Família sertaneja trabalha com amor no cultivo do chão

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Ano 8 • nº1583 Agosto/2014 Serranópolis de Minas Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Família sertaneja trabalha com amor no cultivo do chão O saber e a vontade de cuidar da terra são características muito presentes na vida dos sertanejos de Serranópolis. É de dar gosto! Com essa expressão que os moradores da comunidade de Pintado demonstram a felicidade em cultivar na terra. E é nesta comunidade que vivem o casal João Pereira da Silva de 56 anos e Dona Clemência Rosa de Souza de 58 anos. Pais de 9 filhos: Marinalva, Marisa, Maria das Graças, Luciene, João Filho, Ivone, Ana, Sueli e Silvio.

Dona Clemência e o Senhor João

Nascida na comunidade de Cachoeira Dona Clemência é casada há 37 anos com o Senhor João que nasceu na comunidade de Ventura. No início o casal morou em uma casa cedida, depois de alguns anos, decidiram ir par outro terreno, cedido por um grande amigo na comunidade de Pintado. A família sempre trabalhou na roça, e a vida sempre foi muito difícil. Dona Clemência conta que o tempo era divido em muitas tarefas importantes, como por exemplo: Providenciar água, cuidar das crianças, cuidar das plantações e trabalhar para outros agricultores recebendo por dia. Conta também que não tinha transporte na comunidade de Pintado até a cidade de Serranópolis de Minas, então, quando precisavam ir ao mercado ou no posto de saúde percorriam 11 Km a pé ou a cavalo. Maria das Graças uma das filhas do casal, conta que começou a estudar com 11 anos de idade, e para que isso acontecesse ela precisou ir morar na cidade para trabalhar como doméstica num turno, e estudar em outro. A escola ficava na cidade e não havia transporte escolar. Sem muitas oportunidades para estudar e trabalhar na roça muitos filhos do casal se mudaram para outras cidades, e há cerca de seis anos dona Clemência resolveu morar na cidade com os filhos que ainda não eram casados, como ela mesmo conta: “Há seis anos compramos um lote e construímos uma casa em Serranópolis. Eu fui tentar morar lá, só que eu nascida e criada na roça não acostumei”. Seu João nem mesmo tentou a vida na cidade, visto que suas experiências sempre foram relacionadas ao cultivo da terra: “Na roça tenho mais liberdade, os vizinhos são muito solidários e unidos”. Comenta ele.


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

Nesse terreno em que vive há mais de 26 anos produz hortaliças e frutas como manga, maracujá, laranja, e outros alimentos como mandioca, feijão, berinjela, andu entre outros. Estes alimentos são utilizados no consumo e o excedente é vendido para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). É importante ressaltar que para o controle de pragas e doenças nas plantas, ele usa defensivo natural, o que garante alimentos saudáveis sem agrotóxicos. O casal sempre está inovando com alternativas simples que garantem plantas sadias, seu João comenta que: “Na lavoura sou quase um técnico, só estudei até a quarta série, mas aprendi sobre lavoura na prática”. Por essas razões ele é conhecido como um sábio agricultor da região. Senhor João e seu pé de maracujá nativo

Por muito tempo a água usada pela família era somente de um rio não perene, conhecido por rio Brutiá, na época de estiagem secava, e para o consumo era cavado um buraco chamado de cacimba no meio do rio, para brotar água. Mas há seis anos foi feita uma encanação de 8 Km da nascente que fica na Serra Geral. O Senhor João diz: “Apesar da água ser pouca, foi uma conquista muito grande para os moradores das comunidades de Pintado, Campos e Brutiá”. Ele conta também que logo veio a primeira água do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). Ajudando a permanência de muitas famílias nas comunidades. No ano de 2013 a família do Senhor João recebeu a cisterna-enxurrada construída pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) em parceria com o Sindicato Dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha. Destaca o Senhor João: “Com a chegada da cisterna, fiquei mais animado para aumentar a plantação, pois sabendo usar a água de forma adequada da para plantar até na época de estiagem”. Também há alguns meses, a família recebeu o projeto, do Programa Agroecológico Integrado e Sustentável (PAIS). Fortalecendo cada vez mais a agricultura familiar.

A associação da comunidade de Pintado A família trabalha com muito amor e dedicação, e está sempre presente nas lutas da comunidade. Uma delas é a Associação dos Pequenos Produtores do Pintado com mais de 40 sócios, que através dela conseguem projetos, seu João foi presidente por 2 mandatos e agora é tesoureiro. Também participam os sócios das comunidades de Brutiá e Campos. A associação foi criada no ano de 2003, erguida com fundos de doação, festejos e bingos, realizados pelos moradores. Max Vinícius, sócio, conta: “A necessidade de unir e se organizar era grande, pois o aceso a água estava cada vez mais difícil colocando em risco a permanência dos moradores nas comunidades. Hoje muitos que mudaram para a cidade estão de voltando para suas propriedades, graças os recursos conseguidos através dos projetos e luta dos moradores. Foi construída na associação uma casa de semente crioulas pela ASA-P1+2, que visa garantir a soberania alimentar e preservar as espécies de sementes da região. As famílias sertanejas, como a da Senhora Clemência e o Senhor João de Ambrósio, é um das muitas da comunidade de Pintado, que vem lutando por dias melhores no campo, com a certeza de bons resultados, respeitando o meio ambiente, e garantindo a soberania alimentar.

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