Ano 8 • nº1603 Agosto/2014 Montes Claros - MG
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
‘‘Agricultora Com Muito Orgulho”: história de uma agricultora que luta pelo direito de uma alimentação saudável
“Planto não visando o lucro, mas sim para as pessoas comerem bem”. Com essa afirmação, Maria Madalena Oliveira Leite, mais conhecida como Dona Nenzinha, que desenvolve agricultura familiar na comunidade de Aboboras, localizada no município de Montes Claros, norte de Minas Gerais, mãe de cinco filhos e avó de dez netos, expõe seu pensamento sobre a importância da alimentação. Em tempos em que o veneno está na mesa, é fundamental entender a história dessa agricultora e a relação dela com a terra para nos conscientizar do valor da agricultura familiar.
Produção caseira de biscoitos: renda e passa tempo
Dona Nenzinha possui em seu quintal produtivo diversas frutas, hortaliças, raízes e verduras, ela faz questão de mostrar sua produção de banana, pinha, jaca, conde, abacaxi, abacate, acerola, coquinho azedo e manga. Os três últimos são entregues à cooperativa Grande Sertão, que comercializa polpas de frutas de agricultores familiares para o norte de Minas e o restante do Brasil, e onde Dona Nenzinha ocupa o papel de vice presidente. Ela relata brevemente que a cooperativa nasceu em 2003 quando um grupo de agricultores e agricultoras resolveu formar uma microempresa para comercializar produtos naturais da região para aumentar a renda. Além dos citados ela cultiva também, café, feijão, andu, tomate cereja, mandioca, cenoura e beterraba, que são consumidos na propriedade. Dona Nenzinha também tem uma pequena produção de biscoitos caseiros para comercialização que entrega nas feiras e no Centro de Agricultura Alternativa – CAA/NM, onde atua como sócia e conselheira, além de ser vice secretária.
Hortaliças que garantem a segurança alimentar de várias crianças.
Toda a produção é feita de forma natural, sem nenhum uso de agrotóxico, o adubo é feito dentro da própria propriedade, chamado por Dona Nenzinha de Adubo composto, que contém adubo de galinha, folha seca, adubo de gado, cinza e casca de ovo.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais
Com esse adubo ela produz com qualidade e fartura alimentos que são consumidos pela própria família, a outra parte é entregue ao PAA e comercializado no mercado municipal de Montes Claros e em feiras da cidade. A relação com a terra para Dona Nenzinha é algo muito forte, segundo ela é algo de família, “desde pequena cultivo hortaliças, aprendi com meus avós a cultivar a terra, e desde os meus avós nunca usávamos veneno, Ovos agroecológicos plantávamos arroz, feijão e batata”. Essa consciência em relação à alimentação saudável ampliou-se com a participação de Dona Nenzinha nos eventos da Articulação do Semiárido Mineiro – ASA Minas, “Agradeço a ASA pela participação nos intercâmbios, a partir do momento em que participamos dos eventos aprendemos a valorizar o que temos na nossa terra, aprendemos a valorizar as sementes, a alimentação e a produção”. Ela participou de 4 eventos do Encontro Nacional de Agroecologia - ENA, do evento Agricultores e Agricultoras Experimentadores(as), e segundo ela com todos esses eventos “aprendemos a valorizar as coisas pequenas”. Por isso ela se diz uma “Agricultora com muito orgulho” e sente “firmeza e gosto ao repassar para os filhos e netos o valor de ser agricultora, porque sei valorizar meu alimento, que é muito saudável’’ A prática da agricultura familiar é algo tão forte na história de vida de Dona Nenzinha, que suas lembranças e memórias estão articuladas com a terra e a produção. Quando relata o que marcou sua juventude ela diz: “O que marcou foi ralar mandioca na mão e fazer rapadura, pois reunia todo o pessoal da comunidade”. Contudo, mesmo com uma produção alimentar farta e saudável, ela nos apresenta reflexões e preocupações importantes para o campo. Dona Nenzinha relata que a juventude criada na comunidade está saindo para viver na cidade, em busca de vida melhor, quando, na verdade, a qualidade de vida está no campo. Portanto, “é preciso incentivar os jovens a permanecerem no campo”, conscientizando-os do valor que a terra e a vida no campo têm. Dona Nenzinha é uma pessoa consciente do valor da alimentação, dos avanços que o homem do campo conquistou, mas muito atenta aos problemas sociais e políticos que afligem o campo. Quintal produtivo que garante a soberania alimentar
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