Jornal da Unicamp - Ed. 510

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Jornal daUnicamp As vias abertas na América Latina www. unicamp. br / ju

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Campinas, 10 a 23 de outubro de 2011 - ANO XXV - Nº 510 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Ilustração: El Vendedor de Alcatraces, de Diego Rivera/Divulgação/Editora Boitempo

A manchete acima intitula a apresentação feita pelo professor e sociólogo Ricardo Antunes para o seu último livro, O Continente do Labor, cujo lançamento ocorrerá no próximo dia 31. Na obra, o docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) reflete sobre a morfologia do trabalho na América Latina. Em entrevista ao Jornal da Unicamp, o intelectual analisa as consequências e os desdobramentos do movimento global de precarização do trabalho.

Páginas 6 e 7

Marcador atesta benefícios da natação para criança com asma Página 8

Análises em 3D aprimoram salto em distância Página 9

Cérebro dita o ritmo de atletas Página 3

Proteína protege células produtoras de insulina Página 4

O tempo em que Poços fazia parte da ‘grande Caldas’ Página 12


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Campinas, 10 a 23 de outubro de 2011

ARTIGO

U

por: Iran Ferreira Machado

Expedição Grafite: viagem ao berço do maior diamante das Américas

ma equipe formada pelos professores Iran Ferreira Machado e Carlos Alberto Lobão Cunha, do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, pelo publicitário Manoel Cyrillo de Oliveira Netto e pela física Lúcia Cabral Jahnel, partiu de Campinas no último dia 11 de setembro. O objetivo da missão - denominada Expedição Grafite - era conhecer o ponto do ribeirão Santo Antonio do Bonito, município de Coromandel (MG), onde o maior diamante das Três Américas – denominado Presidente Vargas – foi encontrado no dia 13 de agosto de 1938. Coromandel está situada na bacia do Alto Paranaíba, a leste do Triângulo Mineiro, na zona de influência de Patrocínio, maior cidade da região. O município é cortado pelos rios Buriti, Santo Inácio e pelo ribeirão Santo Antonio do Bonito; eles correm de sul para o norte até desaguar no rio Paranaíba. A fauna e a flora exuberantes da região atraíram o naturalista francês Saint-Hilaire no início do século 19. O roteiro da viagem foi o seguinte: Campinas – Ribeirão Preto – Uberaba – Nova Ponte – Iraí de Minas – Monte Carmelo – Abadia dos Dourados – Coromandel. Considerando o caminho percorrido dentro do município de Coromandel nos dias 12 e 13 de setembro, o percurso total de ida e volta até Campinas cobriu cerca de 1.500 km. No dia 14, às 16 horas, a equipe estava de volta a Barão Geraldo, em Campinas. A viagem foi realizada em uma caminhonete Chevrolet de cabine dupla, modelo S10, de propriedade de Manoel Cyrillo. Ela suportou bem as estradas carroçáveis de Coromandel, empoeiradas pela secura da estação. No dia 12 foi contratado o guia Waldejan Soares da Cunha, de 79 anos, que conhece as grotas do município como a palma da mão. Esse guia levou o grupo até a fazenda Santo Antonio, na Taquara, banhada pelo ribeirão Santo Antonio, conhecido internacionalmente pela frequência de pedras acima de 80 quilates, descobertas periodicamente nos seus cascalhos desde as primeiras décadas do século 20. Na fazenda Santo Antonio, o seu proprietário – sr. José Tim – de 84 anos de idade, fisicamente bem disposto e bastante lúcido, se incorporou à expedição. Após uns 20 minutos de estrada carroçável e uma caminhada de uns 15 minutos dentro da fazenda, chegamos finalmente às margens do ribeirão. Naquele exato ponto, segundo testemunho do sr. Tim, em 1938 foi achado o famoso diamante, cujo nome foi uma homenagem ao presidente Getúlio Vargas. Seus descobridores, segundo os registros históricos, foram os garimpeiros Joaquim Venâncio Tiago e Manoel Miguel Domingues, cujos herdeiros não vivem mais na pacata cidade de Coromandel. Corre uma lenda de que a pedra era metade de outra maior. A outra metade nunca foi encontrada, apesar de buscas intensas realizadas pelos garimpeiros desde o ano de 1938. O ponto da descoberta tem as seguintes coordenadas: latitude: 18o 30’ 33,3’’ S; longitude: 46o 58’ 22,4’’ W, com erro de 3 metros, medição realizada com o GPS de marca Garmin, modelo MAP 60CSx, de propriedade de Manoel Cyrillo. Obviamente, o cascalho mudou constantemente ao longo do tempo, devido a enxurradas periódicas, mas o ponto estava ali. A façanha de encontrar esse famoso local da história dos diamantes brasileiros somente foi possível graças à memória e boa vontade dos srs. Waldejan Cunha e José Tim. Sem essa prestimosa ajuda,

a Expedição Grafite teria malogrado, devido às inúmeras trilhas que cortam as respectivas bacias já mencionadas. Essa expedição foi realizada com recursos próprios dos seus membros, não havendo recursos públicos ou outras fontes. Tratava-se de satisfazer uma curiosidade desde a realização do 31º Congresso Internacional de Geologia, realizado no ano 2000, na cidade do Rio de Janeiro, quando o autor apresentou um pôster sobre o famoso diamante. O tema atraiu a atenção de geólogos de todas as nacionalidades participantes desse congresso internacional. Passados onze anos, veio a determinação de se identificar o ponto exato do ribeirão Santo Antonio do Bonito. A expedição foi coroada de êxito e comemorada pelos seus integrantes, com direito a vinho tinto. Valeu a pena o esforço do grupo. Consta que a pedra foi vendida em 1938 a um comprador de Belo Horizonte pelo equivalente a US$ 141 mil, quantia correspondente na época a 120 kg de ouro. Convertendo US$ 141 mil para o dólar de 2011, este valor alcança US$ 2.265.450 (cálculo efetuado usando-se o Consumer Price Index, do governo americano). Hoje a cotação dele estaria entre US$ 15 e 30 milhões nos principais centros de lapidação do mundo (Antuérpia, Amsterdã, Nova York e Tel Aviv). Essa estimativa é de uma fonte fidedigna do exterior, que prefere não se identificar. Aos céticos, recomenda-se a leitura do artigo de J. Greene, citado na bibliografia. Após ser vendido, sucessivamente, para compradores em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Amsterdã, o Presidente Vargas foi finalmente arrematado por um joalheiro de Nova York – Harry Winston –, o qual cortou a pedra em 29 brilhantes. O maior brilhante recebeu o nome de Presidente Vargas, com 44,17 quilates e estaria hoje nas mãos do joalheiro Robert Mouawad, de Beirute, após passar por vários proprietários. O autor agradece a colaboração permanente do prof. Lobão, do Manoel e da Lúcia, que tornaram esta viagem muito agradável, além de contribuírem de modo decisivo para serem alcançados os objetivos pretendidos pelo grupo.

Foto: Divulgação

José Tim, proprietário da fazenda Santo Antonio (acima): papel fundamental na exposição

Caminhonete atravessa riacho: sem auxílio dos guias, a missão dificilmente seria bem-sucedida

Iran Ferreira Machado é professor do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp

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Barbosa, O. Diamante no Brasil: histórico, ocorrência, prospecção e lavra. Brasília: CPRM, 1991. 136p. Cornejo, C. & Bartorelli, A. Minerais e Pedras Preciosas do Brasil. São Paulo: Solaris Edições Culturais, 2010. 704 pp. Greene, J. Giant Cullinan rough diamond sells for record$35 million Certified Gem Appraiser, Feb. 26, 2010 http:/ bizzmarketing.com/giant-cullinan-rough-diamond-sells-forrecord-35m/ Harry Winston http://www.harrywinston.com/ Machado, I.F. Revisiting the largest diamond found in the Americas Poster at the 31st. International Geological Congress, Rio de Janeiro, Aug. 2000.

Os professores Carlos Alberto Lobão Cunha e Iran Ferreira Machado no ponto em que o diamante foi encontrado, em 1938

_______ Diamante www.angelfire.com/country/BRA/diam_1. htm Mouawad http://www.mouawad.com/ Reis, E. Os grandes diamantes brasileiros. DNPM, Bol. no. 191, DGM, 1959. 65p. Rodrigues, R., Coelho, F.M., Svisero, D.P. & Moreira, L.A. Geologia de garimpos da região de Coromandel, Minas Gerais. Apresentação no 5o Simpósio Brasileiro de Geologia do Diamante, Tibagi (PR), 6 a 12 de novembro de 2010. http:// www.5sbgd.com.br/ US Bureau of Labor and Statistics – CPI Inflation Calculator http://www.bls.gov/data/inflation_calculator.htm Wikipedia Coromandel http://pt.wikipedia.org/wiki/Coromandel

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Aparelho de GPS: apenas três metros de diferença

Os quatro integrantes da expedição: comemoração com direito a vinho tinto

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali

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Campinas, 10 a 23 de outubro de 2011

Cérebro comanda percepções em exercícios, demonstra tese

Fotos: Antoninho Perri/Divulgação

Estudo revela ascendência do órgão sobre o músculo, ao contrário do que se imaginava ISABEL GARDENAL

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bel@unicamp.br

uas perguntas muito comuns na área desportiva são por que os atletas diminuem o seu desempenho atlético durante os exercícios e qual é a percepção que eles têm da fadiga? A resposta está no cérebro. Foi o que sugeriu um estudo de doutorado desenvolvido na Faculdade de Educação Física (FEF). Após vários testes com oito ciclistas de alto nível, o autor do trabalho – Eduardo Bodnariuc Fontes – demonstrou uma ascendência do cérebro sobre o músculo, ao contrário do que se imaginava. “As pessoas tendem a analisar os efeitos periféricos da respiração e do lactato. Agora estamos tentando virar essa página mostrando a relevância da participação do cérebro no exercício.” Grande parte da pesquisa foi realizada na Universidade da Cidade do Cabo (UCT), África do Sul. Fontes, que é educador físico, analisou ciclistas africanos, modalidade esportiva muito incentivada naquele país. Foi então que simulou altitudes de 2.500 metros com diminuição de oferta de oxigênio, a mesma situação verificada quando eles ficam cansados. Normalmente, recorda, quando se fala em nível do mar, respira-se 21% de oxigênio. Nesses testes respiravam 15%, baixando o seu desempenho atlético em mais ou menos 30%. Segundo o doutorando, que em sua tese teve orientação do docente da FEF Antonio Carlos de Moraes, especulava-se se a causa para isso seria a presença de mais lactato, um ácido que, com o trabalho intenso dos músculos, é liberado na corrente sanguínea. Por muitos anos, achou-se que este ácido era o responsável pela fadiga. Ele é produzido pelo organismo após o consumo da glicose, para fornecimento de energia, sem o oxigênio. Em atividades físicas de longa duração, o suprimento de oxigênio nem sempre é suficiente. O organismo acaba buscando energia em outras fontes, produzindo esse ácido. O seu acúmulo nos músculos pode desencadear dor e desconforto após o exercício. Assim, a determinação da concentração sanguínea do lactato permite avaliar a acidose metabólica e a capacidade aeróbia do exercício,

O autor do trabalho, Eduardo Bodnariuc Fontes (acima): “Mostramos a relevância da participação do cérebro no exercício”

Atleta é avaliado na Universidade da Cidade do Cabo: testes fundamentaram a tese

além de monitorar a intensidade do treinamento.

Respostas Na UCT, o educador físico empregou o aparelho Nirs que – através de luz de infravermelho – mede a oxigenação tecidual. Foi posicionado no cérebro e no músculo para identificar qual órgão tinha maior relação com a percepção. Será que os atletas estavam ficando cansados pela diminuição do oxigênio no músculo ou do cérebro? Fontes associou as respostas do Sistema Nervoso Central (SNC) a essa percepção e comprovou-a em situação de hipóxia, apesar de reconhecer que tal associação não se restringe a isso. Se o atleta estiver em perigo – como ocorre quando diminui a força do oxigênio, que pode causar isquemia cerebral –, então ele manda uma informação para outras áreas do cérebro, como as sensoriais, que aí informam: “a gente está numa situação difícil no cérebro: por favor, parem de fazer exercício!” O autor da tese, surpreso, não compreendia por que o cérebro, sendo o principal órgão do organismo, podia ser tão egoísta na seleção dos substra-

tos energéticos. “É como se para ele não pudesse faltar nada. Para os outros, sim”, sintetiza. Mais adiante, viu que este age como um mecanismo de proteção, já que o músculo, o lactato e a frequência respiratória não estavam em estado tão crítico assim. Estavam até normais. A seleção dos atletas foi rigorosa. Um era triatleta e outro chegou a ser campeão sul-africano de ciclismo. A ideia era agregar profissionais com esse perfil justamente porque, na teoria, eles conhecem melhor o próprio corpo, vivenciando o esporte de seis a oito horas por dia. Sua percepção é mais acurada. “Esta foi uma boa forma de associar a percepção com as respostas fisiológicas”, comenta Fontes. Na prática, eles se submeteram a exercícios de curta duração, porém intensos. Os atletas frequentaram os laboratórios da UCT seis vezes com essa finalidade, fazendo exercícios de várias intensidades, para ver se os efeitos da fadiga diferiam: se eram mais na perna ou se mais na respiração. “Induzimos o estado de fadiga para esclarecer o que causaria estes desconfortos”, esclarece. Em alguns

casos, vivenciavam uma queda de oxigênio em altitude, em outras não. Só que não sabiam disso. Além de manipular a condição, o pesquisador também fazia isso com carga. Os ciclistas ficavam algum tempo no ambiente com diminuição de oferta de oxigênio e depois começavam a pedalar até não aguentar mais. Vários trabalhos na literatura explicam os efeitos periféricos do músculo: porque está fatigando e porque o sangue está entrando em acidose. Entretanto, a associação destas respostas com a percepção é o que faz correr mais ou correr menos. “Quando se está correndo, o atleta não interrompe o exercício porque o seu lactato está com oito milimoles. Simplesmente diz que está cansado”, pondera o pesquisador. A percepção dá respostas fidedignas, afirma. Mas outras variáveis fisiológicas e do cérebro acabaram sendo investigadas. Constatou-se que o cérebro realmente tem preponderância sobre o músculo e, quando se está em situação de hipóxia, isso é mais evidente. O cérebro tenta proteger o organismo para evitar danos durante os exercícios. É o que em geral acontece com

os alpinistas de altas altitudes. Eles lutam contra o cérebro, forçando a superação de limites. Nesse estudo foram sinalizados os mecanismos da percepção do esforço em relação ao músculo. Muitos livros de Fisiologia do Exercício pouco falam da atuação do cérebro no exercício, e nunca tinham feito essa associação. Ao verificar a atividade muscular, para ver se ela estava de fato associada à percepção de esforço, foi identificada uma relação muito próxima. “Demonstramos que, aumentando-se a atividade muscular, eleva-se a percepção de esforço. Era uma premissa quase óbvia, mas que ninguém havia determinado”, explica o doutorando. Com base na percepção de esforço, conseguiu-se calcular a capacidade aeróbia dos atletas. Fontes enfatizou que é perceptível que, quando eles treinam, normalmente treinam numa ótima intensidade de esforço. Essa intensidade está associada à sua capacidade aeróbia. “Se treina abaixo dessa intensidade, está perdendo tempo; se treina acima, não consegue terminar o treino, por ser muito intenso.” Normalmente, as pessoas usam – para ver a capacidade aeróbica – o teste ergométrico em esteira, com analisador de gases metabólicos ou até mesmo com lactato. No estudo, usou-se um método para analisar apenas a percepção, não envolvendo praticamente equipamentos. Ao longo do teste, foram anotadas as percepções de cansaço do atleta e foi feito um cálculo matemático para chegar à capacidade aeróbia. “Foi uma forma de economizar tempo, dinheiro. Trata-se de um instrumento mais prático e fidedigno”, expõe o autor.

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Tese: Percepção de esforço em fadiga Autor: Eduardo Bodnariuc Fontes Orientador: Antonio Carlos de Moraes Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF) Financiamento: Capes, CNPq e Fapesp

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Bicicleta vai de ‘carona’ na ressonância magnética

Na etapa da África do Sul, o trabalho foi também orientado por Timothy Noakes, professor de Ciência do Esporte e exercício na Universidade da Cidade do Cabo (UCT). Noakes atuou em cerca de 70 maratonas e ultramaratonas e é o autor do livro Lore of Running, literatura fundamental para corredores e cientistas esportivos. O doutorando apontou a relação existente entre oxigenação cerebral e fadiga, adotando um tipo de Ressonância Magnética funcional (RMf) que mede a atividade cerebral das áreas mais profundas. Ocorre que esse equipamento afere somente o córtex cerebral (a região da testa). E

é sabido que as áreas cerebrais podem dar respostas diferentes durante o exercício. Têm as áreas sensoriais, motoras, cognitivas, de memória e relacionadas ao exercício. Por isso, os atletas foram colocados para pedalar no equipamento de ressonância magnética, pensando no cérebro como um todo. A metodologia desenvolvida por Fontes naquele país será em breve trazida para o Brasil. Auxiliado pelo seu pai, que tem uma microempresa de protótipos, o pesquisador criou uma bicicleta para ser pedalada em sintonia com a ressonância magnética, com o propósito de efetuar a

análise funcional do cérebro durante exercício. Ela pode ser adaptada a qualquer equipamento de RMf, desde que o movimento da cabeça não seja exagerado. De qualquer forma, os sujeitos são familiarizados e treinados para isso não ocorrer. Semelhante a uma bicicleta comum, ela foi batizada de MRI Cycling Ergometer (Ergômetro de Bicicleta RM). (Veja um vídeo que mostra como funciona a bicicleta durante os exercícios em http://www.youtube. com/watch?v=WGGZMW8nsC4). A invenção permite que os avaliados façam exercício a fim de analisar o cérebro como um todo ao mesmo tempo

em que pedalam. O atleta adentra o equipamento de ressonância magnética, introduzindo primeiramente a cabeça no equipamento e ficam deitados com as pernas para o lado de fora do equipamento. Acabam pedalando deitados com a cabeça mobilizada. Essa bicicleta possui apenas uma rotação. Por um sistema de Cardan, ela é transferida do pé-de-vela dos atletas para fora da sala, onde existe um gerador que simula volume. Com ele, pode-se colocar qualquer carga. Tanto pode ser empregado para fazer simulação de competição quanto de testes, assim como para compreender o que está havendo no cérebro

durante a avaliação. Uma peculiaridade desse invento é que ele não comporta o uso de materiais com propriedades magnéticas. “Meu pai fez uma bicicleta com alumínio, aço inox, borracha e plástico que pode ser levada para a sala de ressonância”, conta Fontes. O protótipo foi deixado na África do Sul. Agora, o seu pai está fazendo uma segunda versão, já com financiamento da Fapesp. “O desafio é fazer essa metodologia inovadora por aqui”, ressalta. A intenção agora é sondar o papel do cérebro durante o exercício no pós-doutorado, desta vez na Faculdade de Ciências Médicas.


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Campinas, 10 a 23 de outubro de 2011 Fotos: Antoninho Perri

Proteína protetora Dissertação demonstra que a citocina anti-in�lamatória impede morte de células produtoras de insulina ISABEL GARDENAL

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bel@unicamp.br

Diabetes mellitus é uma doença provocada pela deficiência de produção ou de ação da insulina, cujo principal sintoma é a alta quantidade de glicose no sangue (hiperglicemia), que pode causar diversos problemas crônicos, entre os quais a cegueira, a deficiência renal e as doenças cardiovasculares. Apesar dos esforços, a doença prossegue avançando sem cura. O que existe atualmente é apenas controle. De acordo com divulgações feitas por órgãos internacionais responsáveis pelo estudo do diabetes, cresce cada vez mais o número dos portadores dessa doença. E no Brasil isso não é diferente. Segundo a IDF (International Diabetes Federation), no ano de 2010, mais de sete milhões de brasileiros foram acometidos por essa patologia e, segundo projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS), esse número deve dobrar até 2030. Mas um estudo de mestrado desenvolvido no Instituto de Biologia (IB) pelo pesquisador Gustavo Jorge dos Santos dá um passo a mais para descortinar o seu entendimento. A pesquisa – orientada pelo professor Antonio Carlos Boschero e coorientada pelo professor Luiz Fernando de Rezende, que integra a linha de pesquisa de Pâncreas Endócrino – mostrou que a citocina anti-inflamatória CNTF (Ciliary Neurotrophic Factor) foi capaz de proteger células produtoras de insulina (células beta pancreáticas) contra a morte. “Assim, como uma das causas do diabetes é a morte dessas células produtoras de insulina, o CNTF pode ser um novo aliado na luta contra esse mal”, expõe o pesquisador. O trabalho também indicou, primeiramente em animais, que a citocina (a qual designa um extenso grupo de moléculas envolvidas na emissão de sinais entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes) avaliada pode garantir um efeito protetor prolongado, defendendo as células secretoras de insulina por pelo menos um período de 30 dias após o início do tratamento, abrindo novas possibilidades para a terapêutica auxiliar do diabetes, diminuindo a necessidade de injeções diárias ou então a dosagem de insulina injetada nos pacientes, o que pode melhorar a sua qualidade de vida. O pesquisador investigou se esse efeito protetor do CNTF agia

Luiz Fernando de Rezende, coorientador da pesquisa: axoquina foi empregada nos primeiros testes clínicos do diabetes

contra a morte causada pela droga aloxana ou pela citocina inflamatória interleucina-1-beta (IL1-beta) em células produtoras de insulina de camundongos (MIN6) e se o efeito do CNTF dependia da regulação da via da proteína AMPK (proteína quinase ativada por AMP), que atua como um ‘sensor energético’ celular. A investigação começou em 2009 partindo de dois princípios: já se sabia que o CNTF protegia as ilhotas pancreáticas e que a AMPK participava do processo de morte celular. Assim sendo, o biólogo Gustavo Jorge ficou intrigado se esse efeito protetor do CNTF dependia da inibição da AMPK e se ela era importante no processo de morte de célula produtora de insulina e, talvez, no desenvolvimento do Diabetes mellitus.

Experimentos Os testes foram feitos com camundongos neonatos de apro-

ximadamente três dias e com células em cultura que secretavam a insulina (MIN6). Para a realização dos experimentos e para responder à pergunta inicial, quatro grupos foram formados: os que receberam somente CNTF, somente aloxana, e CNTF mais aloxana, além do grupo-controle, que não recebeu nenhum dos dois. Observou-se que as células que recebiam CNTF junto com aloxana (substância diabetogênica) morriam menos que as que recebiam somente esta droga, mostrando que o CNTF protegia as células, conta Gustavo Jorge. Além do mais, quando tais células não expressavam a proteína AMPK, o CNTF já não conseguia mais protegê-las, mostrando que seu efeito protetor dependia da inibição dessa proteína. O autor do trabalho afirma que os mesmos dados verificados nas células tratadas com aloxana foram observados em células MIN6 trata-

das com IL1-beta, ou seja, o CNTF foi capaz de proteger a morte de célula produtora de insulina tanto frente a uma indução por aloxana quanto por IL1-beta. Ele salienta ainda que “nos dois modelos de morte de célula a AMPK foi necessária para o efeito protetor do CNTF”. Já se sabia que o CNTF melhorava o quadro de diabetes de pacientes, por aumentar os efeitos da insulina no organismo (sensibilidade periférica) e reduzir a obesidade. No entanto, ainda não havia sido notada a capacidade do CNTF em aprimorar a capacidade secretora de insulina do organismo, por manter vivas mais célulasbeta. Gustavo Jorge comenta que “os efeitos do CNTF nos tecidos periféricos (muscular, adiposo) e no Sistema Nervoso Central (SNC) já eram conhecidos; faltava saber como o CNTF agia na proteção das células produtoras de insulina”. O coorientador da dissertação salienta que o trabalho provou que a ativação da AMPK por aloxana e por IL1-beta é, pelo menos em parte, responsável pela morte de células-beta provocada por essas drogas. Trata-se de um fato novo, já que a ativação dessa proteína tem sido hoje proposta, aliás, como uma panaceia para a cura de várias doenças, inclusive do diabetes. Hoje em dia muitas pesquisas tentam promover a produção de medicamentos para ativar a AMPK no organismo. Neste trabalho, os pesquisadores advertem que essa premissa deve ser vista com cautela, pois, “apesar de melhorar o efeito da insulina, a ativação da AMPK iria matar as próprias células que produzem a insulina.” Conforme comenta Luiz Rezende, a axoquina – um análogo ao CNTF – foi empregada nos primeiros testes clínicos do diabetes, mas, à época, o que estava sendo avaliado era o seu efeito antiobesidade. A preocupação então se dirigiu mais para averiguar se, com ele, perdia-se peso, massa adiposa, do que propriamente com os efeitos sobre o diabetes, fato que passou a ser investigado somente mais tarde. Indagado sobre a expectativa de cura do diabetes, Gustavo Jorge esclarece que essa hipótese ainda está descartada no momento, “porém, se o paciente se submeter ao tratamento adequado”, diz, “ele poderá viver bem”. Esse tratamento inclui essencialmente controle da ingestão de alimentos (qualidade e quantidade), aplicação correta de insulina, realização de atividade física regular e acompanhamento médico-nutricional.

O pesquisador Gustavo Jorge dos Santos, autor da dissertação: “CNTF pode ser um novo aliado na luta contra o diabetes”

Hormônio regula concentração de glicose Como o CNTF e a AMPK desempenham funções importantes nas células betapancreáticas, ambos poderão ser alvos terapêuticos para o tratamento do diabetes. Contudo, a interação entre esses dois fatores em células secretoras de insulina permanecia desconhecida, interação esta que foi elucidada pelos pesquisadores neste trabalho. A insulina é um hormônio hipoglicemiante produzido pelas células-beta das ilhotas de Langherans, localizadas no pâncreas. Sua principal função é regular as concentrações de glicose no plasma. Ela proporciona a captação de glicose na quase totalidade dos tecidos do corpo (exceto cerebral, eritrócitos e células renais). Normalmente, a insulina é liberada em situações de altos índices de glicose plasmática, como por exemplo após as refeições. Ela atua reabastecendo as reservas de glicogênio nos músculos e no fígado, e incentivando o seu armazenamento no tecido adiposo. De certa forma esse hormônio prepara o organismo para uma fase de jejum.

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Santos GJ, Oliveira CA, Boschero AC, Rezende LF. CNTF protects MIN6 cells against apoptosis induced by Alloxan and IL-1β through down regulation of the AMPK pathway. Artigo publicado na revista Cellular Signaling sob o DOI:10.1016/j.cellsig.2011.06.001 (Cell. Signal. volume 23, Issue 10, October 2011, Pages 1669-76). Tese: “A inibição da via da AMPK pelo CNTF promove sobrevivência de células MIN6” Autor: Gustavo Jorge dos Santos Orientador: Antonio Carlos Boschero Coorientador: Luiz Fernando de Rezende Unidade: Instituto de Biologia (IB) Financiamento: Fapesp

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Campinas, 10 a 23 de outubro de 2011

Fotos: Antonio Scarpinetti

Tecnologias para a sociedade

Troféus entregues no Prêmio Inventores Unicamp, cuja cerimônia ocorreu no último dia 30 de setembro: reconhecimento

Pesquisas desenvolvidas na Universidade abrangem amplos setores e geram produtos para a sociedade ADRIANA ARRUDA

F

Especial para o JU

ormar alunos que venham a atuar com destaque em diversas áreas da sociedade faz parte da missão da Universidade. Todavia, além dos milhares de graduados procedentes da Unicamp a cada ano, outro resultado tangível da influência do trabalho na academia é a utilização de tecnologias originadas da pesquisa universitária em benefício da sociedade. Entre os casos de grande êxito da Unicamp está uma tecnologia conhecida como Low Trans, utilizada hoje pela Cargill na substituição da gordura trans em biscoitos e outros produtos. A Low Trans é resultado da pesquisa da professora Lireny Aparecida Guaraldo

Gonçalves e do pesquisador Renato Grimaldi, ambos da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). Desenvolvida em parceria com a empresa, por meio de um projeto colaborativo realizado na Universidade, a tecnologia foi licenciada com exclusividade e representa uma resposta rápida para uma demanda: a substituição da gordura trans sem perda de qualidade do produto ou alteração integral do processo de produção. “Nosso desafio foi deixar os alimentos livres de gorduras trans e de saturados e, ao mesmo tempo, manter toda a infraestrutura da empresa”, explica Lireny. De acordo com a docente, a equipe utilizou matérias-primas adequadas e alterou a cristalização dos biscoitos. “A indústria não fez um investimento alto para modificar a linha e conseguimos implementar a Low Trans de maneira ideal, sem muitas alterações”, afirma a professora. Se, para a empresa, a aplicação trouxe resultados imediatos, com poucas adaptações na produção – a Cargill já internacionalizou a tecnologia para o Chile e Argentina –, para o consumidor final, os benefícios são claros: um produto mais saudável, que não possui gordura trans ou saturados, elementos prejudiciais à saúde. “Para nós, é uma satisfação trabalhar com a nutrição humana e representar a saúde do dia a dia”, expressa Lireny. Outra tecnologia de impacto importante, neste caso ambiental, é a

desenvolvida pelo professor Oswaldo Luiz Alves, do Instituto de Química (IQ). A tecnologia é voltada para a remediação de fluidos de indústrias papeleiras e têxteis. De acordo com Alves, normalmente, essas indústrias utilizam grande quantidade de corantes e há a necessidade de eliminar a coloração desses efluentes antes de lançá-los ao rio. “A tecnologia desenvolvida permite essa descoloração e não causa alterações significativas nas propriedades de sorção”, afirma. Resposta para um problema ambiental, a pesquisa é, de acordo com o professor, fruto da parceria de trabalho com o aluno Odair Pastor Ferreira, hoje coordenador de pesquisa na Contech, empresa que licenciou a tecnologia e a comercializa desde o começo do ano. Para o professor, a Agência de Inovação Inova Unicamp teve papel fundamental no processo que levou a tecnologia da Universidade para o mercado: “Trata-se de um percurso clássico: tese, patente, licenciamento e absorção pelo mercado. A Inova foi muito importante em todo o processo de depósito da patente e negociação com a empresa. Além disso, a regulamentação que temos dentro da Universidade permite que tenhamos um envolvimento profícuo com o setor produtivo”, acrescenta. A utilização de outra tecnologia desenvolvida na Unicamp – e disponível no mercado – pode ser de grande valor na saúde neonatal. O Kit Surdez, comercializado para a empresa DLE

(Diagnósticos Laboratoriais Especializados Ltda), é resultado do trabalho da professora Edi Lúcia Sartorato, do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG). A docente recebeu o Prêmio Governador do Estado no ano de 2001 em razão desta pesquisa. Segundo a professora Edi, o diferencial de sua tecnologia frente ao teste do pezinho convencional é que, enquanto o exame convencional abrange apenas quatro doenças – fenilcetonúria, hipotiroidismo congênito, fibrosa cística e anemia falciforme –, o kit detecta uma mutação que, em dose dupla, é a principal causa da surdez genética. De acordo com o coordenador do departamento de relacionamento e marketing da DLE, Paulo Abrantes, esse procedimento pode ser extremamente benéfico para o recém-nascido. “O diagnóstico da surdez antes dos três meses de idade possibilita o tratamento especializado, minimizando as consequências sobre a comunicação verbal e o aprendizado da criança”. A professora Edi explica que, em razão da importância deste teste, existe um projeto de lei para torná-lo obrigatório nas maternidades. “Mas está ainda distante da realidade”, pondera. Para Abrantes, o trabalho conjunto entre comunidade acadêmica e mercado é de grande relevância para o desenvolvimento de tecnologias que permitam a utilização pela sociedade, propiciando melhor qualidade de vida e bem-estar. “A surdez é o deficit sensorial mais

comum nos seres humanos. Por isso, devemos continuar no trabalho de divulgação e conscientização da importância do teste de surdez genética”, afirma Abrantes. Ainda na área da saúde, outra tecnologia da Unicamp absorvida pelo mercado foi desenvolvida pelo professor Benedicto de Campos Vidal, do Instituto de Biologia (IB). Licenciada para a empresa Silvestre Labs Química e Farmacêutica Ltda, que a comercializa na área odontológica, a tecnologia apresenta soluções de continuidade, como falta de material ósseo, decorrente de uma patologia ou de uma intervenção cirúrgica, e pode ser utilizada com aplicações na odontologia e medicina, diminuindo o tempo cirúrgico e facilitando os procedimentos operatórios. De acordo com o diretor presidente da empresa, Eduardo Cruz, o produto para enxertia óssea foi lançado no mercado após a realização das etapas de ordem técnica/regulatória e a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “A empresa utilizou a tecnologia como base para desencadear diversas etapas que culminaram com a produção de um enxerto ósseo, vendido hoje aos dentistas”, afirmou. Eduardo ressalta a importância da parceria entre comunidade acadêmica e empresa: “Agências de inovação como a Inova possuem papel fundamental, pois servem de ponte para que a comunicação e o relacionamento entre ambas as partes tenham qualidade e eficiência”.

Os professores Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves, Oswaldo Luiz Alves, Edi Lúcia Sartorato, Benedicto de Campos Vidal e o pesquisador Renato Grimaldi: inovação e benefícios

Inventores são premiados Com o intuito de homenagear docentes e pesquisadores da Unicamp com tecnologias transferidas para a sociedade por meio de licenciamentos para empresas e outras instituições, a Reitoria da Universidade e a Agência de Inovação Inova Unicamp realizaram a quarta edição do Prêmio Inventores Unicamp no último dia 30 de setembro, no auditório do Conselho Universitário (Consu). Ao todo, doze professores e uma unidade – o IB – foram premiados em três categorias: Tecnologia Absorvida pelo Mercado, Tecnologia Licenciada, e Destaque na Proteção à Propriedade Intelectual, destinada

ao instituto com o maior número de pedidos de patentes realizados no ano. Cinco pesquisadores – Renato Grimaldi e os professores Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves, Oswaldo Alves, Edi Sartorato e Benedicto de Campos Vidal – inventores das quatro tecnologias já comercializadas, receberam o prêmio de maior destaque na premiação – de Tecnologia Absorvida pelo Mercado. Estes professores merecem mérito especial, pois, de acordo com o professor Roberto Lotufo, diretor-executivo da Inova, a procura de parceiros para o desenvolvimento complementar das patentes da Universidade e a celebração

do contrato de licença de exploração são apenas o início do processo para que a tecnologia se transforme em inovação. “A tecnologia se torna um caso de sucesso quando o produto é absorvido pelo mercado e chega à população e ao cidadão”, afirma. Outros seis professores – Adilma Regina Pippa Scamparini, Daniel Barrera Arellano e Fernando Antonio Campos Gomide, da FEA; Alexandre Xavier Falcão, do IC; Leonardo de Souza Mendes, do FEEC; e Marcelo Ganzarolli de Oliveira, do IQ, além de Vidal, Lireny e Grimaldi, foram homenageados na categoria Tecnologia Licenciada, pelo

licenciamento do resultado de suas pesquisas no ano de 2010. De acordo com a diretora de propriedade intelectual e transferência de tecnologias da Inova Unicamp, Patricia Magalhães de Toledo, os resultados das pesquisas acadêmicas podem ter um impacto positivo e abrangente na sociedade: “Diversos produtos que beneficiam milhares de pessoas são resultados de tecnologias originadas na pesquisa acadêmica, que foram licenciadas para empresas e lançadas no mercado”, afirmou a diretora. Já o reitor da Unicamp, professor Fernando Costa, finalizou a cerimônia

comentando sobre o próximo desafio da Unicamp relacionado ao trabalho de pesquisa e inovação: “O que produz grandes inovações é a realização de um trabalho conjunto, geograficamente próximo, entre pesquisadores de diversas áreas. Uma universidade como a Unicamp possui potencial para contribuir com o progresso da sociedade, especialmente quando se trabalha em áreas conjuntas”, completou. O Prêmio Inventores Unicamp é realizado anualmente e a Agência disponibilizou um blog com a memória do evento em: www.inova.unicamp.br/ premioinventores .


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Temperatura em elevação

Em seu novo livro, O Continente do Labor, o sociólogo Ricardo Antunes faz uma profunda re�lexão sobre o mundo do trabalho na América Latina e alerta: mesmo dividida, a classe trabalhadora tem reagido ao processo de eliminação de seus direitos MANUEL ALVES FILHO

O

manuel@reitoria.unicamp.br

professor Ricardo Antunes, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, lançará no próximo dia 31 de outubro, na Livraria Cortez, em São Paulo, o livro O Continente do Labor, no qual promove uma profunda reflexão sobre o mundo do trabalho na América Latina. A obra, que se “impôs naturalmente” a ele, reúne textos inéditos e já publicados,

Jornal da Unicamp – O que motivou o senhor a escrever O Continente do Labor? Ricardo Antunes – Este livro nasceu espontaneamente. Não foi um projeto, como o livro Sentidos do Trabalho, que foi resultado do meu pós-doutorado na Inglaterra e que apresentei como trabalho para o concurso de professor titular na Unicamp. Ele nasceu espontaneamente. A partir da primeira edição em espanhol do meu livro Adeus ao Trabalho, publicado na Venezuelana, e depois Argentina, Colômbia e México, e depois com a publicação de Os Sentidos do Trabalho, eu passei a ir muito aos países da América Latina para debater. No segundo semestre do ano passado, quando estava em Mendoza, no Norte da Argentina, aproveitei uma tarde livre para voltar aos Andes. Foi naquele momento que bateu forte um pensamento que também era uma pergunta. O que é o trabalho na América Latina? Eu que já havia estudado o Brasil e vinha estudando o cenário dos países capitalistas avançados – do Japão aos Estados Unidos, passando pela Europa – me dei conta de que deveria fazer algo sobre o nosso continente. E me dei conta também de que tinha um conjunto de textos sobre a América Latina e o Brasil. Especialmente um texto que escrevi para a Enciclopédia Latinoamericana, publicada pela Boitempo, que saiu em português e em espanhol. Originalmente, ele era longuíssimo e teve que ser cortado para ser incluído na obra. Eu guardei esse texto, que foi produzido em 2005. Na minha cabeça, ele tinha o título de O Continente do Labor, embora esse título não fosse possível no verbete da enciclopédia. Pois bem, eu peguei esse texto, que em boa parte estava inédito, e o utilizei para publicá-lo com outros artigos que foram escritos ao longo das minhas viagens pelo continente. Era o momento de fazer anotações sobre o passado, o presente e o futuro do trabalho na América Latina. JU – Há textos inteiramente inéditos no livro? Ricardo Antunes – Alguns dos textos foram publicados em revistas do exterior. Uma revista francesa me pediu, há dois anos, um balanço sobre o sindicalismo brasileiro, que eu incluí no livro. Há também uma análise do governo Lula, mas que eu nunca tinha publicado. Escrevi a pedido de uma publicação que seria feita no Canadá, em inglês. Assim como este, há alguns outros que não foram publicados e a há os que foram publicados em revistas no Brasil e exterior. A terceira parte do livro chama-se Panorama do Sindicalismo na América Latina, na qual há anotações sobre as principais centrais sindicais do continente, feitas por meu grupo de pesquisa. Isso acabou por dar um desenho interessante ao livro. E têm alguns artigos que foram escritos em coautoria com amigos que autorizaram a publicação. Nenhum deles, porém, é responsável pelas teses que estão no livro, que são minhas obviamente. JU – Qual a particularidade do trabalho na América Latina? Ricardo Antunes – O trabalho na América Latina tem, sim, uma particularidade. O mundo do trabalho tem tendências globais. A precarização é um exemplo disso. Acabo de chegar de Veneza, onde dou aulas em um curso de mestrado anual na Universidade Ca’ Foscari. A questão mais explosiva na Europa, hoje, é a precarização do trabalho.

produzidos ao longo dos últimos seis anos, alguns em coautoria com outros estudiosos. “Era o momento de fazer anotações sobre o passado, o presente e o futuro do trabalho no continente”, explica o sociólogo, que aborda o tema com a criticidade que caracteriza o seu pensamento. Na entrevista que segue, concedida em sua casa, entre um gole e outro de limonada, numa tarde quente de Primavera, o intelectual falou sobre o movimento global de precarização do trabalho, sobre as reações dos movimentos sociais e sindicais a esse processo e alertou, com a autoridade de quem acompanha de perto o assunto

há quase 40 anos: a temperatura está esquentando. “A classe trabalhadora, mesmo dividida, tem reagido. Os jovens trabalhadores espanhóis, italianos, portugueses, ingleses e noruegueses não vão ver passivamente o desmoronamento dos direitos que conquistaram com tanto sacrifício. As janelas estão abertas e podem ser aproveitadas tanto por movimentos sociais anticapitalistas quanto por movimentos contrarrevolucionários nazifascistas. Tudo isso é, para nós estudiosos, um profundo laboratório das lutas sociais. Eu digo no livro que, dentro desse laboratório, a Ásia e a América Latina são dois exemplos excepcionais para análise”.

JU – Há saída para esse dilema? Ricardo Antunes – Hoje nós temos um desemprego brutal. A OIT [Organização Internacional do Trabalho] fala em mais de 200 milhões de desempregados no mundo. É muito mais do que isso. Ninguém sabe o desemprego real na China. Há cinco anos, o país crescia a 12% ao ano. Agora, baixou para 7%. Para a China essa diferença representa uma hecatombe. Várias fábricas foram fechadas. A China compensa pelo crescimento enorme em outras áreas e em outros países. Onde pode estar a saída? Se há pouca gente com JU – Em dada altura do seu livro, o senhor trabalho em condições estáveis, mas que cumpre chama a atenção para a necessidade de ficarmos longas jornadas, e se tem muita gente com trabalho atentos aos dilemas do trabalho no continente. Que precarizado ou desempregada, uma primeira alternadilemas são esses? Em que medida eles se diferem tiva seria reduzir de forma significativa a jornada ou o tempo de trabalho em escala global, sem reduzir dos dilemas de outros períodos históricos? Ricardo Antunes – Sempre houve na história salários. Assim, todos poderiam ter emprego. Por do capitalismo, especialmente no latino-americano, que isso não é feito? Porque isso toca no sistema de metabolismo social do fases de desemprego intenso. capital. Em momentos de expansão A França tentou, no final econômica, o índice é menor; da década de 90, reduzir a nos de recessão, é maior. O carga horária de trabalho Brasil viveu o vilipêndio para 35 horas. O goverda alta taxa de desemprego no aprovou a medida, mas a partir da década de 90. depois de poucos anos ela Ampliamos o emprego nos esmoreceu e foi eliminada. últimos quatro ou cinco anos Na Alemanha, no Japão, na porque a economia entrou França e em quase todos os numa fase de ascensão. Enpaíses não se fala em outra tretanto, agora há claros coisa hoje: se o trabalhador sinais de perigo por causa quiser preservar os empreda nova fase da crise global. gos, tem que trabalhar mais. Como enfrentar um dilema A lógica das corporações crucial como esse? Por um transnacionais – e que atinge lado, os jovens que concluem o microcosmo da produção a fase escolar têm que trada pequena, média e granbalhar para sobreviver. Por de empresa – está baseada outro, cresce a ausência de na liofilização toyotizada e trabalho. flexibilizada. A liofilização, Na Espanha, por exemO que é liofilizar a termo que vem da Química, é plo, o jovem entre 17 e 24 um processo de desidratação anos tem uma taxa de deempresa flexível? É que elimina as substâncias semprego oficial de 47%. eliminar as substâncias vivas. O que é liofilizar a Então, o jovem espanhol tem vivas dentro dela empresa flexível? É eliminar a seguinte certeza: fazendo as substâncias vivas dentro universidade, tendo curso dela. Em outros termos, é superior, ele é candidato número um ao desemprego e candidato número dois eliminar o trabalho vivo. Quando o trabalho vivo é a um trabalho precarizado. No Chile, há atualmente eliminado, o trabalhador se precariza, vira camelô, um majestoso movimento estudantil e popular. Lá, faz bico etc. Desde a revolução industrial os trabatanto as universidades públicas, que a ditadura Pino- lhadores lutam por direitos sociais, e muitos foram chet destruiu o mais que pôde, quanto as instituições conquistados. O que nós vimos nos últimos 30 anos foi um privadas são caríssimas. Uma família chilena de classe média baixa ou da classe trabalhadora muitas monumental desmonte desses direitos. Reduzir a vezes tem que vender a casa, que conquistou com jornada de trabalho, discutir o que produzir, para muito sacrifício, para financiar o estudo de um filho, quem produzir e como produzir são ações prementes. para que ele possa ter um futuro melhor. É um qua- Ao fazermos isso, estamos começando a discutir os dro social trágico, e é por isso que o Chile está hoje elementos fundantes do sistema de metabolismo paralisado, com uma série de greves que mostram social do capital que é profundamente destrutivo. a vitalidade dessas lutas. O Chile é emblemático do Não é por outro motivo, senão contestar essa lógica destrutiva, tanto em relação ao trabalho, ao meio que estamos falando da América Latina. Se olharmos a imprensa brasileira e a internacio- ambiente, às formas complexas da dominação, que nal, vão dizer que o Chile é um dos países que mais o tema do socialismo, no redesenho do século XXI, crescem na América Latina. Cresce, mas também ressurge. E a América Latina tem peso neste embate. cresce o fosso social entre os setores dominantes da JU – Olhando para o interior da América Lasociedade enriquecidos e a massa que reúne a classe trabalhadora urbana, os campesinos, os mineiros etc, tina, o que aproxima e o que distancia os países do continente? todos bastante empobrecidos e pauperizados. Ocorre que nós, latino-americanos, sempre convivemos com essa realidade, que os italianos chamam de trabalho atípico. Eu começo o ensaio lembrando que o trabalho antes da colonização hispânica ou portuguesa era realizado pelos indígenas. Os portugueses, no Brasil, e os espanhóis, no restante da América Latina, introduziram o trabalho escravo africano e indígena, com base na violência. Nós nascemos com o trabalho escravo, enquanto a Europa já fazia o trânsito do trabalho servil para o assalariado.

Ricardo Antunes – Quando saímos do Brasil, temos em todos os outros países um idioma diferente. Isso, sem dúvida, distancia o Brasil dos demais. Em vários países da América Latina, temos uma mescla muito rica de cultura pré-hispânica e indígena. No Brasil, a colonização portuguesa nos deu outra língua. Mas Caio Prado Júnior mostrou que a colonização espanhola e portuguesa da América Latina foi estruturada através das colônias de exploração, enquanto que a colonização inglesa nos Estados Unidos foi na base do povoamento. Aqui, predominaram o saque e o vilipêndio. Por isso chamei o livro de Continente do Labor, sendo o termo labor uma expressão do trabalho árduo. Em termos de organização sindical e política, o anarcossindicalismo teve maior expressão em alguns países, o Brasil entre eles, e menor importância em outros. Em alguns países, o chamado socialismo reformista pré-comunista teve importância, como na Argentina. No Brasil, foi pouca e incipiente. Em alguns países, o sindicalismo ainda é forte. No Brasil, o sindicalismo continua sendo forte, independentemente da coloração das entidades. Na Argentina e no México também. Em vários países, como na Bolívia, avanLula foi galgan çam as lutas a cada degrau de populares: no presente includeixou um va sive ocorre uma pressão justa de populações campesinas e indígenas contra uma estrada que está sendo construída com capital brasileiro. Há países em que ocorreram revoluções, como no México, Bolívia e Cuba, e outros em que ocorrem contrarrevoluções, como no Brasil – o Golpe de 64 e em tantos golpes militares nas últimas décadas, como no Chile, Argentina, Uruguai etc. Nos planos sindical e partidário há, portanto, várias singularidades e particularidades; há muitas diferenças. No universo dos governos, temos hoje pelo menos três grandes vertentes importantes. Tem a direita tradicional (México, Colômbia, Chile e Honduras), tem um desenho que esboça uma alternativa crítica com traços de esquerda, mas com tensões (Venezuela e Bolívia e em menor escala Equador), e tem um “pólo de centro”, onde o Lula é a grande liderança. Também fazem parte dessa última corrente o ex e o atual presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez e José Mujica, além da ex-presidente chilena Michelle Bachelet. Esses são alguns exemplos do que nos aproxima e nos distancia. Mas uma tese que o livro explora é a de que avançam de modo expressivo as lutas sociais e políticas, conectadas direta ou indiretamente com o trabalho, a precarização, o desemprego, contra a mercadorização dos bens como água e recursos ener-


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Fotos: Antoninho Perri

O sociólogo Ricardo Antunes: “O que nós vimos nos últimos 30 anos foi um monumental desmonte dos direitos dos trabalhadores”

géticos, contra a exploração desertificada e bárbara das siderurgias e suas crateras que avassalam povos e populações, contra a opressão de gênero, etnias, gerações etc. Denomino essa processualidade, no livro, como a busca das questões vitais, que movem o cotidiano das maiorias trabalhadoras.

JU – E em relação aos países de fora do bloco? Ricardo Antunes – Hoje temos uma nova divisão internacional do trabalho e do capital, redesenhada a partir dos anos 70, na qual países como Índia, China, Brasil, Rússia alcançaram posição de destaque. Em 1970, se você pegar a impressa brasileira, a China era citada pelo seu isolamento. Ninguém falava da China, mas dos Tigres Asiáticos, como Coréia. Hoje, quando você compra em Veneza aquelas máscaras que tipificam um traço da cultura da cidade, basta olhar que verá nelas a inscrição “Made in China”. Qual é a força da China? A China tem atualmente um contingente de força de trabalho que está próximo de um bilhão de pessoas e assimila celeremente tecnologias de ponta em vários setores da produção. Na Índia, há uma imensa população que vive com ndo espaço e poder e, menos de 2 essa longa caminhada, dólares por dia. Trata-se alor seu para trás de um país onde a pobreza e a riqueza convivem atadas. Há vários setores da sociedade indiana que se apoderaram do arsenal tecnológicoinformacional. Avanço tecno-informacional-digital e vilipêndio do trabalho e sua superexploração. No Brasil também ocorreu isso, ainda que em menor medida. Tanto Brasil quanto China e Índia têm um mercado interno forte. Quando a crise global atinge as economias centrais e há uma retração das importações dos nossos produtos, as commodities, a alternativa é estimular o mercado interno. Foi esse o lance de Lula. Incentivou a indústria automobilística, a de construção civil, linha branca e outros setores com a oferta de incentivos fiscais. O Lula dizia desde os anos 70 que o Brasil deveria incentivar o mercado interno. Naquele momento, porém, ele pensava nisso para melhorar a condição da população trabalhadora. Hoje, é para melhorar a condição da população trabalhadora, mas também fortalecer o capitalismo brasileiro. Socialismo para ele, como respondeu em uma antiga entrevista que nos foi dada, é para “todos terem direito à propriedade privada”. Lula é uma expressão excepcional do migrante rural que entrou no setor de ponta da indústria brasileira, o automotivo. Foi o mais importante líder sindical brasileiro da era republicana. Mas, como foi galgando espaço e poder, a cada degrau dessa longa

Ricardo Antunes – Hoje posso dizer com mais tranquilidade ainda o que já afirmava em meados da década de 90. O que vemos hoje na Grécia? Os trabalhadores, a sociedade como um todo, não aceitam pagar a conta da crise atual. O FMI e o Banco Mundial estão impondo aos países europeus a mesma cartilha que impuseram à América Latina e que nos devastou. Os jovens na Espanha estão se JU – O senhor também afirma no livro que o rebelando. A nova geração portuguesa é chamada Brasil sempre esteve com as costas voltadas para a de “à rasca”, expressão que designa uma juventude enrascada, encalacrada, sem saída. Recentemente, América Latina. Pode explicar melhor isso? Ricardo Antunes – O nosso processo de colo- vi manifestações em Portugal dessa jovem geração, nização foi baseado no seguinte princípio: produzir dos precári@s inflexíveis, como se denomina um para a metrópole, pelo sistema de monopólio, co- desses novos movimentos contra a precarização, mandado pela metrópole. As nossas costas sempre desemprego, opressão etc. Neste cenário, tem uma nova morfologia do estiveram voltadas para a América Latina. A nossa universidade tem como modelo as universidades mundo do trabalho que oferece, ao contrário do que da França, Inglaterra ou Estados Unidos. A nossa diziam alguns autores, segundo os quais a classe classe dominante senhorial desprezava internamente trabalhadora não tinha mais nenhuma importância, uma nova morfologia das os trabalhadores escravos lutas sociais. Então, você negros e também desprezava vê protestos em vários os negócios com as classes pontos. Recentemente, dominantes coloniais no munhouve protestos violentos do américo-hispânico. Nossa na Inglaterra. Os jovens, relação era com Portugal, imigrantes, precarizad@s, Holanda ou Inglaterra. Deveem que o trabalho está pois, com os Estados Unidos. diminuindo e a conta da Por isso faço uma provocação crise é apresentada aos no livro. O Brasil não pode trabalhadores. É aí que se imaginar que é o máximo na rebelam. Há uma rica cliAmérica Latina. O máximo é vagem de classe, gênero, a América Latina como um geração, etnia, que aflora todo. A América Latina hisintensamente nestas lutas. pânica é poderosa. O México Dizem que são rebelivive uma situação de crise ões sem projeto. Mas e daí? profunda, mas é um país e Qual a novidade? A conuma cultura pujantes. trarrevolução burguesa dos O Brasil, então, sempre últimos 40 anos procurou teve as costas voltadas para destruir impiedosamente o continente. Só que hoje todos os projetos alternaesse processo sofre algumas Quem diria há pouco tivos, inclusive socialistas, mutações por causa do movimento que o Brasil faz de tempo que o mundo árabe para que não ficasse pedra pedra. Seria um mise integrar ao rol dos países iria se convulsionar, a não sobre lagre “divino” que esses avançados – o G20, G7 etc ser os estudiosos? movimentos tivessem pro– e porque o país tem uma jetos claros. Esses projetos economia forte que colhe vão nascer de novas lutas resultados no momento de crise. A globalização, entretanto, hoje significa que sociais, dessa nova morfologia. Veja a rebelião árabe. Os árabes da Tunísia e o Sul do mundo está também dentro dos países centrais. Atualmente, não existe uma capital na Egito lutam contra o binômio ditadura-pauperizaEuropa Ocidental que não tenha bolsões de pobreza ção. Lutam contra a riqueza petrolífera que gera e mesmo miséria. Ao mesmo tempo, você tem uma uma riqueza diamantífera, por um lado, e uma europeização ou uma norte-americanização das massa de miseráveis, de outro. Tem gente que diz classes dominantes brasileiras, que vivem nos seus que o sindicato não tem mais importância. Besteira. guetos. Elas não andam mais de carro, mas de heli- Na Tunísia os sindicatos tiveram papel importante cópteros. E vivem em condomínios “indevassáveis”. nas rebeliões. No Egito, tivemos assembleias em Esta é mais uma forma de voltar as costas para o praça pública com a participação também, ainda continente. É sempre bom lembrar que somos mais que em menor escala, dos sindicatos. Temos tamlatino-americanos que europeus, embora tenhamos bém as rebeliões na América Latina. O exemplo tido uma colonização europeia. Também tivemos local mais recente é o da Bolívia, acima referido. uma industrialização baseada no american way of Então, essa nova morfologia repõe, na concretude life. A cultura do automóvel é um exemplo disso. O do século XXI, o tema do socialismo. Mas é preciso também lembrar que se este carro tornou-se, no século XX, sinal do status e do cenário abre possibilidades para as lutas sociais, poder de um indivíduo. abre também para movimentos de extrema direita. JU – Como os trabalhadores vêm reagindo Na Europa, hoje, a extrema direita faz campanha ao quadro de precarização do trabalho em escala aberta. Antes, o movimento não se expunha tão abertamente, salvo nas ditaduras. Agora, ele se global? caminhada, ele deixou um valor seu para trás. E foi adquirindo outros. Não é de assustar que seu cachê em palestras para transnacionais (aquelas mesmas que praticam a superexploração do trabalho) sejam hoje três vezes mais caras que aquelas ofertadas por Fernando Henrique Cardoso, para triste surpresa deste e regozijo do outro.

apresenta com todas as letras. Na Itália, anos atrás, vi um cartaz de um dos partidos que disputavam a eleição que dizia: “nós somos a verdadeira direita”. O segredo da dominação num passado recente era a direita nunca dizer que era direita. Eram “democratas” ou “liberais”, no máximo. Hoje são fascistas, nazistas. Essa é uma tendência que você vê na Europa claramente. JU – No livro, o senhor lança um olhar em perspectiva sobre essas tensões? Para onde elas caminham? Ricardo Antunes – No início do século XX as “placas tectônicas”, que na verdade são uma metáfora em relação às placas sociais, se mexeram. Tivemos nas primeiras décadas: Primeira Guerra Mundial, Revolução Russa, Revolução Húngara e Revolução Alemã. Se adentrarmos mais um pouco, tivemos o fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha e Segunda Guerra. No início do século XXI, as “placas tectônicas” estão se mexendo novamente. Tenho dito há algum tempo que a temperatura das lutas sociais na Europa e nos EUA, sem falar na América Latina e Ásia, está aumentando. A China é o país onde tem mais greve no mundo. Tem empresa na China na qual os empresários obrigam os trabalhadores a assinar um termo afirmando que não vão praticar suicídio. Se praticarem, as famílias deixam de receber o que as empresas devem pagar pelas mortes no trabalho. As janelas estão abertas para a reposição de um modo de vida no qual o sistema de metabolismo humano-societal seja verdadeiramente voltado para uma produção de bens socialmente úteis e que não sejam destrutivos. Para que a preservação da humanidade, da natureza e da emancipação seja um valor forte e permanente. Todavia, como vimos, há janelas do outro lado, que abrem para o fascismo e nazismo. Mas, a classe trabalhadora, mesmo dividida e com suas dificuldades, tem reagido. Os trabalhadores espanhóis, italianos, portugueses, ingleses e noruegueses não vão ver passivamente o desmoronamento dos direitos que conquistaram com tanto sacrifício. Jürgen Habermas [filósofo e sociólogo alemão] cometeu um grave erro em seu livro Teoria da Ação Comunicativa. Ele disse que o proletariado europeu tinha se pacificado. Ele não percebia que o bem-estar social começava a desmoronar. E que isso geraria o esquentamento das lutas sociais que estamos vendo. Isso recoloca a questão de qual sociedade queremos. Quem diria há pouco tempo que o mundo árabe iria se convulsionar, a não ser os estudiosos mais atentos do tema? O mundo árabe vive um processo de revoluções democráticas e sociais. Esse é o cenário. Insisto: as janelas estão abertas e podem ser aproveitadas tanto por movimentos sociais anticapitalistas quanto por movimentos contrarrevolucionários nazifascistas. Tudo isso é, para nós estudiosos, um profundo laboratório das lutas sociais. Eu digo no livro que, dentro desse laboratório, a Ásia e a América Latina são dois exemplos excepcionais para análise.

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Título: O continente do labor Autor: Ricardo Antunes Editora: Boitempo Páginas: 176 Preço sugerido: R$ 35,00

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Nas n bas ca

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Nadando contra a asma

Foto: Antoninho Perri

Estudo

conduzido no Ciped com crianças comprova bene�ícios da natação RAQUEL DO CARMO SANTOS

U

kel@unicamp.br

m grupo de pesquisadores da Unicamp conseguiu comprovar cientificamente que a prática da natação melhora o quadro geral da criança com asma. O estudo foi conduzido no Centro de Investigação em Pediatria (Ciped) da Unicamp e utilizou um marcador clínico, a hiper-responsividade brônquica, para atestar a evolução positiva na melhora clínica de 30 pacientes, entre 7 e 18 anos, acompanhados no Hospital das Clínicas. Os resultados demonstraram que os portadores da doença, depois de passarem pelos exercícios aquáticos e de técnicas de natação por um período de três meses, tiveram uma diminuição significativa da hiper-responsividade brônquica – termo que indica o aumento da sensibilidade que ocorre nos brônquios dos pacientes com asma. “Não é novidade o bem que a água pode proporcionar ao paciente. Muitos médicos indicam a prática da natação para minimizar a exacerbação dos sintomas desta doença, que é crônica e muito comum na infância. Mas, a maioria dos estudos apresentou resultados controversos ou não comprovados”, destaca a fisioterapeuta Ivonne Bernardo Wicher, uma das autoras do trabalho, que apresentou uma dissertação de mestrado sobre o assunto na Faculdade de Ciências Médicas (FCM).

A fisioterapeuta Ivonne Bernardo Wicher (à dir.) e a educadora física Flávia Ciello: utilização de marcador clínico

A pesquisa é uma das três finalistas do Prêmio Saúde, promovido pela Editora Abril, cujo vencedor será conhecido no dia 29 de novembro. Os resultados também foram publicados no final de 2010 no Jornal de Pediatria, editado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, em artigo científico intitulado “Avaliação espirométrica e da hiper-responsividade brônquica de crianças e adolescentes com asma atópica persistente moderada submetidos à natação”. Como principal inovação do trabalho, Ivonne enumera a utilização do marcador clínico como indicador da melhora da asma antes e após o treinamento da natação em crianças. Anteriormente, só a percepção – um aspecto subjetivo – sugeria a melhora do paciente. Com as investigações realizadas no Ciped, foi possível detectar o efeito positivo que a prática

exerce no portador da doença. Antes de passarem pelas aulas de natação em 24 sessões, os pesquisadores submeteram estas crianças e adolescentes voluntárias ao teste de broncoprovocação que consiste na inalação de doses crescentes de metacolina – para avaliar o estado inicial do quadro. No início, comenta a fisioterapeuta, doses mínimas já acarretavam crises nos pacientes. Ao longo dos exercícios de natação, além do ensino das técnicas, eram também realizadas práticas de conscientização sobre a respiração e orientações gerais. “O que mais surpreendeu foi perceber o quanto as crianças assimilavam o conteúdo de tais práticas e como absorviam rapidamente as técnicas de natação. Das 30 voluntárias do grupo de natação, apenas quatro já sabiam nadar”, explica a fisioterapeuta, que enfatiza

a necessidade de se propor exercícios dirigidos, focando a necessidade específica de expiração. “A pressão hidrostática da água também ajuda na expiração do asmático, um dos principais problemas enfrentados pelo paciente”, esclarece. Os benefícios da natação também decorrem do fato de que a posição horizontal favorece um padrão expiratório mais adequado e constante do que outros exercícios, além dos benefícios associados à alta umidade das pisicinas. Após três meses de prática do esporte, duas vezes por semana em aulas de 50 minutos, as crianças e adolescentes foram novamente submetidos ao teste de broncoprovocação por metacolina. Os resultados foram tão surpreendentes, lembra Ivonne, que muitos queriam abandonar o medicamento. “A melhora foi visível, pois a maioria espaçou o intervalo das crises.

Este fato os fazia pensar que estavam curados. Mas sempre explicávamos que a asma é uma doença crônica”, esclarece. A natação pode atuar como uma terapia auxiliar junto ao tratamento medicamentoso. O resultado do estudo ao ser comparado ao grupo controle, composto por 31 crianças que participaram dos testes de broncoprovocação, mas não praticaram a natação, atestaram o melhor desempenho dos praticantes do esporte.

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Wicher, Ivonne Bernardo; Ribeiro, Maria Ângela Gonçalves de Oliveira; Marmo, Denise Barbieri; Santos Camila Isabel; Toro, Adyleia Contrera; Mendes, Roberto Teixeira; Cielo, Flávia Maria de Brito; Ribeiro, José Dirceu. Avaliação espirométrica e da hiperresponsividade brônquica de crianças e adolescentes com asma atópica persistente moderada submetidos à natação. Jornal de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria, volume 86, 2010

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Software é ferramenta na escolha de fornecedores

Programa leva em conta não apenas os custos, mas também qualidade e logística

De olho nos preços competitivos dos fornecedores asiáticos, vários setores da indústria estão mudando a forma de aquisição de seus produtos. Uma atitude que, na opinião do engenheiro Marcelo Maciel Rabelo, exige cautela, visto que os custos não são o único elemento a ser considerado para a escolha. Ele avaliou isto ao aplicar em um caso real da indústria de autopeças uma metodologia adaptada, baseada no método Analitic Hieraquic Process (AHP). Trata-se de um software que auxilia a tomada de decisões a partir de análises, levando-se em conta não apenas os custos, mas também questões de qualidade e logística. A preocupação do engenheiro, que

atua como gerente de operações, reside no fato de que a competitividade mundial está cada vez mais acirrada entre as empresas e a busca por diferenciais para os clientes passam diretamente pelos custos dos produtos. “Os países com alta tecnologia de produção e elevados custos de produção interna acabam optando por fornecedores em regiões, onde os custos são mais baixos, o que reduziria o valor de um produto para o consumidor final”, esclarece. A proposta do engenheiro, apresentada na forma de mestrado profissional na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), seria acrescentar elementos e critérios para que as empresas e seus administradores tenham os instrumentos necessários para uma avaliação correta. A metodologia considera as vantagens e desvantagens e traz um relatório minucioso dos critérios envolvidos no resultado final. “Os critérios e alternativas de fornecimento são avaliados pelos responsáveis de cada uma das áreas e faz uma comparação de todas as análises, o que chamamos de julgamento paritário”, explica Rabelo, que teve orientação para o estudo do professor Antonio Batocchio. A partir do resultado das avaliações realizadas pelo software, continua Rabelo, a empresa terá re-

Foto: Divulgação

cursos e conhecimento para ponderar melhor as opções de manter o fornecedor atual ou escolher uma nova fonte de fornecimento, neste caso a Índia ou China. Segundo o engenheiro, o software é de fácil assimilação e traz a principal vantagem de fazer as análises informatizadas. O estudo desenvolvido por Marcelo Rabelo mostra ainda as relações e os impactos gerados pelo processo de Global Sourcing, termo utilizado para descrever a prática de terceirização do mercado mundial de bens e serviços através da geopolítica de limites. Para o engenheiro, esse processo de “fornecimento global” traz incertezas na cadeia de suprimentos e gera impactos na manufatura dos clientes destes componentes. Por isso, a pesquisa colabora com os administradores no sentido de ter uma visão sobre quais são algumas das principais variáveis existentes em todo processo e planejar medidas para eliminar ou mitigar os impactos. (R.C.S.)

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Mestrado profissional: “Elaboração e aplicação de metodologia para escolha de fontes de fornecimento para indústria de autopeças” Autor: Marcelo Maciel Rabelo Orientador: Antonio Batocchio Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)

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O engenheiro Marcelo Maciel Rabelo: “julgamento paritário”


Salto em 3D Tecnologia tridimensional é usada na FEF em avaliação de atletas de alto nível MARIA ALICE DA CRUZ

A

halice@unicamp.br

tecnologia 3D (tridimensional) serve não apenas para tornar a exibição de um filme mais emocionante. Ela também tem tornado mais fidedignos os resultados de avaliação de desempenho de muitos atletas brasileiros, acompanhados por pesquisadores da área de biomecânica. Os campeões olímpicos de salto em distância Maurren Maggi e Irving Saladino, treinados pelo brasileiro Nélio Moura, mestre pela Unicamp, estão entre os atletas de alto nível que tiveram seus movimentos detalhadamente capturados e analisados por meio de variáveis cinemáticas pela pesquisadora da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp Jerusa Petrovna Resende Lara e pelo grupo do Laboratório de Instrumentação para Biomecânica (LIB). A dissertação de Jerusa, desenvolvida no LIB, teve como objetivo analisar tridimensionalmente as variáveis cinemáticas do salto em distância de atletas de alto nível em ambiente competitivo. Dentre as análises, foi testada a variabilidade em variáveis cinemáticas tridimensionais nos saltos em distância destes atletas. A pesquisadora analisou cinco saltos de cada atleta durante cinco edições do Grande Prêmio de Atletismo, realizadas no Brasil no ano de 2008. Os resultados obtidos por meio do software DVideo, desenvolvido em 2003 no Laboratório de Biomecânica da FEF para análise cinemática de diferentes modalidades esportivas, mostram que, de fato, os atletas devem buscar controlar as variáveis de saída da tábua, buscando reduzir sua variabilidade e atingir seus valores ótimos, indicados em tabelas apresentadas ao técnico e na dissertação pela pesquisadora. Ela explica que na velocidade vertical de saída da tábua, para ambos os atletas, a variabilidade foi sendo até dez vezes maior que a variabilidade da distância saltada. O ângulo de saída e a velocidade horizontal de saída da tábua, segundo a pesquisadora, também apresentaram valores superiores à variabilidade da distância saltada. Os resultados puderam ser apresentados ao técnico – pois muitas vezes era inviável a reunião com todos – a partir do cálculo do Coeficiente de Variação. Além da variável de distância oficial do salto, foram consideradas as variáveis de velocidade horizontal do centro de massa no instante de entrada na tábua, ângulo entre o vetor velocidade do centro de massa e a horizontal, altura do centro de massa no instante de saída na tábua, velocidade horizontal do centro de massa no instante de saída da tábua e velocidade vertical do centro de massa no instante de saída da tábua. A trajetória do centro de massa do atleta foi calculada usando o modelo antropométrico proposto por Vladimir Zatsiorsky e Alexander Seluyanov (em publicação de 1990), segundo a autora. Jerusa explica que um dos diferenciais da pesquisa é a possibilidade de saber por meio da análise tridimensional o quanto o atleta corre

horizontalmente, o quanto se desloca lateralmente e verticalmente, já que a maioria dos estudos encontrados na literatura oferece somente análises bidimensionais. O software desenvolvido na FEF permitiu estimar, quadro a quadro, cada centro articular do atleta, como centro articular do ombro, cotovelo, punho, quadril, joelho, tornozelo, entre outros. Segundo Jerusa, 18 pontos foram manualmente digitalizados em cada uma das imagens dos vídeos gerados por seis câmeras rigorosamente instaladas no corredor de saltos, na tábua de salto e na caixa de areia. “Com ele, consigo dimensionar, posicionar e orientar o segmento do atleta durante todas as fases do salto. Ele me fornece a proporção de uma movimentação tridimensional”, explica Jerusa. Ela esclarece que o rigor na instalação das câmeras, em treinos e competições, foi essencial para a obtenção de resultados eficientes para o técnico dos atletas, pois permitiu capturar as variáveis de maior importância para o desempenho do salto em distância, nas fases de aproximação, de decolagem dos saltos (takeoff) e de aterrissagem. Embora muitas vezes o ponto exato das câmeras para a análise fosse disputado pelas câmeras da emissora de TV que liderava a transmissão dos campeonatos. O fato de ter uma ferramenta desenvolvida no próprio laboratório também coloca os pesquisadores da Unicamp em situação privilegiada, já que em outros lugares os estudos são feitos com pacotes prontos, oferecidos a R$ 400 mil. O DVideo permite que o programa seja adequado às necessidades de cada grupo de pesquisa. Outra vantagem é que no sistema da Unicamp é possível desenvolver os protocolos de acordo com a necessidade do pesquisador, enquanto os pacotes fechados não permitem modificações e adequações. “A performance real do atleta ocorre em um ambiente complexo de competição, no qual muitas das condições não são controláveis e alguns protocolos-padrão para análise biomecânica não podem ser usados”, explica Jerusa. Ela enfatiza que seria inviável o uso de marcadores sobre o corpo do sujeito, controle da luminosidade do local, uso de luz infravermelha e posicionamento das câmeras de vídeo para aquisição das imagens em qualquer local da pista de salto. De acordo com a pesquisadora, a possibilidade de se avaliar um atleta em condições laboratoriais controladas, mesmo aqueles especificamente desenhados para este fim, é limitada, uma vez que o desempenho do atleta é afetado por condições ambientais específicas do local de competição, como piso, vento, temperatura, umidade e outros fatores que interferem psicologicamente no atleta, entre eles o nível de estresse, o tipo de competição, o desempenho dos outros atletas, a sequência de ocorrência dos resultados, entre outros. “Para que se obtenha uma análise biomecânica com alto grau de validade, é desejável que as variáveis biomecânicas sejam obtidas em ambiente real de competição”, esclarece. O retorno do técnico também foi importante no desenvolvimento do trabalho, segundo Jerusa, “Muitas vezes, ele nos consultava sobre o que poderia fazer para melhorar o movimento rotacional de um atleta ou uma velocidade específica”, acrescenta a autora. A margem de risco de erro descrita no trabalho também foi apresentada ao técnico. Por exemplo, no caso de Saladino, a velocidade horizontal ideal de saída da tábua quando obteve o campeonato seria de 8,53, mais ou menos 0,3 metro por segundo. “Calculei e apresentei na dissertação um estudo sobre reprodutibilidade e replicabilidade das variáveis cinemáticas, podendo assim estimar todas as

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Fotos: Antoninho Perri/Divulgação

Visualização das seis câmeras de vídeo usadas para aquisição dos dados, no software Dvideo

A física Jerusa Petrovna Resende Lara: capturando as variáveis de maior importância para o salto em distância

Aquisição: posicionamento das câmeras e computadores para coleta de dados online

fontes de erro sistemático e aleatório, explica Jerusa.

Cumprimentos Jerusa não teve muito contato com os atletas durante o trabalho, mas em uma das competições em que compareceu como torcedora foi cumprimentada e agradecida pelos atletas, que a observavam ao longe, salto a salto, com seu aparato profissional. Formada em física pela Unicamp, sempre sonhou em trabalhar com esporte, cuja concretização se deu com participação da FEF na Rede Cenesp da Secretaria Nacional do Esporte (parceria entre universidades e governo federal), da qual o Laboratório de Biomecânica faz parte. No mesmo projeto, além de Maurren e Saladino, Jerusa também analisou a relação das variáveis cinemáticas de 17 saltos de nove atletas masculinos de alto nível em competição no Grande Prêmio Rio Caixa de Atletismo no ano de 2007. A ideia era realizar uma análise de regressão linear múltipla nas fases de aproximação, impulsão e voo. Para entender a relação entre

as variáveis cinemáticas estudadas e a distância saltada, a física recorreu a três análises diferentes: uma destinada à descrição dos saltos por meio das variáveis; outra sobre a correlação linear simples entre as variáveis cinemáticas e a distância saltada; e uma terceira envolvendo a regressão linear múltipla por meio do método stepwise. Como resultado, Jerusa concluiu que a velocidade escalar do centro de massa no touchdown (quando o atleta toca a tábua de salto) foi responsável por 40% da variabilidade da distância predita. Enquanto isso, a altura máxima do centro de massa na fase de voo foi responsável por 16%, e a distância do pé de apoio do atleta na tábua de impulsão teve 12% de contribuição na variabilidade da predição da distância saltada para um modelo com dez variáveis candidatas ao modelo de predição inicialmente. Um segundo modelo, em que as velocidades escalares foram substituídas pelas componentes das velocidades do centro de massa e 14 variáveis formaram o conjunto de variáveis candidatas à predição da distância

saltada, a velocidade horizontal do centro de massa no touchdown contribuiu com 44% da variabilidade da distância saltada, enquanto a velocidade vertical do centro de massa no touchdown contribuiu 30% e o ângulo de ataque 14%. De acordo com Jerusa, uma parte da pesquisa mostra que as variáveis de velocidade podem ser reproduzidas e reaplicadas para valores superiores 0,09 metro por segundo enquanto variáveis angulares, acima de 0,67 grau. Ela esclarece que para esta parte dos estudos contou com dez observadores de ambos os sexos. Coube a eles fazerem cinco medições cada um de um mesmo salto em distância sob as condições que definem reprodutibilidade e replicabilidade. As medições permitiram calcular as variáveis cinemáticas do salto em distância na fase de impulsão. Também foram realizadas análises de valores de variância intra e inter observador e cálculos de valores de erro padrão, considerados como os valores abaixo do qual as variáveis cinemáticas são reprodutíveis e replicáveis. Jerusa esclarece que a contribuição do trabalho para obtenção dos títulos conquistados por Maurren e Saladino tenha sido pequena, por ter iniciado o trabalho apenas seis meses antes da Olimpíada de Pequim. Mas sabe, pelo retorno do técnico e pelo agradecimento de Maurren, que em algum momento a biomecânica ofereceu aparato 3D para a emoção vivida no pódio.

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Dissertação: “Análise cinemática tridimensional do salto em distância de atletas de alto nível em competição” Autora: Jerusa Petrovna Resende Lara Orientador: Ricardo Machado Leite de Barros Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF)

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10 Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

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Painel da semana  45 anos de Unicamp - A programação completa dos 45 anos da Unicamp pode ser consultada no endereço eletrônico: http://www.45anos.unicamp. br/?page_id=19  Rodando Limpo - O Instituto de Química (IQ), a Agência de Inovação Inova Unicamp e a Associação de Transporte do Norte Catarinense (Astran), associação sem fins lucrativos voltada a atuar na área de logística com ênfase em transporte, realizam o Desafio Rodando Limpo, uma competição que busca, entre o alunos da graduação e pós-graduação do IQ, projetos para o destino sustentável de resíduos oriundos da substituição de pneus, óleo lubrificante e lona de freios e da água de lavagem de veículos. O período para submissão dos trabalhos vai de 10 de outubro a 16 de novembro. Eles devem ser enviados para o e-mail extensaoiq@iqm.unicamp. br. Consulte o Edital no link http://www.iqm.unicamp. br/site/docs/rodandolimpo.pdf  Palestra com Robert W. Cleary - O Instituto de Geociências (IG) organiza no dia 11 de outubro, uma palestra aberta com o Dr. Robert W. Cleary. Ele aborda o tema “Wellhead Protection: Theory and Practice (Perímetro de Proteção de Poços: Teoria e Prática). O evento ocorre às 14 horas, no auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA). Considerado pela comunidade acadêmica como um dos docentes de maior renome do meio científico, Cleary é o principal docente do curso de Modflow na National Ground Water Association e dos cursos de Contaminação de Águas Subterrâneas, Hidrologia e Remediação da Princeton Groundwater Inc, ambas nos Estados Unidos. Mais informações: 19-3521-4698.  Fórum - No dia 13 de outubro, a partir das 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Meio Ambiente e Sociedade. “Combate à extrema pobreza e segurança alimentar” é o tema central do evento. Programação e outras informações estão disponíveis no link: http://foruns.bc.unicamp.br/  Quem cuidará das crianças? - O ex-reitor José Martins Filho prepara para o dia 14 de outubro o lançamento do seu próximo livro “Quem cuidará das crianças?”, que sairá pela editora Papirus. O lançamento acontece às 19 horas no auditório da Livraria Cultura, do Shopping Iguatemi Campinas. “Trata-se de uma obra sequencial que faz parte do meu trabalho de orientação e educação das crianças e dos familiares”, explicou Martins.  ONHB – Nos dias 15 e 16 de outubro, equipes de todo Brasil vêm à Unicamp para fase final da 3ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB). Leia mais: http://www.mc.unicamp.br/novidades/ artigo/543  Semana de Engenharia - A Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) organiza, de 17 a 21 de outubro, a Semana de Engenharia da Unicamp (SEC). Do evento de 15 anos participará o Ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, o diretor da Faculdade de Engenharia Civil, Paulo Barbosa, e um representante da Caixa Econômica Federal. A SEC contará com a presença de mais de 300 pessoas e feed on-line. Durante o evento haverá exposição científica dos departamentos da FEC, debates, palestras, minicursos, recrutamento de talentos e painéis sobre o crescimento do Brasil na próxima década. No primeiro dia de evento haverá um coquetel para exalunos e, no último dia, o “Enduro a pé”, competição que visa integrar os diversos cursos da Unicamp. Mais informações: www.secunicamp.com.br  Fórum Extra - Atividade Física e Saúde: experiências bem sucedidas nas empresas, organizações

e setor público. Este é o tema que será discutido na próxima edição do Fórum Extra. O evento ocorre no dia 17 de outubro, a partir das 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O professor Edgard Salvadori De Decca, coordenador geral da Unicamp, participa da abertura do evento. O objetivo do Fórum é divulgar as experiências bem sucedidas através da prática de atividades físicas oferecidas no âmbito da universidade no período de 2004 a 2011, bem como apresentar as iniciativas e resultados de programas desenvolvidos e oferecidos em empresas e organizações e no setor público, através de exposição de banner das experiências. Informações adicionais: 19-3521-6624 ou e-mail lap@fef.unicamp.br  Semana de Geografia - Centro Acadêmico de Geografia e Ciências da Terra (CACT) do Instituto de Geociências (IG) organiza, entre 17 e 21 de outubro, a VII Semana de Geografia da Unicamp. As mesas e conferências serão realizadas nas salas do 2º piso do Ciclo Básico II (PB). A abertura ocorre às 19 horas. Mais informações no site http://www. ige.unicamp.br/cact/semana2011  Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte - De 18 a 21 de outubro ocorre, no auditório do Instituto de Artes (IA), o XXXI Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte (CBHA), sob o tema [Com/Con] Tradições na História da Arte. Participam do evento destacados pesquisadores da área de artes, atuantes em diferentes instituições de ensino superior do país, bem como críticos, historiadores e curadores estrangeiros. O programa do colóquio pode ser acessado no site http://www.cbha.art.br/ coloquio_2011.html  Sem Pensar Nem Pensar - Entre 2002 e 2003 Itamar Assumpção escreveu 11 letras especialmente para o compositor Sergio Molina musicar e chegar ao público na voz de Miriam Maria. O desejo de Itamar foi atendido dando origem ao espetáculo que leva o nome da canção “Sem Pensar Nem Pensar”. O projeto, realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, será apresentado no dia 18 de outubro, às 12h30, no auditório do Instituto de Artes (IA). Mais informações: http://www.molamusical. com.br/spnp2010showrelease.html  Workshop - O Museu Exploratório de Ciências Unicamp e o Instituto de Química (IQ) realizam no dia 19 de outubro, das 15 às 18 horas, o workshop Tabela Periódica: a construção de um poema químico. Será ministrado pelos professores Maria Helena Roxo Beltran (PUC-SP, professora visitante IQ-Unicamp) e Nelson Orlando Beltran (E. N. Sra. da Graças-SP). O evento acontece na sala IQ-05. Inscrições: http://tinyurl.com/42wn9j2. Mais informações: 19-3521-1816.  Documentos Digitais - No dia 19 de outubro, no salão nobre da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), o Centro de Memória da FCM promove o seminário Documentos Digitais no Cotidiano da Unicamp. O evento começa às 9 horas, com a participação de Neire Rossio Martins, do Sistema de Arquivos da Unicamp. A organização é do Centro de Memória da FCM. Site do evento: http://www.fcm. unicamp.br/centros/cma/index.php?option=com_ jforms&view=form&id=1&Itemid=75  Maus Hábitos - O Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) organiza a exibição do filme Maus Hábitos, do diretor Simon Bross, com comentários de especialistas no assunto. O evento, que comemora o Dia da Alimentação, ocorre em 19 de outubro, das 13 às 15h30, no Espaço Cultural Casa do Lago (Rua Érico Veríssimo 1011), no campus da Unicamp. Mais detalhes: 19-3521-9002.  Seminário de Gerontologia e Geriatria - VII Seminário de Pesquisa em Gerontologia e Geriatria, entre 19 e 21 de outubro. O tema este ano é funcionalidade. O evento é organizado pelo Programa de Pós-graduação em Gerontologia e Geriatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), pelo Departamento de Clínica Médica e Sesc-Campinas. Mais informações: http://www.fcm.unicamp.br/ seminario/geronto  O Poema Eletrônico de Varese, Corbusier e Xanakis - Palestra será ministrada por Nicolau Centola, dia 20 de outubro, às 10 horas, em local por definição. O evento é organizado por José Eduardo Fornari Novo Júnior, do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (Nics). Mais informações: 19-3521-7923 ou 3521-2570.  Marie Curie: uma mulher excepcional - O Museu Exploratório de Ciências realiza o evento Marie Curie: uma mulher excepcional, dia 20 de outubro, às 14 horas, no auditório da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL). Na ocasião será apresentado o filme Marie Curie, além do mito, seguido de palestra com Renaud Huynh, diretor do Museu Curie, de Paris. Mais detalhes: 19-3521-1816.  Fórum da Academia Brasileira de Pediatria - As transformações da família e da sociedade e o seu impacto na juventude. A temática será discutida durante a realização da 10ª edição do Fórum da Academia Brasileira de Pediatria. O evento, que é organizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e apoiado pela Unicamp, ocorre nos dias 21 e 22 de outubro, no auditório da Faculdade de

Ciências Médicas (FCM). As vagas são limitadas. O Fórum será aberto às 8h30 com a apresentação de um coral infantil. Da mesa de abertura, às 8h45, participam: José Martins Filho, ex-reitor da Unicamp e presidente da Comissão Local; Eduardo da Silva Vaz, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria; Fernando José de Nóbrega, presidente da Academia Brasileira de Pediatria; Julio Dickstein, secretário da Academia Brasileira de Pediatria, e José Dias Rego, presidente do Fórum. A programação científica pode ser consultada na página eletrônica www.forumcasbp.com.br. Leia matéria com o ex-reitor José Martins Filho.

Eventos Futuros  Conpuesp - O Congresso dos Profissionais das Universidades Estaduais de São Paulo (Conpuesp) acontece nos dias 25 e 26 de outubro, no auditório Simom Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo-SP. O evento é organizado pela Unicamp, USP e Unesp. Inscrições e outras informações no site: www.conpuesp.com.br  Palestra com Theo Guenter - O professor Theo Guenter Kieckbusch, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ), ministra palestra durante a realização do Workshop “Avanços Tecnológicos na Qualidade e Estabilidade de Chocolates”. O evento será realizado no dia 25 de outubro, das 8h30 às 17h30, no auditório Décio Dias Alvim do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL). Pesquisadores, professores, alunos de Pós-graduação e profissionais da área são o público-alvo. Inscrições gratuitas pelo e-mail workshopchoco@feq.unicamp. br. Outras informações: 19-3289-1186.  Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp - O XIX Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp será realizado nos dias 26 e 27 de outubro, no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp (GMU). A cerimônia de abertura, que inclui apresentações artísticas nos três auditórios do GMU, ocorre às 14 horas. Na quarta-feira (26), haverá a exposição de 624 painéis das áreas de Exatas e Tecnológicas e também do PIC-Júnior. Quinta (27), os 676 painéis em exposição serão das áreas de Artes, Biológicas e Humanas. O Congresso é promovido pela Pró-reitoria de Pesquisa (PRP) e pela Pró-reitoria de Graduação (PRG). Mais informações no site: http://www.prp.rei.unicamp. br/pibic/congressos/xixcongresso/  Workshop da Inova - No dia 26 de outubro, a Agência de Inovação Inova Unicamp realiza o workshop “Experiências em Transferência de Tecnologia a partir de Propriedade Intelectual. O evento ocorre no auditório do Instituto de Química (IQ), das 9 às 12 horas, e tem a finalidade de ampliar e fortalecer a difusão das informações sobre a influência das parcerias estratégicas na gestão e comercialização de propriedade intelectual. A palestrante convidada é Renée Ben Israel, vicepresidente de propriedade intelectual da Companhia de Transferência de Tecnologia, a Yissum, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Ela falará sobre parcerias estratégicas e sua influência na gestão e comercialização de Propriedade Intelectual. O evento é voltado para a comunidade acadêmica, profissionais de NIT e pesquisadores. As inscrições já estão abertas, são gratuitas e podem ser feitas no link: http://www.inova.unicamp.br/site/06/paginas/ visualiza_conteudo.php?conteudo=166. As vagas para o workshop são limitadas.  Lançamento - O lançamento do livro Mobilidade Humana e Diversidade Sócio-cultural, das professoras Débora Mazza e Olga von Simson (org.) acontece no dia 27 de outubro, às 16 horas, no Espaço Cultural Casa do Lago. Após o lançamento haverá apresentação da Orquestra Sinfônica da Unicamp (OSU).

Tese da semana  Alimentos - “Equilíbrio líquido-líquido na produção de Biodiesel Etílico” (doutorado). Candidato: Luis Alberto Follegatti Romero. Orientador: professor Antonio José de Almeida Meirelles. Dia 21 de outubro, às 14 horas, na sala 33 do DEA/FEA. n Artes - “As relações entre a gramática musical, a retórica e a estética, no marco da teoria fraseológico-musical de H. C. Koch (1749-1816)” (doutorado). Candidato: Cassiano de Almeida Barros. Orientadora: professora Helena Jank. Dia 13 de outubro, às 10 horas, na sala 03 (CPG/IA). - “Os bonecões no carnaval de Atibaia: uma experiência em arte-educação” (mestrado profissional). Candidato: Edson Antonio Gonçalves. Orientador: professor João-Francisco Duarte Júnior. Dia 21 de outubro, às 9 horas, no IA. - “Da escrita da luz: Hiroshi Sugimoto, cultura japonesa e fotografia” (doutorado). Candidata: Ângela Prada de Almeida. Orientador: professor Roberto Berton de Angelo. Dia 21 de outubro, às 14 horas, na sala 3 do IA.

 Computação - “O impacto das tecnologias nos padrões de projeto da interação para a Web.” (mestrado). Candidata: Graziele Athanasio Bueno. Orientador: professor Hans Kurt Edmund Liesenberg. Dia 10 de outubro, às 10 horas, no auditório do IC. - “O problema do caixeiro viajante com restrições de empacotamento tridimensional” (mestrado). Candidato: Pedro Henrique Del Bianco Hokama. Orientador: professor Flávio Keidi Miyazawa. Dia 14 de outubro, às 14 horas, no auditório do IC (sala 85 IC 2). - “Codificação de vídeo baseada em fractais e representações esparsas” (mestrado). Candidato: Vitor de Lima. Orientador: professor Hélio Pedrini. Dia 19 de outubro, às 14 horas, no auditório do IC (Sala 85 - IC 2). - “Modelos e algoritmos para um problema de bombeamento de múltiplos combustíveis em uma rede com um único duto unidirecional” (mestrado). Candidato: Bruno Conti Marini. Orientador: professor Cid Carvalho de Souza. Dia 21 de outubro, às 10 horas, no auditório do IC (sala 85 - IC 2).  Educação - “Cursos superiores universitários: formação de educadores do campo” (doutorado). Candidata: Yolanda Zancanella. Orientadora: professora Maria da Glória Gohn. Dia 17 de outubro, às 9h30, na FE.  Educação Física - “Pedagogia da roda ginástica: análise da proposta metodológica desenvolvida no clube Bayer Leverkusen na Alemanha” (mestrado). Candidata: Rafaela Guerra Alves Rodrigues. Orientador: professor Marco Antonio Coelho Bortoleto. Dia 10 de outubro, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Elétrica e de Computação “Análise de desempenho dinâmico de sistemas de excitação para geradores síncronos em plantas de geração distribuída” (mestrado). Candidato: Marcelo Calsan. Orientador: professor Madson Cortes de Almeida. Dia 21 de outubro, às 14 horas, na FEEC.  Engenharia Química - “Conservação da viabilidade de sementes de Senna Macranthera por meio de recobrimento” (doutorado). Candidata: Marina Pozitano. Orientadora: professora Sandra Cristina dos Santos Rocha. Dia 10 de outubro, às 9 horas, na sala de aula PG05 (bloco D). - “Utilização de novas metodologias experimentais para desenvolvimento de uma pré-ASTM para extensão da curva PEV de petróleos” (doutorado). Candidata: Melina Savioli Lopes. Orientador: professor Rubens Maciel Filho. Dia 11 de outubro, às 9 horas, na sala de defesa de teses (bloco D) da FEQ. - “Estudo do tempo de mistura em tanques de diesel com o uso da fluidodinâmica computacional (mestrado). Candidato: Helver Crispiniano Alvaez. Orientador: professor José Roberto Nunhez. Dia 13 de outubro, às 10 horas, na sala de defesa de teses (Bloco D).  Geociências - “O marketing ambiental na sociedade capitalista. O shopping center e o consumidor” (mestrado). Candidato: Atílio Marchesini Junior. Orientadora: professora Regina Célia Bega dos Santos. Dia 20 de outubro, às 14 horas, no DGRN (sala B) do IG.  Linguagem - “O mar e a selva: relato da viagem de Henry Major Tomlinson ao Brasil - estudo e tradução” (doutorado). Candidato: Hélio Rodrigues da Rocha. Orientador: professor Carlos Eduardo Ornelas Berriel. Dia 18 de outubro, às 14 horas, na sala de teses do IEL. - “Estética e política: leituras de “Parque Industrial” e “A Famosa Revista” (mestrado). Candidata: Larissa Satico Ribeiro Higa. Orientador: professor Francisco Foot Hardman. Dia 19 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “Otimização da programação da manutenção dos ativos de transmissão do sistema elétrico brasileiro considerando penalidades por indisponibilidade, restrições sistêmicas e logística das equipes técnicas” (mestrado). Candidato: José Evangelista Araujo Neto. Orientador: professor Antonio Carlos Moretti. Dia 14 de outubro, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. - “A redatumação de Kirchhoff de empilhamento único em amplitude verdadeira” (doutorado). Candidato: Matheus Fabiano Pila. Orientador: professor Joerg Schleicher. Dia 14 de outubro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. - “O uso de ondaletas no estudo de modelos de efeito fixo.” (doutorado). Candidato: Airton Kist. Orientador: professor Aluísio de Souza Pinheiro. Dia 20 de outubro, às 15 horas, na sala 321 do Imecc.  Medicina - “Prevalência de fratura vertebral, alterações radiológicas, dor nas costas e qualidade de vida em mulheres com osteoporose pós-menopausa e validação da versão na língua portuguesa do questionário de qualidade de vida QUALEFFO-41” (doutorado). Candidata: Néville de Oliveira Ferreira. Orientadora: professora Lúcia Helena Simões da Costa Paiva. Dia 14 de outubro, às 9 horas, no anfiteatro do Caism. - “Construção de um modelo matemático fuzzy para predizer o risco de vômito pós-operatório numa população pediátrica oncológica a partir da determinação dos fatores de risco” (doutora-

Livro

da semana

Fayga Osstrower Organização: Lygia Eluf Textos: Carlos Martins e Noni Ostrower Ficha técnica: 1a edição, 2011; 192 páginas, formato 23x23 cm; peso: 0,64 kg ISBN: 978-85-268-0918-5 Coedição: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Coleção Cadernos de Desenho Área de interesse: Artes Preço: R$ 50,00 Sinopse: “Um desenho simplificado de cada gravura abre a página, com uma enigmática numeração correspondente. Algumas vezes, anotações descrevem as cores empregadas para a impressão. Tudo muito simples, sem artifícios. A seguir, aparecem os números da edição e, ao lado de cada um, o seu comprador. Em traços rápidos, o suficiente para indicar à memória da artista a que obra se referem, os desenhos são concisos, puro gesto e espontaneidade, que vão desvendar a estrutura interna de cada composição, a essência das formas propostas. E ali estavam a servir apenas para que a artista pudesse reconhecer cada gravura.” (Carlos Martins)

do). Candidata: Betina Silvia Beozzo Bessanez. Orientador: professor Artur Udelsmann. Dia 21 de outubro, às 9 horas, no anfiteatro da Comissão de Pós-graduação da FCM.  Odontologia - “Avaliação do tipo de tratamento realizado para as lesões ósseas: cisto ósseo simples, lesão central de células gigantes e queratocisto odontogênico: análise retrospectiva” (mestrado). Candidato: Renato Marano Rodrigues. Orientador: professor Marcio de Moraes. Dia 14 de outubro, às 14 horas, na Congregação da FOP. - “Relação das mmps, timp-2 e organização do colágeno com a força de resistência do ligamento periodontal ao movimento eruptivo em incisivos de ratos” (doutorado). Candidata: Nádia Fayez Omar. Orientador: professor Pedro Duarte Novaes. Dia 20 de outubro, às 13h30, na sala de seminários do Departamento de Morfologia da FOP. - “Influência da insuficiência estrogênica e do uso de anti-inflamatórios sobre o deslocamento posterior funcional da mandíbula, em ratas” (doutorado). Candidato: Sidney Raimundo. Orientador: professor Francisco Carlos Groppo. Dia 20 de outubro, às 13h30, na Congregação.  Química - “Eletrólitos poliméricos de poli(óxido de etileno) e polifluoretos para aplicação em células solares de TiO2/corante” (mestrado). Candidato: Bruno Honda de Olveira. Orientadora: professora Claudia Longo. Dia 13 de outubro, às 10 horas, no miniauditório do IQ. - “Derivados de quinazolinas na inibição da adenosina” (mestrado). Candidato: Fábio Henrique dos Santos Rodrigues. Orientadora: professora Ljubica Tasic. Dia 14 de outubro, às 9 horas, no miniauditório do IQ.

DESTAQUES do Portal da Unicamp Vestibular 2012 passa dos 60 mil inscritos e bate recorde histórico A Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) recebeu um número recorde de inscrições para o Vestibular Unicamp 2012 e ultrapassou pela primeira vez a marca de 60 mil candidatos, tendo registrado 61.500 inscritos. É o terceiro ano consecutivo que a Unicamp registra crescimento do número de candidatos. Nos dois últimos processos (2011 e 2010), o Vestibular Unicamp havia registrado recorde de inscritos, com 57.209 e 55.484 candidatos respectivamente. No Vestibular Unicamp 2012, os mais de 61 mil candidatos disputarão 3.444 vagas distribuídas em 66 cursos da Unicamp e dois cursos da Famerp – Faculdade de Medicina e Enfermagem de São José do Rio Preto. A relação candidatos por vaga (c/v) geral subiu de 16,6 no vestibular passado para

17,9 nesta edição. A tabela completa está nesta página, assim como o total de inscritos por cidade de prova. Os locais de prova da primeira fase serão divulgados pela Comvest no dia 4 de novembro, também em sua página na internet. A primeira fase será realizada no dia 13 de novembro.

Inclusão Social Subiu em 12,7% o número de candidatos no Vestibular Unicamp que fizeram todo o ensino médio na rede pública de ensino em comparação com o ano passado. Este ano, estão inscritos 16.849 candidatos da rede pública, o que representa 27,4% do total de inscritos no vestibular. No ano anterior, o índice foi de 26,14%. O Vestibular Unicamp dispõe do Programa de Ação Afirmativa e In-

clusão Social da Unicamp (PAAIS), o primeiro programa de ação afirmativa sem uso de cotas para ingresso em uma universidade brasileira. Implantado a partir de 2004, o PAAIS prevê a concessão de 30 pontos adicionais à nota final para candidatos que fizeram todo o ensino médio em escolas da rede pública e outros 10 pontos a mais para aqueles que além de terem feito o ensino médio em escolas públicas, se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas.

Concorrência Entre os dez cursos mais concorridos, Medicina ocupa a primeira colocação, como ocorre desde que a Unicamp desenvolveu seu vestibular próprio, com 12.584 candidatos, resultando em 114,4 candidatos por vaga. Em seguida, vêm as carreiras de Arquitetura e Urbanismo (82,03 c/v), Medicina na Famerp (68,56 c/v), Engenharia Civil (47,39 c/v), Comunicação Social e Midialogia (42,47), Engenharia Química – Integral (41,48

c/v), Ciências Biológicas – Integral (35,16 c/v), Engenharia de Produção (33,68 c/v), Geologia (30,9 c/v) e Farmácia (23,95 c/v). A Comvest aplicará as provas do Vestibular Unicamp 2012 em 22 cidades do país: Bauru, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Jundiaí, Limeira, Mogi Guaçu, Piracicaba, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Salvador, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São Carlos, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo, Sorocaba e Sumaré.

Fases A primeira fase será realizada em 13 de novembro de 2011. Dia 20 de dezembro a Comvest divulgará a lista dos que passaram para a segunda fase e os locais de prova. A segunda fase será realizada nos dias 15, 16 e 17 de janeiro de 2012. As provas de habilidades específicas, para os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais, Dança e

Música vão ser realizadas em Campinas entre os dias 23 e 26 de janeiro de 2012. A primeira chamada será divulgada dia 6 de fevereiro e a matrícula dos convocados em primeira chamada deverá ser feita no dia 9 de fevereiro. O Vestibular Unicamp 2012 mantém o mesmo formato de provas lançado no ano passado: na primeira fase, a prova tem duas partes, a Redação, em que o candidato será solicitado a produzir três textos de gêneros diversos, todos de execução obrigatória, e a parte de Conhecimentos Gerais, com 48 questões de múltipla escolha, baseadas nos conteúdos das diversas áreas do conhecimento desenvolvidas no ensino médio. Na segunda fase, realizada em três dias consecutivos, todas as provas são de natureza discursiva, sendo: 1º dia – prova de Língua Portuguesa e de Literaturas da Língua Portuguesa e prova de Matemática; 2º dia – Prova de Ciências Humanas e Artes e prova de Língua Inglesa; 3º dia – prova de Ciências da Natureza.


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Campinas, 10 a 23 de outubro de 2011

Fotos: Antonio Scarpinetti

QS coloca Universidade como a 3ª melhor da AL A Quacquarelli Symonds, que produz o ranking TopUniversities, divulgou no último dia 4 o primeiro QS University Rankings Latin America, em que a Unicamp aparece em terceiro lugar, com a USP na primeira colocação e a Pontifícia Universidade Católica do Chile na segunda. “A Unicamp está justamente na posição que era da nossa expectativa, ou seja, assegurada entre as três principais da América Latina”, afirma o professor Edgar Salvadori De Decca, coordenador-geral da Universidade. O ranking traz oito universidades brasileiras entre as 20 melhores da região e, dentre as 200, 65 são do Brasil. A USP recebeu 100 de pontuação; a Católica do Chile, 99.6; e a Unicamp, 94.7. A Universidade do Chile (4ª colocada) tem 94 e a Universidade Nacional Autônoma do México (5ª), 92.1. A partir daí, há uma queda acentuada na pontuação das demais instituições. “A QS promoveu modificações em relação ao peso dos itens avaliados, como de reputação e de citação por docentes. Isso provocou um realinhamento das universidades, a ponto de a Autônoma do México, que estava à nossa frente no ranking internacional, aparecer atrás de nós na América Latina”, observa De Decca. Na opinião do coordenadorgeral, se os mesmos critérios fossem utilizados para o ranking TopUniversities, a Unicamp também mudaria de posição. “De qualquer maneira, nossa expectativa se confirma, sendo que os números revelam que ainda temos muito a percorrer e melhorar nosso desempenho. Um fator extremamente positivo é que o Brasil tem 65 universidades entre as 200 primeiras, o que indica a melhoria do país em termos de investimento no ensino superior, titulação e inserção de trabalhos em nível internacional”. Comentando o ranking para a América Latina, a QS observa que os resultados refletem os novos dados publicados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em setembro deste ano, apontando que a proporção do PIB investido em educação cresceu muito mais no Brasil do que em qualquer outro país filiado à entidade. “As matrículas triplicaram na última década e o ranking QS demonstra como o Brasil tem priorizado a pesquisa”, atesta Danny Byrne, editor da TopUniversities. (L.S.)

O professor Edgar Salvadori De Decca, coordenador-geral da Universidade: “Nossa expectativa se confirma”

O reitor Fernando Costa, presidindo a sessão: “A direção da Universidade é sempre dada pelo Conselho Universitário”

O ex-reitor José Tadeu Jorge: lembrando o papel importante da sociedade campineira para a criação da Universidade

O ex-reitor Carlos Henrique de Brito Cruz: “A Unicamp é uma das melhores do mundo e seu desafio, hoje, é a internacionalização”

O professor João Grandino Rodas, reitor da USP: “O que a Unicamp fez em 45 anos, nenhuma instituição do Brasil fez até hoje”

Consu realiza sessão solene pelos 45 anos da Unicamp Reitor, ex-reitores e autoridades participam de evento no Centro de Convenções LUIZ SUGIMOTO

A

sugimoto@reitoria.unicamp.br

Unicamp comemorou oficialmente seus 45 anos com uma sessão solene do Conselho Universitário, na noite do último dia 5, com a presença de inúmeras autoridades no Centro de Convenções. A Universidade, ainda que jovem, já pertence a um grupo de instituições cuja atuação traz contribuição indiscutível à sociedade, tendo

ampliado significativamente, ao longo desse período, todos os seus indicadores de produtividade acadêmica e mantendo-se fiel ao modelo implantado por seu fundador, Zeferino Vaz. Em seu discurso, o reitor Fernando Costa manifestou sua satisfação e orgulho por estar à frente da administração da Unicamp nesta data. “Os dirigentes têm um papel importante, mas a direção da Universidade é sempre dada, nos últimos trinta anos, por seu órgão colegiado maior, que é este Conselho Universitário. É um órgão importante e que tem contribuído de maneira fundamental para o que a Unicamp é hoje, consolidada como um dos principais centros brasileiros de formação de pessoas e produção científica de qualidade”. O professor Edgar Salvadori De Decca, coordenador-geral da Universidade, lembrou que em 1966, ano da fundação, optou por ingressar no curso de física da USP e, por coincidência, alguns dos seus primeiros professores e mesmo veteranos que lhe aplicaram trotes, vieram formar o Instituto de Física da Unicamp. “O interessante é que aquela escolha se mostrou muito distinta quando, em 1977, vim ao

gabinete do reitor Zeferino Vaz, junto com o professor João Manuel Cardoso de Mello, assinar o contrato como docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Só tenho a agradecer à Universidade por essa trajetória que aqui vivi”. O professor José Tadeu Jorge, um dos ex-reitores que compuseram a mesa, afirmou que a Unicamp foi um projeto bem sucedido por conta das pessoas, a começar pela sociedade de Campinas que travou uma batalha imensa para ter uma universidade, intuindo que havia necessidade de um centro de referência para que a cidade avançasse e tivesse destaque no cenário nacional. “O projeto acabou caindo nas mãos do professor Zeferino Vaz, que estabeleceu princípios de um modelo de universidade que hoje sabemos vitorioso, com uma visão muito à frente do que se pensava para o ensino superior no Brasil em 1966”. Outro ex-reitor, Carlos Henrique de Brito Cruz, atualmente diretorcientífico da Fapesp, coloca a Unicamp entre as melhores universidades do mundo, apesar de tão jovem. “Todas as outras instituições que integram estes rankings têm muito mais idade e, em

45 anos, a comunidade da Unicamp conseguiu desenvolver e estabelecer uma universidade com grande intensidade de pesquisa, um corpo docente extremamente qualificado e que forma e atrai estudantes muito bons. Seu desafio, hoje, é da internacionalização, conectando-se mais intensamente com as melhores universidades do mundo, o que requer uma ação da administração e dos professores na busca de oportunidades de colaboração internacional”. O reitor da USP, professor João Grandino Rodas, disse que fez questão de estar presente à cerimônia por considerar a criação da Unicamp um milagre, fruto de um espírito inovador. “Vivíamos numa época difícil, de monopólio de uma única universidade no Estado de São Paulo e com dificuldade de se encontrar pessoas que deixassem a inércia de lado e ousassem. Zeferino Vaz fez isso, mas não sozinho: muitos que começaram com ele estão aqui nessa mesa. Se criar a universidade foi algo estonteante, o que fez a Unicamp em 45 anos nenhuma outra instituição fez no Brasil até hoje. Nós da USP gostaríamos que a Unicamp não deixe de ter aquele fervor inicial”.

Nelson Ayres rege a jazz sinfônica: orquestra enriquecida por instrumentos de uma Big Band

Nelson Ayres e sua orquestra de alunos abrem as comemorações O belo espetáculo da jazz sinfônica montada por Nelson Ayres, com alunos do Departamento de Música do Instituto de Artes (IA), deu o tom da intensa programação artístico-cultural aberta no último dia 3 para comemorar os 45 Anos da Unicamp. Convidado a dar aulas de arranjo e orquestração como artista residente no primeiro semestre, o maestro e pianista incluiu no projeto a organização de uma orquestra enriquecida por instrumentos de uma Big Band. O projeto resultou neste concerto em que Ayres adaptou composições e arranjos que fez para o balé “O Grande Circo Místico”, de Edu Lobo e Chico Buarque, e originalmente executados pela Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo. “Essa experiência com estudantes

foi muito instrutiva para mim, além de eu ter feito muitos amigos, que é o que mais me importa. Fico ainda mais feliz porque a orquestra montada no projeto vai se tornar parte do currículo, ou seja, o aluno vai ganhar créditos ao participar dela”, festejava Nelson Ayres, elogiando o fato de a Unicamp ter criado o primeiro curso de música popular da América Latina. A propósito, o professor Esdras Rodrigues, diretor do IA, esclareceu que a nova disciplina começa a valer já a partir do próximo semestre. “Vai ser um tópico especial na área de música, como de jazz sinfônica, envolvendo arranjos já existentes ou escritos para esse tipo de formação em oficinas de música popular”. A cerimônia de abertura das come-

morações dos 45 Anos da Unicamp foi presidida pelo professor Edgar De Decca, coordenador-geral da Universidade, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Tendo acompanhado tanto o crescimento da Unicamp como da cidade de Campinas, ele ressaltou a importância histórica deste aniversário. “Campinas ganhou uma dimensão inusitada com a criação da Universidade. A cidade foi sede importante na implantação do regime liberal, democrático e republicano no Brasil. E a Unicamp, criada justamente no período em que vigia a ditadura militar, assumiu desde o início uma posição firme na defesa dos princípios de cidadania, da democracia e dos direitos humanos”. De Decca acrescentou que a sua

geração, particularmente, tem uma dívida ainda maior para com a Unicamp e com lideranças como o fundador Zeferino Vaz, que visitou os porões da ditadura para defender professores que expunham suas ideias. “Além de nos oferecer a oportunidade de crescer em termos de pesquisa, conhecimento e ensino, a Universidade nos ensinou a sermos cidadãos, honrando os princípios da ética”. Para falar dos 45 anos da Universidade, a organização convidou o professor João Frederico da Costa Azevedo Meyer, o Joni, que fez parte da primeira turma de alunos e também guarda experiências como militante estudantil e sindical, como funcionário administrativo e como professor. (L.S.)


12 Jornal daUnicamp Campinas, 10 a 23 de outubro de 2011

E M O U T R A F R E G U E S I A

Fotos: Reprodução

MARIA ALICE DA CRUZ

O

halice@unicamp.br

município de Caldas (MG) e suas freguesias do século 19 – Poços de Caldas, Andradas, Santa Rita e Campestre – atraíram o olhar de pesquisadores, jornalistas e médicos no período de 1875 a 1888. As águas sulfurosas da região, de origem vulcânica, foram intensivamente estudadas e divulgadas, sendo as principais responsáveis pela constituição da paisagem cultural do lugar. Quem contou a história naquele período foram editores e redatores de jornais que circulavam na região. E quem conta a história agora, fazendo a reconstituição da paisagem, é a arquiteta de Poços de Caldas Marina Aparecida de Melo Andrade, que dedicou sua dissertação de mestrado à compreensão das imparidades da região onde cresceu. Segundo Marina, há muitas publicações sobre a região relacionadas a décadas posteriores, mas o período a que a pesquisa é dedicada estava documentado apenas nas páginas dos periódicos. Um total de 148 exemplares de jornais, fornecidos por colecionadores, ajudam a reconstituir a paisagem da região mineira. A dissertação recebeu orientação do professor André Munhoz de Argolo Ferrão. A maioria dos exemplares pertenceu ao doutor Annibal de Paiva Assumpção, que, segundo Marina, durante sua vida guardou cada um desses exemplares com todo o zelo. Muitos deles, de acordo com a arquiteta, são anteriores ao nascimento de Assumpção. Outros colecionadores que contribuíram para complementar a coleção foram: Maria Clementina de Assis Assumpção, Hamilton Garcia Assumpção e Cirilo Garcia Pereira Ottoni. Entre as publicações analisadas estão O Caldense, Aurora Mineira, Gazeta de Caldas e Correio da Semana. De acordo com Marina, os jornais, dirigidos e escritos por pessoas influentes da comunidade, entre as quais médicos e professores, foram importantes para ressaltar as peculiaridades da região, localizada no Sul de Minas. Porém, fica clara a tendência em fornecer informações pertinentes a Caldas, deixando de lado suas freguesias. Foi a partir do olhar dos redatores que a pesquisadora construiu seu croqui de mapas da região caldense daqueles tempos. “O croqui é a imaginação que construí a partir da leitura e interpretação dos textos”, explica Marina. O olhar dos redatores e editores ajudou a perceber algumas tendências a enaltecer Caldas em detrimento de Poços. Colocado diante de uma foto de 1888 do município, o croqui construído a partir dos textos apresenta poucos indícios do que realmente havia na cidade. Uma das cidades é representada com apenas a matriz e a cadeia. “Percebemos que existia uma tendência a falar mais sobre Caldas que de suas freguesias. Poços de Caldas, por exemplo, era uma cidade em importante desenvolvimento, mas encontrei menções a poucos edifícios. Não era possível existir somente isso, mas não há mais informações”. As águas sulfurosas de Caldas são abordadas no primeiro texto analisado por Marina, assinado pelo editor e médico Pedro Sanches de Lemos em 1875. Nas primeiras páginas da coleção de jornais, há um registro sobre uma visita de uma comissão europeia incumbida de fazer análise química e indicações terapêuticas das águas. “Ele valida a importância desse elemento da região, principalmente por ser médico”, relata Marina. Pedro Sanches, primeiro editor encontrado, ajudou a construir a história de Caldas, de acordo com os documentos jornalísticos analisados por Marina. Neto do Barão do Rio Verde, o médico formado no Rio de Janeiro mudou-se para Caldas, onde se casou com a filha de um sesmeiro da região. Para Marina, os textos mostram Sanches como uma pessoa fundamental na construção dos balneários, no olhar para as águas sulfurosas, embasado na formação de médico. No início como editor e depois como deputado da província, contribuiu para o investimento nos balneários. O médico vira referência no Brasil porque a questão do estudo das águas sulfurosas já estava embasada na França, segundo a arquiteta. Um de seus papéis foi desmistificar as águas, que em algumas literaturas foram tratadas como algo maléfico pelo odor de enxofre e pela temperatura muito elevada. “Tem registros que citam o diabo sobre as águas, mas ele transformou essa

Vista parcial de Caldas em 1890: pesquisadores, médicos e jornalistas narraram as peculiaridades do município no final do século 19

O editor e médico Pedro Sanches de Lemos: ressaltando as propriedades das águas sulfurosas de Caldas

Vista panorâmica de Poços de Caldas em 1888: cidade foi relegada a plano secundário no período

Estação ferroviária da Mogiana: chegada do trem impulsionou o desenvolvimento da cidade Foto: Antoninho Perri

A arquiteta Marina Aparecida de Melo Andrade: reconstituição da paisagem a partir de pesquisas em jornais da época

crença popular em elementos químicos alcalinos, em termos técnicos, mostrando a sua relevância”, acrescenta Marina. As propriedades terapêuticas das águas da região de Caldas – que prometiam curar gastrite, elefantíase, pneumonia, entre outras doenças –, chamaram a atenção da população local e de outras cidades, num momento em que ainda não havia ocorrido a descoberta do antibiótico. A procura era bastante grande e isso estava relacionado com a divulgação feita pelos periódicos. Nesse sentido, os jornais também tiveram grande importância por serem editados por pessoas com olhar mais

bramento de Caldas, em 1888. A estrada é considerada por ela o segundo fator importante na constituição da paisagem cultural. “Isso colaborou para o desenvolvimento da cidade. A ideia de ter a linha de Campinas a Poços fazia toda a diferença num momento em que as estradas eram precárias”, explica Marina. Isso pode explicar por que Poços passou a ser maior em população e em desenvolvimento em relação a Caldas. Por outro lado, apesar de ser mais desenvolvida na época do desmembramento, Poços continuou a ser menos abordada pelos jornais da época. No século posterior, mais precisamente na primeira metade do século 20, Poços foi considerada um complexo de balneários por causa dessas águas, procurada pelas pessoas que desejavam se tratar ou relaxar. Os redatores dos jornais também tiveram participação importante neste desenvolvimento. Eles eram, na verdade, os protagonistas que faziam com que as coisas acontecessem, induzindo a população a colaborar. A exposição foi tanta que eles chegaram a ser deputados da província. A vida “jornalística” acabou se expandindo para a política. Marina enfatiza que, apesar de a dissertação estar focada na paisagem cultural, outros elementos das publicações chamam a atenção, como o acompanhamento das viagens do imperador D. Pedro II, a comunicação entre pessoas, bilhetes de agradecimento, anúncios. As cartas da população passam a ser provocações para a Câmara Municipal de Caldas, cuja ata era registrada nos jornais para mostrar as ações que estavam sendo tomadas. Uma questão pertinente nos textos era o pedido da região para desvincularse do estado de Minas Gerais e fixar-se ao Estado de São Paulo, criando nova capital. A alegação era de que a região estaria mais próxima de São Paulo que da capital mineira, na época Ouro Preto. Segundo Marina, os jornais chegaram a ser favoráveis à separação e incitavam o debate, além de mostrar as dificuldades por que passavam Caldas e suas freguesias. “A região se sentia abandonada em relação à capital. Muitas vezes valores que tinham sido definidos no planejamento da província, como os destinados à reforma da matriz e do hospital, não chegavam”, acrescenta. Além de Pedro Sanches, outros personagens foram importantes para o desenvolvimento da região, entre eles o cientista sueco André Frederick Regnell. De acordo com outros documentos analisados por Marina, ele chega a Caldas a convite do excônsul da Suécia no Brasil. Ao validar seu diploma de medicina no Brasil, faz um trabalho importante de catalogação de plantas na região. Esta informação não consta dos periódicos, mas eles trazem outra questão importante. Antes de falecer, o médico faz doação em dinheiro em testamento para a Universidade de Uppsala, que ficaria incumbida de manter o balneário. “O fato de ter essa pessoa morando em Caldas já torna a cidade diferente”, diz Marina. O sueco montou um observatório em sua própria casa. Ali, fazia observações do tempo e medições de temperatura e umidade. Informações sobre o dia – se estava ensolarado ou nublado – também constam dos registros analisados. “Esses dados também contribuem para constituir a região, pois mostram como era o clima na época”, diz Marina. No primeiro ano, ele registrava isso no jornal. O registro foi interrompido por motivo de saúde, mas provavelmente ele deu continuidade e fez isso em outro período sem registrar, de acordo com Marina. Para a arquiteta, mesmo sem fazer uma relação explícita com a paisagem atual, o estudo feito até o desmembramento de Poços de Caldas, momento muito importante da história da região, alimenta outras pesquisas que façam compreender as peculiaridades daquele lugar. Quando se viu diante dos jornais, ela não desperdiçou a oportunidade de compreender seu próprio espaço e mostrar por que sua região teria qualidades ímpares, que atraem até hoje um grande número de turistas interessados tanto em alguns dias de tranquilidade ou nos benefícios terapêuticos de suas águas de origem vulcânica.

apurado, educado para conseguir perceber as problemáticas, abrir questionamentos e mostrar para todos os que a região tinha de diferença a ser trabalhada. O investimento de recursos governamentais em Poços de Caldas, já ao final do período estudado, foi uma das problemáticas observadas por Marina, pois a cidade .................................................................... passou a receber maior atenção que as ■ Publicação Dissertação: “Paisagem cultural e ordenação do território outras freguesias. A partir da leitura dos do município de Caldas (MG) e suas freguesias, a partir jornais, Marina acredita que o desvio da da leitura de uma coleção de jornais locais (1875-1888)” Autora: Marina Aparecida de Melo Andrade atenção para Poços deveu-se à construção Orientação: André Munhoz de Argolo Ferrão da estrada de ferro Mogiana, que teve Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e sua estação final em Poços de Caldas, Urbanismo (FEC) justamente dois anos antes do desmem- ....................................................................


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