Ano 8 • nº 1707 Outubro/2014 Marcolândia
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Casa de farinha gera renda para a família de seu Cícero Raimundo e dona Élcia Amélia Viver no Semiárido não é difícil, é maravilhoso! Melhor que viver neste lugar é trabalhar com aquilo que a terra nos dá. Ela nos dá a oportunidade de tirar alimento para consumo e comercialização. Marcolândia é uma cidade do interior do Piauí, que fica localizada na divisa do estado do Piauí com Pernambuco, conhecida como a “Terra da Farinha”. De clima frio, devido a sua localização, nas proximidades da Serra do Araripe, o município tem como principal fonte de renda o cultivo da mandioca, em especial na produção de farinha e goma. Foi na comunidade Serra de Cicero Mundim que encontramos o seu Cicero e sua esposa dona Elcia, que há muito tempo trabalham com uma casa de farinha. O nome da comunidade é uma homenagem feita ao Cícero, primeiro morador da comunidade.
Seu Cícero Raimundo e dona Elcia Amélia
Mulheres raspando mandioca
“Quando cheguei aqui, tudo era só o mato. Tinham algumas veredinhas velhas. Só a conta de passar com o jumento. Na seca de 93, chegaram mais alguns moradores. Acabei ficando famoso, sem ser famoso”, diz o agricultor sorridente e feliz por a comunidade ter seu nome. Junto com a chegada à comunidade, veio a coragem, a força de vontade e o gosto pelo trabalho na casa de farinha. “Trabalho com a casa de farinha desde 1980, quando tudo era manual. Cevava, torrava e prensava manualmente. A água era difícil. Nós carregávamos com carga em Cícero Raimundo
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Piauí
jumento, percorrendo 15 quilômetros. Com o passar do tempo, as coisas melhoraram. O que antes era manual passou a ser automático. Em 2002, compramos o forno elétrico e a prensa. A água também ficou mais fácil com a chegada dos carros pipas. Na farinhada precisamos de muita água, mesmo que seja comprada”, conta o agricultor. O casal faz a farinhada ou “desmancha”, como costumam dizer, o ano todo. “Aqui, só não fazemos quando estamos plantando, nos meses de janeiro, fevereiro e março, porque a dedicação é para a plantação. Temos que aproveitar as chuvas. Se chover hoje, amanhã já tem que começar o plantio, senão a terra seca ligeiro demais. Quando entra abril, começamos as farinhadas, que continuam o resto do ano. Mesmo que acabe a mandioca da nossa roça, a gente compra um pouco dos vizinhos e faz o trabalho do mesmo jeito”, relata seu Cicero. Acredite quem quiser! De uma simples raiz de mandioca, tudo é aproveitado. Desde o caule, que é plantando, até a retirada da ração pro gado. Da massa branca da mandioca, surgem a farinha, a goma e a puba, que levam sabor às mesa de famílias piauienses. A colheita ocorre um ano e meio depois do plantio. Geralmente feita nos finais de tarde e ao amanhecer. Chegando à casa de farinha cedo da manhã, começam os preparativos para um grande rojão, que deve durar o dia inteiro e entrar pela noite. As mulheres, geralmente em duplas, começam a descascar a mandioca, serviço antes feito com uso de facas comuns, agora conta com o auxílio de raspadores, que tornam a tarefa mais ágil e mais rápida. Lavando a massa Embora o trabalho seja puxado, para farinheiros e farinheiras não há problema, pois, mesmo com poucas pessoas, é compensador e, claro, tem menos despesas. “Aqui trabalham poucas pessoas. Com mais gente significa maior produção, mas as despesas também crescem. Seis são suficientes para a realização do trabalho. Antigamente, quando era tudo manual, trabalhavam 12 pessoas”, explica o agricultor. Uma tonelada de mandioca sem ser lavada rende 6 sacos ou até 6,5 na safra boa, sendo 5 sacos de farinha e 1 de goma seca e mais 200 quilos da casca, que é triturada na forrageira e aproveitada como ração para o gado, ovelha, porco, galinha, cavalo e bode. Não tendo o criatório, o produto pode ser comercializado. A tonelada da venda da casca chega a custar entre 100 e 170 reais. A comercialização da goma e da farinha acontece no próprio município. O saco de goma é vendido a 120 reais, podendo chegar até 160 reais. Já o saco da farinha custa hoje 45 reais. A goma fresca custa a partir 2 reais e 50 centavos, o quilo. farinha. Forno elétrico
“Eu gosto desse trabalho, pois dele tiramos o nosso alimento e ainda sobra a ração para dar aos animais. Desde os 15 anos estou nessa luta. Quem nasce aqui, já cresce aprendendo este tipo de agricultura”, afirma Vera Lúcia de Macêdo, filha do casal. Assim como outras famílias do município de Marcolândia, a família do seu Cícero receberá uma cisterna-calçadão, própria para guardar água para a produção, o que facilitará o trabalho na casa de farinha.
Realização
CÁRITAS BRASILEIRA Regional do Piauí
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