Ano 8 • nº1834 Julho/2014
Se alguém na feira duvida dessa produção orgânica, logo Aparecido convida para uma visita à mandala. As que vão voltam mais confiantes. Alguns desafios ainda precisam ser vencidos: ter um banco de sementes orgânicas; garantir o selo participativo, construir um minhocário na mandala e promover uma maior divulgação dos produtos agroecológicos para favorecer o aumento da produção, do comércio, da renda familiar e o aperfeiçoamento das técnicas de produção, pela prática dos intercâmbios. Isso já vem acontecendo. A mandala tem recebido muitas visitas de consumidoras/es da Feira das Mulheres de Viçosa e de suas integrantes; professores e estudantes da Universidade Federal do Piauí e do Instituto Federal do Ceará, Campus de Tianguá; da Fundação Cepema; do Grupo de Agricultoras/es de Massapê, através da Cáritas e de famílias do P1+2 gerenciado pela ESPAF. Muitas trocas de saberes, novas práticas e transformações. Conceição se orgulha e não se cansa de repetir a história de Giovane que coletou várias lagartas e colocou-as separadamente em contato com caldas diferentes para descobrir qual delas tinha melhor efeito e descobriu. “A ideia de trabalhar sem o veneno, sem a química é um processo. A cada dia a gente vai aprendendo mais” (Conceição) e Lucas segue o mesmo ritmo “Antes eu não sabia como funcionava uma mandala, não gostava de trabalhar. Através do Francisco Antonio conheci esse projeto. Depois que vi essa forma de produzir diferente, que é a produção organicamente correta, me interessei, estou nela até hoje e não me arrependo”. Construindo novas relações onde tudo e todos estão interligados, Aparecido deixa um convite: “Gostaria que os produtores se juntassem à gente e deixassem essa ganância de querer sempre mais. Não adianta ter uma grande produção e a própria família que produz não consumir, por causa do veneno que usam nos produtos. Peço que repensem, que raciocinem, procurem mais informação e vejam o teor ofensivo dos venenos que estão usando, prejudicando a saúde da família deles e daqueles que consomem os alimentos que eles produzem”.
Realização
Apoio
Viçosa do Ceará
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Mandala: A ciranda do saber animando a prática do bem viver O sítio Vambira, situado em Viçosa do Ceará é uma comunidade surpreendente! Por um lado reconhecida pela grande produção de frutas, verduras e hortaliças, à base de agrotóxicos e por outro, está se tornando referência na produção orgânica desses mesmos produtos. Tudo começou há uns cinco anos, quando Conceição Galeno conheceu uma mandala pela TV e através de um Projeto da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agrário (SDA), em parceria com o STTR, conseguiu R$ 3.100,00 para sua construção. A família tem movimentado os novos conhecimentos e práticas sobre a mandala em diversos espaços. Conceição(45) atua como secretária de mulheres do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) e integra o Grupo de Mulheres da Feira, seu esposo José Aparecido(43), está como presidente da Associação da Escola Família Agrícola da Ibiapaba – AEFARI, seus filhos: Lucas(15), estuda no Curso Técnico Agropecuário da Escola Família Agrícola da IBIAPABA – EFA, Giovane(27), faz o Curso Técnico Agrícola do Instituto Federal do Ceará, e Adriana sua esposa, agricultora e mãe de Jonas Levi (3) e Elias Davi (recém-nascido). Só Cleane(26) mora na cidade vizinha de Tianguá e trabalha no comércio. No início a vizinhança estranhou, achou que tudo era uma loucura, deixar de produzir de uma forma que “dá certo” para voltar ao que já passou, diziam alguns, mas Aparecido logo desmentia: “Não estou voltando estou progredindo, estou saindo do pior para o melhor. Tô visualizando a saúde não só da minha família, mas a saúde dos que estão consumindo o que estamos produzindo”. A mandala combina a produção de fruteiras, hortaliças, verduras, legumes, cereais, ervas cheirosas, medicinais e flores com a criação de peixes e aves. Os canteiros arredondados imitam o sistema solar e o tanque central corresponde ao sol. Assim a energia natural roda, como numa ciranda. A água é abundante, sai de um poço para o tanque central, descendo por gravidade e é trocada todos os dias.