Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Palmeira dos Índios
Ano 8 • nº1612 Agosto/2014
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
bom”. Depressão desejo de morrer quando ficava só. “Não queria viver”, desenvolveu o mal Parkinson, dois anos depois o corpo travou, não conseguia tomar banho, calçar as botas, a filha Isabela e a esposa Amara faziam isso, o olhar distante, não escrevia o próprio nome. “Só sei que o que tem vida, um dia morre”. Um novo tratamento, novos remédios, foi melhorando, “graças a Deus e ao meu Padrinho Cícero Romão, voltou ao partido, as reuniões da associação, com tudo isso, foi criando vida novamente. O sitio adoeceu com ele, ficou sem cuidados, mas quando tornou, limpou a casa, voltou a plantar, sete anos a terra esperou e a mata cresceu, brotando a mais belas riquezas da caatinga, hoje ao redor de casa experimenta mais ou menos de 30 espécies de plantas nativas da caatinga, entre fruteiras, hortaliças e plantas ornamentais. Seu sitio se tornou laboratório agroecologico e de experiências de convivência com o semiárido, diante sua vasta experiência Flor é referencia como agricultor experimentador e educador popular onde o menino que tanto buscou formação se tornou um grade formador de pessoas.
Realização
Apoio
“O nosso verde, o da agroecologia, é um verde mais espontâneo, mais democrático”.
No mundo em que vivemos ainda soa estranho chamar um homem de flor, mas é assim que Florisval é conhecido, e isso é uma das coisas que faz dele um grande homem. Nasceu em uma casa em Arapiraca cercada por uma grande roça de fumo, onde os pais tinham se refugiado da seca, analfabeto até os 13 anos de idade, o quarto de 12 irmãos, desde cedo inconformado com a vida imposta pelo acaso, já queria trilhar seu próprio caminho. Apesar de ter nascido em Arapiraca Flor e sua família moravam no sitio Santa Rosa perto do distrito que viria a ser o município de Craíbas. Flor sempre foi e é cercado de pessoas e inquietações, política partidária, movimentos sociais, fazeres, historias e amores. “A primeira vez que me envolvi com a sociedade foi a partir dos 12 ou 13 anos, despertei para o mundo em uma viajem a olho D’agua das Flores, quando vi uns meninos da minha idade, bem instruídos. Nossa comunidade não tinha escola e tínhamos que ficar na roça. Nessa viajem me decepcionei muito comigo mesmo, só consegui pegar um ônibus porque perguntei. Quando voltei pra casa pensei que não podia ficar desse jeito, provoquei primos e vizinhos, essa foi minha primeira provocação, provoquei todos a estudar. Eu sabia que o Tonho estuda estudava, então disse que tinha um grupinho de amigos querendo estudar, umas seis pessoas. Tinha que ser cedo da noite, pois o Tonho acordava ConfedePela primeira vez em Brasília participou do 3º Congresso da Confede
ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG, no inicio da década de 1980 “nunca tinha visto cidade grande, nem hotel cinco estrelas. O povo do nordeste não conhecia o próprio rosto. O camarada quando ia entrar no elevador e via o reflexo no espelho achava que era outra pessoa.” Recorda - se dos inúmeros momentos de embaraços em que ele e seus companheiros de congresso viveram, inclusive o lamentável acidente de um que teve suas costelas quebradas ao ficar preso na porta do elevador do hotel. as 4:00 horas para ir estudar de bicicleta em Arapiraca. Com 14 anos, aprendi a fazer o nome e ler algumas palavras. Foi a primeira vez que articulei um grupo.” Suas historias são o reflexo de períodos historicos e acontecimentos que marcaram um povo, no caso o povo do semiárido alagoano, onde Flor é um de seus representantes que traz de forma muito viva o sofrimento e a luta por um mundo melhor. Nas idas e vindas, decorrente da seca de 70 a família tornou a morar em Arapiraca, e lá Flor e seus irmãos, trataram logo em arranjar escola, “eles não aceitavam, porque não tínhamos certificados. Mas eu soube que tinha uma escola abrindo no Alto do Cruzeiro, que fez um teste e nos aceitou” Novamente em Santa Rosa na década de 70 continuou os