Ano 9 • nº1602 Janeiro/2015 João Dourado
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
A brava força hereditária do sertão O semiárido é cheio de pessoas fortes e de histórias que merecem ser contadas e ensinamentos que passam dos pais para filhos e filhas. Maria Aparecida Leite Alves, 33 anos, moradora da comunidade de Belo Campo, município de João Dourado, é uma agricultora que, com muita vontade e força, conquistou uma tecnologia de produção em sua propriedade. A luta antes era difícil, a fonte da água era distante aqui da comunidade, e o transporte era feito em baldes, transportados em carroças e até mesmo nos braços, uma realidade que no passado era comum, mas, através dos programas de acesso à água, esta realidade vem se tornando cada vez mais rara no semiárido nordestino. Tudo mudou quando uma Cisterna-Enxurrada foi construída na propriedade de dona Maria. A tecnologia possibilitou para ela e sua família, o bem maior para o povo do sertão, água. Bem ali, ao lado de sua casa, onde ela aprendeu o valor da terra e o amor pelo trabalho na roça com seu pai adotivo, Joaquim Ferreira Leite. Foi com seu Joaquim, já falecido, que Maria aprendeu a lida no campo. Conta ela que seu pai por muitas vezes carregava água na carroça e distribuía na comunidade para aquelas famílias que não podiam ir até o local buscar esta água. “Não era apenas um agricultor, seu Joaquim era um bom homem, que se importava com os outros”, disse Maria.
Agricultora camponesa e guerreira Com o amanhecer do dia no sertão, Maria vai aos seus tão amados canteiros. Para ela, ver brotar a vida, cultivada com suas próprias mãos, é um prazer e uma satisfação. Cuidar de suas criações, suas ovelhas, suas galinhas, suas duas éguas e o potrinho, ver seu filho ajudando ela na roça, como ela fazia com seu pai, essas gerações que sempre permaneceram na terra onde nasceram, e lá, construíram e constroem suas vidas com muita garra e força de vontade. Em seus canteiros, Maria planta coentro, alface, cebolinha, pimentão, couve, rúcula, mostarda, pimenta... Na sua roça ela ainda produz feijão, tomate, milho, mamona, umbú, mamão, melancia e palma.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
Tudo que dona Maria produz em sua horta e sua propriedade são cultivados nos moldes agroecológicos; sem nenhum uso de veneno ou agrotóxicos que prejudicam a saúde. Isso garante para sua família uma alimentação mais saudável e como a própria agricultora diz: “Aqui eu sei de onde sai tudo, sou eu mesma que planto, que faço os defensivos naturais que aprendi nos cursos de capacitação, a mamona, a urina de vaca, a semente de anjico... Aqui na minha roça, é tudo produzido natural”. A melancia assim como as hortaliças, dona Marta vende em sua comunidade. Pela manhã, ela sai com seu carrinho de mão cheio das suas melancias pela comunidade vendendo sempre aos seus clientes já certos. “O povo já sabe que vou passar para vender as melancias e as folhas. Quando eu aponto na rua, o povo já vem querendo escolher o coentro, a cebolinha, o alface... Tem dias que eu vendo mais de 50 reais e só não vendo mais porque não posso vender tudo de uma vez só”, diz Maria. Outra produção importante na roça da agricultora é a plantação de palma. É com ela que dona Maria e seu filho Wesley Alves alimentam as criações nos tempos de estiagem é mais longa. “A criação aqui é importante, porque as ovelhas e as cabras, eu crio as fêmeas e vendo os machos, e se não fosse a palma para alimentar os bichinhos, no tempo sem chuva, a gente não ia ter como criar. E a água que eu dou aos meus bichos, vem da cisterna também; graças a Deus, aqui na minha roça, se não fosse essa cisterna; nem sei como seriam as coisas”, disse Maria. O filho da agricultora, Wesley, é quem sempre ajuda a mãe todos os dias quando não está estudando. O jovem tem amor pela terra, pelos animais, pela roça e pela produção. É comum ver o garoto pela propriedade, sempre com um sorriso no rosto e satisfação por fazer o que gosta. “Meu pai era um homem da roça, um trabalhador rural como muitos aqui da comunidade, e ver meu filho seguir os mesmos caminhos dele, me deixa muito feliz”, disse Maria.
A agricultora Maria e suas criações que ela cuida com muito carinho
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