Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 8 • nº 2020 Agosto/2014
O Equilíbrio Natural do quintal de Erasmo O agroecossistema comandado por Erasmo e sua família, é marcado por uma forte consciência agroecológica e atuação exemplar na utilização das práticas aprendidas. Ao longo do tempo conseguiram, por meio da observação da área e do conhecimento adquirido estruturar um ambiente diversificado tanto no aspecto vegetacional como no equilíbrio de animais e pássaros, efetivando assim a segurança e soberania alimentar, pois aquilo que não é consumido também é comercializado na Feirinha do Benfica. Em uma área de cinco hectares e meio a natureza convive em estado de equilíbrio entre as espécies. Atualmente a família está produzindo banana, macaxeira, caju e urucum. Toda essa produção obedece aos princípios da agroecologia, do respeito à natureza e ao ser humano: “aqui a gente trabalha com a rotação de culturas, com os defensivos naturais, o que agente usa muito aqui é o nim” Afirma Erasmo. A água que utilizam na manutenção das fruteiras vem de poços escavados artesanalmente ao longo de um riacho que passa na propriedade. Nessa época do ano ele seca e sobram pequenos poços, onde fazem a irrigação “do jeito que ta aqui o motor só agüenta 15 minutos ligado” conta Erasmo da dificuldade de conseguir água. Segundo ele, a implementação da cisterna calçadão trará muitos benefícios, ele pensa em fazer uma estufa e assim defender as hortaliças dos raios solares: “aí tem a parte de hortaliças que nessa época agente não consegue muita coisa porque o sol é forte e mata as plantas, mais agente produz o couve, agrião, a rúcula, tudo que agente produz vende lá na feira”
Capistrano (CE) Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Três Corações e uma História: Amar a natureza, preservar a vida e o meio ambiente. No município de Capistrano (CE), a experiência de agricultores experimentadores que realizam seus trabalhos baseados nos princípios da agroecologia, já ganhou espaço e notoriedade para além dos pés de serra que os rodeiam. Esses pioneiros são Pelé, Erasmo e Magno, das comunidades de Sítio Iu, Pesqueiro e São Bento respectivamente. A iniciativa começou com o Curso de Manejo Ecológico e Horticultura Orgânica através do Projeto AFAM – Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado realizado no Município de Barreira (CE) em que os três participaram há quatro anos: “de lá pra cá, ninguém usou mais veneno” afirma Pelé. As três propriedades têm suas particularidades, mas uma coisa em comum é o verde contrastante com o cenário cinzento da caatinga. A produção é diversificada e conta com grande variedade de vegetais livres de agrotóxicos, além de mel, ovos caipiras, dentre outras especiarias que são comercializadas quinzenalmente na Feirinha do Benfica, realizada pelo grupo de Consumidores Responsáveis do bairro Benfica, localizado em Fortaleza (CE). Que tem por objetivo: debater e praticar alternativas de consumo pautadas na solidariedade, na produção agroecológica, envolvendo arte, educação e respeito à MÃE TERRA.
Consumo Responsável
Erasmo em seu Agroecossistema
Plantação de milho
Erasmo no preparo da calda nutritiva
Plantação de bananas
O objetivo de consumo responsável extrapola o atendimento de necessidades individuais ao levar em consideração seus reflexos na sociedade, na economia e no meio ambiente. Para isso, precisamos estar bem informado sobre os produtos e serviços que queremos adquirir e/ou contratar, visto que o poder de transformação social está em não reproduzir nem alimentar aquilo que renegamos. Optar por formas de produção que levem em questão a ética, o respeito aos direitos humanos, os limites naturais do planeta é um meio de pressionar e não financiar produtores e/ou empresas que degradam, oprimem, exploram em nome do lucro privado. Por tanto, o consumo responsável considera outras relações entre consumo e produção de modo que todos saiam ganhando. Fonte: Site do Grupo de Consumo Responsável de Fortaleza
Realização
INSTITUTO Antonio Conselheiro
IAC
Apoio
Pelé, comercializando seus produtos na feirinha do Benfica
Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Pelé: o artilheiro da Convivência com o Semiárido
Magno, a força da juventude na Agroecologia
Valter Francilino Nogueira, mais conhecido como Pelé, vive com a esposa Marta, os filhos Matheus, Marcelo e os gêmeos Waldemar e Ana Laura, na comunidade de Iu: “La em casa agente trabalha no regime familiar, todo mundo ajuda um pouco” Afirma Pelé. Há cerca de dez anos eles conquistaram uma Horta Mandala, sendo essa a atual fonte de água para a irrigação das hortaliças e das fruteiras que ficam no quintal de casa: “eu fiz o curso da Mandala aí eu comecei a pegar um conhecimento muito bom sobre a agroecologia, aí depois veio o curso em Barreira e de lá pra cá já faz uns oito a dez anos que agente trabalha com a Agroecologia” relembra Pelé do seu primeiro contato com o sistema agroecológico de produzir.
Nossa bandeira são todas as bandeiras Misturadas, amarradas com o laço do amor É a juventude agroecológica Que vai pintar o mundo todo de outra cor. Zafenate
Toda a produção é voltada para o consumo da família, o excedente é vendido na Feirinha: couve, quiabo, alface, beterraba, cenoura, maxixe, tomate cereja, pimentão, pimenta de cheiro, laranja, manga, mamão, acerola e abacaxi que são produzidos de maneira totalmente agroecológica: “toda vida quando eu ia pulverizar com agrotóxico me dava um mal estar, uma dor de cabeça, aí eu vi na televisão o caso de uma pessoa de Minas Gerais que sentia o mesmo sintoma e começou a trabalhar com a agroecologia e tava dando certo” afirma Pelé contando dez anos que se livrou do veneno. Mostrando os defensivos naturais que ele mesmo produz, Pelé não deixa de lembrar: “Na agroecologia tudo que você faz é econômico, você não compra nada, a natureza já tem tudo que ela precisa”. Dona Marta prepara bolo de milho, doce de caju e mamão que fornecem para a merenda escolar de Capistrano, através do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA. Ela também cuida da farmácia viva da família: capim santo, alfavaca, cidreira, hortelã, dentre outros que garantem tratamento natural em casos de doença.
O agricultor Magno cuida do seu terreno com muito carinho, são oito hectares bem divididos entre as áreas de plantio e de preservação. A casa onde vai morar com a esposa Deusivane e as duas filhas já está quase pronta, assim como a cisterna calçadão conquistada pela família, que logo estará finalizada. Quanto à tecnologia social Magno afirma: “A cisterna é um grande passo, porque tanto vai servir pra gente produzir pra vender e consumir, o sustento da família vai melhorar”.
Magno mostra sua coleção de revistas agroecológicas
Magno conta da sua insegurança ao começar a trabalhar com a Agroecologia e diz que não confiava muito no novo sistema de produzir: “No começo eu reservei uma área pequena e plantei pra ver se tinha resultado e teve né, aí a partir desse momento eu vi que dava certo”. De lá pra cá, o agricultor abraçou a produção livre de agrotóxicos pelo bem da saúde e da vida.
Além das hortaliças eles produzem a banana para a venda na feirinha: “Eu nunca tinha ido, só mandava os produtos, aí teve uma vez que eu fui, eu achei muito interessante lá, o pessoal confia n'agente, nos nossos produtos, que são naturais, aí a gente acha muito bom né” conta Magno da alegria que foi a sua primeira visita à Feirinha do Benfica. A água utilizada na produção também vem de um poço escavado na propriedade: “O rio secou aí a gente cavou um buraco que deu água suficiente, ela dá pra aguar as plantas, aí fica seco, mas no outro dia já tem água de novo”. Preocupados com o uso de agrotóxicos pelos vizinhos, Magno já teve uma idéia: “aí a gente chamou o Neto, que deu o curso pra gente, pra vim Magno e seu cultivo aqui na comunidade, trazer uns vídeos, dar umas agroecológico de bananas palestras, pra ver se o pessoal se conscientiza”.
“Essas nossas terras aqui é boa, tendo água tudo que plantar dá”
Magno é consciente do seu papel no sistema de produção Agroecológica: “A gente respeitando a mãe natureza ela retribui, respeitar o tempo dela, porque pra tudo tem o tempo, de plantar, de germinar, de colher, não adianta acelerar, tem que respeitar o tempo dela.”