Ano 9 • nº1777 Janeiro/2015
A qualidade do solo e da água também foram objetos de pesquisa, tanto pela UFAL e CECA, quanto pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, a EMBRAPA. A barragem subterrânea de seu Dedé é uma de 14 em todo o nordeste monitorada pela Embrapa para a verificação se há salinização da água e do solo. Testes que também tem mostrado resultados bastante positivos. Mesmo com as novas áreas de experimentação a produção de hortaliças continua sendo o maior foco da barragem subterrânea. A família continua entregando verduras e legumes nas feiras locais e na Casa do Agricultor, uma estratégia de venda coletiva dos produtores no município de São José da Tapera.
São José da Tapera
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Saber popular e ciência em harmonia agroecológica
O amor pela agricultura, o respeito pela natureza, a produção feita de forma agroecológica são conquistas que vão sendo abraçadas pela família a cada resultado que a barragem proporciona. As visitas são quase diárias, agricultores, estudantes, pesquisadores, lideranças, pessoas de vários países que passam pelo sítio Bananeira, são convidados a compartilhar com seu Dedé o encanto que ele tem e transmite pelo seu trabalho e pela sua terra.
Realização
Apoio
Desde que conquistou sua barragem subterrânea, em 2007, seu Edésio Melo ou seu Dedé, como é conhecido tem ensinado e aprendido muitas coisas. A primeira lição que recebemos desta família foi o valor do compromisso e da fé. Com a barragem veio uma grande esperança, mas também grandes desafios. Desafios tão grandes quanto a barragem, que é a maior já construída no estado. Muita água no solo, desabamentos e ter que recomeçar várias vezes o trabalho não fizeram com que eles desistissem e após três meses a barragem ficou pronta. Sempre com muito trabalho e aprendizados a unidade vem se consolidando como uma experiência agroecológica. Espaço para aprender e construir. Uma renovação que acontece todos os dias. Neste pedaço de chão já passaram centenas, talvez milhares de pessoas, todas recebidas pelo sorriso acolhedor de Dona Gilda e seu Dedé. Cada visitante leva consigo e também deixa algo a se aprender. Práticas, experiências, histórias de vida. Sobre o cultivo, sobre o manejo, sobre a origem de cada planta, de cada semente. Cada visita é uma construção.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Mas existem os trabalhos que vão além das visitas. A propriedade da família Melo hoje vai além de um espaço de intercâmbios, é também unidade de pesquisa. Uma extensão da universidade que vem enriquecendo a propriedade e dando oportunidade para pesquisadores e estudantes conhecerem práticas culturais a agricultura familiar. A Universidade Federal de Alagoas, a UFAL, a partir do Centro de Ciências Agrárias, o CECA vem trabalhando na propriedade desde 2012 com unidades experimentais de diversas culturas produtivas. A primeira experiência foi com sementes crioulas de milho, logo após vieram as pesquisas com melão e uva. Ainda alguns experimentos menores com o enxerto de duas variedades de umbu, alguns pés de cajá e uma variedade de pimenta. Tem pimenta tão grande, que nem dá para acreditar que é pimenta mesmo, brinca seu Dedé. A intenção das pesquisas é enriquecer a propriedade, diversificando com novas culturas e variedades, como também analisar seu desenvolvimento com o cruzamento das variedades. Com isso a universidade testa novos cruzamentos e seu Dedé vai conhecendo novas formas de manejo e as melhores variedades, tanto para plantio quanto para consumo e venda. A primeira roça experimental trabalhada foi feita com 12 diferentes variedades de milho. Todas as variedades utilizadas foram guardadas por muito tempo e de forma agroecológica, ou seja, seja sem o uso de venenos. Dentre elas, a variedade conhecida como palha roxa, este, conta seu Dedé, guarda desde o tempo de seu avô. Outra diversidade usada foi o milho jabotão, cedido pelo guardião de sementes, o senhor Sebastião Damasceno. Com essa experiência seu Dedé pode avaliar quais as variedades mais produtivas e já faz seu próprio plantio com as variedades testadas. Usa o produto para alimentação dos animais, a partir da produção de silagem, usando ainda o milho sorgo e a cana para esta prática.
Articulação Semiárido Brasileiro – Alagoas
No plantio de melão, que se iniciou em 2013, foram cruzadas duas variedades da região. Segundo deu Dedé os resultados foram muito positivos. O melão produziu bem e tem sido bem aceito, por isso pretende iniciar seu próprio plantio. As primeiras colheitas foram somente para analisar os resultados. A universidade levou sua amostragem e a outra parte foi para consumo da família e distribuição na comunidade. Somente quando fizer seu próprio a safra será para venda. Outra experiência trazida pela universidade é o cultivo de uvas. Com esta fruta estão sendo analisados o cruzamento e produtividade de três variedades. É o experimento mais recente. Iniciado no início de 2014, o plantio já deu os primeiros resultados e já animou bastante seu Dedé para continuar esta produção. Ele conta que gostou muito de plantar a uva, pois os pés têm uma longa vida produtiva que, segundo ele pode chegar a 20 anos e também porque o consumo da água não é grande. Está usando fertilizantes naturais como esterco de vaca e compostos e produção tem sido satisfatória. Além destes experimentos trazidos pela UFAL, aconteceu ainda na propriedade de seu Dedé um ciclo de formação junto a Universidade Rural de Campina Grande, na Paraíba onde alunos e professores do curso de doutorado em agronomia mapearam diversas espécies de animais e vegetais presentes em uma área preservada de caatinga que o agricultor mantém no terreno.