Agricultor pedreiro de cisternas de placas: a experiência de Francisco

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Ano 8 • nº1949 Maio/2014 Massaranduba

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Agricultor Pedreiro de Cisternas de Placas: a experiência de Francisco Francisco Silva Cardoso tem 37 anos e vive com a esposa, Maria Cristina e o enteado Emmanuel, de 14 anos, no Assentamento Caiana, município de Massaranduba-PB. Francisco e Maria Cristina são casados há três anos. Maria trabalha como professora na escola da comunidade e também se encarrega das criações e plantas no arredor de casa. Na terra de 7 hectares, vivem em outra casa o pai, a mãe e um irmão de Francisco. Ele conta que dos 11 filhos, só ele e este irmão ficaram nas terras que um dia foram de seus avós. Foi depois de muita luta que a área foi desapropriada em 1994 pelo INCRA e foi dividida entre 67 famílias, em lotes de 6 ou 7 hectares em média para cada uma. Na propriedade a família de Francisco e Maria Cristina produz feijão, macaxeira, fava, milho, inhame e frutas como banana, laranja, caju, coco. Maria tem muitas plantas medicinais como alecrim, none e arruda. Para os animais, plantam forrageiras como o capim elefante, braquiária e braquiarão. Eles já possuem um silo com cinco mil quilos de forragem armazenada para o próximo período seco. Eles criam 7 porcos, 8 cabeças de gado e cerca de 50 galinhas. Também mantém na propriedade uma matinha com pés de ipê, sucupira e camunzé, entre outras espécies. Toda a produção vai para o consumo da família, vendem apenas as criações, geralmente na própria comunidade. Francisco conta que a sua vida era assim: quando o verão chegava eu precisava me deslocar para o Rio de Janeiro em busca de trabalho, quando o inverno chegava eu voltava e ia plantar com minha família. Entre idas e vindas, o agricultor chegou a ficar 11 anos vivendo fora. Eu ia, passava dois, três anos e voltava. Quando meu pai dizia, aqui o inverno tá ruim, eu ficava. Já quando ele dizia o inverno tá bom todo, aí eu corria e vinha trabalhar na roça, relembra Francisco.


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Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba

Foi trabalhando como servente de pedreiro da construção civil lá fora que Francisco aprendeu esse ofício. Eu vez ou outra chapiscava uma parede, colocava um tijolo meio torto, às vezes caia, um pedreiro me ajudava e assim fui aprendendo. O agricultor foi então fazendo pequenos reparos dentro da comunidade e foi se aperfeiçoando no que iria ser a sua segunda profissão. Em 2013 Francisco foi convidado pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais de Massaranduba para participar de um curso de formação de pedreiros do Programa P1+2. Naquele momento ele já tinha até construído a casa onde vive com a família, mas não tinha se arriscado na construção de cisternas. Eu via aquela cisterna, uma coisa bonita, e pensava, mas rapaz, como é que deve ser construir uma bicha dessas? Será que eu consigo? Hoje eu acho é fácil. O agricultor conta que de junho de 2013 até aqui, quase um ano depois, já construiu umas 20 cisternas, todas no município de Massaranduba. Eu me acordo cedo, cuido do meu serviço aqui na agricultura e depois vou para as minhas construções, diz. O P1+2 paga 1.200,00 reais pela cisterna do tipo Calçadão e 840,00 pela cisterna de enxurrada, os dois tipos que ele mais constrói. Em cada cisterna gasta entre 10 e 15 dias de serviço, segundo ele um trabalho gratificante, porque a gente vê a felicidade das famílias com a cisterna e fica feliz também. Você sabe que, além de estar melhorando a minha renda, tá fazendo um bem pra elas também, isso é muito bom, afirma com orgulho o agricultor-pedreiro. Mesmo empolgado com o novo ofício de pedreiro, Francisco não pensa duas vezes ao responder se deixaria a primeira profissão de agricultor para se dedicar só à construção. A agricultura é o que eu gosto de fazer, gosto de criar, de cuidar dos bichos, de plantar, de levantar cedo. Aqui eu estou perto da minha família, afirma. A felicidade é que depois de que comecei a trabalhar com as cisternas, nunca mais faltou serviço para mim, e eu não precisei mais ir para longe da minha casa, avalia Francisco. Em 2014, a família foi contemplada com uma cisterna-calçadão e depois de construir tantas cisternas para outros agricultores, agora Francisco acaba de concluir a construção de seu próprio reservatório. Na propriedade já existia uma cacimba e uma barragem que serve a pelo menos mais 10 famílias no período de seca. Francisco está utilizando o apoio do Programa para a construção de um chiqueiro para as galinhas, que segundo ele, soltas impediam o casal de manter uma horta perto de casa. Agora eles pretendem investir mais no plantio de hortaliças na porta de casa e aumentar a criação de porcos. Estou com 7, mas quero ter uns 50, planeja confiante o agricultor.

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