Ano 8 • nº1708 Outubro/2014 Santa Cruz do Piauí
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Seu Manoel e dona Wilsa preservam olhos d’água para manter viva tradição familiar Na comunidade Mina, zona rural do município de Santa Cruz do Piauí, o casal Manoel Cícero e sua esposa Wilsa Rita mantêm a tradição de trabalhar no engenho. Não sabem dizer ao certo se o nome da comunidade é devido à existência de várias minas de águas. O fato é que ali existem roças, onde várias famílias trabalham com plantação de c a n a - d e - a ç ú c a r, t r a b a l h o repassado e ensinado pelos pais do casal. Manoel Cícero e sua esposa Wilsa Rita
Para chegar à comunidade, é preciso percorrer 16 quilômetros em estrada carroçável. Ao chegar lá, é possível perceber nitidamente o grande verde da plantação de cana ao redor das roças. Ainda existem 8 engenhos e, próximo ao engenho, fica uma área de 2 hectares, um brejo. Neste terreno úmido, o casal preserva 15 nascentes, responsáveis pela distribuição da água na plantação. A preservação das nascentes é feita naturalmente. Ao redor delas, existe uma mata verde, Nascente que é preservada para que a água permaneça sempre fria. Com uma instalação de mangueiras e pequenos registros, o curso da água nesse declive é aproveitado, de modo a permitir que a água flua uniformemente pelos regos ou canais abertos no solo.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Piauí
O trabalho começa logo cedo, com os cortadores da cana. Cerca de 6 homens cuidam do serviço. Um jumento é utilizado para levar, da roça até o engenho, as canas cortadas, prontas para a moagem. Duas pessoas são responsáveis por botar a cana no moedor e recolher o bagaço. Eles são chamados de “pés de engenho”. A transformação da garapa em deliciosos produtos é o mais interessante do processo. Rapadura, batida, alfenim e mel de engenho são derivados desse processo. A moagem é feita durante uma semana inteira nos meses de julho e agosto, todos os anos. Porque de janeiro a maio é o período de desenvolvimento da cana. Passado esse período, ela fica totalmente pronta para a moagem que atrai amigos e familiares. Após ser moída no engenho a motor, a cana desce para a pia da garapa e é colocada nos tachos. Dali é feita a rapadura, que é colocada nas formas. O produto tanto é consumido pela família quanto é comercializado. A carga com 100 rapaduras custa 180 reais. Um litro do mel de engenho é vendidos por 3 reais. A divulgação dos produtos é feita boca a boca. Algumas pessoas levam garrafas para o acondicionamento do mel de engenho, mas a preferência da maioria é pelo alfenim, que, na maioria das vezes é feito pelas mulheres que ficam na missão de cozinhar para os trabalhadores. Mulheres que também cortam cana, quando necessário. Cozinhando a garrapa O cheiro adocicado, o calor que exala das caldeiras no cozimento da garapa e a movimentação de trabalhadores/as e dos visitantes são característicos das moagens. Além de resgatar a tradição dos engenhos de cana-de-açúcar, a família do seu Cícero obtém, da produção de batida, rapadura, mel e alfenim, renda alternativa. A terra onde o casal trabalha é sedida por um amigo, porém toda a produção feita ali é dividida igualmente para ambas as partes. “Lá, onde moramos a terra não é boa, por isso nos deslocamos de lá até aqui, onde contamos com a água das nascentes”, relata seu Cícero. Faz 2 anos que o casal trabalha na Mina. Além da cana, o casal trabalha com a plantação de mandioca e feijão somente para o consumo da família e dos vizinhos. Às vezes também plantam o milho para a produção de pamonhas. Além disso, criam porcos, galinhas e gado, que também gera renda para a família.“Gosto do trabalho no engenho porque é tradição da minha família, Alfinim
desde que nasci. Continuo até hoje”, afirma o agricultor. “Eu nasci e cresci vendo esse trabalho. Gosto do movimento. A gente tem como tradição a moagem e desmancha. O serviço é pesado, mas faço porque gosto”, conta dona Wilsa Rita, esposa do seu Cícero.
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