Empoderamento popular e políticas públicas na comunidade Boa Vista

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1409

Novas lutas, novas vitórias E não querem parar por aí, a associação comunitária pretende lutar para a inserção da Boa Vista no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), com objetivo de incrementar a renda familiar comunitária e fornecer uma alimentação que valorize a cultura local do umbu e dos frutos da terra em Manoel Vitorino. Para além das demandas, a Associação da Boa Vista é um destaque no empoderamento das políticas públicas e apropriação de valores como associativismo e cooperativismo, a exemplo do crescimento da COOPROAF. O pontapé destas conquistas foi dado através da cisterna da primeira água, viabilizando o acesso à água potável e garantindo este direito universal, e recentemente, as tecnologias de segunda água através do Programa “Uma Terra e Duas Águas” (P1+2), fruto do contrato de patrocínio entre a Petrobras e a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), com o Programa Petrobras Desenvolvimento e Cidadania. “Com toda dificuldade o povo planta e tem horta que a cooperativa vem buscar [para o PAA] que numa viagem só não dá pra poder levar, tem que levar de duas ou três viagens. E agora com esta cisterna, é que vai produzir mais ainda! E ontem eu tava falando pra COOPROAF: 'agora vocês pode segurar viu!Porque agora a Boa Vista é a produtiva de Manoel Vitorino em hortaliças, não tem outro lugar no município pra ganhar da Boa Vista!”, diz a presidenta da associação com muito ânimo, completada com alegria pelo seu companheiro, Adenilton: “Vamos botar pra comer verdura!”.

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Realização

A experiência dessa família e seu entusiasmo só ratifica o quão importante é o trabalho da Articulação Semiárido Brasileiro realizado com o apoio dos financiadores. A relevância e substancialidade dessas ações projeta para o semiárido um futuro promissor de novas perspectivas de transformação social, embasada primazmente no protagonismo da sociedade civil organizada. A ASA valoriza os costumes, a cultura e os saberes dos camponeses e camponesas desse imenso semiárido, e clama a todos os cantos que “É no semiárido que a vida pulsa! É no semiárido que o povo resiste!“

Junho/2013

Vitória da Conquista Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Empoderamento popular e políticas públicas na comunidade Boa Vista O EMPODERAMENTO das políticas públicas pelo povo sertanejo e camponês é uma realização significativa da luta pela convivência com o Semiárido e pela garantia dos direitos à dignidade humana nos sertões. Com dez anos de existência o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que é uma política pública de fortalecimento da agricultura familiar e superação da pobreza no Semiárido, experiências exitosas se espalham pelo campo, iguais a da família de Vilma Bispo e Adenilton da Silva, moradores da comunidade de Boa Vista, zona rural do Município de Manoel Vitorino/BA. Vilma e outras companheiras cooperadas da Boa Vista

Vilma e Adenilton são agricultores empenhados na produção de hortaliças e do beneficiamento do umbu, exalando muito amor pelo manuseio com a terra. A família trabalha há 04 anos com o PAA, por intermédio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), comercializando sua produção via Cooperativa e Associação. Em 2005, em uma visita do secretário de Agricultura de Manoel Vitorino/BA - Cristiano Marcelo, à Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos (COOPERCUC), surgiu a oportunidade de realizar no município uma capacitação em produção de derivados de umbu, uma vez que o mesmo tem uma forte relação com essa fruta além de produzi-la em grande quantidade. Segundo Vilma: “(..) duas pessoas dessa comunidade [BOA VISTA] participou, gostou, aprendeu a fazer o doce cremoso, o doce de corte, a compota e a geléia. (...) Aí as duas pessoas que tinham feito o curso desistiu. (...) Mas como a gente já tinha aprendido com elas, a gente pensou: 'Vamos seguir em frente, não vamos desistir'! Aí ficamos em três”. Entrega de produção diversificada ao PAA orgulha comunidade

Patrocínio

Em 2007, a persistência das experimentadoras levou à parceria com a Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos Agricultores do Sudoeste da Bahia (COOPASUB) dando início ao primeiro contato com o PAA, que representaria mais tarde o alicerce da Associação de Boa Vista. As vendas geraram o primeiro lucro, mas não foram a frente devido a necessidade em cooperar para dar continuidade à proposta. “Não, não adiantava a cidade Manoel Vitorino ir cooperar em Conquista, sendo que aqui pode criar uma cooperativa”, diz Vilma ao recordar a retomada e fortalecimento da Associação Boa Vista no que se refere a comercialização via PAA.


Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Organizar para fortalecer Após um processo de organização da associação a qual Dona Vilma e Sr. Adenilton fazem parte, algumas vitórias foram alcançadas, como a aprovação de “107 mil reais, beneficiando 24 agricultores, sendo 3 com hortaliças, 4 com melancia e o restante com derivados do umbu. Foi entregue para 4 entidades, sendo o ISFA e 3 colégios. Terminamos a proposta, em 2010 criamos a Cooperativa, e em um ano, ela legalizou”, conta a agricultora.

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O associativismo e o cooperativismo combinados geraram na comunidade de Boa Vilma, agricultora experimentadora na horta familiar Vista uma valorização dos agricultores e agricultoras, que reconhecem que a agricultura familiar em consonância com as políticas de convivência com o Semiárido é uma aposta que dá certo. “Agora em 2012, a gente mandou a proposta maior com a COOPROAF e tá executando ainda, com 60 agricultores entregando pro PAA, beneficiando 17 entidades sendo associação, grupo religioso, ISFA e colégios de Manoel Vitorino e região. A gente tá vendendo derivados de umbu - doce, compota e a geleia, hortaliças e agora também banana e melancia”.

Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Amor à terra: resistência rural Além de acreditar na agricultura como fonte de vida, Adenilton também aproveita para por em prática novas formas de cultivo, utilizando a sabedoria popular através da Agroecologia: “A gente trabalhando certinho com a verdura sem agrotóxico é coisa de primeiro mundo! A gente trabalha com produto natural da gente mesmo, com este adubo que é o biogeo da ASA, que é um remédio bom, não para matar, mas para afastar o inseto”, explica o agricultor com a certeza de que a troca de saberes promovida pelos cursos que integrou nos projetos da ASA foi vital ao manejo saudável de sua produção. “O biogeo fortalece a planta pra a vegetação da raiz sair mais rápido. É uma coisa natural, sem produto químico e é feito com quê? Com comida, rapadura, cana, fubá de milho, só coisas boas que vem pra alimentar. E ainda melhor, o esterco! Muito bom, se depender de mim, topo trabalhar até onde chegar”, complementou Adenilton. Sem utilizar nenhum tipo de agrotóxico, Adenilton e Vilma querem espalhar a agroecologia a todos os moradores e integrantes da grande família da Boa Vista ajudando a todos diretamente com práticas agroecológicas. São experiências positivas de resistência e amor à terra como a deste casal que inspiram agricultores e agricultoras a buscarem novas possibilidades através da agricultura familiar, a lutar pelo apoio para a Convivência com o Semiárido e ao acesso à política pública. “Se for pra eu sair daqui pra cidade, eu prefiro sair daqui pra ir mais pra dentro da roça! Pra mim morar numa cidade, que não tem emprego... Prefiro ficar aqui no meu sossego.”, finaliza com orgulho o agricultor.

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Atualmente, Vilma é presidenta da Associação de Boa Vista, e se orgulha no crescimento da sua entidade e comunidade: “Hoje nossa associação conta com 100 associados e é organizada, começou com 15 associados e tem gente de outras comunidades que querem se associar aqui, e eu falo: “Não, vocês tem que fortalecer a comunidade de vocês!”. Adenilton também se alegra em perceber que a força da luta está representada no crescimento da comunidade: “Duas entidades que começaram sozinhas, a Associação da Boa Vista e a COOPROAF e hoje estamos aí!”. A ocupação pelo agricultor e agricultora no devido espaço dentro da política pública, trouxe mudanças para a família, conferindo autonomia e fortalecimento da agricultura familiar, “às vezes eu tinha que tá afastado daqui pra São Paulo, Jequié... Trabalhei muito em São Paulo, porque a gente não tinha projetos pra desenvolver. Eu tenho 15 anos que eu moro aqui e hoje eu vejo a Boa Vista com outros olhos. De dez anos pra trás, eu trabalhava pros outros Produção agroecológica é experimentada na Boa Vista (...), E hoje não, trabalho fora... só se querer, se eu quiser tentar... eu vou e enfrento, mas enquanto tiver o PAA, vai continuar como tá dando 'certim'”. Adenilton e filho em horta familiar


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