Ano 7 • nº1037 Dezembro/2013 Massaranduba
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Dona Moça: alegria e determinação para trabalhar na agricultura Nasci e me criei aqui em Cachoreira de Pedra Dágua, assim dona Moça começa contando sua história. Nascida em uma família agricultora de 6 filhos sendo 4 mulheres e 2 homens, viveu sempre na zona rural de Massaranduba. O pai era viajante. Brinca que quando sua mãe ficava grávida, ele viajava e só aparecia quando a criança já estava grande. E lembra que quem tomou conta dela e dos irmãos foi praticamente sua mãe. Nasceu em 1963, em casa como eram feitos os partos antigamente. Hoje mora em 6 hectares e meio de terra, no Assentamento Imbira, com o marido e 3 filhos que ainda vivem em casa. Em 1985 ela noivou e no ano seguinte, no dia 26 de dezembro, casou-se com José Bento da Silva, o seu Zé como é conhecido. Juntos tiveram 5 filhos: Maria Sueidi, Seli, Mailson, Simone e Vitória. Duas de suas filhas já estão casadas. Assim como acontecia com o seu pai, o seu marido também viajou para o Rio de Janeiro várias vezes para trabalhar. Eu ficava com os meninos pequenos e com o roçado para cuidar, conta. Nessa época eu tinha 3 cabras e um bezerro. Eu passava o inverno trabalhando dentro do roçado. Eu plantava feijão, limpava o mato, encoivarava e botava fogo. Hoje ninguém coloca mais, não é? Quando Zé chegava, eu já tinha lucrado muito, brinca dona Moça. Na região houve muitas brigas pela desapropriação das terras. Em 1996 as terras viraram assentamento. Em 1999, a família veio para a casa onde mora hoje. Quando chegou encontrou pés de cajueiro, de graviola, de jaca e já tinha pés de angico também. Para cuidar dos filhos, dar conta do roçado, das tarefas domésticas e alimentar Moça buscava água fora de sua propriedade. Em 2010 foi comtemplada com a cisternacalçadão do Programa Uma Terra Duas Águas. Eu carregava água da barragem na
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Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba
cabeça, conta. Quando a cisterna chegou minha vida melhorou muito e agora eu sei que estou plantando sem agrotóxicos. As coisas melhoraram 100 por cento, eu sei que o que estamos comendo não tem veneno. Durante a construção peneirei 4 caminhões de areia para construir a cisterna e carreguei a água da cisterna todinha, conta com alegria a agricultora. No arredor de sua cisterna planta couve, cebola, maracujá, pés de coentro, pés de alface, hortelã, tomate, fava, guandú. Toda essa produção serve de alimento para a família e para ser vendida na feira agroecológica, todas as sextasfeiras, em Massaranduba. Começamos a plantar pés de limão, de laranja, e de coco. Quando o ano é bom de chuva, a família lucra com as castanhas que recolhem dos cajus. Depois que começaram a participar, dona Moça e seu Zé conheceram muitas experiências e já plantaram na propriedade uma mata de sabiá. Começaram a fazer cerca viva e a armazenar forragem com ajuda da máquina forrageira. Conta que aprendeu a plantar o roçado junto com palma e a gliricídia e tudo isso foi permitindo o melhoramento da terra. Hoje ela não queima mais. No roçado aprendeu a fazer estrume com as folhas e os matos que crescem na terra. A vida para a agricultora foi sempre de muito trabalho. Conta que quando era solteira, podia passar sem comer, mas sem trabalhar não. Quando começa num serviço não quer parar, até se esquece do mundo. A família de dona Moça expressa muita felicidade e seus filhos vivem livres brincando e aprendendo os ensinamentos da mãe. Com dedicação, disposição e alegria ela vive a vida. Tendo coragem eu não digo que nada é ruim. A água é vida é melhor não ter comida, pois se não tiver água nada tá feito, diz a agricultora. Participando ativamente das atividades desenvolvidas pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais de Massaranduba, dona Moça vem enriquecendo a sabedoria que já possuía e adquirindo novos conhecimentos. Eu conheci muitas experiências de outros agricultores. Eu não sabia nem falar. Eu aprendi muitas coisas boas através das reuniões que eu participo. Aprendi a fazer canteiro econômico, a fazer silagem e sei que, mais para frente, eu vou aprender ainda mais. A agricultora diz que sonha em ter um livro onde escreveria toda a sua vida. Que coisa boa é a gente ter memória, conta feliz dona Moça. Ela associa a memória ao conhecimento que construiu ao longo de muitas experiências e com o esforço de quem se dedica à agricultura familiar.
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