícil manter a produção em épocas de seca, então resolveram parar com os cultivos e a criação de gado. Os problemas de saúde, enfrentados pelo casal, também contribuíram para que tudo fosse deixado de lado, seu Inácio sofreu um infarto há um ano e isso dificultou o processo de criação e plantação no sítio. Sementes que o casal guarda para o plantio Junto com a recuperação, também veio a conquista da cisterna, no começo do ano. Os dois voltaram a ter ânimo para recomeçar os plantios e hoje o quintal do casal é repleto de várias fruteiras e hortaliças. São pés de goiaba, mamão, cajarana, maracujá, melancia, melão, coqueiro, manga, banana, romã, seriguela, graviola, umbu, pinha, batata, feijão, fava, pimenta, alface, coentro, tomate, pimentão, quiabo, macaxeira, jerimum. “Antes a gente não podia plantar nada aqui porque a água era pouca, mas depois da cisterna isso mudou, se cuidar direitinho e fazer a irrigação que a gente aprende é só esperar para colher os frutos”, explicou seu Inácio. As frutas colhidas no quintal são matéria prima para as Melancia no quintal produtivo polpas produzidas por dona Francisca, ela separa os frutos e extrai o suco, guardando em saquinhos, para vender aos vizinhos na comunidade, aumentando a renda da família. “As pessoas têm procurado muito essas polpas e esse ano eu já vendi muitas. É bom porque já ajuda na renda da gente, e eu quero aumentar a produção”, disse Francisca. A experiência com os intercâmbios que participou, ajudou seu Inácio a desenvolver o plantio e investir em outros tipos de frutas que não é comum na região em que mora. Ele plantou em seu terreno pés de jambo, canela, caju, morango, abacaxi, acerola e está esperando, ansioso, o resultado desse teste, para poder fazer mais cultivos com esses frutos. “Tudo quanto eu quero fazer, faço! Mudas de hortaliças Gosto de lutar por meus objetivos e investir nessas coisas novas, é bom desenvolver essas novidades”, ressaltou Inácio. O casal também cria caprinos, que escolheram como caráter produtivo, a criação já aumentou e a intenção é que cresça ainda mais. Eles também criam galinhas para o consumo próprio. Seu Inácio garante que a criação de bodes é bem melhor na região em que vive, “Para essa região seca é melhor criar bodes, eles se adaptam melhor, diferente do gado, e a gente não tem prejuízo como eu tive quando criava boi”, afirmou. Seu Inácio e dona Francisca utilizam a sabedoria que ganharam ao longo dos anos para fortalecer as práticas da agricultura familiar, investindo na convivência com o semiárido e na promoção do desenvolvimento sustentável. “Sempre tive orgulho de ser agricultor, nós somos ricos, é só saber usar corretamente a Criação de caprinos do casal terra. Apesar de não chover com muita frequência, essa terra é muito boa, o que plantar nasce”, firmou seu Inácio.
Realização
Apoio
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome