SĂŠrgio Sister
Sérgio Sister
Pintura e espaço
Sérgio Sister diz “corpo de cor” e não, conforme o jargão pictórico, campo de cor. Essa comparação ultrapassa a mera metáfora. O peso atributo dos corpos de uma cor é menos uma substância do que, por um lado, a sua diferença em relação às outras cores, e, de outro, resultado da luz que ela absorve e reflete. Assim como, em trabalhos anteriores, Sister produzia, no interior de uma mesma cor, variações construídas pela direção da pincelada, criando diferenças na suposta homogenidade, agora ele busca entre uma cor e outra, intervalos que parecem deter o olhar em suspensão, adiando o momento de integrá-las numa harmonia, que nunca será simétrica como a do acorde maior. Esse jogo entre identidade e diferença, que afirma a dimensão relacional
por Fernando Gerheim
e o tempo, leva-o a buscar, entre uma cor e outra, intervalos particulares, contrastes delicados, que nos fazem pensar o que elas estão fazendo lado a lado mais do que simplesmente juntá-las na percepção. Sister torna visíveis ao mesmo tempo as cores e os seus intervalos. Coerente com isso, as cores em seus trabalhos criam movimentos dos quais participa o espaço entre elas e fora delas, ou seja, o vazio, o ar, a arquitetura. Faça pintura, desenho ou objeto, o artista estará sempre articulando questões específicas da pintura. O seu elemento mínimo é a faixa de cor vertical, que ele articula com uma indagação simples: o que acontece quando esse elemento mínimo de uma cor específica é colocado ao lado de outro elemento mínimo de outra cor específica? Delimitada a questão, de modo transparente, inúmeras são as combinações dos matizes do espectro de cores. O mundo de sobrecultura, saturado de discursos, gera movimentos diametralmente opostos como o lento repouso da luz dessas pinturas. Negando qualquer concepção instrumental da linguagem como comunicação
Sérgio Sister de conteúdos, elas expressam apenas a si mesmas. Em sua
sinais da dispersão; de perto, nada é um tipo geral.
espécie de ascese, recusam discursos e sentidos vindos de fora,
Cada vez mais, Sister usa cada vez menos elementos,
que possam perturbar a sua língua pictural, espacial, objetal. O
deixando mais lugar para o espaço arquitetônico, o vazio, as
universalismo dessa eloquência perceptual é o lugar do comum,
sombras. Os pontaletes finos e longos, de madeira ou alumínio,
ao invés do lugar comum e da padronização.
revestidos de tela, monocromáticos, vários de valores tonais
Talvez se possa ver na utilização de materiais do mundo
parecidos de verde, um azul, um preto e um branco, encostados
do trabalho como caixas (de frutas, como as da feira) e pontaletes
na parede, formam um portal, talvez uma trave. Esses
(escoras utilizadas na construção civil), o reflexo dessa
desdobramentos contemporâneos da pintura não se dirigem
linguagem elementar, essencial, sem frescura. Essas estruturas
apenas ao sentido ótico, com suas montagens cambiantes, mas
funcionais, literalmente construtivas, não são abstrações da
também à percepção tátil vinculada à arquitetura. Em sua
razão. Sister gosta de contar que a questão que a pintura lhe
linguagem muda e fluida, Sister integra o próprio espaço em que o
colocava foi respondida pelas caixas de frutas que ele encontrou
trabalho se insere (incluindo suas sombras). Aumentam assim as
no lixo da garagem do seu prédio: as tabuinhas e suas lacunas
complexidades e diferenciações do convívio solidário das partes.
poderiam retirar as faixas do plano e levá-las para o espaço. Com
Elas talvez possam ser comparadas a dois pensamentos que se
elas, a mesma cor é percebida de modo diferente se estiver na
encontram e iniciam um colóquio.
parte da frente ou de trás da caixa. As cores que lado a lado parecem saltar ou recuar em relação umas às outras, agora fazem isso literalmente. E as tiras da frente criam nas de trás sombras, que são integradas ao trabalho e alargam a sua margem de receptividade às circunstâncias. Sister visa, como um núcleo, a “solidariedade com diferenciação e complexidade”. A lógica paraconsistente que reúne as cores em seu trabalho segue um critério bem mais sutil que o agrupamento pela média ou a polarização. Diferentes e similares, fluidos e descontínuos, os corpos de cor se encontram no olhar, numa cintilação desacelarada, parecendo buscar, em sua instabilidade, uma convivência. As tiras verticais guardam os
Faixas, 1996 óleo sobre tela 40 x 50 cm
Sérgio Sister
Sem título, 2011 óleo sobre papel kozo 68 x 95 cm
S茅rgio Sister
33 X 33, 1995 贸leo sobre tela 33 x 33 cm Caixa 225, 2013 贸leo sobre madeira 38 x 23 x 7 cm
S茅rgio Sister
Caixa 201, 2012 贸leo sobre madeira 38 x 23 x 7 cm
Caixa 230, 2013 贸leo sobre madeira 38 x 23 x 7 cm
S茅rgio Sister
Caixa 230 b, 2013 贸leo sobre madeira 38 x 23 x 7 cm
Caixa 214 b, 2012 贸leo sobre madeira 38 x 23 x 7 cm
Sérgio Sister
Pontalete n° 15, 2012 óleo sobre tela colada em tubo de alumínio (11 peças de 250 x 5 x 5 cm cada) aprox. 260 x 260 x 10 cm
S茅rgio Sister
Caixa 231, 2013 贸leo sobre madeira 38 x 23 x 7 cm
Faixas, 1996 贸leo sobre tela 40 x 30 cm
S茅rgio Sister
Terceiro Fundo 19, 2013 贸leo sobre madeira 53 x 30 x 15 cm
Terceiro Fundo 21, 2013 贸leo sobre madeira 53 x 30 x 15 cm
Sérgio Sister
Biografia
Nasceu em 1948 Vive e trabalha em São Paulo
Exposições Individuais 2013 Artur Fidalgo galeria, Rio de Janeiro, Brasil Galerie Emmanuel Hervé, Paris, França Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil A cor reunida. Museu Municipal de Arte, Curitiba, Brasil 2011 Entre tanto, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil Lemos de Sá Galeria de Arte, Belo Horizonte, Brasil Josée Bienvenue Gallery, Nova Iorque, EUA 2008 Pinturas. Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil 2007 Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil Pinturas Face a Face, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil 2006 Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo, Brasil 2005 Silvia Cintra Galeria de Arte, Rio de Janeiro, Brasil 2004 Galeria Millan Antonio, São Paulo, Brasil 2003 Galeria 10,20 x 3,60, São Paulo, Brazil Galeria Casa da Imagem, Curitiba, Brasil
Sérgio Sister 2000 Galeria São Paulo, São Paulo, Brasil Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil Museu de Arte de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, Brasil 1998 Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil
Exposições Coletivas 2013 Charles-Henri Monvert, Sérgio Sister: a cor reunida. Galerie Emmanuel Hervé, Paris, França Correspondências, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil
1996 Galeria Casa da Imagem, Curitiba, Brasil Marilia Razuk Galeria de Arte, São Paulo, Brasil
2011 Los Limites, Galeria Rafael Ortiz, Sevilha, Espanha O Colecionador de Sonhos, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil
1995 Galeria Millan Antonio, São Paulo, Brasil
2010 Ponto de Equilíbrio, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil
1993 Galeria André Millan, São Paulo, Brasil Galeria Casa da Imagem, Curitiba, Brasil
2009 Obra Menor, Ateliê 397, São Paulo, Brasil Superfície Ativada, Galeria Silvia Cintra, Rio de Janeiro, Brasil
1992 Capela do Morumbi, São Paulo, Brasil
2008 Caros amigos, Memorial da América Latina, São Paulo, Brasil
1990 Galeria Millan Antonio, São Paulo, Brasil
2006 Ao mesmo tempo o nosso tempo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil Arquivo Geral, Casa Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Brasil
1989 Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil Sala Macunaíma, Fundação Nacional de Artes, Rio de Janeiro, Brasil 1988 Galeria Millan Antonio, São Paulo, Brasil 1986 Paulo Figueiredo Galeria de Arte, São Paulo, Brasil 1983 Paulo Figueiredo Galeria de Arte, São Paulo, Brasil
2003 Fábio Miguez, Rodrigo de Castro e Sérgio Sister, Galeria Celma Albuquerque, Belo Horizonte, Brasil 2002 25a Bienal Internacional de São Paulo, São Paulo, Brasil 2001 A Cor na Arte Brasileira – Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brazil
Sérgio Sister 2000 Galeria Nestlé, São Paulo, Brasil 1999 Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil 1995 Morandi no Brasil, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil 1993 Desenhos, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil 1992 Panorama do Desenho Brasileiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brazil 13 artistas paulistas, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil 1990 Panorama da Arte Atual Brasileira/90 - Papel, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil 1989 Arte Contemporânea São Paulo/Perspectivas Recentes, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil Artistas Contemporâneos, Fundação Nacional de Artes, Rio de Janeiro, Brasil 1985 Pequenas insurreições, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brazil 1967 Jovens artistas, Museu de Arte Brasileira, São Paulo, Brasil Jovem Arte Contemporânea, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil Bienal Internacional de São Paulo, São Paulo, Brasil
Coleções Públicas Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brazil Coleção Itaú, São Paulo, Brazil Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brazil Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brazil Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brazil
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