Jornal da Unicamp Ed. 511

Page 1

Foto: Antonio Scarpinetti

Recorde na iniciação científica Página 3

Jornal daUnicamp www. unicamp. br / ju

IMPRESSO ESPECIAL 1.74.18.2252-9-DR/SPI Unicamp

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011 - ANO XXV - Nº 511 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Foto: Antoninho Perri

Obesidade

na infância e na adolescência Quatro dissertações orientadas pelo professor Antonio de Azevedo de Barros Filho, da FCM, revelam novas facetas do problema que se transformou em epidemia.

Distúrbios fazem do sono um pesadelo Balanço energético: a conta não fecha Por que eles ganham peso nas férias Como a mãe projeta o filho ‘gordinho’ Páginas 6 e 7

ICPs ficam distantes do círculo virtuoso

Sucos de frutas tropicais em excesso podem erodir dentes

As relações com a Igreja no principado de Constantino

Black Rio pôs fogo em caldeirão rítmico

Página 5

Página 8

Página 9

Página 12


2

Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011

ARTIGO

por:

Renato Dagnino Foto: Arquivo/Divulgação

Funcionário opera equipamento no Centro de Realidade Virtual da Embraer, em São José dos Campos: uma das exceções na cadeia de inovação

N

o início de agosto, junto com o lançamento do Plano Brasil Maior e a adição da “Inovação” ao nome do Ministério de C&T, anunciou-se, como uma medida suplementar para alavancar a P&D industrial, a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial (Embrapi). A ideia é, como sintetiza um secretário do MCTI, “enfrentar o desafio de transferir conhecimento da academia para o setor produtivo”. Citando “como exceção o setor do agronegócio, que serve de exemplo para outros segmentos industriais”, ele afirma que “apesar do marco legal estimular o setor industrial”, e dos recursos disponíveis estarem se multiplicando, a empresa segue pouco disposta a realizar P&D. O objetivo da Embrapi seria, então “agilizar e facilitar o processo inovativo, que é interrompido entre a produção e a fase negocial”, aproveitando “a boa experiência da Embrapa, que servirá de exemplo”. Assim, depois de várias tentativas pouco exitosas de superar essa interrupção, que vão desde o fomento aos institutos públicos nos anos de 1970 até as incubadoras, parques e polos, a ideia é agora emular no âmbito da pesquisa industrial a experiência da Embrapa. Os estudiosos da política de C&T latino-americana há muito tempo nos legaram três ensinamentos que po-

A ‘Embrapa da indústria’ vai funcionar? dem ajudar a responder a perguntatítulo deste texto. O primeiro é o de que em áreas onde não existia o conhecimento necessário para a implementação de um projeto político de algum setor importante da elite dominante, fomos capazes de armar a “cadeia de inovação” que vai da “pesquisa pública básica” até o sucesso econômico (Instituto Agronômico, Embrapa, Cenpes-Petrobras, etc.), político-estratégico (CTA-ITA-Embraer, CPqD, etc.) ou social (Instituto Oswaldo Cruz, etc.). De fato, é por isso que em toda a América Latina, é apenas em segmentos com essas características – especificidades locais e importância para algum projeto político – que tem sido possível emular a experiência dos países de capitalismo avançado. O segundo ensinamento pode ser sintetizado com um aforismo criado há mais de três décadas por um latino-americano ilustre (aquele do “triângulo de Sabato”): “em qualquer lugar e tempo, existirão três bons negócios com tecnologia: roubar, copiar e comprar...; e nenhuma empresa ou país irá desenvolver tecnologia se puder realizar um dos outros três”. O terceiro pode ser entendido como um corolário para o caso brasileiro. Aqui, mais do que em outros países que foram relegados à periferia do capitalismo, como Índia, Peru, China, onde o conhecimento autóctone não foi arrasado pelo eurocêntrico, nossa ancestral

dependência cultural, o baixo preço da força de trabalho e o elevado grau de oligopólio, tornam ainda mais intensa e estrutural a aversão natural da empresa a realizar P&D. Ou seja, não é porque sejam atrasadas, ou porque não exista “cultura” ou “ambiente de inovação”, e sim porque são agentes econômicos racionais, que as empresas “brasileiras” não fazem P&D. Quem duvida, deve observar a elevada taxa de lucro (que é o critério mais apropriado para avaliar o seu desempenho) que obtêm “nossos” excelentes empresários. Assim, o fato de que os segmentos onde logramos êxito estejam em geral situados em áreas como saúde humana, vegetal e animal, e recursos naturais, e não na industrial, apenas confirma esses ensinamentos. Voltando ao caso da Embrapa, e explorando o plano político da política de C&T, rememoro duas manifestações significativas que esses ensinamentos explicam. A primeira foi a mobilização de militantes do PT agrupados no seu Setorial de C&T quando da elaboração da plataforma do atual governo, para alterar a localização da Embrapa. Por estar o Ministério da Agricultura historicamente comprometido com o agronegócio, eles consideravam que só no MCT seria possível retomar a bandeira contrahegemônica da Agricultura Familiar que haviam levantado com algum sucesso no início do governo Lula.

A outra, que corrobora o sentido da anterior, remonta àquela conjuntura, quando ocorreram tímidas ações do presidente da Embrapa para desenvolver tecnologia para a Agricultura Familiar. Irados e uníssonos protestos na mídia (... sabe-se lá o que ocorreu nos gabinetes!) dos porta-vozes do agronegócio “moderno” e do latifúndio “atrasado” provocaram a sua demissão. O fato de aquela mobilização ter sido frustrada, provavelmente em prol da governabilidade, ao mesmo tempo que evidencia o acerto daqueles ensinamentos, sugere um outro: quando uma instituição desenvolve pesquisa aderente aos interesses de alguma elite, ela não apenas a usa e valoriza como impede sua reorientação. A questão, para responder nossa pergunta-título, é saber se a elite industrial “brasileira”, que ao contrário daquela do agronegócio, vem sendo afetada há duas décadas por um processo de desindustrialização e desnacionalização e, mais recentemente, pela “ameaça chinesa”, irá responder como esperam os fazedores da PCT. Não parece plausível pensar que ela passe a tentar afirmar sua competitividade via inovação em P&D e não na importação de tecnologia desincorporada e, principalmente, como vem fazendo de modo contumaz, na compra de tecnologia embutida em máquinas e equipamentos. Indo mais além (ou aquém) de questões “ideológicas”, cabe lembrar

as inúmeras evidências de que ela, apesar do significativo aumento dos benefícios que vem recebendo do governo, que vão desde a subvenção econômica até a alocação gratuita de pesquisadores, passando pela renúncia fiscal, não tem alterado sua pouca propensão a realizar P&D. E que durante o período neoliberal os fazedores de política também esperaram que as empresas industriais, acicatadas pela abertura comercial, iriam se tornar competitivas via transferência dos resultados da pesquisa universitária e da realização de P&D intramuros. E que, como ficou patente, elas simplesmente venderam seus ativos ao capital estrangeiro para explorar outros negócios e provocaram um desemprego que até agora amargamos. Antes de criar inovações organizacionais, como a criação de uma “Embrapa da indústria”, na expectativa de que possam alterar o comportamento racional de excelentes empresários, é necessário que os fazedores de política compreendam o que diferencia o comportamento das elites que se relacionam com a C&T. E, mais ainda, que percebam que há outros agentes econômicoprodutivos em nossa sociedade, que não as empresas privadas, que necessitam e merecem urgentemente a sua ação. Renato Dagnino é professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Coordenador de imprensa Eustáquio Gomes Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab (kassab@reitoria.unicamp.br) Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos (kel@unicamp.br) Reportagem Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografia Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editor de Arte Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Felipe Barreto e Patrícia Lauretti Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon, Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011

3 Foto: Antonio Scarpinetti

Exposição de painéis durante a última edição do congresso: historicamente, pesquisas desenvolvidas pelos alunos de graduação contemplam todas as áreas do conhecimento

Congresso de Iniciação Científica da Unicamp reúne quantidade e qualidade Foto: Antoninho Perri

Evento contará com número recorde de 1.300 trabalhos inscritos MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

O

19º Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp, marcado para os dias 26 e 27 de outubro, baterá um novo recorde de trabalhos inscritos. Serão expostos no Ginásio Multidisciplinar 1.300 painéis compreendendo todas as áreas do conhecimento, contra 1.257 apresentados na edição anterior. Tão importante quanto o aumento do número de participantes, conforme o pró-reitor de Pesquisa da Universidade, professor Ronaldo Aloise Pilli, é o fato de a qualidade das pesquisas ter sido mantida. “O nível do congresso será muito bom. Temos trabalhos que trazem contribuições relevantes para as suas respectivas áreas”, afirma. As sucessivas ampliações do número de trabalhos inscritos no evento, diz o pró-reitor de Pesquisa, refletem o esforço da Unicamp em proporcionar aos alunos de graduação a oportunidade de tomar contato precocemente com as atividades de pesquisa. Um importante instrumento nesse sentido é a concessão de bolsas de iniciação científica. Em 2010, foram ofertadas 1.650. Destas, aproximadamente 1.100 foram outorgadas pelo Programa Institucional de Iniciação Científica (Pibic), mantido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Universidade. “Como contrapartida ao investimento do CPNq, a Unicamp ofereceu no ano passado, por meio do seu Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), 250 bolsas”, informa o professor Pilli. As demais foram concedidas pela Fundação de

O pró-reitor de Pesquisa, professor Ronaldo Pilli: “A iniciação científica complementa de maneira importante a formação feita em sala de aula, além de contribuir para descobrir talentos, despertar vocações e reduzir a taxa de evasão na graduação”

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O titular da Pró-Reitoria de Pesquisa destaca que o número de bolsas se torna ainda mais expressivo se confrontado com o quadro de docentes da Universidade, composto por cerca de 1.800 professores. “Ou seja, há quase uma bolsa para cada docente. Além disso, também é preciso considerar que, a cada ano, a Unicamp oferece 3.400 vagas em seu vestibular. Isso significa que estamos com uma taxa de cobertura muito próxima de 50%. Em outras palavras, metade dos nossos alunos de graduação tem a chance, em algum momento da sua vida escolar, de obter uma bolsa de iniciação científica”, pondera. Esse tipo de incentivo é importante, de acordo com o pró-reitor de Pesquisa, porque vincula o estudante às atividades práticas, ou seja, à realidade da pesquisa científica, artística e cultural. “Também complementa de maneira importante a formação feita em sala de aula. Isso sem mencionar que é uma atividade que contribui para descobrir talentos, despertar vocações e reduzir a taxa de evasão na graduação, que constitui um dos mais sérios problemas do ensino superior no país. Atualmente, o índice de evasão nesse nível de ensino

está em torno de 55%. Na Unicamp, está entre 15% e 20%, mas estamos empenhados em reduzi-lo, de modo a aproveitar melhor os recursos investidos pela sociedade na instituição”, diz o professor Pilli. Outro aspecto positivo do programa de iniciação científica, prossegue o pró-reitor da Pesquisa, é o fato de ele qualificar o estudante para o ingresso na pós-graduação. “Normalmente, o aluno que faz um bom trabalho de iniciação científica fica muito à frente dos demais no momento de desenvolver uma dissertação de metrado. Mais amadurecido, ele já sabe a que assunto vai se dedicar e tem toda a familiaridade com a metodologia científica. Como consequência, os tempos de titulação são frequentemente reduzidos”, informa. No caso da Unicamp, segundo o professor Pilli, os trabalhos que participam do congresso de iniciação científica são submetidos a um rigoroso processo de seleção. O mesmo ocorre com as bolsas, que somente são ofertadas depois de os pedidos serem criteriosamente avaliados por um comitê interno constituído por 350 docentes. Esse tipo de ação, informa o professor Pilli, tem merecido seguidos elogios de delegações estrangeiras, que ficam impressionadas com o apoio e as

repercussões que a iniciação científica tem na vida escolar e no desenvolvimento da capacidade de investigação dos estudantes de graduação, bem como na fixação de quadros para a execução de pesquisas científicas e tecnológicas. A esse propósito, o próreitor de Pesquisa assinala que em 2010 também entrou em vigor na Unicamp o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti), mantido igualmente pelo CNPq. A iniciativa tem por objetivo estimular os jovens do ensino superior nas atividades, metodologias, conhecimentos e práticas próprias ao desenvolvimento tecnológico e processos de inovação. No ano passado, a Universidade foi contemplada com 45 dessas bolsas.

PICJr Além dos trabalhos elaborados pelos estudantes de graduação da Unicamp, o 19º Congresso Interno de Iniciação Científica contará com outros 28 painéis desenvolvidos por alunos do ensino médio, participantes do Programa de Iniciação Científica Júnior (PICJr), mantido pela instituição. “Embora o evento seja dirigido aos nossos alunos, nós temos procurado atrair, cada vez mais, a participação

dos jovens que cursam o ensino médio, como forma de também estimulá-los a se interessar pelas atividades vinculadas à ciência. Também por essa razão, seria interessante que a comunidade externa viesse visitar a exposição, pois terá a oportunidade de conhecer um pouco do que essa juventude é capaz de produzir”, convida o dirigente da Unicamp. Entre os trabalhos apresentados pelos alunos de graduação da Universidade, continua o professor Pilli, 20 deles serão escolhidos por um comitê externo, formado por bolsistas de produtividade do CNPq nas diferentes áreas do conhecimento, como os melhores do congresso. Os autores receberão um prêmio de R$ 3 mil, mais ajuda de custo (viagem e hospedagem) para apresentar seus estudos na próxima reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorrerá em São Luís, capital do Maranhão, em julho de 2012. Os segundos melhores trabalhos serão contemplados com menções honrosas. Ainda como parte do congresso, no dia 27 de outubro um representante da Agência de Inovação Inova Unicamp ministrará a palestra intitulada “Propriedade Intelectual e as iniciativas de empreendedorismo na Unicamp”. A conferência acontecerá a partir das 13h, no Auditório 1 do Centro de Convenções. Os 1.300 trabalhos que serão expostos nos dois dias do evento estão assim distribuídos, de acordo com as áreas de conhecimento: Artes (83), Biológicas (335), Exatas (205), Humanas (258) e Tecnológicas (391). A eles se somam os 28 painéis produzidos pelos participantes do PICJr. No conjunto, as pesquisas envolvem investigações que vão da avaliação da qualidade de vida de lesados medulares que realizam estimulação elétrica neuromuscular até o desenvolvimento de algoritmos para cálculo de estrutura molecular, passando pela análise do conceito de dissimulação em Hamlet. “É preciso fazer um agradecimento especial ao comitê organizador do congresso, sem o qual o evento não alcançaria a expressão que alcançou”, finaliza o professor Pilli. A programação completa do 19º Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp pode ser conferida neste endereço eletrônico: http://www.prp.unicamp. br/pibic/congressos/xixcongresso/ programacao.php.


4

Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011 Fotos: Antonio Scarpinetti

Poluição no rio Tietê, na altura da cidade de Bom Jesus de Pirapora: tecnologia pode ser usada na etapa final do tratamento de efluentes

Tecnologia à base de energia solar elimina poluentes orgânicos da água

Sistema, cujo pedido de patente já foi depositado, é sustentável e viável economicamente VÉRONIQUE HOURCADE

A

Especial para o JU

Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou que 2,6 bilhões de pessoas no mundo vivem sem acesso a saneamento adequado. O alerta foi dado por ocasião do lançamento do programa “Saneamento Sustentável: Cinco Anos até 2015”, em junho último, cuja proposta é acelerar a redução pela metade da quantidade de pessoas sem acessos a saneamento básico, reconhecido pela ONU como um direito humano. Nesse sentido, pesquisas como a desenvolvida pelo grupo de Fotoeletroquímica & Conversão de Energia, coordenado pela professora Cláudia Longo, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, ganham destaque. O trabalho resultou no desenvolvimento da tecnologia “Sistema para purificação de água que utiliza energia solar e eletrodo de TiO2 nanocristalino para destruir poluentes”, que tem pedido de patente depositado pela Agência de Inovação Inova Unicamp junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e traz uma alternativa sustentável, viável economicamente e altamente eficiente, para eliminar poluentes orgânicos da água. De acordo com a professora Cláudia Longo, os resultados obtidos nos experimentos realizados em escala laboratorial são promissores e indicam que o sistema pode ser aperfeiçoado e utilizado para promover melhor condição de vida para a população. O aperfeiçoamento, conforme explica, poderá viabilizar a utilização dessa tecnologia para a etapa final do tratamento de efluentes industriais. “Também poderá ser utilizada para

a purificação da água consumida por pessoas que vivem em regiões sem acesso a saneamento básico”, aponta. Após providenciar o registro de pedido de patente, os resultados do trabalho foram divulgados em 2010 na revista Applied Catalysis B: Environmental, uma das mais conceituadas da área. A pesquisa vem sendo desenvolvida desde 2004 e conta com financiamento da Fapesp, CNPq e Capes por meio de auxílios à pesquisa e bolsas. Também recebeu apoio do Instituto Nacional de C,T&I em Materiais Complexos Funcionais (Inomat), coordenado pelo professor Fernando Galembeck (IQ). Os estudos foram realizados no âmbito do projeto de mestrado de Haroldo Gregório de Oliveira, que é coautor da patente e atualmente desenvolve o doutorado na área, e também em programas de iniciação científica desenvolvidos por estudantes de Química, Farmácia e de Engenharia Química. Em 2009, na ocasião do XVII Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp, a professora Cláudia recebeu uma menção honrosa concedida pela Pró-Reitoria de Pesquisa por orientar o aluno Fernando C. L. Miaise no trabalho “Desenvolvimento de um sistema para purificação de água por fotocatálise heterogênea eletroassistida utilizando eletrodo de TiO2 nanocristalino e células solares”. Outra premiação foi concedida na 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química: o trabalho “Descontaminação de água com eletrodo de TiO2 conectado a célula solar: oxidação de fenol no anodo e deposição de cobre no catodo” foi apresentado oralmente e como painel, tendo sido eleito um dos melhores painéis da sessão de Química Tecnológica.

Purificação A conversão de energia solar em aplicações que visam a melhoria do meio ambiente é o que move o grupo de pesquisa do IQ e, no trabalho que resultou no pedido de registro de patente, o objetivo é o de purificar a água por meio dessa fonte de energia. Os pesquisadores desenvolveram um sistema que consiste na conexão de um eletrodo de TiO2 a células solares, resultando na combinação de duas aplicações da conversão da energia solar por meio de semicondutores.

A professora Cláudia Longo, coordenadora das pesquisas, com o aluno Haroldo Gregório de Oliveira, coautor da patente: resultados de experimentos feitos em escala laboratorial são promissores

Conforme explica Cláudia, a primeira aplicação resultante, e já bastante conhecida, é a conversão em energia elétrica. A outra se refere à purificação da água. O diferencial do trabalho é a combinação das duas, tornando o processo mais eficiente em relação às alternativas existentes. Em relação ao tratamento de efluentes disponíveis atualmente, ela aponta algumas limitações, como custos elevados e o longo período necessário para a descontaminação. Outro fator relevante inclui a baixa eficácia para eliminar diversos poluentes orgânicos solúveis, tais como fenol, pesticidas, corantes e medicamentos. Estes poluentes persistentes permanecem no ambiente por longos períodos, já que não são biodegradáveis. O tema da presença de contaminantes emergentes é objeto de estudo do professor Wilson de Figueiredo Jardim, também do IQ. No primeiro semestre deste ano, inclusive, ele organizou um workshop na Unicamp sobre a presença desses contaminantes na água para consumo humano (ver em Portal da Unicamp, 14 de abril de 2011). Na ocasião, Jardim afirmou que ainda não se sabe, ao certo, dos riscos à saúde humana, mas o efeito em animais já foi comprovado, como é o caso da alteração no sexo dos peixes, provocando uma feminização dos machos. No evento, o docente apresentou ainda o resultado do projeto temático sobre a ocorrência de contaminantes

emergentes em mananciais e água consumida no Estado de São Paulo. Foram encontrados vários, entre os quais atrazina (agrotóxico), cafeína, hormônio sintético e substâncias de medicamentos. O levantamento contou com financiamento da Fapesp e envolveu pesquisadores da Unicamp, Unesp e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb).

Irradiação solar Os testes realizados em pequenas escalas, no laboratório, no âmbito da pesquisa orientada pela professora Cláudia Longo, mostraram resultados animadores em relação à eliminação justamente desse tipo de substância da água. Os primeiros experimentos foram realizados sob irradiação solar direta; posteriormente, os pesquisadores utilizaram um simulador solar, eficiente e de baixo custo, com intensidade semelhante à obtida sob o sol do meio dia e que permite o controle de temperatura e intensidade da radiação. Recentemente, adquiriu-se também um simulador solar de maior porte para possibilitar o estudo em maior escala. Com esse simulador foi possível medir a eficiência e a durabilidade do sistema de purificação de água, que tem atuado de maneira reprodutível e com longa durabilidade. Esse estudo foi realizado com eletrodos de TiO2 com 9 cm² para tratamento de 10mL de água contendo 50 mg/L de fenol. O fenol, considerado um poluente persistente,

pode estar presente nos efluentes de diversas indústrias e apresenta vários efeitos nocivos à saúde. Os resultados encontrados revelaram a degradação de 78% do fenol após três horas sob irradiação no simulador solar; após seis horas, mais de 90% do poluente foi mineralizado. Resultados animadores também foram encontrados no sistema com eletrodos de 35cm² para tratamento de 70 mL de solução e, recentemente, para 0,5 L, em fluxo. As substâncias investigadas incluem, além do fenol, o corante Rodamina 6G (utilizado na indústria têxtil) e os fármacos paracetamol e estradiol. O sistema também tem grande potencial para desinfecção de água contaminada por bactérias. Já foi estabelecida uma colaboração com o professor José Roberto Guimarães, do Departamento de Saneamento e Ambiente da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, e espera-se que novos estudantes integrem o grupo para desenvolver o projeto.

Benefícios Com a possibilidade de ampliação dos testes e aperfeiçoamento do sistema, o trabalho pode ter aplicação na etapa final do tratamento de efluentes, tendo como alvo estações de tratamento de efluentes de indústrias têxteis, de papel e celulose, petroquímicas e de agrotóxicos, por exemplo, bem como companhias de água e esgoto e estações de tratamento de efluentes em shopping centers, entre outros. Cláudia ressalta ainda que o sistema aperfeiçoado também pode ser utilizado para purificação de água em comunidades afastadas, não atendidas pelo serviço básico de saneamento, eliminando contaminantes resistentes a tratamentos convencionais. Outra vantagem do sistema é o fato de ser autossuficiente do ponto de vista energético, devido à utilização de radiação solar. Baixo custo e o fato de ser sustentável (não é poluente, não exige adição de insumos e não gera resíduos) completam a relação.

.............................................................. ■ Publicação

Projeto: “Sistema para purificação de água que utiliza energia solar e eletrodo de TiO2 nanocristalino para destruir poluentes” Coordenação: Cláudia Longo Coautor: Haroldo Gregório de Oliveira Financiamento: Fapesp, CNPq e Capes

..............................................................


5

Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011

‘Entre falácias, modismos e inovações’ Programa de excelência não chega a centros de pesquisa, aponta estudo

I

MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamo.br

nstitutos e Centros de Pesquisa e Desenvolvimento (ICPs) são importantes no desenvolvimento socioeconômico do país, mas carecem de políticas públicas que reafirmem seu papel no cenário atual, na opinião do analista em ciência e tecnologia do CNPq, Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque, autor da tese “Modelos de ‘excelência’ gerencial nos institutos e centros de P&D brasileiros: entre falácias, modismos e inovações”, defendida no Instituto de Geociências (IG), sob orientação da professora Maria Beatriz Machado Bonacelli. As análises dispostas na tese sugerem que muitos ICPs brasileiros têm tido dificuldade de acompanhar as mudanças em seu ambiente de atuação, tampouco têm conseguido influir estas mudanças. Ao analisar o movimento pela “excelência” gerencial nos ICPs, a partir do Projeto Excelência na Pesquisa Tecnológica (Pept), da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), Albuquerque percebe que essas instituições encontram dificuldades em identificar e atender demandas da sociedade e que faltam mecanismos de troca de informações com seu ambiente. Projeto criado no final dos anos 1990 para promover avaliação e melhoria do desempenho dos institutos, num momento em que houve redução gradativa da participação governamental em sua composição orçamentária e pressão dos mantenedores para que os ICPs gerassem recursos, o Pept teve

fraca influência sobre o processo de transformação organizacional dos ICPs que o adotaram, na opinião do autor. Albuquerque assinala que a diversidade e as peculiaridades dos institutos, como missões, inserção socioeconômica e níveis de maturidade gerencial diferentes, não foram consideradas de maneira adequada na construção do Pept, opinião respaldada nas 38 entrevistas realizadas durante a pesquisa, com pessoas que atuaram na Abipti, gestores e pesquisadores de institutos e policy makers (desenvolvedores de políticas) de CT&I. A orientação do Pept, segundo ele, foi a utilização do modelo de excelência gerencial do Prêmio Nacional da Qualidade, ou seja, de uma metodologia única e supostamente aplicável a todo tipo de organização. “Institutos têm natureza, ambiente e cultura diferentes e missões as mais diversas.” Para o autor, é preciso pensar na construção de modelos de gestão dinâmicos e proativos, que ampliem a autonomia dos ICPs, considerando os elementos restritivos externos – de ordem jurídica, legal e política – e internos – como inércia e rigidez organizacional e elementos culturais. “Os institutos foram criados com um propósito específico e à luz de uma realidade, mas esta realidade vai se transformando, e os ICPs têm dificuldade ou resistência para internalizar as mudanças e as políticas públicas não têm ajudado nessa difícil tarefa”, reforça Albuquerque. Ao tentar enxergar a capacidade do método adotado no Pept em promover mudanças nos institutos de P&D, Albuquerque conclui que o projeto apresenta baixa suficiência, porque, embora ofereça elementos novos e motivadores e encoraje-os a introduzir e a aperfeiçoar rotinas e práticas organizacionais, tem como estratégia o aprimoramento daquilo que já é realizado. Isso, segundo o pesquisador, pode fazer com que os ICPs não percebam as mudanças no ambiente técnico e institucional em que atuam e não atentem para o fato de que as competências internas (dos recursos humanos, físicos, gerenciais, técnicos, entre outros) já não dão conta de solucionar problemas, atender

Foto: Antoninho Perri

Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque, autor da tese, e a professora Maria Beatriz Machado Bonacelli, orientadora: institutos têm dificuldade de acompanhar as mudanças

novos desafios e mesmo de aproveitar novas oportunidades. “Essa é uma limitação intrínseca ao próprio método que instrumentalizou o Pept”, enfatiza. Para o pesquisador, uma contribuição positiva do Pept/Abipti foi o surgimento de uma aliança cooperativa entre institutos, mais especificamente um fórum privilegiado de discussão de problemas de gestão e organização de ICPs, que ajudou a integrá-los, envolvendo grande diversidade dessas instituições na troca de informações e difusão de práticas de gestão. A rede permitiu que muitos institutos saíssem do isolamento e interagissem entre si,

segundo Albuquerque. Um dos equívocos no desenho do Pept, porém, foi a Abipti acreditar que a melhoria gerencial estaria relacionada com melhorias na pesquisa, segundo Albuquerque. “Seus promotores acreditavam que melhorando a gestão dos ICPs, a pesquisa seria melhorada de forma quase automática. Mas a relação direta entre resultados de desempenho obtidos pelos institutos e a adoção das metodologias propostas no Pept não é trivial e é controversa, pois houve muitos novos eventos na dinâmica em torno da CT&I brasileira na última década (fundos setoriais, modelo de edital para submissão de

projetos de pesquisa, novo marco regulatório em várias áreas, novos tratados internacionais com implicações diretas sobre os temas de pesquisa, novos instrumentos de financiamento, entre vários outros aspectos)”, aponta Albuquerque.

............................................................. ■ Publicação

Tese: “Modelos de ‘excelência’ gerencial nos institutos e centros de P&D brasileiros: entre falácias, modismos e inovações” Autor: Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque Orientação: Maria Beatriz Machado Bonacelli Unidade: Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT)/Instituto de Geociências (IG)

.............................................................

Período foi de dificuldades para a C&T De acordo com Maria Beatriz, nas décadas de 1980 e 1990 existia forte pressão sobre os ICPs, pois foram momentos difíceis para a Ciência e Tecnologia, por questões de ordem financeira. Ao mesmo tempo, a forma de se fazer pesquisas tomava novo rumo, obrigando os institutos a repensarem a maneira de organizar suas atividades, preferencialmente em rede, e internalizar novas áreas do conhecimento ou atualizar aquelas nas quais atuavam, entre outras exigências. “Havia a necessidade de gerar ou absorver novas competências, muitas inexistentes nos ICPs”, pontua a professora. Albuquerque acrescenta que até mesmo a forma de captação de recursos mudou. Porque com a diminuição do apoio direto, era necessário buscar outras formas de captação de recursos, como os fundos setoriais, participando de um processo competitivo de obtenção de recursos. Segundo o pesquisador, a cultura de escrever e submeter projetos para concorrer com outras

instituições era “tímida”. Essa atividade também era um elemento novo naquele momento. Maria Beatriz lembra que, na época, a academia também sofreu. “Mas as universidades têm missões mais claras, tendo como papel a formação de pessoal de nível superior de excelência e o avanço do conhecimento, ao mesmo tempo em que cabe neste contexto um maior leque de temas de pesquisa”, esclarece. Já os institutos públicos de pesquisa muitas vezes se perdem na travessia entre o cumprimento de sua missão e as competências adquiridas, e as demandas geralmente não muito claras das políticas públicas, não conseguindo enxergar seu papel no sistema de ciência, tecnologia e inovação. “Com isso, as pressões das mudanças foram sentidas de diferentes formas pelos institutos do país e a ideia do Programa de Excelência era prover os ICPs com algumas ferramentas para isso, como as que poderiam ajudar na superação de deficiências na sua relação com o

setor produtivo”, acrescenta.

Políticas Um dos objetivos do Pept, segundo Albuquerque, era a geração de informações sobre os ICPs como subsídios para a formulação de políticas públicas para o setor, especialmente mediante indicadores que expressassem o desempenho dessas instituições. Para ele, este foi um dos equívocos da iniciativa, pois houve pouca aderência a políticas de CT&I. Além disso, os indicadores medidos não entraram no sistema de CT&I, segundo o autor da tese. “Embora essa fragilidade se deva a opções feitas no desenho daquele projeto, não se pode descartar a dificuldade de desenvolvedores de políticas se valerem de iniciativas como aquela na reflexão de suas posturas e tratamento dado aos ICPs na orientação de suas ações de tomada de decisão no âmbito das políticas públicas”, reflete o autor. “As políticas continuam fragmentadas e genéricas, deixando-se

de aproveitar o grande potencial de P&D e de serviços, fundamental para as pretensões do país no futuro próximo, pois o próprio Estado tem dificuldade de enxergar a diversidade dos trabalhos dos ICPs, dar-lhes coerência e integrá-los às políticas mais macro (econômicas, agrícolas, ambientais, de saúde, de CT&I, entre outras)”, acrescenta Maria Beatriz. Ela enfatiza que é importante ter gerência e excelência na pesquisa, mas é importante pensar estrategicamente, aproveitar oportunidades, fechar lacunas, colocar de lado temas de pesquisa e trajetórias que não digam mais respeito à própria instituição e às estratégias de governo. A professora acentua que os institutos poderiam trabalhar mais em cooperação, complementando conhecimentos e habilidades, aproveitando oportunidades de novos temas ou frentes de pesquisas, como bioenergia, mudanças climáticas, biossegurança, economia verde, entre outros. “Novas competências são

necessárias nesses institutos, para dar conta desse cenário – interno e externo –, competências tanto de ordem técnico-científica, como em gestão e planejamento da pesquisa e da inovação”, acrescenta a professora. Segundo Maria Beatriz, o Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do IG, onde a pesquisa foi desenvolvida, e o Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Geopi) frequentemente são solicitados a auxiliar trabalhos de reorganização e planejamento estratégico em instituições de pesquisa públicas e privadas. “As iniciativas são importantes, sem dúvida, para a redescoberta do papel de tão importante ator no sistema de CT&I do país. A questão é a escolha dos instrumentos e metodologias para a realização desses trabalhos, que não devem se basear na sedução pela simplicidade e organicidade de modismos gerenciais, que foi o que o trabalho de tese de Albuquerque buscou mostrar a partir da experiência do Pept”, declara.


6

Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011

Novas facetas da ob na infância e na ado

Q

PAULO CESAR NASCIMENTO pcncom@bol.com.br

uatro dissertações de mestrado desenvolvidas na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp miram um dos principais desafios de saúde pública na atualidade: a prevalência da obesidade em crianças e adolescentes. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada três crianças de 5 a 9 anos estava acima do peso recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2010. Obesos representaram 16,6% entre meninos e 11,8% das meninas naquela idade. Jovens de 10 a 19 anos com excesso de peso passaram de 3,7% (na década de 1970) para 21,7% e entre as meninas na mesma faixa etária o crescimento do excesso de peso saltou de 7,6% para 19,4%. Na Unicamp, o tratamento de crianças e adolescentes severamente obesos ganhou impulso há seis anos com a criação, no Hospital de Clínicas da Universidade, do Ambulatório de Obesidade na Criança e no Adolescente. A unidade – hoje com cerca de 200 usuários

– proporciona acompanhamento multiprofissional ao paciente e tornou-se fonte de estudos clínicos, como as quatro pesquisas orientadas pelo professor Antonio de Azevedo Barros Filho, do Departamento de Pediatria da FCM. Especialista em crescimento e desenvolvimento físico da criança e do adolescente, ele costuma lançar mão de uma metáfora lúgubre para expressar com a intensidade desejada todo o seu assombro diante da escalada do problema na população mundial. “A obesidade é o quinto Cavaleiro do Apocalipse”, compara. De fato, a obesidade de jovens já é considerada epidêmica pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e, de acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, está superando o tabagismo como principal fator de mortalidade. As causas orgânicas ou genéticas (obesidade endógena) que evoluem para o excesso de peso representam algo em torno de 5%, mas a grande maioria dos casos (aproximadamente 95%) é classificada como obesidade exógena, motivada por fatores ambientais, notadamente alimentação inadequada e sedentarismo, o que, aliás, favorecem sua

expansão a níveis alarmantes. O paradoxo dessa situação, observa Barros Filho, é que em sua trajetória pelo planeta a vida do homem foi marcada pela luta contra a fome. “Na antiguidade o ser humano armazenava gordura para sua própria sobrevivência, mas na atualidade as pessoas do mundo todo têm tido problemas com a obesidade e doenças decorrentes do acúmulo de gordura, aumentando significativamente o índice de mortalidade”, comenta. Ele é categórico: intervenções medicamentosas são insuficientes para controlar a incidência. A progressão da obesidade não será freada sem mudanças comportamentais, o que requer a premente adoção de estratégias voltadas à prevenção, já que o ganho excessivo de peso é condição que, quanto mais precocemente se instala, mais dificilmente é combatida. Postos nesse cenário desafiador, os estudos detalhados a seguir são holofotes a lançar, por meio de diferentes resultados e contribuições, novas luzes para a melhor compreensão e abordagem do problema por parte de educadores, profissionais da saúde, famílias e por parte dos principais interessados – os jovens.

.............................................................................................................................................................................................................................................................................................

■ Publicações

Dissertação: “Características do sono, distúrbios do sono e qualidade de vida em adolescentes obesos” Autora: Giovina Fosco Turco Orientador: Antonio de Azevedo Barros Filho Coorientador: Rubens Reimão Reimão Unidade: Faculdade de Ciências Médica (FCM)

Dissertação: “Balanço energético em adolescentes eutróficos e com diferentes graus de excesso de peso” Autora: Hellen Rose Camargo Orientador: Antonio de Azevedo Barros Filho Unidade: Faculdade de Ciências Médica (FCM)

Dissertação: “Comportamento antropométrico de adolescentes durante o ano letivo e período de férias” Autor: Fábio Cássio Ferreira Nobre Orientador: Antonio de Azevedo Barros Filho Unidade: Faculdade de Ciências Médica (FCM)

Dissertação: “Obesidade na infância e na adolescência e a percepção das mães: um estudo qualitativo” Autor: Ana Paula Paes de Melo de Camargo Orientador: Antonio de Azevedo Barros Filho Coorientador: Joel Sales Giglio Unidade: Faculdade de Ciências Médica (FCM)

.............................................................................................................................................................................................................................................................................................

Distúrbios do sono são mais frequentes A importância do sono é amplamente reconhecida, tanto quanto são claras as implicações e consequências da ausência de um sono reparador, que permite boa saúde e disposição física e mental. Alterações no padrão e na qualidade do sono (denominadas distúrbios do sono) ocorrem com grande frequência e quando afligem pessoas com idade precoce, como crianças e adolescentes, acarretam danos que vão do baixo rendimento escolar até o comprometimento da saúde física e mental. A obesidade contribui para agravar o problema, segundo revela a pesquisa Características do sono, distúrbios do sono e qualidade de vida em adolescentes obesos, elaborada pela psicóloga Giovina Fosco Turco. Ao avaliar a qualidade de vida e a do sono em adolescentes obesos e eutróficos (com peso ideal), ela observou a prevalência de perturbações e, consequentemente, pior qualidade do sono entre os integrantes do grupo obeso. Como reflexo das noites mal dormidas, esses jovens acabam vitimados por uma qualidade de vida inferior. Coorientado pelo professor Rubens Reimão, responsável pelo Grupo de Pesquisa Avançada em Medicina do Sono da USP, o trabalho englobou um universo de 120 adolescentes de ambos os sexos, entre 10 e 14 anos. O grupo de estudo foi composto por 61 adolescentes obesos moradores de Campinas e região, acompanhados pelo Ambulatório de Obesidade na Infância e Adolescência da Unicamp. Já o grupo comparativo constituiu-se de 59 crianças e adolescentes eutróficos, com idade equivalente, alunos de uma escola pública de Americana (SP). Ronco, agitação noturna, insônia no meio da noite, pesadelo, medo de dormir sozinho e de escuro, enurese (emissão involuntária de urina) noturna e sonilóquio (fala e/ou emissão de sons durante o sono) estão entre as interferências mais incidentes no grupo de jovens obesos. Quase 20% deles relataram repetência em alguma série escolar e aproximadamente 33% dos entrevistados admitiram ter algum

problema de saúde, constatando-se casos de uso de medicamentos para rinite alérgica, depressão, hipertensão arterial, tireóide, diabetes melittus, hiperatividade e problemas digestivos. Seus pais e/ou responsáveis apresentaram índice de massa corporal maior do que o dos pais dos estudantes eutróficos. “A privação de sono e a má qualidade de descanso na infância e na adolescência prejudicam o aprendizado, a atenção, a concentração, as capacidades intelectuais e produtivas, causando alterações constantes de humor, irritabilidade permanente, falta de concentração e maior risco de desenvolver quadros graves de depressão”, acentua Giovina. E mais: jovens nessa condição geralmente se tornam reticentes à prática de atividades físicas, sobretudo em função do cansaço provocado pelo déficit de sono, e o sedentarismo daí resultante contribui ainda mais para o aumento do sobrepeso e da obesidade. Aos distúrbios mencionados, ela acrescenta outro importante efeito da obesidade infantil que comumente se manifesta na cama: a Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono, condição caracterizada por episódios repetidos de obstrução parcial ou completa das vias aérea superiores, associada a episódios de ronco durante o sono e também de leves despertares. A criança com a disfunção pode apresentar alterações no comportamento, sonolência diurna, deficit do desenvolvimento pôndero-estatural e prejuízo escolar. Embora as perturbações de sono tenham sido mais preocupantes entre obesos, a incidência constatada no grupo de eutróficos também requer atenção, adverte Giovina, pois decorre da falta de limite para o horário de dormir e do excesso de uso de aparelhos eletrônicos, principalmente computadores. Ela recomenda que os distúrbios sejam diagnosticados e tratados precocemente, a fim de minimizar seus impactos sobre o crescimento e o desenvolvimento da população jovem.

Dissertação mensura acúmulo energético O ganho de peso além daquele considerado adequado ao crescimento corporal é um fenômeno observado desde a década de 1980 na população adolescente. Uma das explicações para o processo é o desequilíbrio entre a energia proveniente da alimentação e a despendida em atividades cotidianas, que resulta em um persistente acúmulo energético, cujo excedente encontra-se acima das taxas requeridas pelo organismo para o necessário amadurecimento físico dos jovens. Com a finalidade de mensurar esse grau de desequilíbrio entre adolescentes brasileiros, a nutricionista Helen Rose Camargo Pereira realizou pesquisa em que quantificou o excesso energético diário em um grupo de 104 voluntários da região de Campinas. Os resultados mostraram que tanto aqueles com peso adequado quanto os com excesso de massa corporal acumulam entre 150 a 250 calorias diariamente. A investigação ainda corroborou a reconhecida existência de expressiva subnotificação do consumo alimentar na faixa etária analisada e também trouxe à tona outro dado preocupante: mesmo aqueles com peso adequado apresentaram taxas elevadas de gordura corporal, situação capaz de trazer complicações semelhantes às encontradas em obesos, consideradas fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes e doenças cardiovasculares. Para a elaboração do estudo Balanço energético de adolescentes eutróficos e com diferentes graus de excesso de peso, Helen avaliou 39 adolescentes eutróficos, 33 com sobrepeso e 32 obesos, de 11 a 17 anos, alunos de duas escolas do município de Paulínia. A partir dos hábitos relatados, ela verificou que todos os grupos, independentemente do estado nutricional, apresentaram baixo gasto energético em atividades físicas, dieta pobre em frutas, legumes e verduras, consumo elevado de açúcares (sob a forma de refrigerantes e sucos em pó)

e alta proporção de gorduras na alimentação, decorrente da ingestão excessiva de sanduíches de hambúrgueres, pizzas e salgados. A coleta de dados também permitiu confirmar a predisposição dos adolescentes, sobretudo meninas obesas, à sistemática omissão da real ingestão calórica. “Quem tem excesso de peso esconde o que come”, diz Helen. Em sua pesquisa, os obesos subestimaram em média 31% do consumo alimentar estimado. Os resultados do trabalho corroboram outros achados da literatura acerca do comportamento predominantemente sedentário dos adolescentes, caracterizado por alto tempo despendido em atividades de baixa intensidade. Os escolares ouvidos por Helen passam cerca de cinco horas diárias na frente da televisão ou do computador, tempo quase três vezes superior que o recomendado pela Academia Americana de Pediatria. Como a ingestão energética do adolescente deve ser suficiente para equilibrar o dispêndio energético, permitindo a manutenção dos níveis saudáveis de tamanho e composição corporal, qualquer interferência no balanço pode levar à obesidade. Um exemplo para melhor compreender essa equação: basta o consumo diário excedente de 100 calorias (equivalente às de uma singela maçã) para o organismo ganhar cinco quilos ao longo de um ano, em consequência do processo cumulativo. Os dados encontrados pela pesquisa podem contribuir para o desenvolvimento de formas eficazes de prevenção da obesidade. De acordo com Helen, modificações relativamente simples na rotina alimentar e de atividades físicas dos adolescentes (a substituição de produtos industrializados e a adição de 30 minutos diários de caminhada) seriam suficientes para prevenir o ganho excessivo de peso. “Não é para reverter, mas impedir que a prevalência aumente. Primeiro é preciso parar de engordar, para depois pensar em emagrecer”, argumenta ela.


besidade olescência

Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011

7

Quatro dissertações de mestrado, todas desenvolvidas na FCM sob orientação do professor Antonio de Azevedo Barros Filho, revelam descobertas acerca do problema que ganhou proporções epidêmicas Foto:Antoninho Perri

O professor Antonio de Azevedo Barros Filho, orientador das dissertações, com Giovina Fosco Turco (à esq.) e Hellen Rose Camargo, autoras de dois dos trabalhos

O descompasso entre as férias e o ano letivo Na busca de explicações para o sobrepeso na infância e adolescência, alguns olhares têm se voltado para as escolas. O estudo Comportamento antropométrico de adolescentes durante o ano letivo e período de férias, desenvolvido pelo professor de Educação Física Fábio Cássio Ferreira Nobre, apresentou como objetivo a investigação da influência do calendário escolar no ganho de peso de adolescentes. Ele avaliou a interferência do período de férias e período letivo no ganho de peso em cerca de 600 jovens na faixa etária de 11 a 15 anos, alunos de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental de escolas estaduais de Campinas. Os resultados do estudo demonstraram que a prevalência de sobrepeso e obesidade já atinge três em cada 10 adolescentes do município. O período de férias é colaborador importante no ganho ponderal e o aumento é evidenciado igualmente em ambos os sexos, durante o período denominado pubescência (10 a 14 anos). No Brasil, observa Fábio, a escola contribui para a inserção da prática obrigatória de atividade física semanal nos currículos escolares, bem como o oferecimento de uma alimentação balanceada na merenda, ambos pautados em legislações nacionais. Nos momentos de férias escolares, contudo, os alunos ficam desobrigados a manter estes padrões de alimentação e atividade física, contribuindo para o aumento de peso. De acordo com ele, frequentemente os alunos modificam seus hábitos durante as férias, dormindo e acordando fora do horário habitual, se alimentando em períodos incompatíveis com a refeição do momento (tomam café da manhã quando normalmente estariam almoçando, por exemplo). As famílias, por sua vez, fornecem alimentos mais calóricos e diferentes daqueles convencionais ou comumente servidos na escola. O tempo destinado

à prática de exercícios físicos – atividade geralmente exigida na escola – também sofre substancial redução, já que os adolescentes costumam passar mais tempo na frente da televisão ou com os amigos na internet. Qual o resultado desse descompasso? O autor constatou que os adolescentes acabam ganhando mais peso em massa gordurosa durante o recesso escolar. Os adolescentes do sexo masculino apresentaram maior quantidade de gordura corporal na região central, enquanto as adolescentes femininas demonstraram gordura corporal distribuída proporcionalmente pela massa corporal total. Outro achado importante da pesquisa foi o crescimento em estatura abaixo do esperado. Ou seja, ao comparar a altura dos adolescentes com o que eles deveriam medir, verificou-se que eles estavam crescendo menos do que o previsto, independentemente do sexo. Para Fábio, o período letivo apresenta função importante na redução do ganho de peso, principalmente entre os adolescentes com sobrepeso e obesidade. “Podemos justificar, pelas experiências desenvolvidas no Brasil, que a escola ainda pode ser considerada um ambiente protetor no desenvolvimento da obesidade e que deve ser cada vez mais trabalhada a fi m de se formar uma consciência coletiva em saúde”, salienta. Para que a escola se torne um meio preventivo do aumento de peso, é necessário instituir no currículo escolar programas de atividade física aeróbica direcionada às diferentes faixas etárias, com respectivo aparelhamento das escolas e treinamento de seus profissionais, bem como educação em saúde e qualidade de vida, sugere ele, amparado em experiência já documentada cientificamente em países como os Estados Unidos.

Mães tendem a minimizar problemas de ‘gordinho’ Como a mãe percebe o filho obeso? A percepção materna pode se relacionar ao modo como ela cuida da prole? Com a finalidade de conhecer e compreender a percepção materna a respeito da origem e da natureza da obesidade dos filhos e entender como essa percepção pode afetar os cuidados com a criança com excesso de peso, a psicóloga Ana Paula Paes de Mello de Camargo entrevistou um grupo de oito mães de crianças e adolescentes com obesidade exógena em tratamento no Ambulatório de Obesidade na Infância e na Adolescência da Unicamp. Partindo do pressuposto de que as crianças são dependentes da figura materna, tanto na formação da sua personalidade quanto no estilo de vida, o trabalho permitiu à pesquisadora aferir que a percepção materna inadequada influencia negativamente a relação não só da mãe com a criança, mas também desta com seus cuidadores primários (avós, tios, irmãos), causando um impacto pernicioso nos hábitos cotidianos, como a inapropriada ingestão de alimentos super calóricos e a baixa frequência de atividades físicas. De acordo com Ana, a percepção materna pareceu se constituir de experiências contraditórias e ambivalentes a respeito de si mesma e também a respeito do filho. Se por um lado a mãe relatou a insatisfação com o próprio corpo (sete das entrevistadas estavam acima do peso, conforme suas próprias informações), por outro ela tentou minimizar a condição de excesso de gordura corporal do filho. “Por alguns motivos a mãe vê o filho obeso apenas como gordinho e isso é um grande complicador, pois influencia o modo como ela lida com as orientações recebidas dos profissionais de saúde no serviço ambulatorial”, explica a autora da dissertação Obesidade na infância e na adolescência e a percepção das mães: um estudo qualitativo,

coorientada pelo professor Joel Sales Giglio. O fato de não conseguir seguir no dia a dia todas as recomendações médicas ficou evidente nos depoimentos a respeito dos hábitos de alimentação e de atividade física. A mãe não relatou hábitos de alimentação que pudessem contribuir para a baixa ingestão calórica e não demonstrou perceber a relação da prática da atividade física como algo fundamental para a reversão dessa situação. Segundo o estudo, a percepção materna distorcida minimiza o quadro de obesidade, afeta os cuidados com os filhos – consequentemente, o estado atual de peso da criança muda muito pouco, ou nem muda – e os expõem aos riscos a que estão suscetíveis, como diabetes, doenças coronarianas e alta taxa de colesterol, entre outras, problemas inclusive observados em familiares citados nas entrevistas, principalmente os pais. A investigação realizada por Ana confirmou constatações da literatura científica acerca da influência do comportamento familiar nos casos de obesidade na infância e na adolescência, conforme ela pode constatar na revisão de artigos em língua inglesa e portuguesa que conduziu para a elaboração de sua dissertação. Alguns trabalhos apontam para conclusões de que as taxas de obesidade infantil estão associadas com a obesidade materna, indicando a relação mãe-filho como fator de risco para a obesidade infantil. “Portanto, o tema da percepção materna é atual e relevante para ampliarmos a compreensão do complexo problema da obesidade na infância. Reconhecer que há excesso de peso pode ser um primeiro passo na mudança para um estilo de vida mais saudável”, salienta a psicóloga, que continuará a explorar o material coletado agora na pesquisa de doutorado.


8 Ingestão excessiva de sucos de frutas tropicais pode causar erosão dental Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011

Fotos: Antoninho Perri

Experimentos desenvolvidos na FOP mediram o pH e analisaram índices de acidez MARIA ALICE DA CRUZ

F

halice@unicamp.br

rutas tropicais como camu-camu, araçá-boi, cupuaçu, taparebá e umbu são consumidas pela população do Norte e do Nordeste brasileiros. Uma avaliação realizada pela cirurgiã-dentista Adelsilene das Graças Cavalcanti Veras, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, em sua tese “Avaliação do potencial erosivo de sucos de frutas tropicais brasileiras”, mostra que o consumo em demasia dessas delícias pode causar erosão nos dentes. A pesquisa teve como objetivo avaliar sucos dessas frutas quanto ao potencial para causar erosão dental. Ao expor pedaços de dentes bovinos a cada um dos sucos já preparados, in vitro, foi possível observar a capacidade dos sucos de causarem perdas da superfície dos dentes, segundo a orientadora da tese, a professora Cínthia Pereira Machado Tabchoury. A partir das amostras de sucos, as pesquisadoras mediram o pH dos produtos e fizeram análise da acidez titulável, usada para ver o quanto o suco pode manter o pH baixo. Segundo Cínthia, também foi avaliada a quantidade de cálcio presente nos sucos, que pode ajudar a prevenir a erosão dental. De acordo com a docente, a erosão dental é uma patologia bastante relacionada à forma que a pessoa utiliza as bebidas e os alimentos. O simples fato de consumir não causa a erosão, mas depende sim da forma e da frequência de uso. “Algumas pessoas têm um grande consumo de sucos ou refrigerantes. Outras têm hábitos como bochechar a bebida antes de deglutir, ou, por exemplo, ficar trabalhando ao computador tomando a bebida aos poucos. São hábitos que podem levar

A professora Cínthia Pereira Machado Tabchoury, orientadora da tese: ataque ácido gera perda de minerais; à esquerda, polpas de frutas utilizadas nos testes

à erosão”, informa Cínthia. Ela explica que no momento em que o suco entra em contato com o dente, ele promove um ataque ácido. Isso leva à perda imediata de minerais do dente. Além da análise in vitro, as pesquisadoras realizaram uma avaliação em que voluntários eram orientados a colocar uma quantidade de suco na boca e cuspir. De tempo em tempo, a saliva era coletada para avaliação e, de acordo com a professora, apresentando bastante acidez. Segundos depois, a saliva já lava o suco e o ácido e ainda repõe os minerais perdidos, mas o ataque já foi feito, segundo Cínthia. Ela esclarece que os testes foram feitos com pessoas saudáveis, mas os resultados poderiam ser diferentes em pessoas com o fluxo salivar comprometido. Segundo Cínthia, os sucos são consumidos por sua importância relacionada à saúde, pois as frutas são ricas em algumas substâncias. O camu-camu, por exemplo, é conhecido pelo alto conteúdo de vitamina C. Sendo assim, ela antecipa que a

pesquisa não ignora os benefícios das frutas, mas mostra que alguns cuidados devem ser tomados para evitar a erosão dental. “Elas merecem atenção, dependendo da pessoa e da forma de uso”, acrescenta. As polpas, adquiridas no Inpa, órgão responsável pelo controle das frutas, foram diluídas na mesma quantidade de água e não foi realizada pesquisa sobre o consumo in natura. Ela manifesta o interesse em dar continuidade à pesquisa realizando novos estudos mais próximos das condições normais dos indivíduos. Cínthia explica que o processo de erosão e da cárie dental é muito diferente. Segundo a professora, na cárie, o açúcar consumido vai ser utilizado pelas bactérias que ficam na placa dental e vão produzir ácido. Este ácido pode fazer com que o dente perca mineral. No caso da erosão, o ácido é de origem exógena ou endógena, e não aquele produzido por bactéria. Ele pode ser de um alimento ou ainda proveniente de refluxo gastresofágico ou de pessoas com bulimia ao provo-

car o vômito. O ácido que retorna do estômago, segundo Cínthia, também provoca o ataque na superfície do dente. “No caso da cárie deve haver placa dental sobre os dentes. No caso da erosão, não há placa, pois ela servirá como proteção sobre o dente. Ainda, a escovação provoca o processo chamado abrasão. O ácido que atacou o dente deixará aqueles minerais amolecidos. Na escovação removem-se mais ainda aqueles minerais.”, explica Cínthia.

Sucos infantis De acordo com a literatura, o consumo de sucos por crianças tem sido recomendado por alguns profissionais da área de saúde em substituição aos refrigerantes. Com isso, de acordo com alguns estudos, as crianças começam a ingerir essas bebidas cada vez mais cedo. Na vida moderna, muitos pais recorrem a sucos prontos, com motivos infantis na embalagem, mas não atentam para o valor de pH, que pode estar entre 4,0 e 7,0. Em outra pesquisa orientada por Cínthia, a aluna Lenita Marangoni Lopes utilizou

Nas n bas ca

dentes decíduos (de leite) para testar o potencial erosivo de sucos com apelo infantil encontrados nas prateleiras do mercado. De acordo com Cínthia, o trabalho de conclusão de curso de graduação, intitulado “Avaliação in vitro do potencial erosivo de sucos infantis em esmalte decíduo”, apresentou uma grande diversidade de resultados, pois alguns sucos com pH bem baixo, quando aplicados em dentes de leite, promoveram perda mineral num valor considerável. Enquanto outros já não levaram a essas perdas. “Sendo assim, ficou difícil afirmar com certeza o que levou à erosão. O pH do suco é bom indicativo, mas muitos deles tinham boa quantidade de cálcio, o que pode ter diminuído as perdas”, explica. O estudo abre portas para outras avaliações, segundo Cínthia. A análise foi feita com dentes de leite por serem mais suscetíveis a perdas minerais pela sua própria composição. Isso permitiu que a análise se aproximasse mais fielmente da cavidade bucal, já que foi realizada com dentes de humano. A professora enfatiza que já existem relatos na literatura de que dentes de leite apresentam erosões. Ela explica que como diminuiu a prevalência da cárie, os dentistas ou as pessoas começam a prestar mais atenção em outras patologias da cavidade bucal, e a erosão está entre os temas que passaram a chamar atenção. Ela informa que, nas últimas décadas, aumentou muito o consumo de refrigerantes e sucos. Segundo Cínthia, o aumento de casos de erosão ainda é um tema controverso, com algumas pesquisas mostrando um aumento na prevalência. Entretanto, pondera, outros estudos ainda são necessários. “Mas, de qualquer forma, é importante que se estude e trace estratégias preventivas para esta patologia”, acentua.

.............................................................. ■ Publicações

Tese: “Avaliação do potencial erosivo de sucos de frutas tropicais brasileiras” Autora: Adelsilene das Graças Cavalcanti Veras Orientadora: Cínthia Pereira Machado Tabchoury Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) ................................................................................... Trabalho de conclusão de curso: “Avaliação in vitro do potencial erosivo de sucos infantis em esmalte decíduo” Autora: Lenita Marangoni Lopes Orientadora: Cínthia Pereira Machado Tabchoury Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)

..............................................................

O papel da governança nas cooperativas de crédito Perspectivas de desenvolvimento do setor são promissoras, demonstra dissertação de mestrado do IE As cooperativas de crédito ganharam impulso no Sistema Financeiro Nacional (SFN) a partir da década de 1990. No momento atual, as perspectivas de desenvolvimento do cooperativismo de crédito no Brasil são ainda mais promissoras, principalmente em ambientes em que a cultura e os instrumentos de governança corporativa são mais presentes, de acordo com o economista Ricardo Favalli. Em sua dissertação, ele observa que as cooperativas de crédito têm grandes possibilidades de se fortalecer por meio de estruturas de gestão e governança. Durante a pesquisa, Favalli testou o

efeito da aplicação do modelo de boa governança na geração de resultados positivos observáveis na atuação das cooperativas de crédito. O estudo permitiu verificar, empiricamente, premissas obtidas de teorias anteriores, nas quais o ambiente de governança se relaciona à qualidade observada nas decisões e nas ações efetivas dos conselhos de administração e fiscal, diretorias, assembleias de acionistas, cooperados, entre outros órgãos. “A possibilidade de sucesso das empresas ao longo do tempo se expande de forma sensível, se os organismos envolvidos no sistema de alta gestão contiverem algumas variáveis importantes, como a procura pela minimização de conflitos de interesse, por fluxos de informações direcionados a quem de direito, e pela existência de políticas de remuneração adequadas e de preparo técnico dos administradores”, acrescenta. A pesquisa mostra que os grupos de maior governança, avaliada de forma qualitativa, operam de forma mais eficiente no sentido de geração de melhores resultados econômicos. Ele enfatiza que todas as regiões do país têm alavancado cooperativas fortes, mesmo com diferenças em

seu modo de gestão. Mas há regiões mais suscetíveis ao sucesso do cooperativismo, como aquelas em que predominou a cultura dos imigrantes europeus, principalmente de origem alemã. Como exemplos já palpáveis associados à expansão responsável do cooperativismo de crédito, o economista aponta: o avanço da educação financeira e cooperativista dos associados às cooperativas de crédito e o aumento da competitividade no sistema financeiro, este último fenômeno gerando melhores condições aos usuários de serviços bancários. De acordo com dados do Portal do Cooperativismo de Crédito, estão em atividade 1.370 cooperativas de crédito singulares, 38 centrais estaduais, quatro confederações e dois bancos cooperativos. Submetidas à Supervisão do Banco Central do Brasil, as cooperativas de crédito – assemelhadas a pequenos bancos regionais ou setoriais – surgiram no Brasil por volta de 1900, na região Sul do país, por influência inicial dos imigrantes alemães. O segmento observou períodos de expansão e retração durante o século 20, no entanto, desde o início da década de

1990, ocorre um movimento de desenvolvimento do setor, reforçado por ações mais efetivas da esfera pública, de acordo com o economista. A pesquisa de Favalli avança um passo além da contribuição oferecida pelo Projeto Governança Cooperativa do Banco Central do Brasil, desenvolvido entre 2006 e 2009, projeto que resultou no lançamento do livro Governança cooperativa: diretrizes e mecanismos para fortalecimento da governança em cooperativas de crédito. Um interesse mais abrangente da pesquisa, segundo o economista, é estimular o entendimento da necessidade de evolução do cooperativismo de crédito brasileiro. “O desenvolvimento esperado do setor deve resultar em ganhos importantes para a economia e a sociedade brasileiras”, pontua. De acordo com o economista, as cooperativas vêm sendo objeto de análise mais criteriosa da regulação de instituições financeiras desde a constituição do referido projeto estratégico Governança Cooperativa, do BCB, em 2006. O projeto tinha como propósito inicial a construção de um referencial teórico que atrelasse os preceitos consagrados de governança corporativa à realidade

mais específica do cooperativismo de crédito nacional. A partir do referencial construído, os especialistas realizaram um diagnóstico do sistema cooperativista de crédito com base em questionários respondidos por aproximadamente 90% do universo de cooperativas de crédito singulares em atividade no país, aproximadamente 1.100 instituições. “As ‘diretrizes’ resultantes do projeto de 2006, se adotadas, devem resultar em ganhos a todos os envolvidos com aquelas entidades, os chamados stakeholders – partes interessadas no sucesso das corporações”, acrescenta o autor. A dissertação, orientada pelos professores José Maria da Silveira e Alexandre Gori Maia, recebeu apoio da equipe do Projeto Governança Cooperativa/BCB , coordenada por Elvira Ventura. (M.A.C.)

...............................................................

■ Publicação

Dissertação: Governança Corporativa e Análise do Desempenho de Cooperativas de Crédito no Brasil Autor: Ricardo Terranova Favalli Orientação: Alexandre Gori Maia e José Maria da Silveira Unidade: Instituto de Economia (IE)

...............................................................


9

Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011

Um novo olhar para a relação entre Igreja e Império Romano

Foto: Antoninho Perri/Reprodução

Historiador entende que a aproximação entre as partes se deu fundamentalmente por iniciativa dos clérigos MANUEL ALVES FILHO

E

manuel@reitoria.unicamp.br

m dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, o historiador Robson Murilo Della Torre propõe uma nova leitura dos documentos que tratam da relação entre Igreja e Império Romano durante o principado de Constantino (início do século IV), o primeiro imperador a se declarar publicamente cristão. Ao contrário do que frequentemente registram os pesquisadores do tema, o autor do trabalho considera que a aproximação entre as partes teria se dado muito mais pela ação dos bispos, preocupados em defender e ampliar direitos e benefícios das comunidades cristãs, do que pela iniciativa da corte imperial, eventualmente interessada em obter vantagens com a possível submissão dos fiéis às suas políticas. O trabalho foi orientado pela professora Neri de Barros Almeida. Della Torre conta que começou a trabalhar com a temática ainda na iniciação científica. Na graduação, durante a leitura dos documentos, um aspecto chamou a atenção dele. Vários autores partiam da concepção de que o Império teria cooptado a Igreja, para que esta lhe servisse de instrumento ideológico. “A partir do contato com esses textos, considerei que a relação entre Império e Igreja merecia ser analisada não tanto a partir dos interesses da corte, mas sim dos clérigos. Temos vários indícios na documentação, principalmente nos escritos do bispo palestino Eusébio de Cesaréia, nos quais meu trabalho se baseou, de que os representantes da Igreja se dirigiam com certa frequência ao imperador para pedir a concessão de benefícios ou a ratificação de direitos ancestrais da Igreja, que não estavam consolidados no direito romano”, afirma. Entre os benefícios pleiteados pelos religiosos estavam, por exemplo, a obtenção de isenções fiscais, de privilégios jurídicos e de recursos financeiros para a construção de templos. “Esse tipo de relação, vale registrar, antecede Constantino. Já é possível identificar o movimento de aproximação entre Igreja e Império desde meados do século III. Em 270, por exemplo, um bispo pediu ao imperador Aureliano que este revertesse a decisão conciliar que o havia afastado da igreja de Antioquia, no que foi atendido. O dado interessante é que o referido imperador, além de pagão, determinou mais tarde uma perseguição aos cristãos, que acabou fracassada, uma vez que ele morreu antes do início das ações”, relata. O principado de Constantino, conforme o autor da dissertação, é emblemático no que se refere à análise da relação entre Igreja e Império justamente porque o imperador foi o primeiro a se declarar cristão. “Durante o período em que ele esteve no poder, porém, não ocorreu uma ruptura com um suposto passado idílico no qual os cristãos teriam rejeitado todo e qualquer contato

O historiador Robson Della Torre: “Temos vários indícios na documentação de que os representantes da Igreja se dirigiam com certa frequência ao imperador para pedir a concessão de benefícios ou a ratificação de direitos ancestrais da Igreja”

Ilustração do bispo palestino Eusébio de Cesaréia, em cujos escritos o trabalho do pesquisador se baseou

Anverso de moeda de Constantino, cunhada por volta do ano de 315 na cidade de Ticinum, atual Pávia, na Itália

Cabeça de uma estátua colossal do imperador Constantino, cujos fragmentos que restaram estão expostos no museu capitolino, em Roma

com os poderes constituídos, mas sim o ápice de um processo que já vinha em curso, principalmente por iniciativa clerical”, defende Della Torre. Com Constantino, prossegue o historiador, ocorre uma maior abertura aos cristãos. Cria-se, por exemplo, um novo corpus legislativo para tratar de ações da Igreja. “É importante notar que essa abertura seria em vão se não houvesse o interesse da Igreja em participar e se não houvesse esse histórico de busca pelo poder imperial para defender seus interesses”, insiste. De acordo com Della Torre, Constantino também foi o primeiro imperador a isentar os clérigos de obrigações civis, como prestar serviços públicos. A justificativa apresentada por ele era de que os religiosos não precisavam deixar suas obrigações com Deus para cumprir tais tarefas. A despeito de as comunidades cristãs terem conquistado

inúmeras vantagens junto ao poder imperial no período considerado, a relação entre as instituições nem sempre era tranquila, como assinala o autor da dissertação. No final do século IV e início do V, a negociação entre as partes, dependendo do tema em questão, era bastante espinhosa. Um exemplo nesse sentido era confisco dos templos pagãos, que em alguns casos eram revertidos para a Igreja. “O Império tinha dificuldade de atender a esse tipo de interesse dos clérigos porque os pagãos eram súditos como quaisquer outros. Eles pagavam seus impostos e não ofereciam problema ao poder constituído. No começo do século V, o imperador Arcádio se negou a atender esse tipo de pedido, justificando que a medida poderia gerar tumulto, uma vez que os pagãos cumpriram seus deveres normalmente”, explica Della Torre. Ainda segundo a leitura pro-

posta pelo pesquisador, embora a aproximação entre Igreja e Império tenha se dado fundamentalmente por iniciativa da primeira, o segundo também auferia vantagens com essa relação. A principal delas, no entender de Della Torre, era o fato de os clérigos não provocarem tumulto, dado que tinham poder para isso. “Na época, não era raro as facções eclesiásticas digladiarem entre si, o que perturbava a ordem pública. Há um episódio ocorrido em Roma, em 366, no qual dois candidatos ao episcopado se enfrentaram no interior de uma igreja. Segundo os relatos de um autor pagão, o resultado do confronto foi a morte de 3mil pessoas. Ou seja, o Império tinha todo o interesse de que esses acontecimentos não se repetissem. Em outras palavras, o poder imperial esperava que a Igreja adotasse uma posição conciliadora e não trouxesse problemas”. Na opinião de Della Torre, ao lançar o olhar para os acontecimentos do século IV, é possível compreender melhor as questões de hoje. “Penso que um ponto importante do trabalho é justamente pensar como as igrejas já lidaram de modo diferente com o

poder secular. Atualmente, a relação das igrejas com as diferentes esferas de governo se dá de forma direta, entre bispos, padres e pastores e as autoridades constituídas. Há uma defesa de interesses muito particular. Eu não vejo, como ocorria no século IV, as igrejas mobilizando fiéis para fazer valer os interesses da comunidade. Exceto no caso da última eleição presidencial, em que o tema do aborto deu o tom dos debates e obrigou as igrejas a se manifestarem publicamente a respeito, a relação entre as partes se dá de modo mais restrito”, considera. De certa forma, continua o historiador, esse novo modelo de relacionamento advém do movimento reformista cristão, que estabeleceu uma clara divisão entre Igreja e Estado, o que não havia no século IV. A pesquisa desenvolvida por Della Torre, como já mencionado, foi baseada fundamentalmente nas obras de Eusébio de Cesaréia, que produziu vários textos sobre o imperador Constantino. “Tentei relacionar essas obras com a produção literária mais ampla de Eusébio. Além disso, também usei documentos que me permitissem confrontar ou ampliar o que ele registrou, como os escritos de historiadores eclesiásticos do século V. Por fim, utilizei ainda tratados teológicos e textos de autores pagãos, bem como breviários dos século IV”, elenca o autor da dissertação. O trabalho acadêmico, assinala Della Torre, está vinculado ao grupo de pesquisa do Laboratório de Estudos Medievais (Leme), que envolve, além da Unicamp, USP, Unifesp e UFMG. “A atuação do grupo é muito importante porque congrega outros estudos relativos a essa temática. Tenho colegas pensando a relação entre Igreja e Império a partir de outras perspectivas”, observa o historiador, que contou com bolsas concedidas em períodos distintos pelo Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

............................................................. ■ Publicações

Dissertação: “A atuação pública dos bispos no principado de Constantino: as transformações ocorridas no Império e na Igreja no início do século IV através dos textos de Eusébio de Cesaréia” Autor: Robson Murilo Della Torre Orientadora: Neri de Barros Almeida Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Financiamento: CNPq e Fapesp

.............................................................


10 Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

aa c dêi ma c

Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011

Painel da semana  Quando a sociologia se submete à análise sociológica – Seminário será realizado no dia 24 de outubro, às 9 horas, no auditório do Instituto de Economia (IE). A realização é do Grupo de Pesquisa do Departamento de Ciências Sociais na Educação (Decise) da Faculdade de Educação (FE). Da abertura do evento participam os professores Vicente Rodriguez, chefe Departamento em Ciências Sociais da Faculdade de Educação (FE); Ronaldo Pilli, pró-reitor de Pesquisa; Euclides de Mesquita Neto, pró-reitor de Pós-graduação; Dario Fiorentini, coordenador de Pós-graduação da FE, e Valeriano Costa, coordenador Pós-graduação em Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Apoio: Fapesp/CNRS. Mais informações no blog http:// gepedisc.blogspot.com  Projeto InterPARES - O 9º Encontro Plenário TEAM Brasil do Projeto InterPARES 3 ocorre no dia 24 de outubro, a partir das 14 horas, na Casa do Professor Visitante (CPV) da Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp). O evento prossegue até o dia 26. Mais informações: 19-3521-6439 (Fábio).  Processamento de sinais - O II Simpósio de Processamento de Sinais da Unicamp acontece nos dias 24 e 25 de outubro, na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), a partir das 9 horas. O objetivo é reunir professores, estudantes e pesquisadores da Unicamp, que trabalham na área de processamento de sinais. O evento é uma iniciativa de alunos da pós-graduação e de pesquisadores da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC). Confira a programação no link www.sps.fee.unicamp.br. Outras informações: 19-3521-3823.  Conpuesp - O Congresso dos Profissionais das Universidades Estaduais de São Paulo (Conpuesp) acontece nos dias 25 e 26 de outubro, no auditório Simom Bolívar do Memorial da América Latina em São Paulo-SP. O evento é organizado pela Unicamp, pela USP e Unesp. Inscrições e outras informações no site: www.conpuesp.com.br  Corpo e (pós) trabalho no cinema cubano - O Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) recebe, dia 25 de outubro, às 14 horas, o professor Júlio Ramos, da Universidade da Califórnia (Berkeley). Em seminário, ele aborda o tema “Corpo e (Pós) Trabalho no Cinema Cubano”. O evento ocorre na sala CL05 do IEL Informações: 19-3521-1704.  Palestra com Theo Guenter - O professor Theo Guenter Kieckbusch, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, ministrará palestra durante a realização do Workshop “Avanços Tecnológicos na Qualidade e Estabilidade de Chocolates”. O evento será realizado no dia 25 de outubro, das 8h30 às 17h30, no auditório Décio Dias Alvim do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL). Pesquisadores, professores, alunos de Pós-graduação e profissionais da área são o público-alvo do evento. Inscrições gratuitas pelo e-mail workshopchoco@feq.unicamp.br. Outras informações: 19-3289-1186.  Concerto de Primavera - O Coral do Instituto Cultural Canarinhos da Terra realiza no dia 25 de outubro, no Centro de Convivência Cultural de Campinas, o Concerto da Primavera 2011 “Moisés Príncipe do Egito”. Às 15 horas, o público-alvo são as escolas e projetos sociais.

Às 20h, o concerto destina-se ao público em geral. O Centro de Convivência Cultural fica na Praça Imprensa Fluminense s/n, no bairro do Cambuí, em Campinas-SP. Mais informações: 19-3249-0583.  Palestra com Renato Werneck - Parte da série Jovens Talentos da Matemática Contemporânea, no dia 25 de outubro, às 16 horas, Renato Werneck fala sobre “Caminhos mais curtos em malhas rodoviárias: teoria e prática”. O encontro ocorre no auditório do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc). Werneck ingressou na Unicamp em primeiro lugar (1995) com a maior média registrada até hoje. Saiu do Instituto de Computação (IC) em primeiro lugar com o maior coeficiente de rendimento desde a criação da Unicamp em 1966. Recebeu premio do Mérito Científico e Tecnológico pelo Estado de São Paulo por sua participação no Projeto de Sequenciamento do Genoma do Fitopatógeno Xylella Fastidiosa. Também foi Research Assistant da Princeton University até a conclusão de seu doutorado em Computação. Atualmente desenvolve atividades como pesquisador da Microsoft Research Labs (Silicon Valley). Outras informações: 19-3521-5937.  Projeto Saiba Mais - No dia 25 de outubro, das 12 às 13h30, na sala CB-18 do Ciclo Básico, acontece mais uma palestra do Projeto Saiba Mais do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE). Desta vez, a professora Maria Teresa Rodrigues fala sobre as possibilidades de carreira e desenvolvimento pessoal, que a universidade disponibiliza aos alunos de graduação, através das atividades extra-curriculares. Mais informações pelo e-mail projecta@sae.unicamp.br  Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp - O XIX Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp será realizado nos dias 26 e 27 de outubro, no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp (GMU). A cerimônia de abertura, que inclui apresentações artísticas nos três auditórios do GMU, ocorre às 14 horas. Na quarta-feira (26), haverá a exposição de 624 painéis das áreas de Exatas e Tecnológicas e também do PIC-Júnior. Quinta (27), os 676 painéis em exposição serão das áreas de Artes, Biológicas e Humanas. O Congresso é promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) e pela Pró-Reitoria de Graduação (PRG). Mais informações no site www.prp.rei.unicamp. br/pibic/congressos/xixcongresso/  Conversando sobre a Graduação - Maria Benigna de Freitas Villas Boas, coordenadora do grupo de pesquisa Avaliação e Organização do Trabalho Pedagógico e professora da Universidade de Brasília (UnB) é a próxima convidada do Conversando sobre a Graduação, evento organizado pela Pró-reitoria de Graduação (PRG). No dia 26 de outubro, às 12h30, na sala CB05 do Ciclo Básico I, ela aborda o tema “Avaliação das aprendizagens na universidade: teoria e prática”. O evento é aberto ao público. Villas Boas é organizadora dos livros Avaliação: políticas e práticas e Avaliação formativa: práticas inovadoras, ambos da editora Papirus, e autora de Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico (2004), Virando a escola do avesso por meio da avaliação (2008) e Projeto de intervenção na escola: mantendo as aprendizagens em dia (2010), todos da editora Papirus. O objetivo do “Conversando sobre a Graduação” é promover conversas a respeito de temas que têm importância para o desenvolvimento dos cursos de graduação, tais como: avaliação, composição do currículo, vetores, entre outros.  Workshop de propriedade Intelectual - No dia 26 de outubro, a Agência de Inovação Inova Unicamp realiza o workshop “Experiências em Transferência de Tecnologia a partir de Propriedade Intelectual”. O evento ocorre no auditório do Instituto de Química (IQ), das 9 às 12 horas, e tem a finalidade de ampliar e fortalecer a difusão das informações sobre a influência das parcerias estratégicas na gestão e comercialização de Propriedade Intelectual. A palestrante convidada é Renée Ben Israel, vice-presidente de Propriedade Intelectual da Companhia de Transferência de Tecnologia a Yissum da Universidade Hebraica de Jerusalém. Ela falará sobre parcerias estratégicas e sua influência na gestão e comercialização de Propriedade Intelectual. O evento é voltado para a comunidade acadêmica, profissionais de NIT e pesquisadores. As inscrições, já abertas, são gratuitas e podem ser feitas no link www.inova.unicamp.br/ site/06/paginas/visualiza_conteudo.php?conteudo=166. As vagas para o workshop são limitadas.  Seminário internacional - O Grupo de Trabalho “Multilinguismo no Mundo Digital” e Grupo de Trabalho REA/Educação Aberta, ambos da Unicamp, promovem nos dias 27 e 28 de outubro, no Auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), o “Seminário Internacional Educação, Cultura e Recursos Abertos: compartilhando conhecimentos através de fronteiras”. O evento tem como objetivo discutir dois temas interligados. O primeiro é a produção de recursos digitais, partindo do

movimento Recursos Educacionais Abertos (REA). O segundo é a disseminação e inserção destes recursos em espaços que fomentem a equidade de acesso e liberdade de aprendizado para todos fazendo uso das mais variadas tecnologias de informação e comunicação (como a Internet). Mais informações no endereço www. educacaoaberta.org/rea/eventos/simposio.  Palestras sobre propriedade intelectual - No âmbito do Congresso de Iniciação Científica da Unicamp, a Agência de Inovação Inova Unicamp promove, dia 27 de outubro, a realização de duas palestras relacionadas à propriedade intelectual e iniciativas de empreendedorismo na Universidade. O evento será realizado às 13 horas, no auditório 1 do Centro de Convenções da Universidade e é voltado aos alunos da graduação e pós-graduação da Unicamp. Os palestrantes do evento são Gabriel Gustavo Guinon, analista de Propriedade Intelectual da Inova Unicamp, e Virgilio Ferreira Marques dos Santos, coordenador técnico do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica. Haverá sorteio de kits da Inova para participantes inscritos na palestra e presentes no evento. Inscrições e outras informações no link www.inova.unicamp.br/paginas/visualiza_conteudo. php?conteudo=168  Lançamento - O lançamento do livro Mobilidade Humana e Diversidade Sócio-cultural, das professoras Débora Mazza e Olga von Simson (org.) acontece no dia 27 de outubro, às 16 horas, no Espaço Cultural Casa do Lago. Após o lançamento haverá apresentação da Orquestra Sinfônica da Unicamp (OSU).  Vestibulinho 2012 do Cotuca - O Colégio Técnico de Campinas (Cotuca) recebe, até 31 de outubro, as inscrições para o seu Vestibulinho de 2012. Elas podem ser feitas na página eletrônica http://examesel.cotuca. unicamp.br/. São 785 vagas, em 21 opções de cursos. A taxa é de R$55. O Vestibulinho será realizado em 4 de dezembro. Para esta edição, a novidade é que as provas ocorrerão no período da tarde, das 14 às 17h30. Elas serão realizadas em 130 salas, localizadas em 10 prédios, no campus da Unicamp, em Barão Geraldo. Os candidatos devem se apresentar nos locais com uma hora de antecedência. Leia mais: www.unicamp.br/ unicamp/divulgacao/2011/08/19/cotuca-abre-inscricoespara-o-vestibulinho-2012-no-dia-1-de-setembro  Logotipo para o IB - Até 31 de outubro, o Instituto de Biologia (IB) receberá as inscrições ao concurso para a criação de seu logotipo. O Edital com o regulamento pode ser acessado no hotsite www.unicamp.br/unicamp/ unicamp_hoje/sala_imprensa/concursologotipoib.pdf.. Outras informações pelo telefone 19-3521-6358.  Doutorado em Ambiente e Sociedade - O Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) recebe, até 3 de novembro, as inscrições para o seu curso de doutorado em Ambiente e Sociedade de 2012. Elas podem ser feitas mediante preenchimento de formulário eletrônico https://www1.sistemas.unicamp. br/siga/ingresso/candidato/preencher_inscricao_curso_pos_graduacao.xhtml?cid=22. Outras informações: 19-3521-7690.  PRG recebe inscrições para o ProFIS - A PróReitoria de Graduação (PRG) recebe, até 4 de novembro, as inscrições para o seu Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS). Elas podem ser feitas no link http://www.prg.unicamp.br/profis/ficha. html e são gratuitas.

Eventos Futuros  Seminário - O Núcleo de Estudos de População (NEPP) organiza no dia 31 de outubro, a partir das 9 horas, no auditório da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL), o seminário “Renda Básica de Cidadania e Proteção Social”. Ana Maria Medeiros da Fonseca, Secretária Extraordinária para Superação da Extrema Pobreza do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Eduardo Suplicy, senador da República (PT-SP), e Lena Lavinas, professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), participam do evento. Às 12h30 será lançado o CD “Transferência de Renda no Âmbito Municipal no Brasil: Renda Básica de Cidadania em Santo Antonio do Pinhal” (Convênio CAF/Unicamp). Mais informações: 19-3521-2499.  Construindo a Ouvidoria no Brasil: avanços e perspectivas - A publicação será lançada no dia 31 de outubro, às 9 horas, no cine Olido, em São Paulo (Av. São João 473), ocasião em que serão celebrados os dez anos da Ouvidoria Geral do Município de São Paulo e da Associação Brasileira de Ouvidores/ombusdman (ABO-SP). O livro traz uma coletânea de trabalhos apresentados durante a realização de um curso de ouvidoria, oferecido pelo Instituto de Economia (IE) da

Unicamp. Os organizadores da publicação são: Adriana Eugênia Alvim Barreiro, ouvidora da Unicamp; José Roberto Rus Perez, professor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp); e Éric Passoni, pesquisadorassociado do NEPP. Mais informações: 19-3521-4062.

Livro

da semana

Tese da semana  Biologia - “Distribuição espacial de Briófitas na Floresta Atlântica, Sudeste do Brasil” (doutorado). Candidata: Nivea Dias dos Santos. Orientadora: professora Luiza Sumiko Kinoshita. Dia 26 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da Pós-graduação do IB. -“Revisão taxonômica de Gaylussacia Kunth (Ericaceae) e estudos da filogenia do gênero” (doutorado). Candidato: Gerson Oliveira Romão. Orientador: professor Vinicius Castro Souza. Dia 27 de outubro, às 14 horas, na sala IB-11 da Pós-graduação do IB.  Economia - “Equacionamento e simulação do processo de polimerização hidrolítica de Nylon-6 em um reator semi-batelada” (mestrado). Candidata: Vanessa Ito Funai. Orientador: professor Rubens Maciel Filho. Dia 25 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses (Bloco D).  Educação Física - “Estado nutricional e qualidade de vida de escolares de 7 a 10 anos de idade de municípios da Região Metropolitana de Campinas” (doutorado). Candidata: Estela Marina Alves Boccaletto. Orientador: professor Roberto Vilarta. Dia 27 de outubro, às 9 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Sistema de comunicação de dados pela rede elétrica, de baixo custo, aplicado a uma rede de medidores individuais de energia elétrica residencial: concepção do circuito, protótipo e testes” (mestrado). Candidato: Douglas Airoldi. Orientador: professor José Antonio Siqueira Dias. Dia 24 de outubro, às 14 horas, na sala de teses da CPG/FEEC. - “Abordagem neuro-genética para recuperação de padrões. Caso de estudo: reconhecimento de gestos em ambientes inteligentes” (doutorado). Candidata: Ana Beatriz Alvarez Mamani. Orientador: professor José Raimundo de Oliveira. Dia 27 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEEC.  Engenharia Química - “Simulação de uma coluna de destilação de Bioetanol com recheios e pratos visando otimização nas dimensões” (mestrado). Candidato: Felipe Abirached. Orientadora: professora Maria Regina Wolf Maciel. Dia 25 de outubro, às 9 horas, na sala de defesa de teses da FEQ. - “Estudo do comportamento da resina base na formulação de compósitos de politetrafluoroetileno com bronze” (mestrado). Candidato: Ronaldo Euzebio Bento. Orientador: professor João Sinezio de Carvalho Campos. Dia 27 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses (Bloco D). - “Valoração dos produtos ultrapesados provenientes da destilação molecular de Petróleo” (mestrado). Candidato: Carlos Alberto Gordillo Cellis. Orientador: professor Rubens Maciel Filho. Dia 27 de outubro, na sala de defesa de teses (bloco D).  Física - “Do Metal ao Carbono: propriedades estruturais e de transporte de novas nanoestruturas” (doutorado). Candidato: Pedro Alves da Silva Autreto. Orientador: professor Douglas Soares Galvão. Dia 25 de outubro, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.  Geociências - “As praças públicas do centro de Ilhéus–BA; usos, funções e conflitos sociais” (mestrado). Candidato: Evaldo Nascimento Borges. Orientadora: professora Arlêude Bortolozzi. Dia 26 de outubro, às 9 horas, no DGRN/IG.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “Equações diferenciais fuzzy com parâmetros interativos” (doutorado). Candidato: Valtemir Martins Cabral. Orientador: professor Laécio Carvalho de Barros. Dia 24 de outubro, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. n Odontologia - “Análise da função do sistema de dois componentes vicrk na biologia de streptococcus sanguinis” (doutorado). Candidata: Julianna Joanna de Carvalho Moraes. Orientadora: professora Renata de Oliveira Mattos Graner. Dia 25 de outubro, às 14 horas, na sala da congregação da FOP. - “Análise comparativa das características clinicopatológicas e imunoistoquímicas dos cistos gengival do adulto, periodontal lateral e odontogênico glandular” (doutorado). Candidato: Mario José Romañach Gonzalez Sobrinho. Orientador: professor Fábio Pires. Dia 27 de outubro, às 14 horas, na sala da congregação da FOP.

A técnica do pensamento Meditação, retórica e a construção de imagens (400-1200) Autora: Mary Carruthers Tradução: José Emílio Maiorino Ficha técnica: 1a edição; 2011; 472 páginas; formato 16 x 23 cm; peso: 0,67 kg ISBN: 978-85-268-0937-6 Coleção Espaços da Memória Área de interesse: Antropologia, História e Sociologia Preço: R$ 80,00 Sinopse: Esta obra de Mary Carruthers ilumina de modo novo e original a tradição da arte da memória. A autora, dentro da tradição dos estudos da memória iniciada por Frances Yates, em sua obra fundamental A arte da memória (também publicada pela coleção Espaços da Memória), aponta para questões até agora pouco estudadas. Ela mostra a importância da criatividade e da imaginação nos exercícios de memória monásticos da Idade Média. Assim, compreendemos por que Mnemosyne pode ser considerada a mãe de todas as musas e, portanto, das artes. Carruthers revela a memória como uma de nossas mais importantes e essenciais faculdades, que está longe de ser apenas um arquivo estanque. Lendo este livro, compreendemos melhor o papel das imagens em nosso conhecimento, tema cada vez mais atual. Autora: Mary Carruthers é uma das maiores autoridades nos estudos da tradição retórica da memória, clássica e medieval. Seus trabalhos, com destaque para esta obra agora publicada e para seu seminal The Book of Memory (Cambridge, 2008), têm influenciado diversas áreas. Carruthers obteve sua graduação no Wellesley College (1961) e seu doutorado em Yale (1965), em língua e literatura inglesas, sendo que seu estudo enfocou a tradição da cultura latina. Desde 1991, é professora de literatura na New York University.

DESTAQUES do Portal da Unicamp

Ozires Silva aconselha que alunos busquem a competência 17/10/2011 – Competência. É este o diferencial que os graduandos de engenharia civil da Unicamp devem buscar para se colocar no mercado de trabalho em tempos de globalização, na opinião de Ozires Silva, fundador da Embraer, ex-presidente da Petrobras e da Varig, ex-ministro da Infraestrutura, reitor da Unimonte e presidente da Pele Nova Biotecnologia. “Tentarei pintar um quadro do ambiente que esses jovens vão enfrentar. Nos últimos 30 ou 40 anos, o mundo mudou de forma extraordinária, por força da globalização, filha direta da comunicação instantânea. Talvez eles não tenham ideia de que hoje a concorrência é global, que não concorrerão somente com brasileiros, mas também com profissionais de países tradicionais e emergentes. E, nesse processo, a competência é um diferencial que pode trazer vantagens competitivas.” Ozires Silva foi convidado para a conferência de abertura da 15ª Semana de Engenharia Civil (SECXV) da Unicamp, sob o tema “Uma nova década, um novo Brasil”, na manhã desta segunda-feira, no auditório da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). O evento foi até o dia 21 e é realizado em parceria entre a Projec (Projetos Júnior em Engenharia Civil) e o Centro Acadêmico (CAXD), com o objetivo de agregar valores aos graduandos e aproximá-los do mercado de trabalho. Para mostrar que é possível obter êxito na sociedade do conhecimento, o ex-ministro deu o exemplo da Embraer. “Há 40 anos,

Foto: Antonio Scarpineti

não se imaginava que o Brasil seria capaz de fabricar aviões comerciais que voariam por todos os outros países, com uma empresa absolutamente competitiva. Várias concorrentes desapareceram, enquanto a Embraer se mantém saudável, demonstrando que embora o país seja complicado, é possível. A mensagem que desejo transmitir aos jovens é que escolham o caminho da competência e estudem bastante para ter êxito no mercado mundial”. Quanto a um novo Brasil nesta nova década, Ozires Silva alerta que o país ainda está perdendo a competição no campo mais crucial do mundo moderno, que é a educação. “Os indicadores produzidos por organizações competentes mostram como estamos atrás. O carro do ano no Brasil é coreano; as crianças coreanas passam o dia todo na escola, e as nossas, quatro horas no máximo; a escolaridade média do operário coreano é de doze anos, ao passo que a do operário brasileiro não chega a quatro. Não seremos a quinta economia mundial se não mudarmos um bocado o nosso sistema educacional. Não é pessimismo, é constatação da realidade”.

Programação

O estudante Álvaro Queiroz, coordenador de conteúdo da 15ª SEC , explica que a programação traz palestras, debates, minicursos, recrutamento de talentos e painéis sobre o crescimento do Brasil na próxima década, com foco nos projetos de infraestrutura e do mercado de construção para a

Ozires Silva: “A competência é um diferencial que pode trazer vantagens competitivas”

Copa do Mundo e da Olimpíada que o país vai sediar. “Moldamos o evento em cinco pilares da engenharia civil – grandes obras,

infraestrutura e transportes, planejamento hidro-energético, saneamento ambiental e urbanismo e habitação. Temos duzentos par-

ticipantes credenciados, mais os convidados de empresas e de outros institutos”. O professor Alberto Luiz Francato, coordenador de graduação do curso de engenharia civil, observa que a SEC já faz parte do calendário da FEC e que a temática escolhida para este ano era indispensável. “Vivemos uma nova realidade onde a engenharia civil, nos últimos vestibulares, se tornou o curso de engenharia mais procurado da Unicamp – e, no ano passado, foi o mais procurado do Brasil. Essa procura, certamente, se deve ao mercado de trabalho bastante promissor para a nova década, principalmente com os grandes eventos que o país vai sediar. No caso específico da FEC, isso se deve também à localização geográfica da Unicamp, ao trabalho dos docentes e à grande inserção dos engenheiros que formamos no mercado de trabalho; a empregabilidade é quase total”. A esse respeito, o professor Marcelo Knobel, pró-reitor de Graduação, acrescentou dados sobre o próximo Vestibular da Unicamp, que terá perto de 61.500 candidatos para 3.300 vagas. “Vemos um fenômeno que mostra como a sociedade responde com relativa rapidez às necessidades do país: quando o nosso vestibular se tornou independente em 1987, a engenharia civil tinha pouco mais de três candidatos por vaga, era um curso considerado de baixa demanda; hoje temos 47 candidatos por vaga, sendo um curso de alta demanda, com uma procura que cresceu 30% somente no último ano.” (Luiz Sugimoto)


11

Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011 Fotos: Antoninho Perri

Os professores Vitor Baranauskas (à esq.) e Elaine C. de Oliveira e o pesquisador Helder José Ceragioli: pesquisas interdisciplinares

Frascos contendo nanotubos de carbono: aplicação na área médica

Nanotubos de carbono poderão ser usados no combate a tumores Estudo aborda efeitos de nanomateriais nas células do sistema imunológico

A

CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

nanotecnologia é um campo relativamente novo e mais ainda a sua aplicação em medicina. Particularmente, o nanotubo de carbono (NT) constitui uma nova classe de material para aplicação na área biomédica. Seu diminuto tamanho permite que sejam internalizados por diferentes células. Embora vários trabalhos demonstrem a capacidade desses materiais ultrapassarem as membranas celulares, o mecanismo desse processo ainda não está bem elucidado. Estudos já realizados sugerem que a internalização dos NTs ocorra por meio de um receptor de membrana celular denominado Marco, que está ligado à remoção de partículas inertes e na ativação de resposta imune contra agentes infecciosos. Estudos prévios desenvolvidos pelo grupo no projeto NanoBioTecnologia-Capes-Unicamp demonstram que macrófagos e células do carcinoma pulmonar de Lewis internalizam os NTs de paredes múltiplas, assim chamados os constituídos por tubos concêntricos. Esses fatos e a existência de muitos trabalhos mostrando que essas nanopartículas entram no citoplasma das células, chegando até a atingir seu núcleo, motivaram Vania Daniela Ramos da Silva a desenvolver pesquisa com o objetivo de elucidar o mecanismo de internalização desses NTs por células de defesa do organismo e células de carcinoma pulmonar de Lewis e também sua relação com a expressão do receptor Marco. O trabalho deu origem à dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp. O estudo aborda ainda os efeitos desses nanomateriais nas células do sistema imunológico e em célula tumoral, fornecendo informações que possam futu-

ramente direcionar pesquisas que utilizem esses NTs como carreadores de drogas, especialmente as utilizadas na detecção prévia de tumores e no tratamento antitumoral. A elucidação do mecanismo de ação dos NTs pode possibilitar que drogas agregadas a eles atinjam mais diretamente as células tumorais, minimizando efeitos colaterais muito comuns na quimioterapia. Os resultados da pesquisa demonstram que as células dendríticas que expressam o receptor Marco em maior quantidade internalizam o NT de forma bastante eficaz. Os macrófagos que expressam menos esse receptor internalizam menores quantidades do nanomaterial. Já as células tumorais de linhagem de Lewis embora internalizem quantidade significativa dos NTs parecem não necessitar de um receptor especifico para isso, pois não expressam o receptor Marco. Os NTs de carbono de parede múltipla utilizados nas pesquisas foram sintetizados no Laboratório de Nanoengenharia e Diamante, do Departamento de Semicondutores, Instrumentos e Fotônica da FEEC pelo engenheiro químico e pesquisador Helder José Ceragioli, sob coordenação do professor Vitor Baranauskas, orientador do mestrado. A pesquisa contou com a coorientação da professora Elaine C. de Oliveira do Departamento de Saúde da Fatec de Sorocaba e pesquisadora colaboradora no Laboratório de Neuroimunologia do Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Ao lado de outros pesquisadores, ela compõe o grupo que na imunologia é coordenado pela professora Leonilda Maria Barbosa dos Santos e que se dedica principalmente ao estudo de doenças autoimunes. A diversificação profissional dos seus participantes atesta o caráter interdisciplinar do trabalho. O professor Vitor Baranauskas faz parte de um projeto maior desenvolvido no escopo da Rede Nanobiotec-Brasil da Capes que visa à formação qualificada na área de nanotecnologia. Ele coordena na Unicamp o grupo de nanotecnologia aplicada à área médica e biológica, que produz as nanopartículas na FEEC e co-coordena com professores do IB pesquisas relacionadas à nanobiologia nas áreas celular, de imunologia, parasitologia, bacteriologia e microbiologia.

Promessas A elucidação dos mecanismos de ação dos NTs sinaliza com a promessa de que substâncias antitumorais acopladas a eles

possam ser levadas diretamente às células doentes por meio da corrente sanguínea. Isto seria facilitado porque o tumor forma um microambiente próprio que provoca o aumento muito grande de vasos sanguíneos, ávidos por nutrientes. Embora diversos trabalhos apontem nessa direção, não se sabe se existe um receptor específico que atua sobre essas partículas ou se simplesmente elas acabam passando pelas membranas celulares por difusão. A proposta, diz Elaine, foi desvendar o mecanismo de entrada dos NTs para então entender a influência que teria sobre eles o acoplamento de moléculas muito grandes que, como se sabe, não conseguem passar através das membranas celulares por difusão. Se isso ocorre é porque deve existir um mecanismo específico que garanta essa entrada. Vania teve como objetivo em seu trabalho estudar se a ação do receptor Marco seria responsável por levar para dentro das células essas partículas e verificar se a linhagem da célula tumoral selecionada expressa esse receptor, o que evidenciaria essa possibilidade. A questão primordial envolve a elucidação das razões que fazem as partículas introduzidas chegarem preferencial e seletivamente aos sítios desejados. A dificuldade maior está no sistema imunológico em que as células fagocíticas eliminam todos os corpos estranhos ao organismo, sejam bactérias ou vírus. Elaine afirma que esse é o maior problema com os NTs que não passam despercebidos na corrente sanguínea: “O nosso trabalho procura elucidar como ocorre a entrada dessas partículas nas células, quantas são fagocitadas e quantas chegam ao alvo, no caso o tumor”. A pesquisa foi realizada in vitro e os nanotubos foram corados com uma substância vermelha que se liga a eles de forma a permitir detectar sua presença e concentração no interior das células. Os resultados mostraram aos pesquisadores que as células tumorais estudadas internalizam os nanotubos, embora não expressem o receptor Marco. Nessas células o crescimento tumoral diminui e aparentemente a célula tem diminuída a capacidade de replicar. A explicação aventada é que isso ocorre porque a internalização dos NTs acaba influindo no mecanismo natural da célula tornando o metabolismo mais lento, o que leva progressivamente a célula à morte. Elaine lembra que em outros trabalhos do laboratório poderão vir a ser estudados os mecanismos envolvendo NT em que forem acopladas determinadas drogas. Para ela, o estudo realizado vai permitir

que se verifique a possibilidade de uma determinada substância agregada chegar à célula. Por ora, afirma, “sabemos que as nanopartículas inibem a propagação do tumor. Os nanotubos ativam a resposta imune de forma que ela se volte contra o tumor. Já publicamos artigo mostrando que quando os nanotubos entram nas células ocorre a liberação de mediadores que são importantes na ativação do sistema imune contra o tumor”. O trabalho levou os pesquisadores a concluir que esses NTs não são inertes e que os macrófagos os atacam e liberam mediadores que são inflamatórios que no caso dos tumores se revelam benéficos. Eles consideram que há necessidade de controlar a dose dos nanotubos administrada, o que possivelmente resultará no controle da resposta imune, de maneira a não inviabilizar o ataque aos tumores e não causar danos às células sadias. Pouco ainda se conhece dos mecanismos responsáveis por iniciar este processo e por isso o grupo está estudando se o receptor Marco juntamente com os nanotubos de carbono seria o desencadeador desse processo quando internalizado pelas células do sistema imune. O grupo de estudo conclui que os nanotubos são internalizados pelas células tumorais de Lewis, porém não necessitam do receptor Marco para isso; os nanotubos não se comportam como uma molécula totalmente inerte em relação ao sistema imune, provocando a produção de substâncias inflamatórias; a atividade de macrófagos e células dendríticas é modificada após o contato com os nanotubos, mesmo não sendo partículas orgânicas. Sobre o alcance do estudo, Ceragioli lembra que além das nanopartículas serem consideradas excelentes carreadores de drogas, existem pesquisadores trabalhando com elas com o objetivo de ligá-las a determinadas substâncias utilizadas como contraste na realização de exames, de forma que seja mais eficientemente internalizadas pelas células, e possibilitem uma detecção mais específica em tumores através de tomografia ou ressonância magnética, o que atualmente não é possível na fase inicial de tumores.

...................................................................... ■ Publicação

Dissertação: “Expressão do receptor MARCO em macrófagos, células dendríticas e células tumorais após internalização de nanotubos de carbono” Autora: Vania Daniela Ramos da Silva Orientador: Vitor Baranauskas Coorientadora: Elaine C. de Oliveira Unidades: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) e Instituto de Biologia (IB)

......................................................................


12 Jornal daUnicamp Campinas, 24 a 30 de outubro de 2011

SOUL Capas de três álbuns da Black Rio: trabalhos privilegiaram a música instrumental

A

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

Banda Black Rio, formada originalmente em 1976 no Rio de Janeiro, conquistou notoriedade tanto no Brasil quanto no exterior ao promover uma fusão nada trivial de gêneros musicais brasileiros, como o samba, o choro e o baião, com elementos do jazz, do soul e do funk. Essa sonoridade híbrida e original expressa, em certa medida, o contexto histórico, social e político do período, no qual o país experimentava um regime político autoritário, presenciava o desenvolvimento da indústria cultural e testemunhava o surgimento de novas identidades geracionais e étnicas. As constatações estão na dissertação de mestrado da musicista Eloá Gonçalves, apresentada recentemente ao Instituto de Artes (IA) da Unicamp, sob a orientação do professor José Roberto Zan. A pesquisa de Eloá concentrou-se na primeira formação da Banda Black Rio, que durou oito anos. De acordo com ela, o grupo foi constituído originalmente por músicos cariocas que vinham da tradição do samba e da gafieira, mas que também tinham passagens pela música instrumental. “Eles tinham certo refinamento. Com frequência, faziam abordagens jazzísticas na execução de várias obras”, afirma. Naquele momento, continua a autora da dissertação, aspectos da black culture norte-americana começavam a influenciar o pensamento e o comportamento da juventude brasileira, notadamente a de origem negra, que, ao tomar conhecimento das conquistas pelos direitos civis dos negros norte-americanos, passou a esboçar uma tentativa de reafirmação de sua identidade étnica. Nessa época, jovens do Rio de Janeiro, por exemplo, costumavam frequentar bailes animados pelo soul e o funk. Um dos mais famosos foi o Baile da Pesada, que nasceu na Zona Sul, mas logo foi deslocado para a Zona Norte da cidade, onde fez enorme sucesso. “O Baile da Pesada chegava a reunir, em meados da década de 70, até 15 mil pessoas, que apresentavam uma forma própria de falar, vestir e dançar, fortemente baseada na black culture americana”, relata a pesquisadora. Toda essa movimentação, conforme Eloá, começou a chamar a atenção da imprensa. Em dada ocasião, a jornalista Lena Frias publicou no Caderno B do Jornal do Brasil um artigo intitulado Black Rio: o orgulho (importado) de ser negro no Brasil, o que lançou definitivamente luz sobre o que passou a ser considerado por alguns como uma espécie de movimento negro. Assim que ganhou a mídia, a agitação também passou a despertar o interesse da indústria fonográfica. A novidade fez com que o setor enxergasse um mercado promissor para aquele tipo de sonoridade. Dessa forma, tentou-se criar um “soul à brasileira” a partir de lançamentos de artistas nacionais que tivessem suas produções baseadas em elementos da black music. Como consequência, surgiram artistas como Carlos Dafé, Cassiano e Hyldon,

à brasileira

Foto: Antoninho Perri/Reprodução

A musicista Eloá Gonçalves: “Os integrantes do grupo sofriam forte influência da música negra norte-americana, mas não estavam interessados somente em fazer uma cópia dela”

entre outros. “Foi nesse contexto que a Banda Black Rio também foi formada, mas com uma linguagem musical própria. Os integrantes do grupo sofriam forte influência da música negra norte-americana, mas não estavam interessados somente em fazer uma cópia dela”, pontua Eloá. A postura da Banda Black Rio, destaca a musicista, não se encaixava na crítica de determinada corrente, segundo a qual o samba-soul seria somente uma imitação da música norte-americana e um sinal de subserviência ao imperialismo yankee. “Os músicos da Banda Black Rio admitiam a sua admiração por artistas como James Brown, Earth, Wind & Fire e Kool & the Gang, entre outros. Ocorre que, como já dito, eles fundiram, com muita propriedade, elementos da música negra norte-americana com vários gêneros brasileiros. Dessa fusão resultou uma nova musicalidade, que acabou por conquistar artistas de fora. Os próprios integrantes da Earth, Wind & Fire se disseram fãs da Banda Black Rio e ajudaram a divulga-la lá fora. O grupo norteamericano tem inclusive uma composição baseada na sonoridade da Black Rio e nas canções de Milton Nascimento, intitulada ‘Brazilian Rhyme’. Ainda hoje, o grupo brasileiro é muito respeitado no exterior, onde seus discos seguem sendo reeditados e vendidos a preços elevados”, informa Eloá. Ao entrevistar o então presidente da

Warner Music do Brasil (WEA), André Midani, Eloá confirmou que o interesse da gravadora pela black music surgiu por causa de eventos como o Baile da Pesada e das Noites do Shaft, realizadas no Clube Renascença, também no Rio de Janeiro. “Como a black music vivia um período de efervescência no país, Midani me contou que a gravadora viu a oportunidade de investir no gênero, mas, no caso específico da Black Rio, de uma forma mais ousada, ou seja, valorizando a música instrumental a partir daquela tendência”. Não por acaso, o primeiro álbum da Black Rio, intitulado Maria Fumaça, foi inteiramente instrumental, composto por dez faixas, sendo algumas releituras de composições consagradas do cancioneiro nacional, como alguns choros, e outras composições próprias.

Refinamento Neste disco, diz a musicista, é perceptível a preocupação dos integrantes do grupo com os arranjos, todos muito refinados. “As músicas têm o lado pesado do funk, o groove da bateria e do baixo, os riffs de guitarra bem suingados e também um traço mais soft do jazz, tudo mesclado com um ‘tempero’ de gafieira. Isso sem contar as rajadas de metais à la Motown”, detalha ela, numa referência à Motown Records, gravadora responsável pela produção de alguns dos maiores sucessos da música

negra americana a partir dos anos 60. Depois deste disco, o grupo gravou mais três: Gafieira Universal, Saci Pererê, e Bicho Baile Show. Este último foi derivado de uma bem-sucedida temporada de shows com Caetano Veloso, a convite do próprio cantor. A partir do segundo álbum, porém, a sonoridade da banda sofreu modificações, ainda que a qualidade musical tenha sido mantida, de acordo com a autora da dissertação. No entendimento de Eloá, essa mudança se deu por causa da interferência da indústria fonográfica. “Não acredito que a gravadora tenha forçado uma guinada, mas ela deve ter exercido uma influência indireta. Digo isso porque o segundo álbum deixou de ser totalmente instrumental para incluir algumas canções. O terceiro já foi praticamente todo de canções. Penso que essa mudança foi feita com o intuito de conquistar mais mercado”, arrisca. Nessa fase, prossegue a pesquisadora, a banda experimentou a saída de alguns integrantes e a entrada de outros, como os vocalistas e um número maior de percussionistas. O período de atuação da primeira formação da Black Rio coincidiu com uma etapa violenta da ditadura militar brasileira. A despeito disso, o grupo não usou a sua arte para promover um protesto engajado contra o regime, segundo apurou Eloá. “Eu entrevistei a Livia Stevenson, irmã do Cláudio Stevenson, guitarrista da banda, que me disse que o trabalho da Black Rio não teve conotação política. O único momento em que isso parece ter acontecido foi por ocasião do lançamento da música Mel do Figueiredo, mas de forma sutil. O título fazia referência tanto ao presidente João Batista Figueiredo quanto a uma gíria em vigor, segundo a qual Figueiredo era o mesmo que fígado”, conta a musicista. Atualmente, conforme Eloá, a Black Rio tem outra formação, mas segue fazendo música de qualidade. O líder do grupo é William Magalhães, filho de um dos fundadores da banda, Oberdan Magalhães, já falecido. Brevemente, a Black Rio lançará um novo disco, o Super Nova Samba Funk, que tem a produção de Mano Brown, líder do grupo de rap Racionais MC’s. Eloá revela que teve bastante dificuldade para produzir o trabalho por causa da escassez de bibliografia sobre o tema no Brasil. “Por ser um campo recente de pesquisa, a música popular ainda carece de trabalhos a seu respeito. Minha dificuldade, que é a mesma de outros pesquisadores da área, foi falar de um assunto musical dentro de um contexto mais geral, que envolve aspectos culturais, históricos e sociais. Meu desafio foi tentar montar de modo adequado esse quebra-cabeça”, pormenoriza a pesquisadora, que contou com bolsa concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

....................................................................... ■ Publicação

Dissertação: “Banda Black Rio: uma análise musical” Autora: Eloá Gonçalves Orientador: José Roberto Zan Unidade: Instituto de Artes (IA)

.......................................................................

Formações antiga e recente da banda: grupo foi formado por músicos familiarizados com o samba, a gafieira e a música instrumental


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.