Família de Agricultores Preserva Tradição com Casa de Farinha no Município de Ninheira

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Ano 8 • nº1886 Setembro/2014 Porteirinha

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Família de Agricultores Preserva Tradição com Casa de Farinha no Município de Ninheira A farinha de mandioca é um alimento muito comum no Brasil, faz parte das refeições diárias de muitos brasileiros. A fabricação desse alimento tão difundido ao longo dos tempos é considerada uma das mais antigas técnicas de processamento de alimentos, surgida há cerca de 2000 anos. No município de Ninheira, situado no norte de Minas Gerais, região semiárida do país, houve sempre uma forte Dona Ana ao lado de sua horta e tradição de produção de farinha. Cada família construía plantação de mandioca sua casa de farinha, e ali todos os membros da família participavam diretamente do processo, porém, com a inserção das máquinas industriais essa forma de produção tão antiga, tem perdido espaço para as grandes produções. Os poucos agricultores que ainda resistem, são grandes exemplos de guardiões de uma nobre tradição, como é o caso de dona Ana Gomes Leal de 74 anos e seu Valdir Leal de 78 anos, que mantém até hoje sua casa de farinha Senil retirando a umidade da farinha artesanal. Isso é possível graças aos filhos do casal que deram continuidade ao trabalho. Ana e Valdir tiveram 10 filhos, hoje todos são casados, e vivem bem. Dona Ana conta que nem sempre foi assim, começou a trabalhar aos 7 anos de idade, as oportunidades eram poucas e as dificuldades eram muitas. Longos períodos de seca, poucos recursos financeiros e oportunidades de trabalho, carência de acesso a escola são alguns exemplos. Mas a criatividade e força de vontade do casal foram suficientes para superar as adversidades, criar os filhos e formar uma bela família. Dona Ana conta que “as pessoas que moram na zona rural aprendem a ser fortes, porque necessitam do esforço para sobreviver”, e uma das alternativas encontradas pela família para superar as dificuldades financeiras é a produção de farinha, uma atividade que a família desenvolve há mais de 40 anos. Até hoje a casa de farinha que passou por várias transformações mantém o caráter artesanal e é usada por seus Senil e Cecília


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Produção de farinha

Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

Beju

Hortaliças cultivadas por dona Ana

filhos, genros , noras e netos que tiram dali parte do seu sustento. Como é o caso de Senil, filho de dona Ana e seu Valdir casado com Cecília a cerca de 30 anos. O casal conta que durante o período de chuva plantam a manaíba e, nos períodos de estiagem fazem a farinha. Cecília descreve o processo de produção: “plantamos a manaíba, cuidamos da lavoura durante cerca de dois anos, depois arrancamos a raiz da mandioca, raspamos a pele, ralamos, imprensamos até sair todo o líquido, ralamos novamente a massa e levamos ao forno para torrar. É trabalhoso, mas no final temos a recompensa”. Desta prática ainda fazem goma, beju e puba (farinha fina ideal para mingaus e bolos). O processo de puba consiste em colocar a Senil e Cecília torrando mandioca na água por durante 8 dias, depois de puba essa mandioca é farinha ralada, e a massa lavada várias vezes, por fim é só esperar a massa secar. Dona Ana conta que seus filhos foram desde muito pequenos alimentados com puba e isso fez com que eles crescessem fortes e saudáveis. Além da farinha, a família de dona Ana e seu Valdir tinham um engenho para fazer rapadura e uma olaria onde fizeram as telhas que até hoje cobrem a casa de farinha, faziam ainda fumo e tinham um mini açougue na feira, compravam gado dos vizinhos e tiravam a carne para comercializar. Mesmo com tantas atividades sempre se dedicaram a lavoura, hoje produzem no seu quintal milho, melancia, abóbora, fava, andu laranja, goiaba, mamão, chuchu, banana, coco do Pará, abacate, palma, hortaliças como couve, alface, cebolinha, tomate, beterraba, coentro, mandioca brava e mansa. E ainda criam animais como aves, porcos e gado. Como diz o senhor Senil “só não inventamos o que é Prensa Artesanal desonesto, no mais já fizemos de tudo um pouco”. Comenta ele. Cecília conta que: “o biscoito chimango, que nós comemos no café da manhã é feito com farinha, goma, ovo e leite, e nós temos todos os ingredientes em nosso quintal, não precisamos comprar quase nada”. O excedente desta variedade de produção é levado á feira nas manhãs de sábado garantindo renda o ano inteiro. Criatividade é a marca dessa família que não se oprime com as adversidades, mas se mostram inventivos e perseverantes, aprendendo sempre novas atividades. “O povo da zona rural não fica parado, não pode ficar parado, tem que lutar, e nunca ficar sem trabalhar” finaliza dona Ana, com o rodo de torrar farinha na mão e um sorriso no rosto.

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