Espaço e método miltonsantos

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Copyright 漏 2008 by Familia Santos

MrL TON SANTos 1~ edi~iio

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1985 (Livraria Nobel S.A.) 1988 (Livros Studio Nobel Ltda.) 1992 (Livros Studio Nobel Ltda.) 1997 (Livros Studio Nobel Ltda.) 2008 (Edusp)

Fi<:ha ca_talogr:ifica_elaborada pelo Departamento Tecnico do Sistema l~t~grado de Bib.liotec~ da USP Santos, Milton, 1926-2001. Espa'>o e Metoda I Milton Santos.- 5.ed.- Sao Paulo : Editora da Universidade de Sao Paulo, 2008. 120 p.; 14 x 21 em.- (Cole.;ao Milton Santos; 12). ISBN 978-85-314-1085-7

Espac;o e Metodo

1. Geografia urbana. 2. Sociologia urbana. I. Titulo. II. Serie. CDD 307.76

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Direitos reservados a Edusp- Editora da Universidade de Sao Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374 6" andar- Ed. da Antiga Reitoria- Cidade Universitaria 05508-0 lO- Sao Paulo- SP- Brasil Divisao Comercial: Tel. ( ll) 3091-4008 I 3091-4150 SAC (ll) 3091-2911- Fax (II) 3091-4151 www.edusp.com.br- e-mail: edusp@usp.br Printed in Brazil 2008

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de fatores que interessa a todas as outras fras;oes do espas;o. Por isso mesmo, alias, 0 proprio processo direto da produfZiO e afetado pelos demais (circulac;:ao, distribuic;:ao e consumo), justificando as mudanc;:as de localizac;:ao dos estabelecimentos produtivos. Como os circuitos produtivos se dao, no espac;:o, de forma desagregada, embora nao desarticulada, a importiincia que cada urn daqueles processos tern, a cada momenta historico e para cada caso particular, ajuda a compreender a organizac;:ao do espac;:o. Por exemplo, a tendencia aurbanizac;:ao em nossos dias, e, mesmo, o seu perfil, vao buscar explicac;:ao na importancia auferida pelo consumo, pela distribuic;:ao e pela circulac;:ao, ao mesmo tempo em que o trabalho intelectual ganha uma expressao cada vez maior, em detrimento do trabalho manual. Alias, a propria segmentac;:ao tradicional do processo produtivo (produc;:ao propriamente dita, circulac;:ao, distribuic;:ao, consumo) muito ganharia em ser corrigida para incluirmos, em Iugar de destaque, como ramos automatizados do processo produtivo propriamente dito, a concepfao (pesquisa), o controle, a coordenafZio, a previsao, paralelamente a mercadologia (marketing) e a propaganda. Ora, a organizac;:ao atual do espac;:o e a chamada hierarquia entre lugares passou a clever grandemente, na sua realidade e na sua explicac;:ao, a esses novos elos do sistema produtivo. Voltemos as questoes iniciais: Contem eles 0 espac;:o? 0 espa<,:o OS contem? Mas nao sao estas questoes que se resolvem por seu proprio enunciado, face a analise do real? Na realidade, este somente pode ser apreendido se separarmos, analiticamente, o que aparece como caracteristicamente formal do seu conteudo social, este devendo ser objeto de uma classificafZio a mais rigorosa passive!, que permita levar em conta a multiplicidade de combinas;oes. Quanta mais acurada essa classifica<,:ao, mais fecundas serao a analise e a sfntese. A escolha das variaveis nao pode ser, todavia, aleat6ria, mas deve levar em conta o fenomeno estudado e a sua significac;:ao em um dado momento, de modo que as instancias economica, institucional, cultural e espacial sejam adequadamente consideradas.

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ESPAC::O E SEUS ELEMENTOS:

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espac;:o deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da propria sociedade que lhe da vida. Todavia, considera-lo assim e uma regrade metoda cuja pratica exige que se encontre, paralelamente, atraves da analise, a possibilidade de dividi-lo em partes. Ora, a analise e uma forma de fragmenta<,:ao do todo que permite, ao seu termino, a reconstituic;:ao desse to do. Quanto ao espac;:o, sua divisao em partes deve poder ser operada segundo uma variedade de criterios. 0 que vamos aqui privilegiar, atraves do que chamamos "os elementos do espa<,:o", e apenas urna dessas diversas possibilidades.

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Antes mesmo de tentar definir o que e urn elemento do espac;:o, valeria a pena talvez discutir a propria noc;:ao de elemento.

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1. Pu blicado na Revista Geografia e Ensino, n. 1, a no 1, Departamento de Geografia, Universidade Federal de Minas Gerais, 1982.

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Segundo os teoricos, os elementos seriam a "base de toda dedu<;ao "; "prindpios 6bvios, luminosamente 6bvios, admitidos por todos os homens" (Bertrand Russell). Essa defini~ao equivale o elemento a uma categoria, a expressao categoria sendo aqui tomada no sentido de verdade eterna, presente em todos os tempos, em todos os lugares, e da qual se parte para a compreensao das coisas num dado momento, desde que se tenha o cuidado de levar em conta as mudan'<as hist6ricas. No caso dos elementos, essa posi«ao, segundo Russell, teria sido aceita atraves da Idade Mediae mesmo depois, como no caso de Descartes. Leibniz considera que a sua propriedade essencial e fon;a e nao extensao. Os elementos disporiam, entao, de uma inercia, pela qual eles podem permanecer nos seus pr6prios lugares, enquanto, ao mesmo tempo, existem fon;:as que buscam desloca-los ou penetrar neles. Desse modo, sendo espaciais (pelo fato de disporem de extensao), eles tambem sao dotados de uma estrutura interna, pela qual participam da vida do todo de que sao parte e que lhes atribui urn comportamento diferente (para cada qual), como rea'<ao ao proprio jogo das for<;as que OS atingem. A defini«ao do elem:ento iria, pois, alem da sugestao de D. Harvey (1969), sendo algo mais que "a unidade basica de urn sistema em termos primitivos que, de urn ponto de vista matematico, nao necessita defini~ao, da mesma forma que a concep<;ao do ponto na Geometria". Os ELEMENTOS oo EsrA<;:o: ENUMERA<;:Ao E FuN<;:OES

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Os elementos do espa«o seriam os seguintes: os homens, as firmas, as institui~6es, o chamado meio ecol6gico e as infra-estruturas. Os homens sao elementos do espa~o, seja na qualidade de fornecedores de trabalho, seja na de candidatos a isso, trate-se de jovens, de desempregados ou de nao empregados. A verdade e que tanto OS jovens quanta os ocasionalmente sem emprego ou os ja aposentados nao participam diretamente da prodw,:ao, mas o simples fato de estarem presentes no lugar tern como conseqiiencia a demanda de urn certo tipo de trabalho para outros. Esses diversos tipos de trabalho e

de demanda sao a base de uma classifica~ao do elemento homem na caracteriza<;ao de urn dado espa~o. A demanda de cada individuo como membro da sociedade total e respondida em parte pelas firmas e em parte pelas institui0es. As firmas tern como fuw;:ao essencial a produ~ao de bens, servi~os e ideias. As institui«6es, por seu turno, produzem normas, ordens e legitima<;:6es. 0 meio ecol6gico e o conjunto de complexos territoriais que constituem a base flsica do trabalho humano. As infra-estruturas sao o trabalho humano materializado e geografizado na forma de casas, planta<;:oes, caminhos etc. Os ELEMENTOS

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EsrA<;:o: SuA REDUTIBILIDADE

A simples enumera<;ao das fun<;:oes que cabem a cada urn dos elementos do espa~o mostra que eles sao, de certa forma, intercambiaveis e redutfveis uns aos outros. Essa intercambialidade e redutibilidade aumenta, na verdade, como desenvolvimento hist6rico; e urn resultado &i complexidade crescente em todos os nfveis da v{da. Desse modo, os homens tam bern pod em ser tornados como firmas (o vendedor da for<;a de trabalho) ou como institui<;oes (no caso do cidadao, por exemplo), da mesma maneira que as institui<;6es aparecem como firmas e estas como institui<;:6es. Este ultimo e o caso das transnacionais ou das grandes corpora<;:6es, que nao apenas se imp6em regras internas de funcionamento como intervem na cria<;ao de normas sociais a urn nivel de amplitude maior que o da sua a<;:ao direta, e ate se tornam concorrentes das institui<;6es e, mesmo, do Estado. A fixa<;:ao do pre<;:o das mercadorias pelos monop6lios da-lhes uma atribui<;ao que e propria das entidades de direito publico, na medida em que interferem na economia de cada cidadao e de cada familia, e mesmo de outras firmas, competindo com o Estado na arrecada<;:ao da poupan<;:a. Ecerto, porem, que, no momenta atual, as fun<;6es das firmas e das institui<;oes de alguma forma se entrela<;:am e confundem, na medida em que as firmas, direta ou indiretamente, tambem produzem normas, e as institui<;6es sao, como o Estado, produtoras de bens e de servi<;os.

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Ao mesmo tempo em que os elementos do espac;o se tornam mais intercambiaveis, as relac;6es entre eles se tornam tambem mais intimas e muito mais extensas. Dessa maneira, a noc;ao de espac;o como uma totalidade se impoe de maneira mais evidente, porque mais presente; e, pelo fato de resultar mais intrincada, torna-se mais exigente de analise. Os

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ELEMENTOS DO EsrA<;:o:

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0 estudo das interac;oes entre OS diverSOS elementos do espa<;O e urn dado fundamental da analise. Na medida em que func;ao e ac;ao, a interac;ao supoe interdependencia funcional entre os elementos. Atraves do estudo das interac;oes, recuperamos a totalidade social, isto e, 0 espas;o como urn todo e, igualmente, a sociedade como urn todo. Pois cada ac;ao nao constitui urn dado independente, mas urn resultado do proprio processo social. Falando do que antigamente se chamava regiao urbana, o geografo P. Haggett (1965) disse que em Geografia Humana a regiao nodal sugere urn conjunto de objetos (cidades, aldeias, fazendas etc.) relacionados atraves de movimentos circulatorios (dinheiro, mercadorias, migrantes etc.), e a energia que lhes vern atraves das necessidades biol6gicas e sociais da comunidade. Ora, essas necessidades sao todas satisfeitas pelo ato de produzir. Edessa maneira que se definem as formas de produzir e paralelamente as de consumir, as normas respectivas a divisao da sociedade em classes e a rede de relac;oes que se preside. E tambem assim que se definem os investimentos a serem feitos. Tais investimentos, cuja tendencia e dar-se, cada vez mais, em forma de capital fixo, modificam o meio ecol6gico atraves de sistemas de engenharia que, superpondo-se uns aos outros total ou parcialmente, vao modificando o proprio meio ecologico, adaptado as condic;oes emergentes da produc;ao. Dessa forma, opera-se uma evoluc;ao concomitante do homem e do que se poderia chamar de "natureza", pela intermediac;ao das instituic;6es e das firmas. Caberia, alias, aqui, perguntar see valida a distinc;ao que de infcio fizemos entre o meio ecologico e as infra-estruturas como elementos do espac;o. Na medida em que as infra-estruturas se somam e co lam ao

meio ecologico, e se tornam na verdade uma parte inseparavel dele, nao seria uma violencia considera-los como elementos distintos? Ademais, a cada momento da evoluc;ao da sociedade o homem encontra urn meio de trabalho ja constituido sobre o qual ele opera, e a distinc;ao entre o que se chamaria de naturale nao natural se torna artificial. A expressao meio ecol6gico nao tern a mesma significac;ao dada a natureza selvagem ou natureza cosmica, como as vezes se tende a admitir. 0 meio ecologico ja e meio modificado, e cada vez mais e meio tecnico. Dessa forma, o que em realidade se da e urn acrescimo ao meio de novas obras dos homens, a criac;ao de urn novo meio a partir daquele que ja existia: o que se costuma chamar de "natureza primeira" para contrapor a "natureza segunda" ja e natureza segunda. A natureza primeira, como sinonimo de "natureza natural", s6 existiu ate o momento imediatamente anterior aquele em que o homem se transformou em homem social, atraves da produc;ao social. A partir desse momento, tudo o que consideramos como natureza primeira ja foi transformado. Esse processo de transformac;ao, continuo e progressivo, constitui uma mudan~a qualitativa fundamental nos dias atuais. E, na medida em que o trabalho humano tern como base a ciencia e a tecnica, tornou-se por isso mesmo a historicizac;ao da tecnologia.

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Do CoNCEITO

A REALIDADE EMPfRICA

Quando dizemos que os elementos do espac;o sao os homens, as firmas, as instituic;6es, o suporte ecologico, as infra-estruturas, estamos aqui considerando cada elemento como urn conceito. A expressao conceito e geralmente traduzida como significando urna abstrac;ao extraida da observac;ao de fatos particulares. Mas, pela razao de que cada fato particular ou cada coisa particular s6 tern significado a partir do conjunto em que estao incluidos, essa coisa ou esse fato e que terrninam sendo o abstrato, enquanto o real passa a ser o conceito. Mas o conceito s6 e real na medida em que e atual. Isso quer dizer que as expressoes homern, firma, institui<;ao, suporte

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ecol6gico, infra-estrutura somente podem ser entendidas a luz da sua Hist6ria e do presente. Ao Iongo da Hist6ria, toda e qualquer varia vel se acha em evolw;;ao constante. Por exemplo, a variavel demogr:ifica esta sujeita a evoluc;oes e mesmo a revolw;oes. Se considerarmos a realidade demografica sob o aspecto do crescimento natural ou sob o das migra<;oes, a cada momenta da Hist6ria suas condi<;oes respectivas variam. Assim, no curso da Hist6ria humana, contam-se diversas revolu<;oes demograficas, cada qual com urn significado diferente. Da mesma maneira, os tipos e formas de migra<;oes variam, assim como os respectivos significados. Se tomamos urn outro exemplo, como o da energia, a cada fase sua utiliza<;ao toma aspectos diversos, desde o uso, unicamente, da energia animal ate a descoberta de formas de domar as fontes naturais de energia. Passamos, aqui, de uma fase em que a energia utilizada e a energia mec;inica ou inanimada, como no caso do motor a explosao, ao uso da energia cinetica e, mais recentemente, da energia atomica. 0 mesmo raciodnio se aplica a qualquer que seja a variavel. 0 que nos interessa e o fato de que a cada momento hist6rico cada elemento muda seu papel e a sua posi<;ao no sistema temporal e no sistema espacial e, a cada momenta, o valor de cada qual deve ser tornado da sua relas:ao com os demais elementos e com o todo. Desse ponto de vista, podemos repetir a expressao de Kuhn (1962) quando diz que os elementos ou variaveis "sao estados ou condi<;oes de coisas, mas nao coisas por elas pr6prias". Ele acrescenta: "Em sistemas que envoi vern pessoas, nao e a pessoa que e urn elemento, mas OS seus estados de fame, de desejo, de companheirismo, de informa<;ao ou urn outro tra<;o de qualidade relevante para o sistema".

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ELEMENTOS COMO VARIAVEIS

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0 que foi enunciado ate agora permite pensar que os elementos do espa<;o estao submetidos a varia<;oes quantitativas e qualitativas. Desse modo, os elementos do espa<;o devem ser considerados como variaveis. Isso significa, como o nome indica, que eles variam e mudam de valor

segundo o movimento da Hist6ria. Se esse valor lhes vemdas qualidades novas que adquirem, ele tambem representa uma quantidade. Mas a expressao real de cada quanti dade e dada como urn resultado das necessidades sociais e de sua grada<;ao em urn dado momento. Por isso mesmo, a quantifica<;:ao correspondente a cada elemento nao pode ser feita de forma aprioristica, isto e, antes de captarmos 0 seu valor qualitativo. Nesse caso, como, alias, em qualquer outro, a quantifica<;:ao s6 se pode dar a posteriori. Isso e tanto mais verdadeiro porque cada elemento do espa<;o tern urn valor diferente segundo o lugar em que se encontra. A especificidade do lugar pode ser entendida tambem como uma valoriza<;ao espedfica (ligada ao lugar) de cada variavel. Por exemplo, duas fabricas montadas ao mesmo tempo por uma mesma firma, dotadas das mesmas qualidades tecnicas, mas localizadas em lugares diferentes, atribuem aos seus proprietarios resultados diferentes. Do ponto de vista puramente material, esses resultados podem ser os mesmos, por exemplo, uma certa quantidade produzida. Mas o custo dos fatores de produ<;:ao, como a mao-de-obra, a agua ou a energia, pode variar, 路assim como a possibilidade de distribuir os hens produzidos pode nao sera mesma, e assim por diante. Por outro lado, ainda que as duas firmas, proprietarias das duas fabricas em questao, disponham do mesmo poder economico e politico, sua localiza<;:ao diversa constitui urn dado que leva a diferencia<;:ao dos resultados. 0 mesmo se da, por exemplo, com os indivfduos. Homens que tiveram a mesma forma<;:ao e que tern as mesmas virtualidades, mas estao situados em lugares diferentes, nao tern a mesma condi<;ao como produtores, como consumidores e ate mesmo como cidadaos. Dessa forma, cada Iugar atribui a cada elemento constituinte do espa<;o urn valor particular. Em urn mesmo Iugar, cada elemento esta sempre variando de valor, porque, de uma forma ou de outra, cada elemento do espa<;:o - homens, firmas, institui<;:oes, meio - entra em rela<;:ao com os demais, e essas rela<;oes sao em grande parte ditadas pelas condi<;:oes do Iugar. Sua evolu<;:ao conjunta num Iugar ganha, destarte, caracterfsticas pr6prias, ainda que subordinada ao movimento do todo, isto e, do conjunto dos lugares.

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Alias, essa especificidade do Iugar, que se acentua com a evolm;:ao propria das variaveis localizadas, e que permite falar de urn espac;o concreto. Desse modo, se cada elemento do espac;o guarda o mesmo nome, seu conteudo e sua significac;ao estao sempre mudando. Cabe, entao, falar de perecibilidade da significac;ao de uma variavel, e isso constitui uma regrade metoda fundamental. 0 valor da variavel nao e func;ao dela propria, mas do seu papel no interior de urn conjunto. Quando este muda de significac;ao, de conteudo, de regras ou leis, tambem muda o valor de cada variavel. A questao nao e, pois, levar em conta causalidades, mas contextos. A causalidade poria em jogo as relac;6es entre elementos, ainda que essas reiac;6es fossem multilaterais. 0 contexto leva em conta o movimento do todo. Em outras palavras, se nos estudamos ao mesmo tempo diversas rela<;6es bilaterais, como, por exemplo, entre homens e natureza, ou entre firmas e homens (capital e trabalho), ou entre firmas e Estado (poder economico e poder polftico), ou entre o Estado e os cidadaos, estaremos fazendo uma analise multi varia vel e considerando, ao mesmo tempo, que cada variavel tern urn valor por si mesma; isso, porem, de fato, nao se da. Somente atraves do movimento do conjunto, isto e, do todo, ou do contexto, e que podemos corretamente valorizar cada parte e analisa-la, para, em seguida, reconhecer concretamente esse todo. Essa tarefa sup6e urn esforc;o de classificac;ao. UM EsFoR<,:o DE CLASSIFICA<,:Ao

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Quando nos referimos a homens, estamos englobando nessa expressao o que se poderia chamar de populac;ao ou frac;ao de uma populac;ao. Sabemos, porem, que uma populac;ao e formada de pessoas que se podem classificar segundo sua idade, seu sexo, sua rac;a, seu nivel de instruc;ao, seu nivel de salario, sua classe etc. As caracteristicas da populac;ao permitem o seu conhecimento mais sistematico, e o mesmo se da com as firmas, que podem ser individuais ou coletivas, estas ultimas podendo ser sociedades anonimas ou sociedades limitadas ou

ainda cooperativas, corporac;6es nacionais ou firmas internacionais. E assim por diante. Ora, cada uma dessas parcelas ou frac;6es de urn determinado elemento formador do espac;o exerce uma func;ao diferente e tambem rela<;6es especificas com outras frac;6es dos demais elementos. Por exemplo, numa sociedade avanc;ada, as crianc;as e os velhos mereceriam a protec;ao do Estado, enquanto os adultos seriam chamados a trabalhar, como urn direito e urn clever. Assim, as relac;oes de cada tipo de homem com o Estado nao sao as mesmas. As relac;oes de cada tipo de firma com o Estado tambem nao sao identicas. Da mesma forma, em cada momenta historico os valores atribuidos a uma profissao ou a uma faixa de idade, a urn nivel de instruc;ao ou a uma rac;a, nao sao os mesmos. Se considerassemos a popula<;ao como urn todo, as firmas como urn todo, a nossa analise nao levaria em conta as multiplas possibilidades de interac;ao. Ao contrario, quanta mais sistematica for a classificac;ao tanto mais claras aparecerao as rela<;oes sociais e, em conseqiiencia, as chamadas relac;6es espaciais.

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EXAME DAS VARIAVE[S SOB 0 ANGULO DAS TECNICAS E DA ORGANIZA<,:Ao:

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Em cada epoca OS elementos ou variaveis sao portadores (ou sao conduzidos) por uma tecnologia especifica e uma certa combinac;ao de componentes do capital e do trabalho. As tecnicas sao tambem variaveis, porque elas mudam atraves do tempo. So aparentemente elas formam urn continuo. Se, nominalmente, suas func;6es sao as mesmas, a sua eficiencia, todavia, nao e a mesma. Em func;ao das tecnicas utilizadas e dos diversos componentes de capital mobilizados, pode-se falar de uma idade dos elementos ou de uma idade das variaveis. Desse modo, cada variavel teria uma idade diferente. 0 seu grau de modernidade so pode ser aferido dentro do sistema como urn todo, seja do sistema local, em certos casos, seja do sistema nacional, e ainda, para outros, do sistema internacional.

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Urn primeiro dado a levar em conta e que a evolu<;ao tecnica e a do capital nao se fazem paralelamente para todas as variaveis. Tambem ela nao se faz igualmente nos diversos lugares, cada Lugar sendo uma combina<;ao de variaveis de idades diferentes: cada lugar e marcado por uma combina<;ao tecnica diferente e por uma combina<;iio diferente dos componentes do capital, o que atribui a cada qual uma estrutura tecnica propria, espedfica, e uma estrutura de capital propria, espedfica, as quais corresponde uma estrutura propria, espedfica, do trabalho. Como resultado, cada Iugar e uma combinac;ao de diferentes modos de produc;ao particularmente, ou modos de prodw;ao concretos. Em cada lugar, as variaveis A, B e C. .. nao tern a mesma posic;ao no aparente continuo, porque elas sao marcadas por qualidades diversas. Isso resulta do fato de que cada Iugar e uma combinac;ao de tecnicas qualitativamente diferentes, individualmente dotadas de urn tempo espedfico- daf as diferen<;as entre lugares. Por isso mesmo, a Geografia pode ser considerada como uma verdadeira filosofia das tecnicas. -Dizer que a partir das tecnicas e seu uso o geografo deve filosofar nao equivale, porem, a dizer que tudo depende da tecnologia, nem na realidade nem na sua explicac;ao. A presenc;a de combinac;oes particulares de capital e de trabalho e uma forma de distribuic;ao da sociedade global no espac;o, que atribui a cada unidade tecnica urn valor particular em cada Iugar, conforme ja vimos anteriormente. Lembremo-nos, igualmente, de que as variaveis ou elementos estao ligados entre si por uma organiza<;ao. Tal organizac;ao e, as vezes, puramente local, mas pode funcionar a diferentes escalas, segundo os seus diversos elementos ou suas fra<;5es. A organiza<;ao se definiria como o conjunto de normas que regem as rela<;oes de cada varia vel com as demais, dentro e fora de uma area. Em sua qualidade de normas, isto e, de regulamento, externa, pois, ao movimento espontaneo, sua dura<;ao efetiva nao e a mesma que a da sua potencialidade funcional. A organiza<;ao existe, exatamente, para prolongar a vigencia de uma dada fun<;ao, de maneira a !he atribuir uma continuidade e regularidade

que sejam favoraveis aos detentores do controle da organizac;ao. Isso se da atraves de diversos instrumentos de efeito compensat6rio que, em face da evoluc;ao propria dos conjuntos locais de variaveis, exercem urn papel de regulador, de modo a privilegiar urn certo numero de agentes sociais. A organizac;iio, por conseguinte, tern urn papel de estruturac;ao compuls6ria, que freqiientemente contraria as tendencias do dinamismo proprio. Se a organizac;ao seguisse imediatamente a evoluc;ao propriamente estrutural, ela seria uma especie de cimento moldavel, desfazendo-se ao impacto de uma varia vel nova ou importante para se refazer cada vez que uma nova combina<;ao se completasse. Na medida em que a organizac;ao se torna uma norma, imposta ao funcionamento das variaveis, esse cimento se torna dgido.

E na medida em que a economia se complica que as relac;oes entre variaveis se dao, nao apenas localmente, mas a escalas espaciais cada vez rnais amplas. 0 mais pequeno lugar, na mais distante frac;ao do territorio, tern, hoje, rela<;6es diretas ou indiretas corn outros lugares de onde lhe vern materia-prima, capital, mao-de-obra, recursos diversos e ordens. Desse modo, o papel regulador das func;6es locais tende a escapar, parcialmente ou no todo, menos ou mais, ao que ainda se poderia chamar de sociedade local, para cair nas maos de centros de decisao longinquos e estranhos as finalidades pr6prias da sociedade local.

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ESPAC::O COMO UM SISTEMA DE SISTEMAS OU COMO UM SISTEMA DE ESTRUTURAS

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Quando analisamos urn dado espac;o, se n6s cogitamos apenas dos seus elementos, da natureza desses elementos ou das possfveis classes desses elementos, nao ultrapassamos o domfnio da abstrac;ao. ÂŁ somente a relac;ao que existe entre as coisas que nos permite realmente conhece-las e defini-las. Fatos isolados sao abstrac;oes e o que lhes da concretude e a relac;ao que mantem entre si. Karel Kosik (1967, p. 61) escreveu que "a interdependencia e a media<;ao da parte e do todo significam, ao mesmo tempo, que os fatos isolados sao abstrac;oes, elementos artificialmente separados do conjunto

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e que unicamente por sua participa<;ao no conjunto correspondente adquirem veracidade e concretude. Da mesma forma, o conjunto no qual OS elementos nao SaO diferenciados e determinados e Uffi conjunto abstrato e vazio". Os diversos elementos do espa<;o estao em rela<;ao uns com os outros: homens e firmas, homens e institui<;oes, firmas e institui<;oes, homens e infra-estruturas etc. Mas, como ja observamos, nao sao rela<;:oes apenas bilaterais, uma a uma, mas rela<;oes generalizadas. Por isso, e tambem pelo fato de que essas rela<;:oes nao sao entre as coisas em si ou por si proprias, mas entre suas qualidades e atributos, pode-se dizer que eles formam urn Verdadeiro Sistema. Tal sistema e comandado pelo modo de prodw;:ao dominante nas suas manifesta<;oes a escala do espa<;o em questao. Isso coloca de imediato o problema historico. Pode-se tambem falar na existencia de subsistemas, formados exatamente pelos elementos dos modos de produ<;:ao particulares. 0 sistema ecomandado por regras proprias ao modo de produ<;ao dominante em sua adaptac;:ao ao meio local. Estaremos, entao, diante de urn sistema menor ou correspondente a urn subespa<;o e de urn sistema maior que o abrange, correspondente ao espa<;o. Cada sistema funciona em relac;:ao ao sistema maior como urn elemento, enquanto ele prOprio e, em si mesmo, urn sistema. Caso o subsistema a que referimos seja desdobrado em subsistemas, a mesma relac;:ao se repete, cada urn dos subsistemas aparecendo como urn elemento seu, ao mesmo tempo em que e tambem urn sistema, sese consideram as suas proprias subdivisoes possiveis. E cada sistema ou subsistema e formado de variaveis que, todas, dispoem de forc;:a propria na estrutura<;ao do espac;:o, mas cuja ac;:ao e de fato combinada com a ac;:ao das demais variaveis. As rela<;6es entre os elementos ou variaveis sao de duas naturezas: rela<;:6es simples e relac;:oes globais. Tambem se pode dizer, como D. Harvey (1969, p. 455), que elas sao: seriais, paralelas e em feedback. As relac;:6es seriais sao sobretudo relac;:oes de causa e efeito, na medida em que urn elemento e causa de uma modificac;:ao no outro e assim sucessivamente, ate que ele proprio, o primeiro, seja tambem afetado.

0 que se cria e uma verdadeira serie de a<;oes. Mas ha tam bern o caso de a<;oes resultantes da a<;ao de urn elemento, por exemplo: aq afeta uma relac;:ao preexistente ai-aj. Nesse caso se fala de rela<;ao paralela. Ha urn outro tipo de relac;:oes estudadas mais recentemente pela cibernetica, isto e, a relac;:ao ai-ai, na qual 0 movimento e as modificac;;oes de cada elemento (ou de cada variavel ou sistema) se dao a partir de sua propria estrutura interna. Nos dois primeiros casos, as a<;;oes sao externas e, no terceiro, as mudanc;:as se dao pela simples existencia da variavel: existir e mudar. No primeiro caso citado, ainda segundo D. Harvey, trata-se de uma rela<;ao simples, isto e, uma relac;:ao de causa e efeito, enquanto que as rela<;6es paralelas e de feedback seriam rela<;oes globais. A verdade e que, seja qual for a forma de ac;:iio, entre as variaveis ou dentro delas, nao se pode perder de vista o conjunto, o contexto. As ac;:6es entre as diversas variaveis estao subordinadas ao todo e aos seus movimentos. Se uma variavel atua sobre uma outra, sobre urn conjunto delas ou, ainda, conhece uma evoluc;:iio interna, isso se da com pelo menos dois resultados praticos, que sao igualmente elementos constitutivos do metodo. Em primeiro Iugar, quando uma variavel muda o seu movimento, isso remete imediatamente ao todo, modificando-o, fazendo-o outro, ainda que, sempre e sempre, ele constitua uma totalidade. Sai-se de uma totalidade para se chegar a outra, que tambem se modificara. E por isso que, a partir desse impacto "individual" ou de uma serie de impactos "individuais", o todo termina por agir sobre o conjunto dos elementos formadores, modificando-os. Isso nos permite dizer que na verda de nao ha relac;:ao direta entre elementos dentro do sistema, exceto de urn ponto de vista puramente mednico ou material. 0 valor real, isto e, o significado dessa relac;:iio, e somente dado pelo todo. Assim como as rela<;6es entre as partes sao mediadas pelo todo, assim tam bern o sao as relac;:oes entre os elementos do espac;:o. Desse modo, a no<;ao de causa e efeito, que permite uma simplificac;:ao das rela<;oes entre elementos, e insuficiente para compreender e valorizar o movimento real. Pode-se, assim, dizer que cada varia vel

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Buscamos ate agora uma defini~ao do espa~o como sendo urn sistema. Todavia, esse modelo de espa~o como sistema vern sendo rudemente criticado pelo fato de que a defini~ao tradicional de sistema se tornou inadequada. Na verdade, se os elementos do espa~o sao sistemas (tanto quanto o espa~o), eles sao tambem verdadeiras estruturas. Nesse caso, o espa~o e urn sistema complexo, urn sistema de estruturas, submetido em sua evolu~ao

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Talvez nao seja demais insistir no fato de que cada estrutura evolui quando o espa~o total evolui e que a evolu~ao de cada estrutura em particular afeta a da totalidade. Uma estrutura, segundo Fran~ois Perraux (1969, p. 371}, define-se por uma "rede de rela~oes, uma serie de propor~oes entre fluxos e estoques de unidades elementares e de combina~oes objetivamente significativas dessas unidades". Isso poe em evidencia a no~ao de desigualdade de volumes ou de desigualdade de for~a funcional de cada elemento. Em outras palavras, uma diferen~a na capacidade de criar estoques e de criar fluxos. Tais desigualdades no interior da estrutura, sem mesmo obrigatoriamente supor as no~oes de hierarquia e de domina~ao, criam condi~oes dialeticas como urn prindpio de mudan~a. 0 espa~o esta em evolu~ao permanente. Tal evolw;:ao resulta da a~ao de fatores externos e de fatores internos. Uma nova estrada, a

chegada de novos capitais ou a imposi~ao de novas regras (pre~o, moeda, impastos etc.) levam a mudan~as espaciais, do mesmo modo que a evolu~ao "normal" das pr6prias estruturas, isto e, sua evolu~ao interna, conduz igualmente a uma evolu~ao. Num caso como no outro o movimento de mudan~a se deve a modifica~6es nos modos de produ~ao concretos. As estruturas do espa~o sao formadas de elementos hom6logos e de elementos nao homologos. Entre as primeiras estao as estruturas demograficas, economicas, financeiras, isto e, estruturas da mesma classe e que, de urn ponto de vista analitico, podem-se considerar como estruturas simples. As estruturas nao hom6logas, isto e, formada de diferentes classes, interagem para formar estruturas complexas. A estrutura espacial e algo assim: uma combina~ao localizada de uma estrutura demografica espedfica, de uma estrutura de produ~ao especifica, de uma estrutura de renda especifica, de uma estrutura de consumo espedfica, de uma estrutura de classes especifica e de urn arranjo espedfico de tecnicas produtivas e organizativas utilizadas por aquelas estruturas e que definem as rela~6es entre os recursos presentes. A realidade social, tanto quanto o espa~o, resulta da intera~ao entre todas essas estruturas. Pode-se dizer tambem que as estruturas de elementos hom6logos mantem entre elas la~os hierarquicos, enquanto as estruturas de elementos heterogeneos mantem la~os relacionais. A totalidade social e formada da uniao desses dados contradit6rios, da mesma maneira que o espa~o total. As estruturas e os sistemas espaciais, da mesma forma que todas as demais estruturas e sistemas, evoluem segundo tres prindpios: 1. o prindpio da a~ao externa, responsavel pela evolu~ao ex6gena do sistema; 2. o intercambio entre subsistemas (ou subestruturas), que permite falar de uma evolu~ao interna do todo, uma evolu~ao end6gena; e 3. uma evolu~ao particular a cada parte ou elemento do sistema tornado isoladamente, evolu~ao que eigualmente interna e end6gena. Haveria, assim, urn tipo de evoluc;:ao por a~ao externa e dois outros por ac;:ao interna ao sistema, sendo que 0 ultimo deles dever-se-ia ao movimento intimo, proprio de cada parte do sistema.

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Que, todavia, nao se perca de vista o fato de que a a<;:ao externa somente se exerce atraves dos dados internos. Nesse caso, ao mudarem as caracteristicas pr6prias a cada elemento, o seu intercambio ou a sua forma de recep<;:ao OU rea<;:ao a esfor<;:OS externos ja nao e matS a mesrna. A a<;:ao externa ou ex6gena e apenas urn detonador, urn vetor que traz para dentro do sistema urn novo impulso, mas que por si s6 nao tern as condi<;:oes para valorizar esse impulso. 0 mesmo impulso externo tern uma repercussao diferente segundo o sistema em que se encaixou. Por exemplo, uma certa quantidade de credito atribuido a uma atividade economica em todo urn pais nao vai teras mesmas repercussoes em todos os lugares; o aumento ou a diminui<;:ao do pre<;:o unitario de urn bern tambem nao repercute da mesma maneira em toda parte. 0 mesmo se pode dizer da abertura de uma estrada ou de sua promo<;:ao a urn nivel superior. As diferen<;:as de resultado aqui sugeridas sao dadas pelas condi<;:oes locais pr6prias, que agem como urn modificador do impacto externo. Nesse sentido podemos repetir a opiniao de Godelier (1966), para quem "todo sistema e toda estrutt.ira devem ser descritos como realidades 'mistas' e contradit6rias de objetos e de rela<;:oes que nao podem existir separadamente, isto e, de tal modo que sua contradi<;:ao nao exclua a sua unidade". Essa forma de ver o sistema ou a estrutura espacial, a partir da qual os elementos sao considerados como estruturas, leva tambem a admitir que cada lugar nao e mais do que uma fra<;:ao do espa<;:o total. Vimos, poucas linhas acima, que o vetor externo s6 ganha urn valor especifico como conseqiiencia das condi<;:oes do seu impacto, mas tambern sabemos que o chamado movimento interno das estruturas ou as rela<;:oes entre elas nao sao independentes de leis mais gerais. Epor essa razao que cada lugar constitui na verdade uma fra<;:ao do espa<;:o total, pais s6 esse espa<;:o total eo objeto da totalidade das rela<;:oes exercidas dentro de uma sociedade, em urn dado momenta. Cada Iugar e objeto de apenas algumas dessas rela<;:oes "atuais" de uma dada sociedade e, atraves dos seus movimentos pr6prios, apenas participa de uma fra<;:ao do movimento social total.

0 movimento que estamos tentando explicitar nos leva a admitir que o espa<;:o total, que escapa a nossa apreensao empfrica e vern ao nosso espirito sobretudo como conceito, e que constitui oreal, enquanto as fra<;:oes do espa<;:o, que nos parecem tanto mais concretas quanta menores, e que constituem o abstrato, na medida em que o seu valor sistemico nao esta na coisa tal como a vemos, mas no seu valor relativo dentro de urn sistema mais amplo. Quando nos referimos, por exemplo, aquela casa ou aquele ediffcio, aquele loteamento, aquele bairro, sao todos dados concretos- concretes por sua existencia -, mas, na verdade, todos sao abstra<;:oes, se nao buscarmos compreender o seu valor atual em fun<;:ao das condi<;:6es _atuais da sociedade. Casa, edificio, loteamento, bairro estao sempre mudando de valor relativo dentro da area onde se situarn, rnudan<;:a que nao e hornogenea para todos, cuja explica<;:ao se encontra fora de cada urn desses objetos e s6 pode ser encontrada na totalidade de rela<;:oes que cornandam uma area hem mais vasta. Assim tambem e , com os homens, as firmas, as institui<;:oes. A noc;ao de estrutura aplicada -aoestudo do espa<;:o tern essa outra vantagem. Atraves da no<;:ao de sistema, analisamos os elementos, seus predicados e as rela<;:6es entre tais elementos e tais predicados. Quando a preocupa<;:ao e com as estruturas, sabemos que se essa no<;:ao de predicado e aliada a cada elemento (aqui subestrutura), sabemos, antes, que sua real defini<;:ao depende sempre de urna estrutura mais ampla, na qual aquela se insere.

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Mas urn esquema de metoda, por mais logicamente bern construido que seja, encontrara dificuldades em sua realiza<;:ao. Urn esquema de metoda pretende ser, tambem, uma hip6tese de trabalho aplica vel: 1. por urna equipe de pesquisadores; 2. a uma realidade concreta; 3. realidade que e reconhecivel, a urn dado rnomento, atraves de urn certo numero de fenornenos. Cada urn desses dados constitui urna limita<;:ao pratica: a complexidade ou dinamismo da realidade a analisar, o numero e a

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representatividade dos dados disponiveis, a constitui<;ao da equipe de trabalho, sua forma<;ao anterior, profissional e teorica, sua disponibilidade para a aceita<;ao do tema e do esquema propostos. Tudo isso sem contar outros fatores reconhecidos universalmente por quem ja se envolveu ativamente em pesquisa. Quanta a forma<;ao da equipe de trabalho e a correspondente distribui<;ao das tarefas, a divisao do trabalho assume uma fei<;ao critica, na medida em que somente sera valida- permitindo alcan<;ar plenamente os objetivos buscados - caso o todo, assim dividido para efeitos praticos da analise, seja, depois, reconstituivel, de modo a permitir uma defini<;ao aceitavel da realidade eo reconhecimento dos seus processos fundamentais. E evidente que o resultado depende, igualmente, da previa compenetra<;ao do grupo de trabalho, tarefa ativa cujo requerimento de base e a compreensao dos objetos de estudo e dos objetivos deste. E a partir dessa premissa que as tarefas individuais podem ser entendidas. Se o caminho escolhido for o contrario, a sfntese nao se fara jamais, seja qual for 0 tempo dedicado a pesquisa de dados e ao reconhecimento de fatos. Tal compenetra<;ao deve partir, tambem, da ideia de que 0 objeto de analise e 0 presente, toda analise historica sendo apenas o indispensavel suporte a compreensao de sua produ<;ao. Nesse caso, e importante levar em conta que nao se trata de efetuar uma prospec<;ao arqueologica que seja, em si mesma, uma finalidade. Tratase de urn meio. Isso nao nos desobriga de buscar uma compreensao global e em profundidade, mas 0 tema de referencia nao e uma volta ao passado como dado autonomo na pesquisa, mas como maneira de entender e definir o presente em vias de se fazer (o presente ja completado pertence ao dominio do passado), permitindo surpreender o processo e, por seu intermedio, a apreensao das tendencias, que podem permitir vislumbrar o futuro passive! e as suas linhas de for<;a.

Referencias Bibliogrdficas Go DELlER, Maurice. "Systeme, structure et contradiction dans le capital", Temps Modernes, n. 246, nov. 1966. HAGETI, Peter. Locational Analysis in Human Geography. London, E. Arnold, 1965. HARVEY, David. Explanation in Geography. London, E. Arnold, 1969. KosiK, Karel. Dialetica del Concreto. Mexico, Grijalbo, 1967. KuHN, Thomas S. The Structure of Scientific Revolutions. Chicago, Univ. of Chicago, 1962. RussEL, Bertrand. A History of Western Philosophy, and its Connexion with Political and Social Circunstances from de Earliest Times to Present Day. New York, Simon and Schuster, 194 5. PERROUX, Fran.;:ois. L'Economie du XX Siecle. Paris, Presses Universitaires de France, 1969.

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