Ano 7. nº 1355 Outubro/2013
Vale do São Francisco Sustentabilidade que vem do semiárido Em uma região de clima seco, mas rica em olhos d'água, situada no território dos Cocais, a 56 km da sede do município de Pedro II, no norte do Piauí, existe uma comunidade chamada Vale do São Francisco. É lá que encontramos a propriedade da família de José Ferreira de Melo, 62 anos de idade e Dona Francisca Arlindo da Silva Melo, também de 62 anos, que junto com seus filhos e com a ajuda de vizinhos conseguiram aproveitar as potencialidades hídricas naturais da região e transformaram a propriedade da família em um grande terreno produtivo. Na comunidade vivem 23 famílias que sobrevivem basicamente da agricultura familiar e da criação de animais. Eles aproveitaram os olhos d'água que têm na região para fazer uma canalização que leva água potável para todas as casas da comunidade. Na propriedade de Seu José Ferreira e Dona Francisca Arlindo, que mede cerca de 60 hectares, a família planta, cria seus animais de pequeno porte, pratica a apicultura, fabrica a rapadura e possuem um criatório de peixes em tanques. De acordo com Seu José quase toda sua área é produtiva. As terras subindo as montanhas ele disse que utiliza para fazer plantação de cerqueiro, que só dá uma vez no ano. No local ele faz o consócio de milho, feijão e mandioca. “O consócio é bom porque você ganha tempo no manejo e pode ter diversas culturas em uma área só, dá para aproveitar bem o espaço”. Explica Seu José, que também cultiva plantas forrageiras que são utilizadas para alimentar suas pequenas criações de cabras, ovelhas, galinhas e porcos. A família pratica o sistema agroflorestal, onde a mata nativa é preservada e aproveitada. Do local apenas são retiradas as árvores mais baixas e ali plantado pés de laranja, mamão, acerola, goiaba, abacate, coco, macaxeira, banana, jerimum, cerejas e manga.
O agricultor aproveita os olhos d'água abundantes na região para encher os reservatórios, e através de canalização, ou inundação, a água vai escorrendo e molhando as culturas. Para proteger a plantação nada de agrotóxico ou adubo químico, ele diz que usa defensivos naturais como querobão, feito com querosene e sabão, e as plantas nim, o angico e a manipueira que também servem de repelentes. O quintal de Seu José e Dona Francisca hoje é referência quando se fala em produção agroecológica. Através de Intercâmbios para trocas de experiência a propriedade passou a ser bastante visitada por outros agricultores e curiosos das práticas agrícolas que respeitam o meio ambiente. O agricultor afirma que aprendeu tudo isso com os pais e os mais velhos da região, mas como gostava de conhecer foi aperfeiçoando o que sabia através de cursos. Ele conta que em 1986, incentivados pelo Projeto Social da Diocese de Parnaíba, 14 famílias da região formaram um dos primeiros grupos a praticar a apicultura na região. Algumas dessas famílias desistiram e outras foram embora, hoje restaram oito famílias no grupo. Ele diz que uma das coisas mais importante que aprendeu nos cursos que participou foi o respeito à natureza e sua importância para os homens. Sua postura e seu trabalho influencia outros agricultores e agricultoras na prática de conservação das nascentes da região. Os moradores da localidade incentivados por ele, não estão desmatando e nem fazendo queimadas próximo aos olhos d'aguas.
Guardiões e Guardiãs das Sementes da Fartura do Piauí Seu José também é um agricultor guardião das Sementes da Fartura do Piauí. Na busca de fortalecer a agricultura familiar, garantir a biodiversidade e segurança alimentar das famílias do semiárido piauiense, ele hoje incentiva outros agricultores a guardar, resgatar, conservar e multiplicar essas sementes. “O agricultor que guarda sua semente está garantido a soberania alimentar de sua família, porque não perde aquela semente e não fica dependendo de sementes doadas pelo Governo para produzir”, defende. Realização
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