A busca pelo aprendizado mudou a vida de Márcia Patrícia para melhor

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explica Patrícia. Hoje cria apenas duas vacas que chama de mimosa e belinha. que agora, com o manejo e a alimentação adequada, produzem a mesma quantidade de leite que as outras 8. Patrícia diz que aprendeu também que as raças nativas são melhores, pois são mais adaptadas a região. Hoje a propriedade é toda arborizada, especialmente com as frutíferas como acerola, graviola, limão, laranja e goiaba. Ela utiliza da água da lavagem de louça para regar essas plantas. Também começou a dar mais atenção ao cultivo de verduras para garantir uma melhor alimentação para a família. Mas, para Patrícia, a mudança mais importante foi seu terreiro, que agora está sempre limpo. Ela conta que antes era muito sujo de sacolas e, depois de participar de momentos de formação, percebeu a importância de cuidar do lixo. Patrícia ainda conta que os intercâmbios foram fundamentais no processo de aprendizado. Aprendeu os cuidados que se deve ter com o cocho de sal dos animais, a consorciar a palma e especialmente o manejo das plantas medicinais. Antes quase toda a renda da família vinha do salário de Rogério. Hoje a maior parte vem da agricultura e da criação, explica. Patrícia vende o leite das vacas e os ovos das galinhas, esse recurso é utilizado para as necessidades da casa e para comprar o farelo para as vacas.Márcia Patrícia recebe sempre visitas para conhecerem sua experiência. A relação com o marido melhorou muito. Hoje tudo é combinado, todas as decisões são feitas juntos, diz Patrícia. Ela fala que a divisão de atividades é um pouco mais justa. Mas ainda encontra muita resistência de Rogério para as atividades domésticas. Patrícia afirma que sair de casa para as reuniões e visitas foi fundamental para que ela tivesse coragem para enfrentar os obstáculos da sua vida e construir uma relação mais justa com seu marido. Ela tem grandes planos, pretende voltar logo a estudar, planeja fazer o Pronatec, também pretende estimular Thainá a participar mais ainda da dinâmica do Sindicato. Além de aumentar a produção de palma resistente a cochonilha, de mil folhas para 2 hectares. Também quer estruturar o arredor da cisterna-calçadão, além de aumentar a criação de ovelhas, por ser um animal mais resistente e que consome menos que bovinos.

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Ano 8 • nº1952 Janeiro/2015 Queimadas Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

A busca pelo aprendizado mudou a vida de Márcia Patrícia para melhor Márcia Patrícia nasceu na comunidade Riacho do Meio, no município de Queimadas. Ela é filha do segundo casamento da mãe, que se chama dona Severina, e do terceiro casamento do pai, seu Apolônio, sendo a nona filha do total de treze irmãos. Patrícia é casada com Rogério, com quem tem duas filhas, Talita (12) e Thayná (9). A família mora na comunidade Lutador, também no município de Queimadas. Desde criança, Patrícia teve que trabalhar muito. Ela conta que a mãe era caseira em uma fazenda onde passava a semana trabalhando para manter toda a família. Por isso, Patrícia ficava responsável pelos cuidados da casa e dos animais, além de ter que lavar roupa para fora para ter seu próprio dinheiro. Ela lembra que muitas vezes viu sua mãe sofrer agressões físicas do pai e que ao tentar defendê-la, ela e os irmãos acabavam apanhando também. Patrícia conta que muitas noites a família tinha que dormir ao relento, para não apanhar do pai. Aos 18 anos, Patrícia largou os estudos para ir morar no Rio de Janeiro, nessa época fazia a 6ª série. No Rio de Janeiro, trabalhou como caixa de uma loja de material de construção por dois anos. Em janeiro de 2000 resolveu passar as férias na Paraíba e, ao chegar, decidiu ficar de vez. Já na Paraíba, conheceu Rogério. Eles eram amigos e sempre se divertiam juntos. Até que no ano 2000, eles foram para uma vaquejada, acabaram namorando e, 15 dias depois, se casaram. Patrícia logo engravidou, mas acabou sofrendo um aborto espontâneo. Nesse período, foi morar com Rogério e a mãe dele, dona Ana, numa propriedade de 6 hectares na comunidade do Lutador. Lá viveram por um ano e meio. Patrícia relembra que esse período foi muito complicado, pois a relação com a sogra era cheia de conflitos e esses problemas


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acabavam refletindo em seu casamento. Nessa mesma época, engravidou novamente e, em 2002, nasceu Talita. Foi por meio da venda de umas ovelhas que Patrícia e Rogério conseguiram construir uma casa na mesma propriedade e, em 2004, se mudaram. Ele trabalhava na cidade todos os dias, com serviço de refrigeração, e ela ficava tomando conta da casa e dos animais. Patrícia conta que todas as decisões sobre o lar, como as compras para casa, eram sempre tomadas pela mãe de Rogério. Todas as vezes que Patrícia recebia alguma visita, dona Ana ligava para o filho contando, ao chegar em casa Rogério brigava com Patrícia e a batia. Por várias vezes Patrícia foi agredida, e em duas delas estava grávida e acabou perdendo os bebês. Em 2005, Patrícia engravidou novamente onde nasceu Thayná. Em 2010, Patrícia assumiu a gestão do Fundo Rotativo Solidário (FRS) da comunidade. Antes era responsabilidade de dona Ana, mas ela sofreu um infarto e por isso não poderia mais acompanhar as atividades. Patrícia começou a participar de várias reuniões da associação comunitária e do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rural de Queimadas. Nessa época, os FRS eram para construção de cisternas da primeira água. E foi através dele que Patrícia conquistou, em 2005, sua cisterna. Ela conta que a falta d'água era uma das maiores dificuldades. Patrícia lembra que tinha que pegar a água na cisterna da sogra e isso tornava a convivência mais complicada. Outro grande desafio era conseguir conciliar a criação com o roçado, além da falta de alimentação para os animais no período seco. Patrícia foi se envolvendo cada vez mais nas ações do STR e encontrou um grande apoio e fortaleza para conseguir superar as dificuldades que sofria em casa. Lá eu encontrei minhas advogadas, promotoras e juízas, brinca Patrícia. Hoje a agricultora faz parte da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Queimadas. Também é animadora da Comissão de

Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba

Criação Animal do Polo da Borborema e participa diretamente do Comitê Ana Alice, formado para ajudar as mulheres a enfrentarem situações de violência. Houve resistência de Rogério para aceitar a participação dela nesses espaços, mas depois ele se conformou. Patrícia lembra que, envolvida na ação do Sindicado, sofreu muitas críticas, principalmente das mulheres de quem era vizinha. Hoje consigo levar essas mesmas mulheres para participar das reuniões do STR, comemora Patrícia. Em 2011, Márcia Patrícia resolveu voltar a estudar. Concluiu a 7ª e a 8ª série pelo supletivo no período da noite. Em 2013, regressou aos estudos, dessa vez para concluir o ensino médio, se formando em 2014. Em 2013, conquistou uma cisterna-calçadão que tem capacidade de armazenar 52 mil litros d'água para produção através do P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas). Patrícia chama, com orgulho, sua cisterna de “meu ouro” e lembra que embora não tenha chovido muito nos últimos anos, a família consegue transferir água de um barreiro para a cisterna mantendo a água armazenada por mais tempo. Ela diz que todos os vizinhos já compraram água e ela não precisou ainda. Na casa de Patrícia tem um banco de sementes comunitário instalado em 2012. Em 2013, recebeu um apoio do P1+2 para estruturação.Patrícia conta que hoje a família cultiva feijão, jerimum, além do sorgo para fazer silagem. Em 2014 ela conseguiu armazenar 15 toneladas de forragem. Também cultiva algumas plantas medicinais no arredor de casa como açafrão, pimenta, hortelã e saião, além de criar galinha, ovelha, gado e porcos. Ela lembra que antes criavam oito vacas. Quando comecei a participar da Comissão de Criação e das reuniões aprendi que o que importa não é a quantidade e sim a qualidade,


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