Jornal da Unicamp - Ed. 515

Page 1

1 a

Jornal daUnicamp www. unicamp. br / ju

Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011 - ANO XXV - Nº 515 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

IMPRESSO ESPECIAL 1.74.18.2252-9-DR/SPI Unicamp

CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antoninho Perri

Saiba por que a Unicamp foi considerada pelo MEC a melhor universidade pública do país. Páginas 6 e 7

Aula no Ciclo Básico: aperfeiçoamento das atividades nas áreas de ensino, pesquisa e extensão resulta em liderança no ranking do MEC

Foto: Divulgação

Lume em livro

A trajetória do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais, grupo reconhecido internacionalmente, é retratada no livro Lume Teatro – 25 anos (Editora da Unicamp), que será lançado 1º de dezembro.

Página 12

O corredor das onças Página 3

Coração mais protegido Página 5

IFGW na ‘Nature’ Página 9

A selva de Tomlinson Página 11


2

Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011

Na própria pele

Foto: Antoninho Perri

A pesquisadora Sheila Maria Stoco, autora da dissertação: nova aplicação para a ropivacaína na linha de anestesia tópica

Bióloga desenvolve gel anestésico à base de ropivacaína encapsulada em nanopartículas ISABEL GARDENAL

O

bel@unicamp.br

estudo de mestrado da pesquisadora Sheila Maria Stoco, apresentado ao Instituto de Biologia (IB), resultou no desenvolvimento de um gel anestésico à base de ropivacaína 2% encapsulada em nanopartículas de alginato-quitosana. A formulação apontou, no trabalho, maior eficiência anestésica em relação a outras testadas em camundongos com um tempo de analgesia superior a 600 minutos de duração, período equilavente a dez horas de anestesia tópica. A proposta da pós-graduanda é o uso da ropivacaína como anestesia dérmica, hoje inexistente no mercado. As aplicações, segundo a autora do estudo, podem ser as mais variadas, sendo a mais promissora para a área de Odontologia, que visa eliminar de vez o uso das agulhas. No momento, avalia-se inclusive a possibilidade de transformar a formulação em produto. Na dissertação, orientada pela professora colaboradora do IB e professora adjunta da Universidade Federal do ABC Daniele Ribeiro de Araújo e pela docente do Departamento de Bioquímica do IB Eneida de Paula, também foram realizados testes de viabilidade celular, que permitiram constatar que o gel desenvolvido não apresentou potencial irritativo para a pele de animais. Essa melhor formulação exibiu ainda uma boa penetração através da pele, um reduzido time lag (que é o tempo para o início da ação, que está em aproximadamente 35 minutos) e uma citotoxicidade inferior a 50%, tanto em fibroblastos 3T3 quanto em células de melanoma murino – as células

modelo de citotoxicidade avaliadas, as quais foram cultivadas no Laboratório de Biomembranas e cedidas pelo professor do IB Marcelo Lancellotti. Conforme a pesquisadora, a ropivacaína – pertencente à classe das aminas amidas – demonstrou ser um anestésico local semelhante à bupivacaína (outra droga potente) em termos de tempo de analgesia, mas trouxe menor toxicidade aos sistemas nervoso central e cardiovascular. Outros pontos favoráveis foram que o anestésico não induziu a meta-hemoglobinemia (uma condição na qual se verificam níveis anormais de hemoglobina oxidada, que são incapazes de se ligar ao oxigênio para efetuar seu transporte às células, ocasionando hipóxia tecidual) e nem o potencial alergênico de outros anestésicos tópicos, como a benzocaína e a lidocaína, os mais habitualmente utilizados e disponíveis comercialmente. “Nosso estudo basicamente consistiu em produzir formulações que continham a ropivacaína em uma base-gel associada a diferentes promotores de absorção ou a carreadores como nanopartículas de alginato-quitosana”, explica. Apesar da ropivacaína ser indicada hoje com boa eficácia, predominantemente em casos como bloqueios regionais e em anestesias epidurais (chamadas também peridurais), no estudo de Sheila Stoco, que é bióloga de formação, ela trouxe uma nova aplicação para a ropivacaína na linha de anestesia tópica. Anteriormente a droga era empregada de uma forma bastante restrita: por via infiltrativa. A grande vantagem do novo gel, que provavelmente poderá ser adotado em procedimentos ambulatoriais, é que ele deve ser prescrito como adjuvante antes de se iniciar a execução da anestesia local, caso novos estudos complementares mostrem eficácia e segurança para a sua efetiva introdução clínica. O intuito é amenizar a dor e a ansiedade dos procedimentos cirúrgicos, principalmente dermatológicos. Com ele, consegue-se eliminar, por exemplo, o incômodo da picada da agulha ao se realizarem as remoções de tatuagens, punções venosas, curetagens e biópsias, representando um enorme avanço dentro da prática clínica. Das várias formulações experimentadas na dissertação, comenta a bióloga, a mais exitosa foi a que empregou ropivacaína 2% encapsulada em nanopartículas de alginato-quitosana. E tal resultado

foi em grande parte atingido graças a um trabalho colaborativo envolvendo o professor Leonardo Fernandes Fraceto, docente da Unesp-Sorocaba, que preparou as nanopartículas, e a pós-graduanda Sheila Stoco, que fez a encapsulação da ropivacaína. Por associação desses processos, conseguiu-se obter um gel que sinalizou tanto uma melhor performance quanto uma melhor penetração na pele em relação a todas as outras formulações. De acordo com a orientadora da dissertação, não foram, porém, realizados estudos em mucosa. “Os estudos de permeação efetuados para verificar o fluxo de penetração do gel através da pele e o tempo para início de ação foram de permeação in vitro, utilizando-se como modelo pele de orelha de porco”, enfatiza Daniele Ribeiro. Esta investigação foi feita dentro da linha de pesquisa de anestésicos locais, coordenada pela professora Eneida de Paula. A intenção agora é efetuar estudos de biocompatibilidade na pele de roedores e em pele humana para ver se a formulação final não será responsável por provocar lesões aos tecidos (se ocasiona necrose ou se tem algum potencial inflamatório), além de estudos de microscopia com focal que colaborem para esclarecer em quais regiões da pele a ropivacaína está penetrando. “Temos atualmente o melhor estudo para observar o seu poder de penetração e pretendemos buscar aplicação odontológica e em procedimentos do segmento. Esse é o nosso principal objetivo, bem como notar a possibilidade da utilização do gel na anestesia pulpar e gengival”, expõe a pesquisadora. Não obstante os presentes resultados indicarem que a formulação que está sendo estudada possui viabilidade para uso clínico, tornam-se necessárias ainda outras investigações complementares que sejam capazes de atestar se de fato há eficácia e segurança suficientes para que o produto seja introduzido na prática clínica, realça.

.................................................................... ■ Publicação

Tese: “Liberação de ropivacaína através da pele: aspectos biofarmacêuticos da incorporação de promotores de absorção e da encapsulação em nanopartículas” Autora: Sheila Maria Stoco Orientadoras: Daniele Ribeiro de Araújo e Eneida de Paula Unidade: Instituto de Biologia (IB) Financiamento: Fapesp

....................................................................

Ropivacaína foi introduzida em 1996 O primeiro anestésico tópico utilizado foi a cocaína. Historicamente deve-se ao oftalmologista Carl Kooler, em 1884, a descoberta da anestesia tópica com a sua utilização isolada por Albert Newman em 1959, proveniente das folhas de Erythroxylon coca. A lidocaína foi o primeiro anestésico do tipo amida introduzido no mercado em 1948 nos Estados Unidos, sendo o anestésico local mais empregado no mundo e também o mais estudado, por suas propriedades. Atualmente ela é empregada como padrão para indicar a potência de outros compostos anestésicos. A ropivacaína foi introduzida na prática clínica em 1996 e é, no instante, a analgesia obstétrica preferida pelos profissionais médicos. Muitos anestésicos modernos partilham propriedades estruturais e efeitos clínicos com o éter, cuja aplicação como anestésico foi demonstrada pela primeira vez em público por William Morton, dentista de Boston, em 1846. Desde então, a anestesia é utilizada em mais de 40 milhões de pacientes a cada ano, somente na América do Norte. No entanto, os avanços que partem da época de Morton vieram basicamente do desenvolvimento de complexos sistemas de aplicação de medicamentos e das estratégias para o controle dos perigos e efeitos colaterais da anestesia.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador-Geral Edgar Salvadori De Decca Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib Pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli Pró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Pró-reitor de Graduação Marcelo Knobel Chefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Coordenador de imprensa Eustáquio Gomes Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab (kassab@reitoria.unicamp.br) Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos (kel@unicamp.br) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografia Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editor de Arte Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Felipe Barreto e Patrícia Lauretti Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011

Projeto pretende criar corredores ecológicos na RMC; objetivo é proteger espécies MANUEL ALVES FILHO

O

manuel@reitoria.unicamp.br

Projeto Corredor das Onças, uma iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), desenvolvido conjuntamente pelo Instituto de Biologia (IB) e pelo Instituto de Economia da Unicamp, pretende implantar na Região Metropolitana de Campinas (RMC) corredores ecológicos, cujo principal objetivo é proteger as onças, bem como outras espécies que ocorrem regionalmente. A ideia, conforme a professora Eleonore Setz, uma das pesquisadoras envolvidas na iniciativa, é promover a ligação entre duas importantes unidades de conservação federais, a Mata de Santa Genebra e o Matão de Cosmópolis, classificada como Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), por meio da recomposição das Áreas de Preservação Permanentes (APPs), reservas legais e fragmentos florestais remanescentes. “Com isso, garantiríamos o trânsito discreto e seguro dessa fauna, sem que ela tenha que passar por áreas urbanizadas e deparar com pessoas ou tráfego de veículos”, afirma a docente do IB. Segundo a professora Eleonore, o trabalho vem sendo desenvolvido de forma multidisciplinar. Além dela e de Márcia Rodrigues, chefe da ARIE Matão de Cosmópolis e pós-doutoranda do IE, participam a pesquisadora Jeanette Miachir, do Jardim Botânico de Paulínia, o professor Lindon Matias Fonseca, do Instituto de Geociências (IG), e o professor Ademar Romero, do IE, coordenador do projeto. Submetido a um edital do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) para pagamento por serviços ambientais, o projeto foi aprovado no primeiro semestre deste ano. “A partir do levantamento de mamíferos e de vegetação nos fragmentos florestais remanescentes e o consequente mapeamento, teremos os dados no marco zero do projeto, antes da reconexão, de modo a poder avaliar no futuro e eficácia do corredor. Em paralelo, será realizado o levantamento das propriedades e seus usos atuais, para que possa ser calculado o custo de oportunidade a ser pago aos proprietários rurais que cederem parte de suas terras para a implantação do corredor. Essa é uma medida importante, pois promoveria um maior envolvimento da sociedade na iniciativa”, acredita a docente do IB. Também será realizado um cadastro das possíveis fontes de financiamento, por exemplo, empresas com interesse em selos de biodiversidade. Em 2002 uma aluna de doutorado da professora Eleonore registrou, por meio de uma armadilha fotográfica, a presença de uma onça-parda na Mata Ribeirão Cachoeira, localizada no distrito de Sousas, em Campinas. Depois

Fotos: Divulgação

Caminho seguro para as onças e outros animais

Aluno da professora Eleonore Setz rastreando felinos com antena em mata na região de Campinas Foto: Antoninho Perri

A professora Eleonore Setz (à dir.) e Márcia Rodrigues, do ICMBio: ideia é promover a ligação entre a Mata de Santa Genebra e o Matão de Cosmópolis para facilitar o trânsito dos animais

deste, outros registros foram feitos. “Em seguida, outros orientandos meus começaram a estudar os fragmentos florestais da Área de Proteção Ambiental [APA] de Sousas e Joaquim Egídio com o intuito de investigar a presença da onça-parda e de outros felinos e identificar seus padrões de circulação. A chegada da Marcia Rodrigues, seu levantamento de felídeos na região e seu empenho na ligação das duas UCs federais concretizaram o projeto de circulação dos felinos, além de ampliar a área e trazer novos temas e especialistas que possam contribuir para a viabilização dos corredores”, detalha a docente. E qual é a importância de se constituir um espaço para a circulação das onças? A professora Eleonore explica que esse animal é fundamental para o controle da fauna e manutenção da biodiversidade na região. Por ser o mais poderoso no ecossistema considerado, ele preda animais que, caso se multiplicassem em excesso, poderiam trazer problemas de saúde para a população da região. Entre essas presas do felino estão capivaras e tatus, hospedeiros do carrapato causador da febre maculosa e do protozoário provocador da leishmaniose, respectivamente. “Além disso, outros animais importantes,

alguns ameaçados de extinção, vivem sob a ‘inspeção’ da onça parda. Entre eles podemos citar o gato maracajá, o gato-do-mato pequeno e o jaguarundi. Desse modo, protegendo a onça-parda nós estaremos ‘abrindo um guardachuva’ para proteger também esses outros bichos”, acrescenta. Se fosse traçada uma linha reta entre a Mata de Santa Genebra e o Matão de Cosmópolis, esta teria 22 quilômetros de extensão. A professora Eleonore lembra, no entanto, que o corredor não será linear. Ademais, diz a professora da Unicamp, o trecho não deverá ser criado de uma só vez. A ideia é implantá-lo em etapas. A primeira fase consistiria na ligação do Matão de Cosmópolis com a Mata da Meia Lua, situada em Paulínia. Esse segmento tem cerca de 10 quilômetros de extensão. “Depois, faríamos a ligação com a Santa Genebra e, na medida do possível, com outras áreas verdes da RMC igualmente importantes”, diz a professora Eleonore. De acordo com ela, esses pontos passíveis de integrar o Corredor das Onças detêm, além de uma fauna diversificada, uma importante flora, além de inúmeros cursos d’água, entre eles os rios Atibaia e Jaguari. “Trata-se de um ecossistema fundamental para a região e seu abas-

tecimento de água”, sentencia. Márcia Rodrigues, do ICMBio, destaca que o estabelecimento do corredor por intermédio da recomposição das APPs, reservas legais e fragmentos florestais remanescentes não é tão complexo assim. “Na realidade, isso pode ser feito apenas com o cumprimento do que determina o atual Código Florestal. O que nós estamos fazendo, na realidade, é exigir que a legislação seja obedecida”, sustenta. Na relação do que deve ser realizado está, por exemplo, a recuperação das matas às margens de rios e córregos. Conforme a especialista, o avanço da urbanização e do desmatamento não somente está interferindo no habitat de animais, como também tem aproximado a comunidade deles. Não por outra razão, estão ocorrendo cada vez mais episódios de bichos atropelados por automóveis e caminhões. Nos últimos seis meses, aponta ela, quatro onças-pardas foram colhidas por veículos, uma foi morta provavelmente por caçadores e a ossada de outra foi encontrada. Como se não bastasse, também estão aumentando os relatos de pessoas que vivem na zona urbana que dizem ter avistado esse tipo de felino. Em um dos casos mais recentes, dois filhotões de onça-parda

Filhotes de onça-parda “passeiam” por playground de condomínio residencial em Campinas, pegadas em mata e filhotes encontrados em canavial: processo de urbanização tem invadido o habitat da espécie

3

foram vistos circulando, por volta das 8 horas da manhã (horário de verão), no playground de um condomínio de alto padrão localizado às margens da Rodovia D. Pedro I. O “passeio” dos felinos foi registrado pelas câmeras de segurança do empreendimento. O episódio, conforme Márcia Rodrigues, assustou os moradores. “É natural que eles tenham ficado sobressaltados. Entretanto, precisamos lembrar que nós é que estamos invadindo o espaço desses animais. Também é bom esclarecer que não estão surgindo cada vez mais onças como algumas pessoas imaginam. Nós não temos uma superpopulação desses felinos. O que ocorre é que eles circulam muito e podem ser vistos em diferentes pontos. Outro aspecto importante de ser ressaltado é que em cerca de 300 anos de convívio dos seres humanos com essa espécie, não há um registro sequer de ataque por parte dos animais na nossa região. Claro que as pessoas precisam ter cuidado, mas não podemos criar um clima de temor entre elas”, considera. O projeto do Corredor das Onças ganhou força com o apoio do Ministério Público Federal (MPF), que abriu um inquérito civil em abril deste ano. O procurador Paulo Gomes convidou empresas da região para participarem do esforço de forma espontânea. A proposta é fazer com que elas se interessem, adotem ou ajudem a financiar medidas para a recomposição das matas ciliares e dos fragmentos remanescentes. “A ideia é que, depois disso, caso fique constatado que o corredor esteja de fato beneficiando as onças e outros animais, estas empresas tenham direito de receber uma espécie de selo verde, que demonstraria o empenho delas na preservação da onça”, acrescenta a professora Eleonore. De acordo com a docente do IB, o projeto também necessita da adoção de uma ação educativa junto a segmentos da população, para esclarecer as pessoas sobre a importância desse tipo de iniciativa. A professora Eleonore diz que ainda não há prazos definidos para a conclusão do projeto e nem tampouco para a efetivação do Corredor das Onças. “Neste inicio de projeto estamos avaliando a qualidade dos fragmentos, tanto da fauna de mamíferos como da vegetação, para assim priorizarmos sua conexão. Quanto à recomposição das matas, isso demanda tempo. Depende de vários fatores, entre eles que espécies vegetais serão utilizadas, dado que umas crescem mais rapidamente do que outras”, esclarece.

A onça-parda A onça-parda é um animal que ocorre desde o norte do Canadá até o sul do Chile. Em países em que não convive com a onça-pintada, pode atingir até 120 quilos. No Brasil, como as espécies se sobrepõem, a onça-parda tem, em média, 60 quilos. Trata-se de um felino ágil e forte, e muito discreto. Sua dieta é composta basicamente por mamíferos. Entre suas presas estão capivara (normalmente filhotes ou animais velhos), tatu, lebre e gambá, este com menos frequência. Sua pelagem varia do castanho-avermelhado ao cinzaazulado, sendo esbranquiçada no focinho, garganta, peito, ventre e na parte interior das patas. O tempo de gestação é de aproximadamente 95 dias, ao fim do qual nascem de dois a quatro filhotes. Estes apresentam pelagem pintada, que desaparece em torno dos seis meses. Os filhotes acompanham a mãe por mais de um ano, aprendendo assim a caçar.


4

Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011 Fotos: Antoninho Perri

Bromelina, enzima do abacaxi, é encontrada também no curauá, planta amazônica

Os poderes do ‘abacaxizinho’

ISABEL GARDENAL

U

bel@unicamp.br

m pedacinho de abacaxi na panela, e a carne fica macia. Quem faz isso é a enzima bromelina, presente na fruta, que é levada às mesas e que muitos sequer suspeitam de sua ação. Da mesma família do abacaxi, o curauá é uma planta originária da Amazônia que acaba de ser motivo de uma ampla investigação da pesquisadora Juliana Ferrari Ferreira, que defendeu recentemente a sua tese de doutorado na Faculdade de Engenharia Química (FEQ). Em poder de algumas amostras da planta, a autora comprovou que nela também existem teores significativos da bromelina e demonstrou, por meio de técnica específica (sistema bifásico aquoso), que os seus níveis de purificação permitem provavelmente serem agregados a cremes, a loções e a géis anti-inflamatórios. O resíduo de curauá, conta a pesquisadora, que é engenheira química, em geral é descartado por se entender que era apenas refugo. Juliana mostrou em seu estudo que a planta possui atividade enzimática, podendo ser purificada para ser comercializada pela indústria farmacêutica. “Ficou claro que estamos jogando fora algo de valor, sendo que atualmente apenas o abacaxi é visto como fonte desta enzima”, comenta. A fibra dessa planta, relata ela, é largamente usada na indústria automobilística, após ter sido exibido o seu potencial como componente de peças de carro, e na indústria têxtil, devido à sua resistência, maciez e peso reduzido. Uma empresa de São Bernardo do Campo processa essa fibra por conta do seu excelente comportamento mecânico. O processo envolve uma moagem, como a da cana-de-açúcar. “Da fibra do curauá, sai uma mucilagem de alto valor proteico oferecida aos animais. O resíduo líquido contém a bromelina”, conforme Juliana. Já se sabe na literatura que toda planta da família das bromeliáceas (no caso o abacaxi é o mais conhecido) tem a enzima estudada. Assim, a engenheira química resolveu explorá-la para ver se continha quantidades suficientes para buscar novas aplicações. O trabalho foi orientado pelo docente da FEQ Elias Basile Tambourgi, responsável pela linha de pesquisa de purificação de biomoléculas desta faculdade. Juliana extraiu e purificou a enzima em sistema bifásico aquoso. Conseguiu, no estudo, fatores de purificação elevados. Ainda que esse estudo seja preliminar, ele sinalizou um potencial para diferentes aplicações. O trabalho foi feito com o curauá branco e com o roxo – as duas variedades da planta – no Laboratório de Processo de Separação II. Outra característica observada pela autora do trabalho foi que esse resíduo tem um alto teor de açúcar, que poderá estar presente na produção do álcool, por exemplo, do mesmo jeito que se utiliza cana-de-açúcar. “Só que isso depende de estudos mais aprofundados, fugindo ao objetivo do nosso estudo”, expõe ela. A despeito de se notar uma gama de proteínas nesse resíduo, o intuito de Juliana foi obtê-lo (por ter uma ati-

O curauá: teores significativos da bromelina podem permitir sua utilização em anti-inflamatórios

vidade anti-inflamatória interessante), verificar o quanto de enzima possuía e se tinha atividade enzimática. A pesquisadora chegou à pré-purificação da planta, estágio que não contemplaria os anti-inflamatórios orais (os comprimidos), os quais exigem um maior grau de pureza. “Provavelmente teria que passar ainda por uma cromatografia. Fomos apenas até a etapa da eletroforese, pelo fato de não requerer um nível de pureza tão elevado para aplicações industriais. Conseguimos quantificar o quanto a proteína estava pura.”

Achados Como a fibra de vidro não é renovável, afirma a doutoranda, ela está sendo substituída hoje pela fibra de curauá, presente nos painéis dos carros para resistir mecanicamente a impactos e a colisões. A vantagem desta fibra

é que ela é ecologicamente correta e sua produção ocorre o ano todo. Foi deste modo que a fibra começou a ser utilizada anteriormente, para confeccionar redes e tapetes. Mais tarde, alguém viu na fibra excelentes características mecânicas para ser incorporada aos carros e como plantas ornamentais. “Há inclusive um grupo da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp que usa essa fibra em suas pesquisas, a fim de realizar testes mecânicos”, relembra Juliana. Ela, porém, realça que ainda não estão disponíveis pesquisas mundiais com essa planta, uma vez que ela é de origem brasileira. Anteriormente, no mestrado, Juliana havia trabalhado com a bromelina extraída e purificada do abacaxi. A enzima comercial, salienta, é retirada do talo e da casca do abacaxi e é vendida por empresas

dos EUA, onde esta tecnologia já se tornou conhecida. O que mudou do estudo de mestrado para o de doutorado da engenheira química, além da fonte de matériaprima, esclarece, foi o fato de usar um resíduo, um subproduto. De acordo com ela, é certo que o abacaxi tem muita bromelina em sua composição. Só que economicamente não seria viável extraí-la da fruta. Outra dificuldade é saber o momento de fazer a extração da bromelina do abacaxi. Isso porque, quando a fruta está nova demais, ela não tem bromelina, ou a sua quantidade é mínima. Já, quando está muito madura, a sua quantidade pode cair muito. Deste modo, é preciso obtê-la na época exata da maturação, “sendo portanto vantajoso retirar bromelina da casca e do talo”, explica. Apesar do curauá ter

menores quantidades de bromelina, como ele é descartado, acaba tendo um custo-benefício maior. A planta se assemelha a um abacaxi, por isso popularmente é tratada como “abacaxizinho”. A sua ideia, comenta Juliana, foi dar visibilidade ao curauá. “O setor industrial precisa saber que está jogando fora um resíduo rico em propriedades e em aplicações”, adverte. Uma outra pós-graduanda da mesma linha de pesquisa fez um estudo de custo do produto, que se mostrou viável. Com alguns quilos de resíduos produz-se a enzima, a qual é liofilizada (embora sendo uma substância líquida) e vendida por um preço elevado, menciona.

Rumos A pesquisadora pretende continuar esse estudo no pós-doutorado para ver o seu trabalho mais robusto, assistindo à produção dessa enzima industrialmente. Ocorre que faltam mais testes dessa enzima em medicamentos e talvez passar por um processo de purificação com nível de pureza um pouco mais elevado. É preciso passar por uma cromatografia de gel filtração, troca iônica para usar em medicamentos por via oral. Fato é que, mesmo com os bons resultados apresentados na pesquisa, a única empresa que comercializa o curauá pretende prosseguir com o mesmo foco de uso da fibra, que é o que eles fazem no momento. Entretanto, para Juliana, esse “filão” poderá ser descortinado por mais empreendedores como um novo nicho de mercado nos próximos anos. “O Brasil infelizmente importa essa enzima, ainda que detendo a matéria-prima. O país está perdendo muito deixando de produzi-la aqui”, acredita. No início da investigação, Juliana e o seu orientador estiveram em Botucatu para fazer algumas ponderações com o professor Isaac Stringueta Machado, docente da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, que muito colaborou para esse estudo. O foco de sua pesquisa é a micropropagação da planta in vitro. Sua intenção é fazer o curauá se desenvolver fora do seu ambiente natural. Origem do curauá O curauá (Ananas erectifolius L. SMITH) é uma bromélia característica da Amazônia paraense, que cresce em clima úmido e muito quente, chegando à altura de 1,5 metro. Ali está mais concentrada na região de Santarém, onde existe em grande abundância e, mesmo assim, já não está conseguindo mais suprir a demanda crescente por tanta fibra. Essa planta é rara no Sul e no Sudeste. A fibra extraída de suas folhas é muito resistente, macia, leve e reciclável, permitindo composições para diversos usos na indústria. Ela, que foi apresentada à indústria na década de 1990, é atualmente cotada como substituta da fibra de vidro em peças automobilísticas e como composto de vigas resistentes a terremotos. A planta pré-colombiana, da família das bromeliáceas, é também utilizada na fabricação de cordas, sacos, utensílios domésticos e artesanato. É quatro vezes mais resistente que a fibra do sisal e dez vezes mais resistente que a fibra de vidro. O seu cultivo não provoca a degradação da mata nativa, contribui para revitalizar terras desmatadas, não é exigente a fertilizantes químicos e pode ser consorciada com culturas alimentares, representando uma fonte de renda e garantindo segurança alimentar ao agricultor da região amazônica.

.............................................................. ■ Publicação

A pesquisadora Juliana Ferrari Ferreira: “Ficou claro que estamos jogando fora algo de valor”

Tese: “Extração e caracterização da enzima bromelina presente no curauá (Ananas erectifolius L. SMITH)” Autora: Juliana Ferrari Ferreira Orientador: Elias Basile Tambourgi Unidade: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)

..............................................................


Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011

5

Fotos: Antoninho Perri

Os professores José Wilson e Rosana Almada Bassani entre Alexandra Fonseca e Marcelo Viana, autores das dissertações: esforço para compreender melhor o funcionamento do coração

Protetores do coração

Pesquisadores desenvolvem tecnologias que tornam a des�ibrilação cardíaca mais e�iciente e segura MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

N

o Brasil, estima-se que 40% das paradas cardíacas súbitas sejam causadas pela fibrilação ventricular, um tipo potencialmente letal de arritmia. O tratamento mais efetivo para o problema é a desfibrilação, medida que consiste na aplicação de choque elétrico para estimular as células do coração, que voltam então a acompanhar o ritmo normal do órgão. A abordagem, porém, não está livre de efeitos colaterais. Da mesma forma que excita um dado número de células cardíacas, a corrente elétrica aplicada pode lesar e até mesmo provocar a morte de outras tantas. Atentos a esta consequência indesejada, cientistas do Laboratório de Pesquisa Cardiovascular (LPCv) do Centro de Engenharia Biomédica (CEB) da Unicamp têm desenvolvido estudos com o objetivo de tornar o procedimento mais eficiente e seguro. Como decorrência das investigações, os pesquisadores desenvolveram protótipos de um estimulador e de um desfibrilador multidirecional. Ensaios realizados com os equipamentos em nível celular e em modelo animal apresentaram resultados animadores. Os aparelhos em questão foram desenvolvidos para as dissertações de mestrado dos engenheiros eletricistas Alexandra Valenzuela Santelices da Fonseca e Marcelo de Almeida Viana, respectivamente, junto ao Departamento de Engenharia Biomédica da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp. Ambos foram orientados pelos professores José Wilson Bassani e Rosana Almada Bassani. O trabalho de Alexandra Fonseca foi premiado pela Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB), em 2009. Já o equipamento construído por Marcelo Viana foi objeto de um pedido de registro de patente, já depositado. Ainda que conduzidas de forma independente, as duas pesquisas são complementares, como observa o

Os protótipos do estimulador e do desfibrilador desenvolvidos no LPCv: testes apresentaram resultados animadores

professor Bassani. “Aqui no laboratório, estamos todos empenhados em compreender melhor o funcionamento do coração”, afirma o docente. Estudos anteriores conduzidos no LPCv já haviam constatado que o campo elétrico necessário para estimular as células cardíacas, quando orientado no sentido do eixo longitudinal das células, é cerca de metade daquele quando a orientação é transversal. Todavia, também ficou comprovado que, à medida que aumenta o campo elétrico, não só mais células podiam ser “recrutadas”, mas também mais células eram lesadas ou mortas pelo efeito do choque. Ou seja, a posição em que ocorre a estimulação exerce papel importante no resultado do procedimento. Pensando nisso, Alexandra Fonseca desenvolveu um estimulador multidirecional, que foi testado em nível celular. O princípio que orientou o desenvolvimento do equipamento foi o seguinte: se numa direção preferencial já ocorria a excitação das células, a variação da direção do campo possivelmente proporcionaria um maior recrutamento. Nos ensaios que realizou, a engenheira eletricista colocou uma população de células cardíacas isoladas numa câmara de estimulação, distribuídas aleatoriamente. Em seguida, com o auxílio do estimulador multidirecional, a autora da dissertação aplicou choques em três diferentes direções, com intensidade reduzida. “O que nós observamos foi que o índice de recrutamento é muito superior se a direção do campo elétrico variar durante a estimulação. Quando estimulamos nas três direções, conseguimos recrutar

cerca de 80% das células com uma intensidade do campo que recruta apenas 40% em uma só direção. Além disso, também constatamos que a abordagem multidirecional possibilita a redução de 50% da potência empregada para se obter o mesmo recrutamento”, detalha a engenheira eletricista. Segundo a professora Rosana, o conceito de recrutar e ao mesmo tempo proteger o maior número de células possível é importante para tornar os procedimentos de estimulação e desfibrilação mais eficientes e seguros. “Foi por causa do trabalho da Alexandra que consideramos que poderíamos avançar nas pesquisas e desenvolver um desfibrilador multidirecional”, conta a docente. O desafio ficou a cargo do também engenheiro eletricista Marcelo Viana. Ele construiu um protótipo utilizando componentes tradicionais, os mesmos empregados nos desfibriladores convencionais. Duas pás, com três eletrodos cada uma, são acopladas ao equipamento para aplicação do choque. A tecnologia, conforme o professor Bassani, foi testada em modelo animal, com o tórax aberto. Em outras palavras, o estímulo elétrico foi aplicado diretamente no coração. Nesse caso, foram utilizados suínos, dado que o coração destes animais apresenta grande semelhança ao dos seres humanos. Durante os experimentos, os pesquisadores primeiro induziram a fibrilação do coração dos porcos, para depois aplicar o choque. “Assim, nós conseguimos traçar uma curva que mostrou a probabilidade de desfibrilação em função da energia do choque aplicado. Nesse caso, nós trabalhamos

com uma energia baixa, equivalente à utilizada na desfibrilação pediátrica”, detalha o professor Bassani. Segundo o autor da dissertação, o “pulo do gato” do instrumento é o seu sistema de chaveamento, que permite a aplicação muito rápida de choques sequenciais – menos que um décimo de segundo para a conclusão do processo – em três direções diferentes. “Com o equipamento, conseguimos reduzir a potência em 20% mesmo para uma probabilidade de 90% de índice desfibrilatório. Ou seja, a estimulação multidirecional demonstrou ser uma importante inovação para a realização de uma abordagem mais eficiente e segura”, assinala Marcelo Viana. O professor Bassani revela que algumas indústrias demonstraram interesse na tecnologia, mas ainda não foram iniciadas conversações voltadas para um possível licenciamento. O docente adianta que o próximo passo da equipe do LPCv será o desenvolvimento de uma segunda geração do desfibrilador mutidirecional. O modelo será transtorácico, ou seja, para ser aplicado em tórax fechado, de forma não invasiva, e com a implementação de uma nova forma de onda desfibrilatória. “Será um novo desafio, pois esse novo instrumento terá dimensões maiores e lidará com tensões elétricas também maiores. Os componentes mudarão, mas provavelmente todos poderão ser encontrados no mercado. O objetivo dessa futura etapa continuará sendo chegar a um equipamento que supere a eficiência dos desfibriladores convencionais”.

Outras abordagens No esforço para compreender

melhor como é o funcionamento do coração, a equipe coordenada pelo professor Bassani e pela professora Rosana Bassani tem desenvolvido pesquisas com diferentes abordagens. A tendência atual tem sido a de entender como a aplicação do campo elétrico, no caso do procedimento desfibrilatório, mata as células cardíacas. “Não é um problema trivial. Nós temos pesquisadores olhando dentro das células para tentar saber o que acontece. Um dos trabalhos em curso no laboratório investiga as vias bioquímicas envolvidas no processo de morte celular. Descobrindo exatamente como isso ocorre, o passo seguinte é buscar uma solução para proteger as células. Por hipótese, podemos administrar uma droga para bloquear essas vias bioquímicas antes de aplicar o choque, de modo a reduzir a morte celular”, pormenoriza o professor Bassani. Os estudos conduzidos no LPCv, prossegue o docente da Unicamp, são multidisciplinares. Neles estão envolvidos engenheiros eletricistas, biólogos, médicos, fisioterapeutas, entre outros profissionais. A dissertação defendida por MarceloViana, por exemplo, contou com a colaboração do médico e professor Orlando Petrucci Júnior, do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e dos biólogos Ana Cristina de Moraes e William Adalberto Silva, do Laboratório de Técnica Cirúrgica da FCM. “Também temos contado com a colaboração do Instituto de Biofabricação (Biofabris) da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp. Não posso deixar de mencionar, ainda, o apoio que recebemos dos profissionais da área de Pesquisa e Desenvolvimento do CEB e do engenheiro Denílson Antônio Marques, além do apoio do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], no financiamento das pesquisas, e da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], na concessão de bolsas para nossos pós-graduandos”, ressalta o professor Bassani.

............................................................. ■ Publicações

Dissertação: “Projeto, construção e testes de um desfibrilador multidirecional” Autor: Marcelo de Almeida Viana Dissertação: “Estimulação multidirecional de células cardíacas: instrumentação e experimentação” Autora: Alexandra Valenzuela Santelices da Fonseca Orientador: José Wilson Bassani Coorientadora: Rosana Almada Bassani Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)

.............................................................


6

Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011 Foto: Antonio Scarpinetti

Na primeira vez

Na sequência das fotos, vestibular 2012, aula no Ciclo Básico, Congresso de Iniciação Científica, defesa de tese no Imecc e

Unicamp é apontada pelo MEC como a melhor universidade pública do país em sua estreia no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

E

MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria. unicamp.br

m sua primeira participação no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), instrumento instituído em 2004 pelo Ministério da Educação (MEC) para aferir a qualidade dos cursos de graduação e o desempenho acadêmico dos estudantes, a Unicamp foi apontada como a melhor universidade pública do país. De acordo com o Índice Geral de Cursos (IGC) gerado pelo processo avaliatório, a instituição obteve conceito 4,69, dentro de um índice que varia de zero a cinco. As notas de três a cinco significam desempenho satisfatório e as de um a dois, insatisfatório. Ao todo, foram examinadas 2.176 escolas de ensino superior, sendo 229 públicas e 1.947 privadas. Para formular o ICG, o MEC leva em consideração as condições de ensino, em especial as relativas ao corpo docente, às instalações físicas, ao projeto pedagógico e às notas dos alunos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). A liderança da Unicamp no ranking estabelecido pelo MEC decorre da execução de uma série ações voltadas ao aperfeiçoamento das atividades nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. As iniciativas envolvem desde investimentos em obras físicas, como construção e remodelação de laboratórios e salas de aula, até o desenvolvimento de programas de incentivo à mobilidade internacional de estudantes e professores, passando pela atualização dos currículos de cursos, entre outras. O pró-reitor de Graduação, professor Marcelo Knobel, lembra que a participação da Unicamp no Sinaes foi precedida de um longo processo de discussão. Inicialmente, a Universidade decidiu não participar da avaliação por considerar que algumas questões não estavam bem resolvidas. A partir de 2009, porém, os debates em torno da eventual participação da instituição no Sianes foram retomados. “Nós criamos um Grupo de Trabalho, que fez uma série de reflexões. Isso gerou um relatório, que foi posteriormente discutido nas unidades de ensino e pesquisa e nos órgãos colegiados. Ao final das discussões, entendemos que seria importante para a Universidade se submeter à avaliação, inclusive porque, dessa forma, poderíamos contribuir de maneira mais efetiva, por meio da apresentação de críticas e sugestões, para o aperfeiçoamento do processo”, explica. Knobel observa que apesar de a mídia dar mais destaque à nota do Enade, ela é somente um dos pontos analisados pelo MEC para a definição do IGC. Sobre esse assunto especificamente, o pró-reitor de Graduação lembra que houve um boicote parcial por parte de alunos de alguns cursos, que se negaram a fazer a prova. Tal postura, prossegue Knobel, também gerou um debate interno muito positivo sobre a validade desse tipo de exame. “Tanto eu quanto assessores da Pró-Reitoria de Graduação participamos de diversos debates e mesas-redondas sobre o tema, que geraram reflexões muito interessantes. Quanto ao resultado do Sinaes em si, ele nos enche de orgulho”. O pró-reitor de Graduação ressalta que o bom desempenho alcançado pela Unicamp no ranking do MEC está relacionado a um conjunto de ações e programas. Ele destaca, por exemplo, o papel do vestibular, que promove uma seleção rigorosa dos alunos de graduação – no atual certame, são 61 mil candidatos para 3.200 vagas. Ou seja, apenas os melhores estudantes têm condição de ingressar na Universidade. O mesmo ocorre em relação a professores e funcionários, que

também são contratados depois de criteriosos processos seletivos. “Além disso, estamos investindo fortemente em algumas áreas, entre as quais a de infraestrutura. Nos últimos dois anos, lançamos editais no valor de R$ 8 milhões para oferecer melhores condições ao ensino de graduação. Fora isso, oferecemos inúmeras formas de apoio aos estudantes, como a concessão de bolsas moradia, pesquisa, alimentação etc. E ainda executamos diversos programas para valorizar a atividade docente e estimular a mobilidade internacional de alunos e professores . Combinadas, essas ações fazem com que a Universidade esteja sempre em busca da excelência para as suas diferentes atividades”, analisa Knobel.

Fronteira do conhecimento O pró-reitor de Pesquisa, professor Ronaldo Aloise Pilli, raciocina na mesma linha. Segundo ele, a Unicamp sempre valorizou, desde a sua fundação, há 45 anos, o binômio ensino e pesquisa. “Nós acreditamos que o ensino de boa qualidade, seja o de graduação, seja o de pós-graduação, não pode vir dissociado das atividades de pesquisas que estejam na fronteira do conhecimento. Isso exige, evidentemente, bons estudantes e bons professores. Nesse sentido, nós temos cuidado com particular empenho da renovação do quadro docente da Universidade”, afirma. Além disso, continua Pilli, a Pró-Reitoria de Pesquisa oferece um programa denominado Papdic [Programa Auxílio à Pesquisa para Docente em Início de Carreira], cujo objetivo é favorecer a implantação de grupos de pesquisa por parte de jovens docentes. No último ano, 76 deles foram beneficiados com a medida. Na prática, isso significa que o professor recém-contratado que conseguir ter um projeto seu aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pode pleitear recursos por parte da Unicamp da ordem de R$ 40 mil. “Desse dinheiro, R$ 12 mil devem ser utilizados para investimento em laboratório e em participação em congressos no exterior. O restante é para ser aplicado numa bolsa de mestrado por um período de dois anos”, pormenoriza o pró-reitor de Pesquisa. Ademais, esse jovem docente também pode solicitar até quatro bolsas ao Programa de Iniciação Científica mantido pela Unicamp. “Com isso, ele já pode estruturar o seu grupo de pesquisa. Trata-se de um diferencial importante, pois outras universidades, também qualificadas, dificilmente oferecem esse tipo de apoio”, reforça Pilli. Outra política destacada pelo pró-reitor de Pesquisa é a que apoia a vinda de professores estrangeiros para atuarem juntos aos programas de pós-graduação. A iniciativa conjunta da PRP e PRPG financia a viagem, hospedagem, seguro-saúde e pró-labore do visitante, que permanece na Unicamp por até 60 dias. “Também financiamos a ida de nossos professores e pós-graduandos para as instituições parceiras no exterior, como forma de proporcionar-lhes maior experiência internacional”, afirma Pilli. No que toca à infraestrutura, o dirigente informa que a Universidade destinou até o momento R$ 12 milhões dos recursos orçamentários para a readequação de laboratórios de pesquisa. O dinheiro é aplicado em obras físicas e modernização dos sistemas elétrico, hidráulico e de climatização. Embora todas essas ações provoquem impacto positivo no desempenho da graduação, visto que ensino e pesquisa são indissociáveis, o pró-reitor de Pesquisa considera que um dos programas que mais contribui para qualificar esse nível de ensino é a iniciação científica. Ao tomarem contato precocemente com os métodos de investigação, os estudantes ampliam o conhecimento adquirido em sala de aula e ganham maturidade. “A iniciação científica traz ainda outros ganhos. Normalmente, os alunos que participam do programa têm um desempenho melhor na graduação e concluem em menor tempo a dissertação de mestrado. Além disso, o programa contribui para reduzir a taxa de evasão, visto que os estudantes se tornam muito mais motivados”. O último Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp, que completou 19 edições, contou com a participação de 1.300 trabalhos de todas as áreas do conhecimento. Destes, 20 foram escolhidos por um comitê externo, formado por bolsistas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) como os melhores do evento. Os autores receberam um prêmio de R$ 3 mil, mais ajuda de custo (viagem e hospedagem) para apresentar seus estudos na próxima reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorrerá em São Luís, capital do Maranhão, em julho de 2012. Conforme Pilli, o desempenho da graduação da Unicamp na avaliação do MEC é consequência da conjugação desses e de outros fatores. “Nós temos a melhor média nacional da pós-graduação, se-

Fotos:Antoninho Perri

O pró-reitor de Graduação, professor Marcelo Knobel: participação da Unicamp no Sinaes foi precedida de um longo processo de discussão

O pró-reitor de Pesquisa, professor Ronaldo Aloise Pilli: Unicamp sempre valorizou, desde a sua fundação, o binômio ensino e pesquisa

O professor Euclides de Mesquita Neto, pró-reitor de Pós-Graduação: enfatizando o aprofundamento do processo de modernização da infraestrutura


7

Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011

Fotos: Antoninho Perri

Foto: Antonio Scarpinetti

z, primeiro lugar

e laboratório no IFGW: ações e programas foram fundamentais para a liderança da Unicamp entre as universidades públicas

gundo a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, órgão do MEC). Temos também a melhor média de publicações per capita do Brasil e somos a Universidade com o maior número de patentes depositadas. Todos esses elementos nos permitiam imaginar que a graduação poderia ter um bom desempenho, visto que todas essas áreas funcionam como vasos comunicantes. Se uma instituição não tem uma boa graduação, é pouco provável que tenha uma pós de qualidade. Além disso, boa parte das atividades de pesquisa de uma universidade como a Unicamp é feita pelos pós-graduandos. Então, para mim soa natural que a graduação seja bem avaliada. Evidentemente, o fato de termos ficado na primeira posição nos orgulha muito”. Instado a lançar o olhar para o futuro, o pró-reitor de Pesquisa pensa que o principal desafio da Unicamp nos próximos anos é investir cada vez mais na qualificação das atividades ensino, pesquisa e extensão. “Em minha opinião, a Universidade dificilmente conseguirá ampliar significativamente o seu quadro discente, sob o risco de perder qualidade. Assim, penso que a nossa missão será aperfeiçoar nossas competências. Uma boa maneira de fazer isso é olhar para as unidades de ensino e pesquisa que já alcançaram um padrão de excelência internacional e aproveitarmos essa experiência para qualificar aquelas que ainda não atingiram o mesmo patamar. Além disso, temos que continuar selecionando os melhores alunos e docentes e adotar políticas que simplifiquem procedimentos em todos os níveis, de modo a tornar a gestão mais eficiente”.

Internacionalização O pró-reitor de Pós-Graduação, professor Euclides de Mesquita Neto, enfatiza igualmente os avanços proporcionados às áreas de ensino e pesquisa pelos investimentos em infraestrutura. “Na Unicamp, a pesquisa é feita com a participação da pós-graduação. Assim, quando aprimoramos a infraestrutura da pesquisa, estamos melhorando também a de pós. Indiretamente, isso ainda traz benefícios para a graduação, uma vez que esse nível de ensino não está apartado das demais áreas”, explica. O dirigente chama a atenção para a ênfase que Administração Superior tem dado ao processo de internacionalização, ação classificada por ele como fundamental para elevar a Unicamp à categoria de universidade de classe mundial. Dentre as iniciativas já adotadas nesse sentido, Mesquita Neto cita

a versão em inglês e espanhol do site da Universidade, o que garante maior visibilidade às atividades da instituição no exterior. “Também criamos disciplinas junto à DAC [Diretoria Acadêmica] que permitem que alunos de graduação e pós-graduação entrem ou saiam da Unicamp a qualquer momento para participar de programas de mobilidade internacional. Temos feito diversas visitas a instituições estrangeiras com o objetivo de estabelecer colaborações estratégicas que permitam novos intercâmbios de estudantes e professores. Além disso, nos últimos três anos um de nossos programas investiu perto de R$ 1milhão para apoiar 69 propostas de ida de docentes ao exterior, acompanhados de um doutorando ou pós-doutorando”. Em relação às recentes e futuras medidas voltadas à qualificação do ensino e pesquisa, o pró-reitor de Pós-Graduação expõe que uma das definições tiradas da Avaliação Institucional 2004/2008 foi a construção de um conjunto de prédios para fortalecer a infraestrutura da área de humanas. Edital nesse sentido já está sendo lançado. “Além disso, estamos elaborando também uma chamada para a criação de um conjunto de laboratórios para o uso de múltiplas unidades e dando prosseguimento ao processo de renovação do quadro docente. O esforço é no sentido de repor pelo menos 50 professores ao ano. Para atrair interessados de todas as partes do mundo, estamos permitindo que o concurso seja feito em inglês”, destaca Mesquita Neto. Quanto à avaliação do MEC, o dirigente considera que ela é o resultado de um planejamento que vem sendo executado desde a fundação da Unicamp, mas que ganhou nova dimensão a partir do advento da autonomia universitária, em 1989. “Atualmente, a Universidade tem dois terços do seu quadro docente com doutorado ou pós-doutrado no exterior, 98% com o título mínimo de doutor, 90% com dedicação integral à carreira e 90% participando das atividades de pós-graduação. Tudo isso sem dúvida contribui para o êxito da graduação”. Sobre o futuro, Mesquita Neto pensa que a instituição tem por tarefa aprofundar o processo de modernização da sua infraestrutura, consolidar cursos e espaços inter e multidisciplinares, ampliar o grau de internacionalização e seguir fortalecendo o programa de estágio docente, entre outras medidas.

Obras No que diz respeito à infraestrutura física dos campi em Campinas,

Limeira e Piracicaba, apenas nos últimos dois anos, os investimentos em obras chegaram a R$ 106 milhões. Ao todo, entre construções, reformas, benfeitorias e serviços de conservação, foram realizados no período 45 mil metros quadrados de obras físicas. Dessas, 14 mil metros quadrados referem-se a edificações novas ou ampliações, 8,6 mil metros quadrados a reformas e 22,5 mil metros quadrados a obras de infraestrutura. “Já há alguns anos a Unicamp vem dando uma atenção especial à infraestrutura física, que tem impacto importante nas atividades de ensino e pesquisa”, diz o pró-reitor de Desenvolvimento Universitário, Paulo Eduardo Rodrigues da Silva. Entre as principais obras executadas nos últimos dois anos, destacam-se as reformas das salas de aula do Ciclo Básico II e das salas de aula do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), a construção dos edifícios da pós-graduação da FCM, e do edifício para o Centro de Estudo do Petróleo (Cepetro) e Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe). Parte significativa dos investimentos relaciona-se ao Instituto de Artes (IA), cuja produção acadêmica tem forte expressão no País. São ao todo 13 projetos, totalizando investimentos da ordem de R$ 12 milhões. Ainda na área de infraestrutura para as atividades de ensino e pesquisa, o Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU) recebeu nos últimos anos o aporte da ordem de R$ 9,2 milhões, destinados pelo Programa FAP-Livros, mantido pela Fapesp. Os recursos permitirão a aquisição de mais 75 mil livros até o final de 2011, a maioria editada no exterior. Com a chegada desses títulos, a universidade deverá se aproximar da marca de um milhão de volumes impressos disponíveis. Atualmente, o SBU soma 846.553 unidades, sem contar os mais de 252 mil e-books. Outra ação importante no período foi a instalação de um novo software de gerenciamento do catálogo bibliográfico do SBU, a Base Acervus. O novo dispositivo proporcionou uma melhor gestão dos acervos realizado pelas bibliotecas, bem como maior agilidade no oferecimento de novos serviços à comunidade acadêmica, entre eles a renovação de livros on-line, realizada com a senha individual do usuário. Esse novo serviço possibilitou que a comunidade acadêmica realizasse, em 2009 e 2010, mais de 900 mil ações de renovação e reserva de materiais bibliográficos via Web. Foto:Antoninho Perri

Construção do novo teatro do Instituto de Artes: nos últimos dois anos, foram realizados 45 mil metros quadrados de obras físicas, entre construções, reformas e benfeitorias nos campi


8

Nas n bas ca

Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011

Infertilidade traz à tona diferenças entre marido e mulher Fotos: Antoninho Perri

Níveis de estresse e reações comportamentais são analisadas em dissertação de mestrado RAQUEL DO CARMO SANTOS

Q

kel@unicamp.br

uando o casal enfrenta problemas de infertilidade, as preocupações e os níveis de estresse diferem entre homens e mulheres. O marido tende a ficar mais estressado no relacionamento conjugal e sexual e na dificuldade em ter uma vida sem filhos. Já para a mulher, o relacionamento com família e amigos e a impossibilidade de gerar filhos são os motivos que mais vêm à tona. Estas situações foram identificadas em pesquisa de mestrado desenvolvida pela psicóloga Silvia Mayumi Obana Gradvohl durante a primeira visita de casais que foram em busca de tratamento para a infertilidade no Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti – Caism/ Unicamp. Os resultados do estudo, orientado pela professora Maria José Martins

A professora Maria José Martins Duarte Osis (à esq.), orientadora, e Silvia Gradvohl, autora: demora para buscar tratamento

Duarte Osis, sugerem que homens e mulheres passem por intervenções psicológicas de forma diferenciada quando estão em tratamento para minimizar o problema. “Ficou claro que o estresse ocorre em níveis e maneiras diferentes entre os homens e as mulheres e isto causou surpresa, pois se imaginava que o casal tinha sentimentos semelhantes. Por isso, a intervenção psicológica seria primordial para trabalhar aspectos específicos

de cada situação”, destaca Silvia, que aplicou um inventário de problemas de fertilidade em entrevistas feitas com 101 homens e 101 mulheres. As indagações sobre os níveis de estresse do casal durante tratamento para infertilidade surgiram a partir da experiência de estágio de Silvia no Ambulatório de Esterilidade da Unidade de Reprodução Humana do Caism/Unicamp. Ela realizava um primeiro atendimento com os casais

e notava que alguns já chegavam com níveis altos de estresse. No entanto, desconhecia se isto ocorria por conta da infertilidade ou não. Por isso, o estudo contemplou a avaliação do nível de estresse no que a psicóloga chamou de “domínios”. São eles: vida sem filhos, relacionamento conjugal/ sexual, relacionamentos sociais e maternidade/paternidade. A psicóloga observou também que, mesmo sendo um problema comum ao

casal, ao longo do tratamento apenas as mulheres retornavam para as consultas com frequência. “O homem, quando aparecia, era na condição de acompanhante” explica Silvia. Quando a dificuldade em gerar filhos era ocasionada por um distúrbio do homem, os pacientes eram encaminhados para outros setores específicos e o retorno ficava ainda mais difícil. Sempre a mulher é quem participava das consultas com assiduidade. “Apenas na primeira consulta era exigida a presença masculina. Por este aspecto, o homem sempre se colocava como acompanhante e não como parte importante do problema”, esclarece. Outro dado interessante apontado na pesquisa diz respeito ao tempo médio em que eles permaneciam sem filhos. Pelo estudo, a maioria dos casais tinha mais de quatro anos de união. Silvia acredita que muitos, depois do casamento, demoram a se dar conta de que são inférteis e, por isso, a busca pelo tratamento também ocorre tardiamente. “Outros, primeiramente, buscam ajuda em suas cidades e, quando não conseguem solucionar o caso, recorrem ao serviço no Caism. A resistência em realizar os exames para o diagnóstico também pode ser uma das justificativas para a demora em buscar o tratamento”, argumenta.

............................................................... ■ Publicação

Dissertação: “Estresse em casais inférteis que buscam tratamento” Autor: Silvia Mayumi Obana Gradvohl Orientador: Maria José Martins Duarte Osis Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

...............................................................

FEM desenvolve microbomba de membrana Portabilidade e baixo custo estão entre as vantagens do novo dispositivo MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

Pesquisa desenvolvida no Departamento de Mecânica Computacional da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp resulta em uma microbomba de membrana (com base em poliuretano acrilato) com ação eletromagnética e sem válvulas. O grande desafio da pesquisa, segundo a autora Camila Dalben Madeira Campos, foi substituir a microbomba pneumática anteriormente desenvolvida por outra que tivesse autonomia, facilitando sua adaptação a diferentes aplicações. Uma das vantagens do novo dispositivo é a portabilidade, o que não seria possível em sistemas dependentes de ar comprimido como a microbomba pneumática. A atuação magnética, segundo Camila, se apresenta como uma técnica eficiente e de baixo custo, sendo elencada como uma das vantagens pela autora. Segundo Camila, o dispositivo proposto apresenta vazões menores do que se atuado de forma pneumática, o que é mais adequado para microbombas que trabalham com pequenas vazões. Qualquer área que precise de escala de microlitros pode se beneficiar da microbomba de membrana. Entre as aplicações possíveis do dispositivo estão a dosagem de reagentes em indústrias químicas, injeção de amostras

em colunas de eletroforese capilar ou microcromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), além do acoplamento em Lab-on-a-Chip (LOC), sistema que pode permitir resultados de exames mais rápidos. Um tipo de Lab-on-a-chip que poderia usar esta microbomba seria por exemplo um dispositivo para análises químicas. Em seu projeto de iniciação científica, Camila tentou acoplar uma microbomba pneumática a um Lab-on-achip. “Virtualmente, a microbomba desenvolvida pode ser aplicada em qualquer lab-on-a-chip no qual haja a demanda por transporte de fluxo em volumes da ordem de microlitros por minuto”, acrescenta Camila. Para Camila, a pesquisa, como quase tudo na área de microfabricação, abre portas para o desenvolvimento futuro de sistemas de análises mais baratos, mais portáteis e mais ágeis. Isso, de acordo com a autora, significa a possibilidade de exames médicos mais baratos, fiscalizações mais eficientes, análises fáceis e rápidas. “A bomba por si só é apenas uma parte desse processo, mas quando se pensa em sistemas microfluidicos mais complexos, microbombas e microválvulas são elementos essenciais. Por isso, a eficiência, o custo e a qualidade desses elementos refletem diretamente nas características do dispositivo final”, acrescenta. De acordo com o orientador do trabalho, Eurípedes Guilherme de Oliveira Nóbrega, o resultado representa um avanço na área de estudos relacionados a microbombas desenvolvidos em diversos países. “Enquanto há grandes investimentos em projetos de desenvolvimento de sistemas de nanotecnologia, abre-se possibilidade de desenvolver microbombas a base de material acessível como plástico e polímeros de baixo custo”, declara Nóbrega. A técnica de fabricação de dispositivos miniaturizados de fluidos, que permitiu desenvolver os protótipos de Camila, também é brasileira

O orientador, professor Eurípedes Nóbrega, e Camila Campos, autora da dissertação que resultou na microbomba (destaque): abrindo frentes de pesquisa

e foi desenvolvida na Unicamp pelo professor Luís Otávio Saraiva Ferreira, da Faculdade de Engenharia Mecânica. A técnica utiliza uma membrana baseada em uretano e acrilato, úteis na produção de chapas para impressoras flexográficas em indústria gráfica. O trabalho, pautado na produção de sistemas microfluidicos, desenvolvido em 2006, já apontava possibilidades de desenvolvimento de microbombas com possibilidade de aplicação em biologia, química, biologia, medicina. De acordo com o trabalho, os sistemas microfluidicos poderiam ser usados até em exploração espacial. De acordo com Camila, o objetivo do trabalho foi alcançado com o desenvolvimento de protótipos de um diafragma magnético e de uma microbobina, que compõem a microbomba de membrana. A tecnologia consistiu no desenvolvimento de diafragmas a partir de membranas fabricadas por meio da corrosão de lâminas de silício ou por fotopolimerização de resinas de

poliuretano acrilato. Nóbrega acrescenta que a pesquisa com microbombas abrange pesquisadores de diferentes partes do mundo. A maioria dos estudos está associada à área de saúde. Na Unicamp, várias áreas se envolvem com o desenvolvimento de microdispositivos. A pesquisa de Camila contou com o suporte de várias unidades, entre as quais o Instituto de Química (IQ), o Centro de Componentes Semicondutores (CCS), Instituto de Física Gleb Wathagin (IFGW) e o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS).

Estudos futuros O desenvolvimento da microbomba de membranas abre caminho para a realização de estudos futuros, segundo Camila. Os dispositivos necessitam de uma abordagem aprofundada sobre os diafragmas magnéticos, a fim de otimizar a relação “área depositada-área livre” e a geometria dos magnetos nos filmes fragmentados. A autora sugere testes com a otimização de desem-

penho de outros filmes magnéticos. Uma alternativa, segundo ela, seria a utilização de filmes de alta retentividade transferíveis por técnicas de silk screen. De acordo com a pesquisadora, a microbobina desenvolvida na pesquisa pode ser considerada apenas uma prova de princípio, pois novos estudos são necessários para compreender e minimizar o efeito da rugosidade antes que o dispositivo desenvolvido possa ser aplicado em amostras com aplicação prática em LOC ou para fins comerciais. Ao analisar os diafragmas para conhecer suas propriedades magnéticas, a composição do filme superficial e o comportamento mecânico em um campo magnético, ela constatou que os filmes depositados sob ação de um campo magnético tiveram desempenho superior em testes magnéticos em relação àqueles depositados na ausência do campo. Por meio de imagens obtidas por FIB/SEM, a pesquisadora observou maior uniformidade e menor rugosidade da superfície da membrana, porém, notou a incidência de fraturas maiores nesses filmes. Com o intuito de obter uma boa ação magnética durante a pesquisa, a autora testou diferentes modelos de acionador. Um deles consiste numa bobina com núcleo de ferrite, acionada por sinais senoidais tonais, devido a sua estabilidade, boa relação sinal-ruído e facilidade de atuação. “A interação entre propriedades magnéticas e mecânicas é responsável pelo desempenho do diafragma nos testes de vibração”, reforça Camila.

............................................................... ■ Publicação

Dissertação:” Desenvolvimento de uma microbomba de membrana com atuação magnética” Autoria: Camila Dalben Madeira Campos Orientação: Eurípedes Guilherme de Oliveira Nóbrega Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)

...............................................................


Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011

9

Energia de ponto zero Feito publicado na Nature só havia sido alcançado em sistemas de armadilhas ópticas

Fotos: Antoninho Perri/Reprodução

CARMO GALLO NETTO

O

carmo@reitoria.unicamp.br

professor Thiago Alegre, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp, integrou equipe que, pela primeira vez, conseguiu resfriar o modo mecânico de um nano-objeto, uma microcavidade composta por milhões de átomos. Utilizando luz laser o grupo conseguiu que a temperatura do modo mecânico ficasse próxima do zero absoluto (zero graus kelvin), levando-o ao seu estado de mais baixa energia atingível, a chamada energia de ponto zero (ground state), em que não ocorrem mais vibrações das particulas. O feito só fora alcançado anteriormente em sistemas de armadilhas ópticas envolvendo poucos átomos. A conquista abre caminho para o desenvolvimento de detectores de massa e força extremamente sensíveis, bem como para o desenvolvimento de experimentos quânticos em sistemas macroscópicos com bilhões de átomos, sonho dos cientistas há quase uma década. O grupo de pesquisadores responsáveis pelo estudo pertence ao Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e contou com a colaboração de uma equipe da Universidade de Viena. Os resultados mereceram quatro páginas na edição de outubro da revista científica Nature e mais de uma página na secção News&Views da mesma edição, o que atesta sua relevância. Nessa apresentação o autor, Florian Marquardt, elenca os pontos principais do trabalho, destaca sua importância, estabelece comparações com pesquisas anteriores e antevê possíveis desdobramentos. O Caltech ocupa o primeiro lugar entre as melhores universidades do mundo, conforme ranking publicado em outubro pelo Times Higher Education (THE), superando instituições tradicionais como Harvard, Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), Cambrige e Oxford. Tornar-se aluno desse seleto e conceituado Instituto – que não chega a ter mais de mil alunos matriculados na graduação e cerca de 1.200 na pósgraduação – constitui um feito para qualquer estudante. Particularmente para os oriundos do Brasil, pois são pouquíssimos os brasileiros que nele ingressam, caso de Thiago Alegre que lá cumpriu período de três anos de pós-doutorado, depois da graduação e do doutorado na Unicamp, onde se tornou professor concursado recentemente.

Como foi feito O artigo publicado na Nature descreve como a equipe liderada pelo professor Oskar Painter projetou, obteve e resfriou cavidades ópticas nanométricas em uma nanoviga de silício, na qual são feitos buracos da ordem de 200 nanômetros que ocupam posições previamente estudadas. A nanoviga tem 560 nanômetros de largura e 15 microns de comprimento e é visível ao microscópio convencional. O mícron e o nanômetro são, respectivamente, a milionésima e a bilionésima parte do metro. A posição geométrica dos buracos na nanoviga permite que apenas uma frequência (cor) de um laser, ou fótons, possa ser confinada na região central da nanoviga formando uma cavidade óptica. A figura 1 representa a nanoviga

O professor Thiago Alegre, do Departamento de Física Aplicada do IFGW, um dos autores do artigo: “Criamos um caminho óptico”

Fig. 1 Nanoviga sustentada por estrutura em forma de cruzeiro; no centro da nanoviga ocorre a concentração de fótons e fônons

Fig. 2 A luz que chega e sai da nanoviga é conduzida através de uma fibra óptica

Fig. 3 A figura representa de forma exagerada a distensão que ocorre na região central da nanoviga

e toda a estrutura de silício que lhe dá suporte. Thiago explica que, para interagir com o sistema, a luz laser é conduzida por uma fibra óptica mantida próxima à região central da nanoviga, conforme mostra a figura 2. É nesta região que os fótons ficam concentrados e confinados em decorrência tanto da diferença do índice de refração entre o silício e o ar, quanto da geometria e periodicidade dos pequenos buracos ao longo dela, formando um cristal fotônico. Nestes sistemas são dispostos de forma alternada e sucessiva dois materiais de índices de refração diferentes, No caso da nanoviga utilizada intercalamse silício e ar (buracos). Com isso, forma-se uma região transparente a apenas uma frequência de luz (cor), sendo então todas as demais frequências refletidas pelo material. Este efeito é similar ao que dá às borboletas sua coloração azulada, pois na natureza a alternância de pequenas estruturas nas asas deste inseto leva à reflexão apenas da cor azul. Ou seja, a coloração observada resulta dessas estruturas e não da pigmentação. A utilização deste efeito permite criar uma cavidade óptica em que um determinado tipo de luz (fótons) fica confinado em uma pequena região. O sistema determinado por essas cavidades ópticas têm a propriedade de também servir de oscilador mecânico e aprisionar fônons, que são partículas associadas com oscilações mecânicas assim como os fótons estão associados com as oscilações eletromagnéticas (luz). A figura 3 mostra a região em que se dá a oscilação. Ao confinar o campo óptico e o campo mecânico em uma mesma região promove-se uma grande interação entre fótons e fônons. Alegre observa que a medida da diferença entre o tipo de fóton (luz) que entra e o tipo de luz que sai da cavidade permite informações sobre o sistema. Através da caracterização da luz que sai consegue-se determinar o movimento da cavidade e associar essa vibração à sua temperatura interna. Os fótons que entraram na cavidade exercem força em suas paredes e ao empurrá-la mudam seu tamanho, o que facilita o escape de fótons, provocando a diminuição das forças que atuam na cavidade. Nesse processo dinâmico, essas forças atuantes aumentam e diminuem alternadamente. Esse ciclo de alimentação permite interferir no sistema, de modo a frear o movimento de vibração. Manipulando a cor da luz colocada no sistema, controla-se a alternância da força que atua na nanovigota e que a faz vibrar. Com uma força capaz de se opor à vibração, consegue-se parar o

movimento ou então, inversamente, provocar aumento da vibração até criar um oscilador. O pesquisador esclarece que, escolhendo cuidadosamente a frequência do laser de excitação, o grupo conseguiu extrair energia mecânica através da luz que sai da cavidade, o que leva ao resfriamento do sistema. “Isso acontece porque a cavidade prefere espalhar a luz de determinada frequência. Quando a diferença entre essa frequência natural da cavidade e a frequência do laser incidente se iguala à frequência com que a oscilação mecânica ocorre, pode-se intervir nessa oscilação de forma a ampliá-la ou até anulá-la. Dessa forma cria-se uma interface eficiente entre um sistema óptico e um sistema mecânico em que a informação pode fluir de um para outro. Em outras palavras: para ser aprisionada na cavidade óptica a luz, com energia menor que a cavidade, precisa ganhar energia, mudando de cor, o que é possível absorvendo energia mecânica do sistema, que é assim resfriado. O sistema se mostrou tão eficiente que os pesquisadores conseguiram congelar e medir as vibrações em nível equivalente a um fônon”, diz ele. Alegre lembra que um dos recursos utilizados para estudar efeitos quânticos em escala macroscópica – assim considerado o sistema montado – tem sido a utilização de temperaturas próximas ao zero absoluto. Por isso o primeiro passo é levar o sistema ao estado fundamental – que é aquele em que cessam todos os movimentos – baixando sua temperatura global até poucas dezenas de milikelvin. Para chegar a esse estado fundamental é necessário trabalhar com temperaturas próximas do zero absoluto, o que é bastante complexo e caro, por isso, afirma ele, “não baixamos a temperatura global do sistema e optamos por trabalhar em uma temperatura de cerca de 20 kelvin (cerca de -250 oC). Ou seja, em vez de baixar a temperatura de todo o sistema criamos um caminho óptico para que apenas o modo vibracional chegasse próximo do zero kelvin”.

News& Views Na secção News&Views da mesma edição da Nature, Florian Marquardt, que faz a apresentação do artigo, lembra o conhecido efeito da luz solar que é capaz de empurrar sólidos, a exemplo do que ocorre com a cauda dos cometas que se deslocam para o lado oposto à sua incidência. Nos últimos anos os pesquisadores aprenderam a aproveitar essas forças da luz no mundo nano e usá-las para manipular as vibrações mecânicas de pequenos objetos. Esclarece que a equipe do professor Oskar Painter descreve como explorou a luz do laser para amortecer o movimento de um ressonador nanomecânico. Acrescenta que o experimento constitui a primeira tentativa bem-sucedida em expurgar todos os fônons para fora do ressonador, deixando as vibrações do sistema no estado de energia mais baixo possível permitido pela mecânica quântica: o estado fundamental. Considera ainda que os resultados pavimentam o caminho para a utilização da luz na realização de muitos outros fenômenos quânticos físicos em tais estruturas. Alem de Thiago Alegre, participaram da elaboração do artigo que trata do “Resfriamento a laser de um oscilador nanomecânico até o seu estado quântico fundamenta” (Laser cooling of a nanomechanical oscillator into its quantum ground state) o pesquisador Markus Aspelmeyer e o pós-doutorando Simon Gröbracher, do Vienna Center of Quantum Science and Technology, e os doutorandos do Caltech Jasper Chan, primeiro autor, Amir Safavi-Naeini, Jeff Hill e Alex Krause.

............................................................. ■ Publicação

Artigo: Laser cooling of a nanomechanical oscillator into its quantum ground state Autores: Jasper Chan, Amir Safavi-Naeini, Jeff Hill e Alex Krause, Markus Aspelmeyer, Simon Gröbracher, Thiago Alegre Revista Nature

.............................................................


10 Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

aa c dêi ma c

Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011

Painel da semana  PRG e PRPG organizam a exibição de PHD Movie - As Pró-reitorias de Graduação (PRG) e de Pós-graduação (PRPG) organizam no dia 28 de novembro, às 12h30, no auditório principal da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a exibição do filme PHD Movie. O filme não é dublado e não haverá legendas em português. Alunos PAD/PED e interessados poderão assistir ao filme. O registro de interesse deve ser feito por meio de preenchimento de formulário eletrônico no link: http://www.prg.unicamp.br/portal/index. php?option=com_content&view=article&id=447 %3Aunicamp-exibe-filme-phd-movie&catid=78% 3Apad&Itemid=170&lang=pt  Fórum de Empreendedorismo e Inovação - No dia 28 de novembro, das 9 às 17 horas, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Empreendedorismo e Inovação. A Mentoria Empresarial para Inovação é o tema central do evento. Programação e outras informações no site http://foruns.bc.unicamp.br/empreen/ foruns_empreen.php  Cadernos de Desenhos - A Coleção Cadernos de Desenho, coedição da Editora da Unicamp com a da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp), apresenta ao público mais três livros. Desta vez as anotações e os esboços de importantes nomes das artes plásticas brasileiras no século XX: Anita Malfatti, Faya Ostrower e Renina Katz. O lançamento dos livros acontece no dia 28 de novembro, a partir das 19 horas, na Casa das Rosas (Av. Paulista 37, Bela Vista), em São Paulo-SP. Mais detalhes: 11-2799-9740  Mídia e ciência - No dia 29 de novembro, das 8 às 17 horas, acontece o quarto encontro Mídia e Ciência com o tema “O jornalismo científico e a popularização da ciência no Brasil “. O evento ocorre no auditório José Irineu Cabral (Edifício Sede da Embrapa – Parque Estação Biológica, final Av. W3 Norte, Asa Norte), em Brasília-DF. A promoção é da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Mais detalhes em http://www.cenargen.embrapa. br/eventos/2011/1111_4encontroMidiaCiencia.html  Memória e Fotografia - O Grupo de Pesquisa Memória e Fotografia (GPMeF) promove até 30 de novembro, no saguão do Ciclo Básico Básico I da Unicamp, a exposição fotográfica ‘Fé, Festa e Memória’. A mostra apresenta 23 fotografias coloridas (30x45 cm) que revelam diferentes olhares de pesquisadores sobre aspectos da tradição e da memória da religiosidade popular. O trabalho integra o calendário oficial do V Festival Hercule Florence de Fotografia realizado em Campinas durante o mês de outubro de 2011. Mais informações: amarildo@unicamp.br  Cinema e Fotografia - A II Jornada de Estudos de Cinema e Fotografia do Programa de Pós-Graduação em Multimeios do Instituto de Artes (IA) da Unicamp ocorre nos dias 1 e 2 de dezembro, no IA. A organização é do professor Marcius Cesar Soares Freire. Outras informações podem ser obtidas no site http:// jornadamultimeios.wordpress.com/ ou telefone 19-8283-9006.

 Ciência do Desporto - O IV Congresso de Ciência do Desporto e III Simpósio Internacional de Ciência do Desporto serão realizados de 1 a 3 de dezembro, no Centro de Convenções da Unicamp. A organização é da Faculdade de Educação Física (FEF). O evento, que se realiza a cada dois anos, tem por objetivo divulgar, discutir e dialogar ao refletir sobre tendências, pesquisas, tecnologias e desafios da área. Visa também proporcionar o intercâmbio e o compartilhamento de experiências entre pesquisadores e estudiosos nacionais e internacionais. Saiba mais no site http://www.fef.unicamp.br/ccd2011/  Palestras da Shell - Especialistas da empresa Shell ministram no dia 1 de dezembro, às 14 horas, no auditório da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL), as palestras “A busca pela eficiência energética” e “Reflexos sociais e econômicos da nova realidade energética”. Elas são destinadas aos alunos de Engenharia, de Química, de Biologia e interessados. Para mais informações envie mensagem para o e-mail karina@jobbybob.com.br  Lume Teatro - 25 anos - A Editora da Unicamp, o Lume Teatro e a Livraria Cultura organizam no dia 1 de dezembro, às 19 horas, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi Campinas, o lançamento do livro “Lume Teatro - 25 anos”. Mais detalhes pelo telefone 19-3289-9869.  Oficina de Física - O Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) organiza no dia 3 de dezembro, das 8h30 às 17 horas, a XXVIII Oficina de Física com o tema Carbonos. O evento ocorre no auditório do IFGW e as inscrições podem ser feitas no link http://portal.ifi.unicamp.br/ oficinas_de_fisica/. Alunos de escolas/universidades públicas/particulares pagam R$ 21. Para professores de escolas públicas/particulares, funcionários públicos, bolsistas de Pós-graduação e de pós-doutoramento, a taxa é R$ 31. Para profissionais liberais e outros: R$56. Outras informações: 19-3521-5286.  Duathlon Contra Relógio - O III Duathlon Contra Relógio da Unicamp ocorre no dia 3 de dezembro, às 18 horas, na piscina da Faculdade de Educação Física (FEF). O evento é organizado pelo professor Orival Jr. (FEF). Mais informações pelo e-mail wagner.dcs@hotmail. com ou telefone 19-9123-5228.  Domingo no Lago - A Casa do Lago organiza no dia 4 de dezembro, a próxima edição do Domingo no Lago. Atrações: Troupe Per Tutti (10h30 e 11h30), CorPU e Camerata Anima Antíqua: concerto com 2 grupos vocais de câmera do Instituto de Artes da Unicamp, às 11h30. Informações: 19-35217017.  Resíduos em universidades - No dia 7 de dezembro, o Grupo Gestor Ambiental fará a divulgação regional do livro Gestão de resíduos em universidades. O evento ocorre das 9 às 14 horas, no Espaço Cultural Casa do Lago. A organização é do professor Edson Tomaz. Mais detalhes: 19-3521-8071.  Faço Parte desta História – A publicação será lançada no dia 7 de dezembro, às 17h30, no auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA). O evento faz parte das comemorações dos 45 anos da Unicamp.  Reunião Técnica do LEAL - A Faculdade de Tecnologia, através do Laboratório de Ecotoxicologia e Microbiologia Ambiental “Abílio Lopes de Oliveira Neto”, organiza a 3ª Reunião Técnica do Leal sobre o tema “Ferramentas e Soluções em Saúde Ambiental”. O evento ocorre no dia 8 de dezembro, a partir das 14 horas, no auditório (PA 3) da FT. Os palestrantes serão Tamara Grummt e Andrea Sehr, da Federal Environment Agency de Bad Elster-Alemanha; e Tracy Collier, da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), de Seatle-USA. A organização é da professora Gisela de Aragão Umbuzeiro. Outras informações: 19-2113-3458 ou no site http://www.ft.unicamp.br/

Eventos Futuros  Inovações em Atividades Curriculares - O III seminário “Inovações em Atividades Curriculares: Experiências no Ensino Superior” acontece de 12 a 14 de dezembro, no Centro de Convenções da Unicamp. O programa e o cronograma do evento estão no link: http://www.prg.unicamp.br/inovacoes/2011. A organização é da Pró-Reitoria de Graduação (PRG) e da Faculdade de Educação

(FE) da Unicamp.  Prêmio Paepe – As Comissões Julgadoras Locais já elegeram os melhores projetos da edição 2011 do Prêmio Paepe. Foram inscritos 193 projetos nas diversas Unidades e Órgãos da Universidade, dos quais foram selecionados 37 para concorrer ao melhor projeto da Unicamp. A entrega dos prêmios será feita no dia 19 de dezembro, e a divulgação do projeto escolhido pela Comissão Julgadora Geral será realizada na mesma ocasião. Para conhecer os projetos inscritos e saber quais foram os vencedores em cada âmbito, acesse o site http://www.dgrh. unicamp.br/premiopaepe  Multimodalidade e construção de sentidos no meio digital - Curso será ministrado pela professora Inês Signorini, de 16 a 31 de janeiro de 2012, das 8 às 13 horas, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). As matrículas devem ser feitas de 19 a 21 de dezembro de 2011. A organização é da Coordenadoria de Pós-graduação do IEL. Mais informações: 19-3521-1506.  Vestibular Unicamp – A Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) divulga, dia 20 de dezembro, a lista de convocados e dos locais de prova da 2ª fase (na internet e no campus de Campinas) do Vestibular 2012

Tese da semana  Alimentos - “Efeito do consumo de hidrolisado do soro de leite no metabolismo energético e no estado redox de ratos sedentários e exercitados” (mestrado). Candidata: Daniela Gasparetto. Orientador: professor Jaime Amaya-Farfán. Dia 6 de dezembro, às 14 horas, no anfiteatro do Departamento de Alimentos e Nutrição da FEA.  Economia - “Riqueza e progresso: uma introdução ao estudo dos limites da sociedade capitalista” (mestrado). Candidato: Henrique Pereira Braga. Orientador: professor Plínio Soares Arruda Sampaio Júnior. Dia 6 de dezembro, às 16 horas, no Pavilhão da Pós-graduação do IE. - “Entre a teoria e a prática: uma análise das políticas de combate à pobreza em três países da América Latina – México, Brasil e Peru” (doutorado). Candidata: Luciana Rosa de Souza. Orientador: professor Walter Belik. Dia 7 de dezembro, às 14 horas, no Pavilhão da Pós-graduação do IE.  Educação - “Narrativas de mulheres-estudantes na formação inicial de professores: a busca de um sonho e o encontro da realidade” (mestrado). Candidata: Elisete de Oliveira e Souza Frigo. Orientadora: professora Ana Lucia Guedes Pinto. Dia 5 de dezembro, às 14 horas, na FE.  Educação Física - “Práticas corporais alternativas e Educação Física: entre a formação e a intervenção” (doutorado). Candidata: Juliana Cesana. Orientador: professor João Batista Andreotti Gomes Tojal. Dia 28 de novembro, às 14 horas, no auditório da FEF. - “O floreio na Capoeira” (mestrado). Candidata: Lívia de Paula Machado Pasqua. Orientador: professor Marco Antonio Coelho Bortoleto. Dia 5 de dezembro, às 9 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Elétrica e de Computação - “Um ambiente virtual de aprendizagem que utiliza avaliação formativa, a tecnologia de mensagens curtas e dispositivos móveis” (mestrado). Candidata: Samira Muhammad Ismail. Orientador: professor Gilmar Barreto. Dia 28 de novembro, às 10 horas, na FEEC. - “Um algoritmo de segmentação de íris em tempo real” (mestrado). Candidato: Daniel Felix de Brito. Orientador: professor Lee Luan Ling. Dia 2 de dezembro, às 10 horas, na FEEC. - “Sistemas dinâmicos de eventos discretos com aplicação ao fluxo geodésico em superfícies hiperbólicas” (doutorado). Candidato: Daniel Pedro Bezerra Chaves. Orientador: professor Reginaldo Palazzo Júnior. Dia 5 de dezembro, às 14 horas, na FEEC. - “Síntese automática de redes neurais artificiais com conexões à frente arbitrárias” (doutorado). Candidato: Wilfredo Jaime Puma Villanueva. Orientador: professor Fernando José Von Zuben. Dia 7 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEEC. - “Equipamento eletrônico de baixo consumo com comunicação sem fio para auxílio nas inspeções de detecção de roubo de energia elétrica” (mestrado). Candidato: Flávio José de Morais. Orientador: professor José Antonio Siqueira Dias. Dia 7 de

dezembro, às 14 horas, na sala PE-11 da FEEC.  Engenharia Mecânica - “Estudo da Pirólise de Cana de Açúcar integral” (mestrado). Candidata: Liena Del Rosario Marín Mesa. Orientador: professor Caio Glauco Sanchez. Dia 29 de novembro, às 9 horas, na FEM.  Engenharia Química - “Influência de diferentes materiais na formação e susceptibilidade de biofilmes a agentes antimicrobianos” (doutorado). Candidata: Eliane Gama Lucchesi. Orientadora: professora Ângela Maria Moraes. Dia 29 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEQ. - “Produção de enzimas fúngicas hidrolíticas para obtenção de aminooligossacarídeos” (doutorado). Candidata: Talita Loples Honorato. Orientadora: professora Telma Teixeira Franco. Dia 2 de dezembro, às 9h30, na sala de defesa de teses da FEQ. - “Estudo de processo de reciclagem do composto de polietileno e alumínio proveniente de embalagens cartonadas assépticas através de simulação computacional usando o método dos elementos discretos (Dem)” (mestrado). Candidato: Edy Maicon Merendino. Orientador: professor José Roberto Nunhez. Dia 6 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses - Bloco “D”.  Geociências - “Revalorização urbana no centro histórico de SP: uma análise dos novos usos” (mestrado). Candidata: Fernanda Pereira Liguori. Orientadora: professora Arlete Moysés Rodrigues. Dia 28 de novembro, às 14 horas, no auditório no IG.  Humanas - “Os caminhos de Gilberto Mendes e a música erudita no Brasil” (doutorado). Candidata: Carla Delgado de Souza. Orientadora: professora Rita de Cássia Lahoz Morelli. Dia 2 de dezembro, às 14 horas, no prédio da Pós-graduação do IFCH.  Linguagem - “Representações da infância, da adolescência e da juventude nas crônicas e na prosa ficcional de Raul Pompéia” (doutorado). Candidato: Danilo de Oliveira Nascimento. Orientador: professor Mário Luiz Frungillo. Dia 28 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “Sobre a produção vocálica na síndrome de Down: descrição acústica e inferência articulatórias” (doutorado). Candidata: Mariana dos Santos Oliveira. Orientador: professor Wilmar da Rocha D’Angelis. Dia 6 de dezembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “A extraordinária e irresoluta história da trajetória de Roxana e Moll Flanders” (doutorado). Candidata: Shellida Fernanda da Collina Viegas. Orientadora: professora Suzi Frankl Sperber. Dia 7 de dezembro, às 11h30, na sala de defesa de teses do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “Família de aplicações bilhares geradas pelo fluxo de curvatura” (doutorado). Candidato: Josué Geraldo Damasceno. Orientador: professor Mário Jorge Dias Carneiro. Dia 7 de dezembro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.  Medicina - “Identificação de genes de susceptibilidade ao carcinoma de células escamosas de base de língua por genotipagem em larga escala” (doutorado). Candidato: Gustavo Jacob Lourenço. Orientadora: professora Carmen Silvia Passos Lima. Dia 29 de novembro, às 8h30, no anfiteatro da CPG/FCM. - “Corticosteróides tópicos para ceratoconjuntivite adenoviral: revisão sistemática tipo m” (doutorado). Candidato: Enzo Augusto Medeiros. Orientador: professor Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira. Dia 30 de novembro, às 10 horas, no anfiteatro da Oftalmologia no HC  Química - “Desenvolvimento de métodos alternativos para a determinação de íons metálicos sódio, potássio, cálcio e magnésio em amostras de biodiesel” (doutorado). Candidata: Lilia Basilio de Caland. Orientador: professor Matthieu Tubino. Dia 29 de novembro, às 14 horas, na Sala IQ-14. - “Metalopolímero de pentacianoferrato e poli(4vinilpiridina): síntese, caracterização e aplicação na produção de estruturas automontadas” (mestrado). Candidato: Sergio Augusto Venturinelli Jannuzzi. Orientador: professor André Luiz Barboza Formiga. Dia 2 de dezembro, às 9h30, na Sala IQ-14. - “Estudo da degradação térmica de antocianinas de extratos de uva (Vitis vinifera L. ‘Brasil’) e jabuticaba (Myrciaria cauliflora)” (mestrado). Candidata: Aline Guadalupe Coelho. Orientadora: professora Adriana Vitorino Rossi. Dia 7 de dezembro, às 14 horas, no Miniauditório do IQ. - “Estudo qualitativo e quantitativo de biomarca-

Livro

da semana

Introdução a sistemas de energia elétrica Autores: Alcir Monticelli e Ariovaldo Garcia ISBN: 978-85-268-0945-1 Ficha técnica: 2a edição, 2011; 264 páginas; formato: 21 x 28 cm; Área de interesse: Engenharia elétrica Preço: R$ 48,00 Sinopse Um dos estudos realizados com maior freqüência tanto na operação como no planejamento de redes de transmissão de energia elétrica é o chamado cálculo de fluxo de potência ou fluxo de carga. Nesses cálculos, é utilizado um modelo estático da rede de energia elétrica, ou seja, um modelo no qual são ignoradas as variações com o tempo. Nesses estudos, em geral, são consideradas conhecidas as gerações e as demandas para um dado cenário, e são calculadas as tensões e os fluxos de potência na rede. O sistema elétrico é modelado através de seus componentes principais, como, por exemplo, linhas de transmissão, transformadores, cargas e geradores. Este livro trata da modelagem desses componentes visando a sua utilização no cálculo de fluxo de carga. A maior parte do livro trata de sistemas de corrente alternada, exceto um capítulo que resume as características de linhas de transmissão em corrente contínua. No intuito de ilustrar a utilização dos modelos desenvolvidos, um capítulo sobre o cálculo de fluxo de carga, com exemplos numéricos, também é apresentado. Autores Alcir J. Monticelli formou-se em engenharia eletrônica no ITA (1970), realizou o mestrado em telecomunicações na UFPB (1972) e o doutorado em automação na Unicamp (1975), onde foi professor titular de 1982 a 2001. Foi fellow do IEEE e membro da Academia Brasileira de Ciências. É autor de outros dois livros, Fluxo de carga em redes de energia elétrica (Edgar Blucher, 1982) e Eletric power systemstate estimation (Kluwer Academic Publishers, 1999). Falecido em 2001, recebeu o título de professor emérito (post-mortem) da Unicamp em 2002. Ariovaldo V. Garcia é formado em engenharia elétrica pela Unicamp (1975), onde também realizou o mestrado e o doutorado em automação (1977 e 1981). Foi professor titular do Departamento de Sistemas de Energia Elétrica da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação até outubro de 2010, quando se aposentou. Tem atuado ativamente no desenvolvimento de softwares para análise em tempo real de redes elétricas e em sistemas de gerenciamento energéticos para várias empresas do setor elétrico. dores ácidos e hidrocarbonetos presentes em óleos da Bacia Potiguar” (doutorado). Candidata: Rosane Alves Fontes. Orientadora: professora Luzia Koike. Dia 7 de dezembro, às 9 horas, no Miniauditório do IQ.

DESTAQUES do Portal da Unicamp Foto: Antonio Scarpineti

Um convite para participar do Programa de Avaliação da Graduação do 2º semestre 18/11/2011 — O Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)² convida docentes e estudantes a participarem do Programa de Avaliação da Graduação (PAG) do segundo semestre de 2011. O PAG foi instituído para aprimorar as condições do ensino de graduação e tem ajudado a conhecer melhor a realidade dos cursos e as características do trabalho pedagógico desenvolvido por professores e estudantes nos diferentes espaços educativos, com destaque para a sala de aula. O processo consiste de autoavaliação, avaliação de curso e avaliação de disciplinas. A participação é voluntária, online, sendo que o questionário [http://www.ea2.unicamp.br/ joomla/] está disponível até 20 de dezembro. Depois de programas-pilotos em algumas unidades, o PAG foi universalizado para toda a Unicamp no primeiro semestre deste ano. “A primeira avaliação foi seguida de um encontro com coordenadores de cursos, por áreas de conhecimento, o que permitiu qualificar os dados obtidos e, de alguma maneira, dar início a diagnósticos e estabelecer parcerias para definir uma agenda de trabalho comum. Isso porque nosso papel é de apoio e não de planejador do ensino: a autonomia da unidade, do curso e da docência precisa

ser sempre respeitada”, ressalta o professor José Alves de Freitas Neto, coordenador do (EA)², órgão subordinado à Pró-Reitoria de Graduação (PRG). A professora Mara Regina Lemes de Sordi, coordenadora do Núcleo de Avaliação, observa que a comunidade acadêmica, normalmente, demonstra resistência a avaliações, por julgar que nada acontece após a coleta de informações. “Esta é a grande crítica que existe contra qualquer modelo de avaliação. No nosso caso, é importante informar que o primeiro PAG originou um conjunto de ações, como a discussão de problemas e de ações com coordenadores, a socialização dos dados, a captação de ideias e o surgimento de um espírito de planejamento a partir da avaliação. É um processo circular – e não somente de tomada regular de informações.” Segundo Freitas Neto, 13% dos alunos de graduação aderiram ao primeiro PAG, índice que considera abaixo do ideal, mas nada desprezível, já que equivale a cerca de 2 mil questionários respondidos. “É um volume de informações que trouxe indicativos interessantes, como por exemplo, de que nosso aluno reconhece a qualidade e o esforço dos docentes; que as bibliotecas e laboratórios

José Alves de Freitas Neto e Mara Regina Lemes de Sordi: diagnóstico em construção, a partir do diálogo com docentes e alunos

em geral funcionam bem; e que também há carências, como de espaços esportivos e culturais. Além disso, pudemos reconhecer que 80% dos estudantes não se envolvem em atividades político-partidárias ou mesmo com o movimento estudantil, 85% não aderem a trabalhos voluntários ou religiosos e 70% não desenvolvem atividades culturais.” Em relação aos docentes, o coordenador do (EA)² informa que a adesão foi de 18%, possibilitando a identificação de problemas

que são recorrentes em diferentes unidades e cursos, bem como outros mais específicos. “Existe desde a queixa de professores diante da estrutura congelada de uma grade curricular – quando os alunos ingressantes apresentam um novo perfil e uma nova demanda –, até em relação a aspectos de infraestrutura que impactam na qualidade do ensino na unidade.” De acordo com Mara Regina de Sordi, à medida que o (EA)² vai cotejando as diversas áreas, dialogando e compreendendo a cultura

dos lugares, é possível identificar semelhanças que orientem planos de ação. “A intenção é se aproximar o tanto quanto possível daquilo que as unidades reclamam como apoio, reconhecendo, além de problemas de infraestrutura, necessidades como de alteração de práticas pedagógicas, permitindo ao professor exercitar novas metodologias. Ao invés ficar à distância, pensando no que convém a docentes e alunos, queremos dialogar e nos colocar a serviço dessas demandas e apontar outras, numa postura proativa. É um processo que está sendo construído, numa perspectiva formativa, sem a menor característica de procurar culpados, e sim de entender a complexidade do fenômeno e intervir conjuntamente.” José Alves de Freitas Neto afirma que a opção pela participação anônima e voluntária reflete em dados mais fidedignos em comparação a uma avaliação obrigatória, como existe em outras instituições. “Mas nosso principal desafio é ampliar o envolvimento da comunidade para que não fiquemos numa avaliação meramente burocrática. Estamos à disposição das representações das unidades e estudantis para dar esclarecimentos e aperfeiçoar o instrumento. Esse processo está sendo um start para que a Unicamp possa olhar seu ensino de graduação com olhos que não sejam nem de defesa, nem de acusação. O objetivo é a consolidação de uma cultura onde a avaliação não seja apenas um momento, mas integrada e encarnada em nossas práticas acadêmicas.”

(Luiz Sugimoto)


Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011

11 Fotos: Reprodução/Divulgação

Acima e abaixo, construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré: Tomlinson via a obra como indício da interferência urbana

A

MARIA ALICE DA CRUZ halice@unicamp.br

Amazônia é um dos lugares preferidos por estrangeiros em viagens pelo mundo. Algumas obras sobre a região já passaram pelas mãos de tradutores brasileiros. Faltava, porém, verter as impressões do jornalista inglês Henry Tomlinson registradas no livro O Mar e a Selva, escrito em sua primeira e única viagem à Amazônia, em 1909. Em tese de doutorado orientada pelo professor Carlos Eduardo Ornelas Berriel, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), o pesquisador Hélio Rodrigues da Rocha dedicou-se a traduzir e analisar a obra, em que o escritor inglês descreve e decanta a Amazônia em detalhes mínimos. Na obra, Tomlinson aborda desde o sublime, descrevendo desde a aurora inigualável da Amazônia até a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, a qual para ele já era um indício da interferência urbana e de conflitos entre a civilização e os nativos. O desencantamento é perceptível somente quando o escritor fala sobre o estado urbano-industrial que já se anunciava. O próprio steam ship (navio a vapor) England, apelidado no relato de Capella, os trens e outras invenções da era urbano-industrial da época possibilitaram a construção da imagem de uma natureza transformada pelo próprio espetáculo da modernidade. O navio a vapor, com a invenção de James Watt, acelerou esse processo de conhecimento das terras longínquas dos grandes centros industriais. Ao refletir sobre as possíveis mudanças no lugar, ele escreve que “o homem deixou de sonhar, de imaginar, e o seu reinado está perdido”. Segundo Rocha, a produção discursiva contida no livro se revela como o relato de um sonhador. Para ele, o polêmico Tomlinson era um rebelde filosófico e um crítico social que aproveitou a oportunidade de escapar de Londres para, no percurso de sua viagem ao Brasil, pensar a conduta humana. “O Mar e a Selva é material amazônico. Mais um motivo para se fazer um estudo investigativo da obra, bem como sua tradução para a língua portuguesa. A leitura torna-se acessível a leitores brasileiros”, declara Rocha. Ao falar do peregrino Tomlinson rumo ao sublime romântico, Rocha afirma que, logo no início do relato, o mundo se renova para o eu fictício – o narrador. Um dos trechos em que isso fica claro para o leitor de O Mar e a Selva é quando o escritor londrino se refere à aurora como uma deusa do alvorecer, colocando-na em cena romanesca. “Esses eixos narrativos ajudam na constituição tanto de uma mitopoética do mundo quanto de uma hermenêutica do sujeito viajante. Essas características são importantes fontes estético-literárias”, explica. A leitura de Tomlinson favoreceu a reconstituição da travessia entre línguas e culturas pelo pesquisador, já que o relato apresenta uma pluralidade geográfica, em que o ambiente londrino, o europeu, o amazônico e o espaço onírico, o mítico, o histórico e o subjetivo entrecruzam-se. Nomeia elementos da natureza brasileira com personagens da mitologia grega. Ao entrar em contato com a diversidade, segundo Rocha, Tomlinson escreve: “Estamos na vizinha das Hespérides”, aludindo tanto às deusas que representavam o espírito fertilizador da natureza quanto ao Jardim das Hespérides.

Mitos Tomlinson também se mostra conhecedor dos mitos amazônicos ao descrever sua entrada no Rio Pará. Ao

Entre o limbo e o

paraíso

Henry Major Tomlinson, autor de O Mar e a Selva: “reinado” perdido

deparar com a Ilha Jurupari, ele explica: “de onde vêm os sonhos à noite”. De acordo com o amazonense Rocha, Jurupari representa, na mitologia tupiguarani, o deus dos sonhos. Numa das versões do mito, é representado como “aquele que cala, que sufoca, que asfixia”, e em outra, Jurupari é filho de Ceuci, uma mulher indígena, que era enviado do Sol e recebera a missão de reformar as leis e costumes dos homens. “O importante é a tessitura dos mitos no texto tomlinsoniano que, de certa forma, amplia o horizonte do leitor em relação ao mundo natural e sobrenatural e ajuda o viajante em sua busca de um eu aprimorado”, acrescenta Rocha. Esta relação entre o natural e o sobrenatural está explícita nos versos de Tomlinson. Especialista em traduções referentes à Amazônia, onde nasceu e habitou a maior parte de sua vida, Rocha conhece toda a história da Madeira-Mamoré, assim como os mitos amazônicos. Diante de tal vivência, o pesquisador constata fidelidade de Tomlinson ao próprio sentimento no momento de registrar suas impressões sobre a selva. Trechos do relato do escritor remetem a histórias sombrias e pavorosas ouvidas também por Rocha em pontos de encontro, cemitérios e margens da EFMM em Porto Velho, onde mora desde 1993. Durante as conversas sobre a

“ferrovia do diabo”, Matinta Pereira, Curupira e Iara são personagens indispensáveis. Para Rocha, a selva continua enigmática e misteriosa. “Essa ‘Esfinge Verde’ já perdeu muito de seus cabelos verdosos e ondulantes, mas ainda é capaz de emocionar, de ser reverenciada por homens de espíritos contemplativos e imaginativos. Ela pode, como diz H. M. Tomlinson, tornar imperceptível qualquer movimento”, reflete Rocha. Ele acrescenta que quando o viajante londrino navegou no rio Jaci-Paraná descreveu uma visão: “Tive uma visão, também, daquelas águias mais régias, as harpias, porque uma, bem à vista, ergueu-se de uma árvore adiante e deslizou lindamente por cima do rio e desapareceu”. Para Rocha, Tomlinson é considerado o viajante ideal porque consegue, por meio de uma escrita imaginativa, construir uma tessitura em que mitos gregos, romanos e amazônicos mesclam-se harmoniosamente na representação da selva. “E assim temse toda uma geografia mítico-literária mapeada na épica viagem tomlinsoniana. Tem-se também, ao final da narrativa, um viajante ideal que é o porto final de si mesmo.” Gritos e sons desconhecidos que dão origem a construções míticas sobre a Amazônia abalam a coragem de qualquer ser humano que se aven-

Hélio Rodrigues da Rocha, autor da tese e responsável pela tradução: brasileiros agora podem ler a obra

tura na selva. Não seria diferente aos ouvidos de Tomlinson, que também descreveu seus pavores em relação à “acústica” amazônica. Um dos sons sobre o qual escreve é o canto do uirapuru. “Meu amiguinho desconhecido na mata, que canta em horas singulares – mas acho que, principalmente, quando estou perto de um rio – através de assobios trinos, permitiu que eu soubesse que ele estava por perto. Hill disse que pensa que o viu, e que meu amiguinho se parece com um melro (ave encontrada na Europa)”. Segundo Rocha, os amazônidas dizem que quando esse pássaro canta, toda a selva fica em silêncio, em respeito a seu maior tenor. De acordo com Rocha, o escritor caminhou na selva impregnado de visões. Desde a entrada do escritor no rio Pará, Tomlinson fez referência à presença da Esfinge Verde, que vigia os viajantes dia e noite. Às margens do rio Caracol, afluente da margem direita do rio Madeira, ele diz ter caminhado no limbo, dedicando parte grande do relato à descrição. Mas se refere ao limbo não como um lugar onde, segundo a teologia católica pós-século 13, se encontram crianças não-batizadas, mas um lugar onde eram jogadas coisas inúteis. “Essa floresta era realmente o celeiro do ‘há muito tempo esquecido’, úmida, decadente, escura, abandonada para as acumulações do passado e decadência”, diz Rocha. De acordo com Rocha, a contribuição das obras de autores estrangeiros na troca entre culturas diversas tem sido bastante discutida por vários estudiosos. Porém, há vários mitos greco-romanos e amazônicos no relato tomlinsoniano. A tese enfatiza essas características. Tomlinson estava com 36 anos quando fez a viagem à selva, mas, para Rocha, já tinha um itinerário filosófico, pois ainda na juventude foi direcionado pela mãe aos autores clássicos. Segundo Rocha, o viajante lia na biblioteca pública, em casa e diante do prato de comida, no almoço. Diante da malária e de outras doenças, já em 1909, Tomlinson alertava sobre a importância do cuidado com o corpo. Ao falar do rapaz tísico que por algumas vezes perdia o trem, ele escreveu: “E havia todos aqueles outros que pegam esse trem, exceto o jovem com tosse. Ele o perde de vez em quando, usando para esse objetivo, não tenho dúvida, aquela mesma forma de rebelião contra sua odiada tirania, que já sabemos, a inabilidade física para pegá-lo”. “Tomlinson não é um autor fácil de ser lido; é alegórico, imaginativo, mitopoético, filosófico; e sua escrita possui termos tomados de fontes numerosas e longínquas. Isso obriga o leitor a familiarizar-se, através de pesquisas, com esses termos, com essas alusões metafóricas, como é o caso do termo Tofete (altares onde se oferecem crianças aos deuses pagãos), entre muitos outros”, diz Rocha. O texto deixa alguns enigmas e chaves discursivas a ser desvendados, segundo o pesquisador. Ele acrescenta que a obra obriga qualquer leitor a apreciá-la devagar e com a mente aguçada para que obtenha uma leitura valiosa. “Daí um de seus prefaciadores afirmar ser a obra de Tomlinson uma madhouse, uma casa de loucos, um hospício”. Mas Rocha discorda: “Não. Essa obra é um tesouro filosófico.”

................................................................ ■ Publicação

Tese: “O mar e a selva: relato da viagem de Henry Major Tomlinson ao Brasil — estudo e tradução” Autor: Hélio Rodrigues Rocha Orientação: Carlos Eduardo Ornelas Berriel Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)

................................................................


12 Jornal daUnicamp Campinas, 28 de novembro a 11 de dezembro de 2011

Fotos: Divulgação/Antoninho Perri

MARIA ALICE DA CRUZ

“Q

halice@unicamp.br

uer trabalhar comigo? Me dê 20 anos de trabalho”, dizia o idealizador do Lume Teatro, Luís Otávio Burnier (1956-1995), a cada novo integrante que chegava. A vontade de colocar em prática seu desejo de desenvolver um trabalho aprofundado da arte de encenar fazia com que não rejeitasse atores nem estagiários, chegando a dividir seu salário com outros colegas que não podiam ser contratados pela Unicamp, de acordo com o testemunho da atriz Naomi Silman. Fiéis ao desejo do amigo, alicerce do grande edifício que é hoje o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais (Lume) da Unicamp, os atores acabaram extrapolando suas expectativas, fazendo do grupo um polo teatral e um núcleo de pesquisa reconhecidos internacionalmente em seus 26 anos de existência. O lançamento do livro Lume Teatro – 25 anos, publicado pela Editora da Unicamp, pereniza as comemorações de aniversário iniciadas em 2010. A obra aborda desde a criação do núcleo, em 1985, até o espetáculo Sonho de Ícaro, que iniciou a programação de aniversário, envolvendo em torno de 120 profissionais. A publicação conta com o apoio da Reitoria no âmbito do projeto Unicamp 45 anos.

Waldemar Seyssel, o palhaço Arrelia, e Luis Otávio Burnier, fundador do Lume, na Unicamp, em 1994

O BRILHO DO LUME A noite de autógrafos, que ocorrerá em 1º de dezembro, às 19 horas, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi Campinas, será anunciada no local por canções e movimentações da Parada de Rua, projeto que mais percorreu o mundo desde a criação do Lume. Trechos do repertório de 25 anos de trajetória serão relembrados pelos atores. Em seguida, o grupo fará uma mostra de metodologias desenvolvidas desde o início do Lume: Dança Pessoal, O Palhaço e o Sentido Cômico do Corpo e Mimesis Corpórea. O livro é acompanhado por um DVD com documentário sobre o Lume e clipes de todos os espetáculos do repertório. A mídia foi feita pela pesquisadora Natássia Garcia. O livro reúne vários olhares e várias vozes, cumprindo a proposta do Lume de pensar coletivamente, segundo a jornalista Carlota Cafiero, assessora de imprensa do grupo e uma das autoras da obra. “Quando Burnier morreu [1995], o Lume não tinha mais a figura de um diretor; todos eram diretores, atores, pesquisadores, criadores, então tudo o que foi feito desde então tem esse espírito coletivo”, explica Carlota. O primeiro capítulo retoma o primeiro espetáculo de Burnier como mímico, em 1974, antes de ganhar bolsa de estudos para estudar na escola de Jacques Lecoq, na França. O Lume aparece na vida de Burnier em 1984, quando, ao concluir mestrado no Instituto de Estudos Teatrais de Sorbonne Nouvelle, o mímico volta ao Brasil e inicia, ao lado da fundadora do Departamento de Artes Corporais da Unicamp, Marília de Andrade, o projeto do núcleo. De acordo com Carlota, autora de um livro-reportagem sobre Burnier, ele não teve tempo de montar ou dirigir muitos espetáculos, mas deixou material importante para que os atores seguissem em frente. E foi nesses resultados de pesquisas que, ainda sentindo falta do amigo e idealizador, o grupo buscou forças para manter o Lume, segundo a atriz Naomi, outra autora do livro. Essa parte da história é contada no segundo capítulo, mesclando a narração de Carlota e as vozes múltiplas, mas uníssonas, dos atores. Burnier pautou-se muito na pesquisa sobre o autor e deixou resultados importantes, dando uma base científica para os projetos de arte do Lume, segundo Naomi. Os resultados foram sendo aprimorados com o tempo até o Lume ganhar projeção internacional. “Depois de sua morte, as coisas foram acontecendo de nosso jeito, mas nunca abrindo mão de nosso alicerce, que são os ensinamentos de Burnier”, acrescenta Naomi. A conversa de bastidores permeia os textos da narradora e dos atores, no segundo capítulo, revelando aspectos que nunca foram contados em matérias jornalísticas e em espetáculos do grupo. Histórias impagáveis, não-reveladas ainda pelas autoras para não estragar a surpresa do livro, segundo Carlota. Uma dessas histórias diz respeito a uma turnê em que os artistas decidiram apresentar a Parada de Rua, às 10 horas da noite, numa favela do Cairo, no Egito. Foram sequestrados por uma caminhonete e “para saber o resto, você terá de ler o livro”, convida Carlota. “Não queríamos um livro apenas informativo, como se fosse uma sinopse de cada espetáculo”, explica Naomi. A capacidade de reunir pesquisa, apresentações, workshops, parceiros nacionais e internacionais fez com que o grupo amadurecesse. É sobre essa fase que discorre o capítulo 3, intitulado Maturidade. O capítulo resume os grandes projetos do grupo, desde que o Lume passou a transitar por outros territórios, como a criação de projetos maiores a partir de experiências da pesquisa, do ensino, do repertório das novas apresentações. Entre os projetos construídos em fase madura destacamse o Casa Lume, residência que envolve várias atividades, e o projeto Cortejo Abre-Alas, uma oficina-montagem com mais de 70 pessoas, que promove um superevento na rua. Nesse momento, a comunidade artística começa a crescer dentro de Campinas, pelo fato de o Lume estar localizado no distrito de Barão Geraldo e perto da Unicamp. “O Lume se abriu muito para incluir outras pessoas. Não são sete atores apenas, pois em sua soma, reúne grupos dos arredores e sente-se cada vez maior, recebendo atores recém-formados pelo curso de artes cênicas”. Segundo Naomi, o núcleo também é uma referência de que é possível viver de teatro. Nesse contexto, a Unicamp tem papel importante, na opinião de Naomi, por ter cursos de artes de alto nível e por promover a importância da prática. As apresentações, limitadas ao salão de uma igreja, no início da década de 1980, passaram a ser intensificadas com a conquista da sede, em 1994. O primeiro grupo a ser atraído pela nova iniciativa era coordenado pela atriz de São Paulo Tiche Viana, responsável pela criação do Barracão Teatro, em Barão Geraldo. A professora do Departamento de Artes Cênicas da Unicamp Verônica Fabrini, na época, também foi responsável pelo aumento de montagens de espetáculo ao fundar a Boa Companhia. “Eles foram motivados pela experiência de Burnier de mostrar que é possível montar um grupo, pesquisar e se dedicar a isso. Vendo isso, alunos da Universidade que vêm estudar aqui acabam ficando, por constatar que existe um grupo artístico que não é somente vinculado a uma produção de resultado contínuo e rápido fora do grande eixo São Paulo/Rio”, acentua Naomi.

Integrantes do Lume em Edimburgo, Escócia, em 2005: grupo foi destaque na imprensa (detalhe) em festival de teatro com o espetáculo SHI-ZEN

A trupe hoje, na sede localizada no distrito de Barão Geraldo: referência local, nacional e internacional

............................................................................. ■ Serviço

Título: Lume Teatro – 25 anos Editora da Unicamp Páginas: 248 Preço: R$ 40,00 Lançamento: 1º de dezembro, às 19 horas, na livraria Cultura, Shopping Iguatemi Campinas

.............................................................................

Apresentação na Bolívia, em 1999

Para a atriz, o livro é a realização de um sonho de muitos anos. Neste momento de realização, o interesse da editora foi muito importante, segundo Carlota. O que era para ser um livro de imagens legendadas foi tomando uma proporção maior até que a parte textual se fez imprescindível. “Mesmo com as mudanças, a Editora [da Unicamp] abarcou a ideia e não se importou de mudar com a gente”, revela Carlota. De maneira natural, o Lume tornou-se, internacionalmente, um dos representantes de maior relevância da Unicamp. A coragem de sair mundo afora, levando espetáculos para todos os cantos do planeta e ainda disseminar as experiências acadêmicas, oferecendo workshops e oficinas, além dos eventos de rua, proporciona retorno ao grupo e também à Universidade. Entre 1995 e 2010, de acordo com Carlota, o Lume realizou 2.375 atividades – entre apresentações, demonstrações técnicas, workshops e palestras – para 311.036 pessoas, em diversas partes do mundo, incluindo 43 festivais internacionais. Uma prova de que o ator nunca saiu de cena tanto na produção de pesquisas quanto no processo de criação está estampada nas capas das publicações resultantes de investigações de pesquisadores do grupo ou ligados a ele. Entre elas destacam-se A arte do ator, de Luís Otávio Burnier, Arte de não interpretar como poesia corpórea do ator, de Renato Ferracini, e Corpos em fuga, corpos em mente, organizado também por Ferracini. Os atores são guiados por linhas-mestras de pesquisa, entre as quais Antropologia Teatral e Cultura Brasileira, em que o ator representa a partir de uma técnica elaborada em sintonia com elementos da cultura brasileira; Dança Pessoal, focada numa metodologia de elaboração e codificação e sistematização de uma técnica pessoal de representação por meio da dilatação e dinamização das energias potenciais do ator; Mimesis Corpórea, que consiste no processo de observação e imitação de ações físicas e vocais do cotidiano; Estudo do palhaço e o sentido cômico do corpo, que possibilita o contato de aspirantes a clown com aspectos “ridículos e estúpidos” do palhaço; e musicalização e teatralização em espaços não-convencionais. Além da verba da Universidade para manutenção da sede, a equipe do Lume capta recursos por meio de inscrições em editais e com criação e apresentação de espetáculos, realização de oficinas e workshops, desenvolvendo projetos de circulação e montagem de espetáculos, segundo Naomi. Com os intercâmbios, o Lume acabou conquistando vários parceiros internacionais, entre eles os mestres Odin TeatretIben Nagel Rasmussen e Kai Bredholt; os bailarinos de butô Natsu Nakajima, Anzu Furukawa e Tadashi Endo; os palhaços Nani e Leris Colombaionie Sue Morrison; e o diretor Norberto Presta.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.