A força de uma família de grandes mulheres...

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Ano 7 • nº 1046 Dezembro/2013

Lapão

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

A força de uma família de grandes mulheres... O começo desta história nos remete há um século, quando as ações de convivência com o semiárido eram ainda pouco pautadas, mas a sabedoria popular já conhecia meios de se viver dignamente no sertão. A agricultora Maria de Lurdes da Silva se recorda de sua mãe, Alexandrina Maria de Jesus – mulher forte e trabalhadora que criou os filhos praticamente sozinha. O pai de dona Lurdes, faleceu quando ela tinha 7 anos, e coube a sua mãe criar todos 14 filhos, sendo destes, 10 mulheres. O exemplo de perseverança da antiga agricultora se enraizou entre as 10 filhas como as raízes de uma forte árvore do semiárido. Dona Lurdes se recorda que ela e suas irmãs, trabalhavam na roça diariamente, e que o sustento da família, dependia do que todos produziam. Naquela época, as bravas mulheres plantavam milho, feijão, mamona, aipim, arroz, entre outros cultivos para a alimentação da família. Foram tempos difíceis, mas, felizes. Dona Lurdes se recorda das manhãs com o sol ainda baixo no horizonte e ela e suas irmãs já na lida diária na roça, sempre cantando e felizes, com uma força que elas sempre acreditaram ser hereditária. A iniciativa de sempre plantar sem o uso de agritóxicos foi de dona Lurdes, que aprendeu com sua mãe, e ensinou as filhas, antigas técnicas de manejo sustentável da terra. Desde cedo a família aprendeu de que era da terra do sertão que vinha o sustento da família, e, por isso era essencial que todos cuidassem do solo com o máximo zelo.

A tecnologia como agente modificador de histórias e vidas... O tempo passou e Dona Lurdes manteve a mesma alegria e a força dos tempos de mocidade permanecendo, aos 62 anos de idade, forte para produzir e cuidar de sua propriedade. Na memória recente, a agricultora recorda quando tinha que percorrer cerca de 6 km para buscar água e produzir em sua propriedade. Era muito difícil ter que andar tanto para, nos tempos de seca, salvar os animais e suprir as necessidades básicas da família. Durante muitos anos a família se acostumou com a falta de recursos hídricos e com a pesada rotina que tinham que enfrentar. “Foram tempos difíceis”, conta a agricultora. Tempos que, felizmente, ficaram no passado.


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Hoje dona Lurdes tem uma Cisterna-Enxurrada em sua propriedade – tecnologia do projeto P1+2 que busca promover o acesso à água para produção às famílias do semiárido. Após a implementação da Cisterna, dona Lurdes passou a economizar tempo e força de trabalho e , agora, se dedica integralmente a plantar seus pequenos roçados de milho, feijão, mamona, aipim, maxixe, palma e capim. Com os cursos de convivência com semiárido do CAA, Dona Lurdes aprendeu que dá para viver com mais dignidade no sertão. A agricultora e sua famílias aprenderam que era possível expandir as plantações e criações, Os belos canteiros produtivos de Dona Lurdes mesmo em tempos de estiagem. Hoje dona Lurdes já investe na plantação de capim e planeja construir silagens para alimentar às futuras ovelhas, que pretende adquirir com o aumento da renda familiar. Da mesma forma que fazia em seus tempos de menina, tudo que Dona Lurdes cultiva é produzido de forma agroecológica, ainda, baseado nos ensinamentos de sua mãe: como o uso da casca de angico, casca de imburaninha, que ela deixa no balde curtindo alguns dias e depois joga nas hortas, prevenindo-as contra o ataque de pragas. Com largo sorriso no rosto, Dona Lurdes e sua filha Lucicléia da Silva, começam cedo seu trabalho na roça. Quando a Cisterna está mais cheia, dona Lurdes faz uso da bomba, mas, quando não está, ela retira de balde a água para regar as plantações. Essa força, a agricultora diz vir de um ditado dos tempos da sua avó, que dizia: “Quem tem vontade tem a metade, quem não tem a vontade, nem a metade tem”. Com muita experiência de vida, Dona Lurdes se tornou uma das fundadoras da Associação de mulheres do Lagedo do Pau d'Arco – uma associação comunitária formada por 30 mulheres que, unidas, produzem em suas propriedades e vendem nas feiras do Dona Lurdes e sua filha Lucicléia município – e lá repassa sua experiência de sucesso com sua Cisterna. Sua vivência e sabedoria, hoje, são exemplos para outros agricultores (as) da região que enxergam na antiga agricultora uma líder atuante das ações de convivência com o semiárido e promoção do desenvolvimento sustentável do sertão. A quarta geração da família já está sendo preparada para aprender a conviver no semiárido. Os netos de dona Lurdes, Davi, Daniel, Danilo e Milena, ajudam a avó nos afazeres da roça, e nem pensam em deixar a propriedade. Para os jovens, a maior riqueza está na imagem de sua avó e na força que ela tem até hoje para continuar produzindo. Dona Lurdes, ainda faz peças de decoração para vender. São adornos para sofás, camas, e cadeiras, feitos com “fuxicos”, de uma delicadeza e beleza que só uma alma tão linda e pura como a dela pode produzir. Dona Lurdes é assim. Batalhadora, forte, trabalhadora, organizada, articulada, falante, sábia... uma destas mulheres que nos recebe com um sorriso largo e um abraço apertado de mãe, e acima de tudo... dona Lurdes é uma mulher FELIZ.

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