"A exemplo do bem-te-vi a família não desistiu do lugar"

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Ano 8 • nº 1849 Julho/2014

RETIROLÂNDIA Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

A exemplo do bem-te-vi a família não desistiu do lugar “Até os passarinhos estão voltando pra cá agora” comemora Seu Rafael interrompido por Dona Terezinha que complementa numa felicidade só: “Aqui eles acham o que comer de sobra, porque tem repolho, beterraba, pimentão, alface, cebolinha, coentro, salsa, abóbora... e tem a pimenta que os passarinhos adoram! Ah! Tem também o quiabo, tomate, aipim, maxixão, melancia, acerola, milho, couve, maracujá e outras coisas que eles gostam”, enfatiza. O retorno de várias espécies de pássaros, dentre eles o bem-te-vi, atraídos pela diversidade de alimentos produzidos no quintal da Fazenda Lagoa dos Bois, situada no povoado de Mandápolis, município baiano de Retirolandia, é agora comemorada pelo casal de proprietários. Mas nem sempre foi assim, como conta o agricultor e ex-caminhoneiro Rafael Silvestre Carneiro: “Sempre tive vontade de ter o meu quintal produtivo. Eu era motorista de caminhão e deixei. Depois coloquei a horta, tive vontade de largar tudo, já tava desistindo porque tudo que plantava não ia pra frente por falta da água”. O bem-te-vi tem grande capacidade de adaptação e é um dos primeiros pássaros a cantar ao amanhecer no semiárido.

O casal exibe os alimentos produzidos sem veneno ou qualquer tipo de insumo químico

Assim como o bem-te-vi que defende seu território vigorosamente e que está sempre descobrindo novas formas de alimento, Seu Rafael percebeu que precisava aprender a conviver bem com o semiárido. E aprendeu que isso é possível com o acesso e o manejo sustentáveis da terra e da água para produção de alimentos. Seu Rafael e sua família agora fazem parte do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), e em agosto de 2013 foram contemplados com uma cisternacalçadão. Avô do pequeno Ruan de 04 anos e sempre ao lado de sua esposa Terezinha de Oliveira Carneiro, mãe dos seus três filhos, Rafaela com 27 anos, Caroniele com 18 e Higor Gabriel com 08, participou do curso de Gestão da Água para a Produção de Alimentos (GAPA).


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

O GAPA promove troca de conhecimentos quanto ao manejo adequado dos recursos hídricos e produção de alimentos agroecológicos, discute com a comunidade sobre a importância da participação cidadã para defesa e proteção do meio ambiente, sobre as novas tecnologias de convivência com o semiárido e promove momentos de reflexão sobre as estratégias de manuseio e gestão das águas disponíveis em seus sistemas de produção, para além das construídas pelo projeto. “No GAPA, aprendi muita coisa. Antes plantava com água da Embasa que ia buscar no povoado de Mandápolis e perdia muito porque sapecava tudo com o cloro, perdia cem por cento às vezes por causa do cloro. No curso aprendi tudo sobre o uso da água, a fazer os canteiros, até o canteiro econômico”, conta. E como a maestria do bem-te-vi que tem um importante papel na distribuição de sementes, continua Seu Rafael: “Aprendi como adubar, a plantar, pois não tinha experiência para plantar, não sabia o tanto de veneno que a gente comia. Esse veneno não me mata mais não. Hoje adubo com resíduos de sisal e com a terra da quixaba, tudo natural”, comenta com sua aprendizagem agroecológica Dona Terezinha, que nasceu e sempre morou na roça, trabalhando e estudando ao mesmo tempo, diz que sempre ensinou seus filhos a gostarem da terra que lhes dão o sustento. “Gosto daqui e depois da cisterna aprendemos que colocando adubo e molhando, tudo que planta aqui colhe”, e complementa: “Todos que ganham a cisterna precisam trabalhar senão ela sozinha não faz milagre. Tem que unir a tecnologia e o trabalho para ter sucesso como nós tivemos”, enfatiza. O sucesso que Dona Terezinha fala é a comercialização dos produtos produzidos no próprio quintal. “Daqui tiramos o sustento, vendemos nossa produção para pagar nossas despesas, ajudar nossos filhos, é uma renda extra e também é uma terapia para a mente. Antes ficava sem fazer nada, batia uma tristeza, mas agora não! Tenho muito que fazer... limpar, colher, plantar, vender, precisa coisa melhor?”, conclui com orgulho e semelhança ao casal de bem-te-vi que além de construir o ninho onde vive, dividir as tarefas de cuidar da prole, ainda é um dos primeiros pássaros a cantar ao amanhecer no semiárido.

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