Ano 7 nº 1138 Setembro/2013 Brejinho Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Tecnologia social garante produção de alimentos no Semiárido Esta é uma história que pode ser contada de diferentes formas, a partir de ângulos diversos. É uma história sobre desafios, luta, coragem e perseverança. Também é uma história sobre beleza – aquela, muitas vezes invisível a olhos pouco sensíveis, mas ainda assim tocante. Resolvemos contá-la por meio do testemunho; testemunho de uma de suas principais personagens: Dona Maria José Firmino de Lima, 44 anos, agricultora, é uma das inúmeras mulheres de fibra Coragem e perseverança marcam história de D. Maria José que enfrentam as condições, muitas vezes adversas, da realidade rural do Semiárido brasileiro. Moradora do Sítio Xavier, situado na Zona Rural do município de Brejinho, Sertão do Pajeú de Pernambuco, dona Maria José é casada com o também agricultor Severino Evaristo dos Santos, 59 anos, de quem era vizinha desde criança. O casal tem três filhas: Divina, de dez anos; Josefa, de oito; e Clara, a caçula, que tem sete anos. As meninas estudam no próprio Sítio Xavier e ajudam os pais na horta quando estão fora do horário de aulas. Dona Maria José e seu Severino sempre trabalharam na agricultura, “tirando o sustento da própria terra”, como costumam dizer. Produziam milho, feijão, jerimum, melancia e macaxeira em sequeiro – as últimas, nos períodos de inverno. Plantavam também coentro, pimentão e cebolinha. Tudo, até pouco tempo, apenas para consumo próprio. Beneficiada com uma cisterna de placas, com capacidade para armazenar até 16 mil litros de água potável para beber e cozinhar, a família também foi contemplada, em 2012, com uma cisterna-calçadão, capaz de reter D. Mª José, seu Severino e as três filhas: Divina, Josefa e Clara até 52 mil litros de água da chuva. O buraco da cisterna foi escavado manualmente por dona Maria José e seu Severino – o que já demonstra a coragem e esforço do casal. Tecnologia moderadora que os ajuda a conviver com as condições do Semiárido, a cisterna foi construída a menos de 30 metros da casa, vizinha a área produtiva.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco
“Depois da cisterna, melhorou muito minha situação porque já aumentei meu dinheirinho”, conta orgulhosa dona Maria José, que até então tinha como única fonte de renda somente os R$ 242 do Programa Bolsa Família. Antes de ser contemplada com a tecnologia, a agricultora participou das capacitações em Gestão de Água para Produção de Alimentos (GAPA) e Sistema Simplificado de Manejo de Água (Sisma), nas quais aprendeu acerca do manejo adequado dos recursos hídricos para o processo de produção alimentar, bem como sobre os cuidados na manutenção da cisterna- Buraco da cisterna foi escavado manualmente pelo casal calçadão, concedida por meio do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). Nas capacitações, as famílias agricultoras aprendem sobre práticas de produção agroecológicas e também são instruídas sobre seus direitos em relação à água, sobre quais doenças podem ser transmitidas através do fluido, bem como sobre as melhores formas de tratamento, tanto da própria água quanto das enfermidades. A história da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) e do P1+2 também estão na pauta da capacitação. “Foi muito importante porque eu aprendi a fazer minhas hortas. Aprendi ainda a fazer o manejo com as sementes e também tive incentivo para produzir e vender”, conta dona Maria José. A partir das capacitações, a agricultora logo colocou em prática o conteúdo aprendido. A princípio, fez canteiros só para consumo próprio, mas não demorou para que os vizinhos “descobrissem” e também quisessem comprar. “Quando terminou a construção da minha cisterna, eu não esperava que iria vender tão rápido. Comecei primeiro com um canteiro de alface, que logo vendi; depois, fiz um canteiro de coentro, que também vendi rapidinho”, conta satisfeita dona Maria José. A produção da agricultora passou a ser comercializada de porta a porta. Toda semana, a Água captada da chuva é usada na plantação de hortaliças família vende em média de 20 mólhos de coentro e cerca de 60 pés de alface, gerando aproximadamente de R$ 40 a R$ 80, valor bastante significativo. Na época da colheita do caju, o casal também comercializa os frutos para uma empresa fabricante de doces de um município vizinho. Como se não bastasse, também vendem castanha de caju a revendedores do próprio município de Brejinho. P1+2 - Coordenada pela ASA, a iniciativa tem por objetivo viabilizar o acesso à água para a produção agroecológica de alimentos pelas famílias agricultoras do Semiárido brasileiro. Desde 2007, quando surgiu, o Programa Uma Terra e Duas Águas já beneficiou mais de 12 mil famílias com tecnologias sociais como “cisternas-calçadão” e “barragens subterrâneas”, garantindo condições para produção de alimentos durante todo o ano, até mesmo nos períodos de grande estiagem.
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