A parceria Unicamp-Cambridge Página 5
Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju
Campinas, 19 a 25 de março de 2012 - ANO XXVI - Nº 520 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Histórias de outro mundo
IMPRESSO ESPECIAL 1.74.18.2252-9-DR/SPI Unicamp
CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Divulgação
Ilustração de P. Morillier para o capítulo III de A terra austral conhecida, in Voyages imaginaires, coletânea organizada por Charles G. Garnier (Amsterdã, Paris, 1788, vol. XXIV)
A Editora da Unicamp lança, no próximo dia 20, os livros A cidade feliz, de Francesco Patrizi da Cherso, e A terra austral conhecida, de Gabriel de Foigny, os dois primeiros títulos da coleção Mundus Alter, dedicada a utopias literárias, muitas das quais inéditas em português. “As utopias são essenciais para a compreensão do imaginário político moderno. Longe de servirem para o escapismo político, elas são, comumente, retratos irônicos, cáusticos e satíricos da época de seus autores”, afirma Carlos Eduardo Ornelas Berriel, coordenador da coleção e professor do Instituto de Estudos da Linguagem. Páginas 6 e 7
Gênese da riqueza Foto: Divulgação
Matemática é ferramenta para dispersão de poluente Página 2
Quando a busca por corpo ideal mexe com a cabeça Página 9
Canuto alerta para riscos de ‘bolhas’ e ciclos de euforia Página 11 Página 3 Bodas de ouro do casal Cândido Franco de Lacerda e Elisa Whitaker de Oliveira Lacerda, em São Carlos (SP), em 1935. Tese desenvolvida no IE por Gustavo Pereira da Silva revela com a riqueza da família Lacerda Franco no século XIX foi emblemática no contexto que fez de São Paulo a “locomotiva do país”.
Como improvisar no choro, no frevo e no baião Página 12
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Campinas, 19 a 25 de março de 2012 Fotos: Antoninho Perri
Modelo matemático simula a dispersão de poluentes em corpos d’água
I
MANUEL ALVES FILHO
manuel@reitoria.unicamp.br
magine a seguinte cena. Um corpo d’água acaba de ser contaminado por um determinado poluente. Preocupadas com a dispersão do produto, as autoridades convocam químicos, engenheiros e biólogos para que definam uma estratégia para enfrentar o problema e evitar um acidente ambiental de grandes proporções. Embora esses profissionais tenham largo conhecimento para cumprir a missão, o trabalho deles poderia ser facilitado com a colaboração de outro especialista: o matemático. Este, por meio de modelagem matemática, seria capaz de oferecer dados importantes para a tomada de decisão, como a direção e a velocidade de deslocamento da mancha de poluição. “Nosso objetivo é exatamente o de fazer simulações que possam subsidiar a adoção de medidas mitigadoras ou de contingenciamento em situações dessa ordem”, afirma o matemático Manoel Fernando Biagioni Prestes, que acaba de defender dissertação de mestrado sobre o assunto no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) da Unicamp. Prestes atua num ramo da ciência conhecido como biomatemática, que combina os conhecimentos proporcionados pela matemática e a biologia. No trabalho que desenvolveu no Imecc, sob a orientação do professor João Frederico da Costa Azevedo Meyer, ele concebeu um sistema que simula a dispersão de poluentes em corpos d’água. A pesquisa foi validada na Lagoa do Taquaral, localizada no Parque Portugal, uma das principais áreas verdes de Campinas (SP). O autor da dissertação explica que fundamentou o estudo no método das diferenças finitas. Para se aproximar do cenário real, ele considerou uma série de parâmetros, alguns deles inéditos em relação ao ambiente analisado. Assim, Prestes alimentou o sistema com variáveis como a difusibilidade do meio, velocidade do vento, topografia do entorno da lagoa e as fontes poluidoras, que são as tubulações de água pluvial que fazem despejo no local, trazendo todos os contaminantes gerados pela urbanização ao redor. “A questão da topografia é muito importante, principalmente porque não havia sido considerada em estudos anteriores”, destaca o professor João Frederico Meyer. Conforme o autor da dissertação, a dispersão dos poluentes pode variar conforme o solo encontrado. No caso do ambiente analisado, foram identificados argila, cascalho e areia. O trabalho também levou em conta os vertedouros, por onde é escoada parte da água da lagoa, que na prática funciona como uma pequena represa.
Cenário Com os dados em mãos, Prestes alimentou e fez rodar o sistema. Ao final, ele obteve um cenário, projetado na forma de gráficos, que informa, por exemplo, para onde a mancha de poluição se dirige, com qual velocidade e em que ponto ela tenderá a se concentrar. “Nos ensaios que fizemos em
Vista aérea da Lagoa do Taquaral, em Campinas: estudo do ambiente validou a técnica
Matemática verde
O matemático Manoel Prestes (à esq.), autor da dissertação, e o professor João Frederico Meyer, orientador: subsidiando a adoção de medidas preventivas ou mitigadoras
relação à Lagoa do Taquaral, os resultados se mostraram coerentes com o que ocorre em situações reais”, afirma o pesquisador. Ainda segundo ele, nas simulações ficou clara a necessidade da intervenção do Poder Público no sentido de promover o tratamento adequado dos efluentes despejados por pelo menos três fontes poluidoras. “Somente assim será possível reduzir o impacto ambiental causado por esse tipo de desague”, adverte Prestes. O autor da dissertação reforça a importância do uso desse tipo de técnica como instrumento capaz de gerar informações confiáveis para a tomada de decisão. “A finalidade é tornar as eventuais estratégias de prevenção ou
remediação mais eficazes”, insiste. Conforme o professor João Frederico Meyer, métodos assemelhados têm sido empregados com o objetivo de subsidiar ações para o controle da dispersão de poluentes em meio aquático. O tema vem ganhando tanta importância que grupos de pesquisas instalados em diferentes universidades brasileiras têm trabalhado em torno dele. “O nosso grupo do Imecc mantém colaborações com pesquisadores do Maranhão, Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro, entre outros”, elenca o docente. Ele adianta que o trabalho feito por Prestes deverá dar margem a outro, a ser concretizado com a colaboração da professora Eliana Catapani
Poletti, da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, instalada na cidade de Limeira (SP). O objeto desse novo estudo será a represa de Salto Grande, localizada no município de Americana (SP). “A professora Eliane já estudou a represa durante o seu doutorado. Entretanto, em vez de utilizar o método de diferenças finitas, ela empregou o de elementos finitos. Agora, vamos ver se há compatibilidade entre os dados proporcionados por um e outro. Não será uma tarefa fácil. Nós estamos partindo de um ambiente que foi esquadrinhado em dois mil pontos de análise para um que terá pelo menos 20 mil pontos. Nesse tipo de pesquisa, é exatamente
assim que fazemos. Partimos de um objeto mais simples para um mais complexo”, detalha o professor João Frederico Meyer. Futuramente, acrescenta o autor da dissertação, nada impedirá que o método desenvolvido por ele seja empregado em outros corpos d’água, como um rio com corredeiras. “Para isso, precisaremos apenas adequar o sistema e alimentá-lo com os parâmetros específicos”, diz Prestes. O professor João Frederico Meyer conta que as pesquisas em torno de modelos matemáticos para esse tipo de finalidade tiveram início há muitos anos no Imecc, a partir da sugestão de um aluno seu de iniciação científica interessado no assunto. “Desde então, temos produzido diversos estudos na área. Atualmente, tenho desde estudantes de iniciação científica até doutorandos trabalhando com modelagem matemática relacionada à questão ambiental”. Esta, no entanto, não é a única aplicação dos conhecimentos gerados pela biomatemática. Atualmente, existem grupos de pesquisas no Brasil e exterior que se dedicam a estudos relativos à saúde humana. Os cientistas usam a modelagem matemática para, por exemplo, simular a propagação de doenças infecciosas. Um caso bastante conhecido, e no qual um grupo da Unicamp esteve diretamente envolvido, é o que analisou o comportamento e o ciclo reprodutivo do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue. O objetivo do trabalho foi fornecer dados que pudessem contribuir paras medidas de controle efetivo do inseto.
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Dissertação: “Dispersão de material impactante em meio aquático: modelo matemático, aproximação numérica e simulação computacional - Lagoa do Taquaral, Campinas, SP” Autor: Manoel Fernando Biagioni Prestes Orientador: João Frederico da Costa Azevedo Meyer Unidade: Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc)
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Campinas, 19 a 25 de março de 2012
Tese revela como trajetória da família Lacerda Franco forjou a ‘locomotiva do Brasil’
Fotos: Divulgação
DNA da riqueza paulista
CARMO GALLO NETTO
T
carmo@reitoria.unicamp.br
ese desenvolvida por Gustavo Pereira da Silva junto ao Instituto de Economia (IE) da Unicamp procura elucidar como se deu a formação, a acumulação e a diversificação da riqueza dos membros da família Lacerda Franco durante o século XIX. Estudando a trajetória desta família, o autor procura desvendar a dinâmica da riqueza paulista no século que antecedeu a transformação da São Paulo do café na capital industrial do Brasil. Para ele, os Lacerda Franco testemunham o que acontecia na província em uma época: “Parti do micro para entender o macro”, diz. A pesquisa documental foi realizada no Arquivo Público do Estado de São Paulo e nos arquivos da Associação Comercial de Santos e das fazendas Montevidéo (Araras/ SP) e Paraizo (São Carlos/SP), ambas pertencentes a descendentes da família. Silva recebeu orientação da professora Lígia Maria Osório Silva e contou com financiamento da Fapesp. Criando porcos, gado, cavalos, mulas, produzindo gêneros básicos da alimentação paulista como arroz, feijão, milho – e inclusive cachaça – para o mercado interno, dinastias nacionais chegaram à exportação de açúcar e de café que as levaram à acumulação de capitais que alavancariam os primórdios da indústria paulista, transformando São Paulo na “locomotiva do Brasil”. Uma destas jornadas iniciou-se nos princípios de 1800, nas cercanias da vila de São Paulo, nas então vilas de Atibaia e Jundiaí, em decorrência da união matrimonial de duas famílias, os Franco de Camargo com os Lacerda Guimarães, dando origem à dinastia dos Lacerda Franco. Nessa época, os Lacerda Franco produziam e comercializavam seus gêneros essencialmente no mercado interno. Mas, já em meados da primeira metade do século XIX, o capital acumulado nessas atividades passa a ser convertido em canaviais. Foi o que fez o Alferes Franco quando migrou rumo às terras de Mogi Mirim e posteriormente Limeira, onde se fixou. A circunstância de o açúcar constituir o principal produto de exportação da Província levou o Alferes à formação de um patrimônio de propriedades agrícolas na própria vila de Limeira e na vizinha Rio Claro. Com cuidadosa e calculada condução dos matrimônios dos herdeiros, a família controlava a entrada de novos membros de forma a ampliar ou pelo menos manter o capital acumulado, o que era conseguido com a promoção de casamentos entre primos e mesmo entre tios e sobrinhas, hábito depois progressivamente abandonado por causa de problemas genéticos. Em decorrência de uniões conjugais e concomitante aumento de capital e patrimônio, parte do clã dos Lacerda Franco que havia permanecido na vila de Jundiaí passou a migrar para a região que seria depois denominada de Oeste Paulista, já então formada por vilas açucareiras. Lá se tornaram proprietários rurais e de escravos, em uma sociedade marcada pelo uso extensivo da terra e intensivo da mão de obra africana. A família exerceu papel fundamental no desenvolvimento de algumas localidades como Limeira e Araras. Essas futuras cidades assistiram a concentração de poder econômico, político, militar e religioso dos Lacerda Franco na condição de senhores de terras e escravos, vereadores, delegados de polícia e vigário. Na segunda metade do século
Terreiro de café e tulha da Fazenda Paraizo, em São Carlos (SP), em foto de 1912
Sede da Fazenda Paraizo vista a partir do terreiro de café em 1912 Foto: Antonio Scarpinetti
A ex-escrava Rufina na Fazenda Paraizo, retratada em 1912
XIX ocorreu a transição das lavouras paulistas da cana para o café ao longo do Oeste Paulista (região hoje coberta pela via Anhanguera). A elevada demanda internacional da bebida dinamizava economicamente São Paulo no Império e impunha a busca de novas terras, mais distantes de Santos, aumentando os custos de transporte. Simultaneamente, o fim do tráfico negreiro agravou a escassez de mão de obra. As famílias dos produtores paulistas enfrentam esses obstáculos utilizando os capitais, até então acumulados, na construção no Oeste Paulista das ferrovias necessárias, valendo-se da constituição de sociedades anônimas. A imigração europeia subsidiada introduziu o trabalho assalariado e o governo provincial, respondendo a uma demanda da elite cafeeira, encarregava-se de financiar “os intentos orquestrados pelos cafeicultores”, diz o autor do estudo. Também durante a segunda metade do século XIX o associativismo marcou os Lacerda Franco. A riqueza
Gustavo Pereira da Silva, autor do estudo: “Parti do micro para entender o macro”
familiar era reorganizada através de matrimônios e de heranças disponibilizando capitais que passaram a ser empregados na formação de sociedades que tinham como característica predominante a preferência pela associação entre familiares. Foi assim que surgiu a Lacerda & Irmãos – sociedade agrícola que produzia café; a J. F. de Lacerda & Cia. – casa comissária e exportadora de café; a Lacerda, Camargo & Cia. – firma industrial que importava e produzia máquinas para outras indústrias; e o Banco União de São Paulo – que, entre seus ativos, contava com uma fábrica têxtil, a atual Votorantim. Essas empresas atendiam à crescente economia cafeeira paulista e às demandas da nova organização social.
Exportação e importação A casa comissária era o principal dos empreendimentos dos Lacerda Franco por englobar o maior número de familiares e por se constituir fonte de recursos e expertise aos outros
negócios da família. Inicialmente, a casa comercializava diferentes gêneros agrícolas, como café, comprando dos produtores paulistas e vendendo aos exportadores, em geral estrangeiros, no porto de Santos. Mas, simultaneamente, adquiria de importadores bens que revendia a fazendeiros e lojistas que comercializavam esses produtos no varejo. Assim, a comissária atuava como intermediária na exportação agrícola e na importação de bebidas, móveis, sal, cal, vidro, ferro, papel, tintas, enfim tudo que não era produzido no país. Todavia, a casa se distinguiu das congêneres nacionais ao expandir suas atividades tornando-se também uma firma exportadora. Segundo Gustavo, “a J. F. de Lacerda & Cia. merece destaque por englobar atividades exercidas pelos demais empreendimentos porque, como casa exportadora, mantinha laços com firmas estrangeiras que lhe possibilitavam a importação de matérias-primas – como ferro aço e vidro – necessárias a outras empre-
sas do grupo. Além disso, importava máquinas, equipamentos e bens consumidos pela elite”. Ele explica que, com a exportação direta, a casa comissária livrava-se da intermediação das exportadoras de café estrangeiras, além de importar diretamente bens de consumo, o que lhe aumentava os lucros. Além de tudo, a posição de destaque de membros da família na sociedade cafeeira facilitava a obtenção de empréstimos bancários necessários à formação do capital de giro. O sucesso da empreitada se consolidou com a abertura, em 1884, de uma filial da J. F. de Lacerda & Cia. na cidade portuária francesa do Hâvre. Ao se transformar em uma comissária e exportadora, a casa dos Lacerda Franco, que mantinha com os produtores do interior amplas relações, inclusive facilitadas por vínculos familiares, tornou-se a maior casa exportadora de café pelo porto de Santos entre 1885/1886, superando as concorrentes, na maioria estrangeiras, ainda que por um pequeno período. Para o pesquisador, a elevada lucratividade da casa comissária levou um dos seus membros a participar da constituição do Banco União de São Paulo, em 1890, um dos poucos bancos com o privilégio de emitir moeda no início da República. Outros sócios da empresa fundaram a Lacerda, Camargo & Cia que importava e produzia máquinas no Brasil. Os lucros revertiam para a própria economia paulista ao serem investidos em ações de ferrovias, bancos, empresas de serviços públicos, além de imóveis e novos cafezais. Gustavo Pereira da Silva explica que em um mundo pós-Revolução Industrial a demanda por café por parte dos trabalhadores crescia na mesma proporção que a necessidade de matérias-primas. Nesse mundo novo, aberto às novas possibilidades e à livre iniciativa, o café constituía o estimulante perfeito às novas necessidades do homem moderno, dinâmico e produtivo. O capitalismo industrial que movia as sociedades centrais era o mesmo que engatinhava na ex-colônia portuguesa. Após a Abolição, a formação de um mercado de trabalho e consumidor estabelecia as bases para o capitalismo brasileiro. Para ele, a pujança e diversificação dos investimentos da família Lacerda Franco dão mostras da força do capitalismo nacional no século XIX, na figura dos representantes do grande capital cafeeiro, através de figuras que, apesar terem seus capitais originários da lavoura, embrenharam-se nos mais diversos empreendimentos ligados à produção e comércio, possibilitando a formação de uma riqueza portentosa e diversificada, conforme permitiram apreender as análises dos vários documentos da fazenda Montevidéo e Paraizo, encontrandose esta última ainda nas mãos dos Lacerda Franco. Sobre a dimensão da riqueza acumulada pelos cafeicultores, o autor lembra que o café tornou-se o primeiro produto da pauta de exportação brasileira por volta de 1830 e só perdeu essa posição depois de 1950, ocupando o primeiro lugar na economia brasileira por cerca de 130 anos. Devidamente dimensionadas as diferenças das épocas, o trabalho suscita ao autor algumas comparações. O capital é sempre canalizado para a atividade de maior lucratividade e isso explica a substituição de canaviais por cafezais no século XIX, bem como a inversão ocorrida no século passado. As associações de capitais, familiares ou não, visam à ampliação de mercados e dos domínios econômicos e políticos. Antes isso se fazia com a aquisição de terras e escravos, o concurso das uniões familiares e utilização de heranças. À semelhança da dinastia dos Lacerda Franco na São Paulo do café, ainda hoje, grandes grupos familiares exercem elevado poder na economia nacional.
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Tese: “Uma dinastia do capital nacional: a formação da riqueza dos Lacerda Franco e a diversificação da economia cafeeira paulista (1803 a 1897)” Autor: Gustavo Pereira da Silva Orientadora: Lígia Maria Osório Silva Unidade: Instituto de Economia (IE)
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Campinas, 19 a 25 de março de 2012 Foto: Antonio Scarpinetti
A chave da diversidade
Área de ocorrência de floresta pluvial atlântica no município de Cananeia, no litoral paulista: variáveis espaciais são mais importantes Foto: Divulgação
Banco de dados reúne informações sobre espécies arbóreas da �loresta pluvial atlântica ISABEL GARDENAL
A
bel@unicamp.br
inda persistiam alguns pontos obscuros sobre o conhecimento da floresta pluvial atlântica que, em grande parte, foram desvendados pela ecóloga Roberta Macedo Cerqueira em sua tese de doutorado, defendida no Instituto de Biologia (IB). Ela descobriu que não a chuva e sim variáveis espaciais como altitude, latitude e longitude foram os únicos fatores a influenciar na maior ou menor diversidade das espécies arbóreas. “Conforme aumentava a altitude na floresta pluvial, a diversidade aumentava. Quando diminuía a latitude, a diversidade também diminuía, o mesmo ocorrendo com a longitude”, observa a pesquisadora. Ao relacionar os valores de diversidade de cada fragmento com algumas variáveis ambientais como chuva, umidade, temperatura, altitude e latitude, Roberta verificou qual delas estava associada ao aumento ou diminuição da diversidade. Ela julgava que a precipitação fosse, talvez, o principal fator. Não foi. Entre os achados da doutoranda, ficou claro que a região Sudeste tinha a maior diversidade de espécies arbóreas da floresta pluvial atlântica. Particularmente o Espírito Santo e o Rio de Janeiro foram os locais com as manchas de vegetação que possuíam a maior riqueza e diversidade, a priori presentes na bacia do Rio Doce, no Estado do Espírito Santo. As áreas com as menores diversidades estavam na região Sul como um todo, sobretudo no Paraná, ao redor dos 25o de latitude. Essas conclusões foram possíveis graças a um banco de dados gerado por Roberta, reunindo informações a respeito de espécies arbóreas em um levantamento efetuado do Nordeste ao Rio Grande do Sul, que inclui toda a região de ocorrência da floresta
O professor Fernando Roberto Martins, orientador da tese, e Roberta Macedo Cerqueira, autora
pluvial atlântica. Esta base retratou o período de 1946 a 2007, num total de 126.238 árvores de 2.168 espécies em 449 gêneros de 100 famílias, em 139 tabelas fitossociológicas (amostras). O objetivo principal da tese, orientada pelo professor Fernando Roberto Martins, docente do IB, foi descrever padrões de diversidade da floresta pluvial atlântica e tentar entender quais variáveis ambientais estariam influenciando a variação dos valores de diversidade. Segundo a ecóloga, há anos os alunos do professor Fernando vêm desempenhando a meticulosa tarefa de montar um banco de dados dessas formações arbóreas, cada qual avaliando um período. A maior parte dos dados, conta ela, foi coletada por Veridiana Vizoni Scudeller, abrangendo os anos de 1946 a 2000. Agora, este trabalho vem sendo atualizado e se presta a desvendar a diversidade brasileira. O levantamento de Roberta incluiu o nome das espécies, a localidade (onde cada espécie ocorria) e a quantidade de indivíduos de cada espécie. Muitas vezes, expõe a ecóloga, o que se sabe a respeito das florestas são fatos mais pontuais, como o estudo da Mata Atlântica, em São Paulo, por exemplo. Mas o que está acontecendo nas florestas como um todo? A sua ideia, conta, era ver o estado da arte acerca da floresta pluvial atlântica em toda sua área de extensão, por isso o valor desse banco de dados.
Tarefa O que a ecóloga fez foi calcular o índice de heterogeneidade de Shannon, uma das medidas de diversidade mais usadas no mundo. Ela calculou a diversidade em cada uma das amostras (diversidade alfa) e também para toda a floresta pluvial atlântica (diversidade
beta). Os valores da diversidade alfa permitiram investigar como variáveis do clima e do espaço poderiam influir na variação da diversidade em cada local. Os valores da diversidade beta permitiram investigar a contribuição de cada gênero ou família para a diversidade total da floresta pluvial atlântica. Esse trabalho possibilitou também encontrar as regiões brasileiras ou Estados que possuíssem a maior diversidade de espécies arbóreas. “O resultado foi que os maiores valores de diversidade alfa ocorrem na região central da floresta estudada (entre o norte do Estado de São Paulo e o sul da Bahia) e diminuem tanto em direção ao nordeste quanto em direção ao sul.” A ausência de resposta da diversidade alfa às variáveis climáticas e sua forte associação com variáveis do espaço indicam que a diversidade da floresta pluvial atlântica muda muito de um lugar para outro. Indicam também que o conjunto de espécies arbóreas de cada local deve ter sido originado muito mais por causa de processos aleatórios (como migração e extinção de espécies) ao longo da história evolutiva do que de filtros impostos pelas características do ambiente. Trocando em miúdos, os fatores históricos seriam muito mais relacionados à formação dessa floresta que os fatores climáticos atuais, pondera a autora da tese. Assim, é muito provável que as oscilações do clima passado entre períodos glaciais e interglaciais tenham desempenhado um papel muito importante na geração da diversidade da floresta pluvial atlântica. Segundo ela, nos períodos glaciais, havia diminuição da temperatura na superfície e atmosfera terrestres, resultando na expansão dos mantos
de gelo continentais e polares, provocando regressão do mar e climas secos na América do Sul. Nos períodos interglaciais, a temperatura voltava a subir. O nível do mar também subia, e a maior parte da América do Sul voltava a ter climas úmidos. “A floresta pluvial atlântica se retraía ou se expandia de acordo com essas oscilações climáticas, e esses processos alternados de fragmentação com isolamento de populações e depois novamente coalescência devem ter sido muito significativos na geração da diversidade e na composição das espécies em cada local.” Quando a floresta úmida se retraía, o cerrado se expandia, e vice-versa, de forma que teria havido intensa troca de linhagens entre o cerrado e a floresta pluvial atlântica. Um dos locais onde a vegetação pluvial persistiu, mesmo na época em que o clima estava muito seco, foi a região do Vale do Rio Doce, devido à presença do rio, que fez com que o clima não fosse tão adverso. Assim, aquelas espécies que precisavam de mais água (higrófilas) conseguiram sobreviver. Outra descoberta da pesquisadora – no capítulo destinado a famílias, gêneros e espécies – foi que apenas 17 famílias constituíram quase 70% de todas as espécies arbóreas da floresta pluvial atlântica e que a família que apresentou a maior diversidade foi Myrtaceae. Foi com surpresa que ela fez essa constatação ao longo do seu levantamento.
Características A floresta pluvial atlântica é típica de regiões litorâneas, ensina a ecóloga. Dentro do domínio da Mata Atlântica, ela é chamada de floresta ombrófila densa ou floresta pluvial atlântica. Essa formação ocorre desde o Rio Grande do Sul até o Nordeste. Contudo, as maiores manchas (fragmentos), diz, estão no Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Ocorre que a floresta pluvial no Nordeste já foi deveras devastada e hoje em dia restam apenas poucos fragmentos espalhados pela paisagem. No Sudeste, notam-se os maiores contínuos dessa formação. Ela foi quase que totalmente degradada e sobraram pequenos pedaços de vegetação. De coletas e levantamentos feitos nesses fragmentos é que surgem os bancos de dados, esclarece a autora da tese. Ela juntou relatos de diferentes autores com todos os dados sobre esse tipo de floresta e os compilou. Esse instrumento, informa, fornece uma visão geral sobre uma determinada
formação florestal. “São Paulo e Rio de Janeiro são as mais reconhecidas pela sua grande diversidade”, sugere. Uma das principais características da floresta avaliada é que nela chove muito, e as chuvas são distribuídas no decorrer do ano, por isso chama-se ombrófila (que significa “amigo da chuva”). Como ela ocupa uma estreita faixa ao longo do litoral, a cordilheira atlântica (representada pela Serra Geral no sul, Serras do Mar e da Mantiqueira no sudeste e formação barreiras no nordeste) exerce um papel muito destacado na geração das chuvas: o ar carregado de umidade, vindo do mar, é barrado pela cordilheira atlântica e é obrigado a subir. Ao subir, resfria-se, e o vapor de água se condensa, formando nuvens que provocam chuvas o ano todo, denominadas chuvas de convecção forçada. Roberta recorda que dois tipos de clima prevalecem nessa formação: até São Paulo o clima é tropical (quente) e ao sul é subtropical (influenciado pela massa polar atlântica). Já os tipos de relevo mais comuns são as serras, como a Serra do Mar, a da Mantiqueira e a Geral. Em todas essas serras há a floresta pluvial. No Nordeste, ocorrem as chapadas e os tabuleiros, que podem se localizar mais próximos ou mais distantes do mar e que têm alturas variáveis. Nesses relevos, a floresta pluvial atlântica ocorre em encostas que recebem chuvas de convecção forçada, contudo nem todas as encostas provocam esse tipo de chuva. A devastação, afirma a ecóloga, tem causado muita preocupação para os especialistas, principalmente por se desconhecer o que existe atualmente e pela dificuldade em identificar onde está a maior diversidade. Em consequência, ações de conservação são dirigidas para o que é mais visível, embora haja técnicas que permitem recuperação em toda área de ocorrência da floresta pluvial atlântica. Saber como a diversidade se distribui no espaço e quais variáveis a influenciam é inestimável para aplicar medidas preservacionistas e escolher as técnicas adequadas de recuperação e manejo, porque a diversidade muda de um local para outro, esclarece.
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Tese: “Padrões de variação de diversidade alfa na floresta pluvial atlântica brasileira” Autora: Roberta Macedo Martins Orientador: Fernando Roberto Martins Unidade: Instituto de Biologia (IB) Financiamento: CNPq
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Unicamp é protagonista de parceria em inovação entre Brasil e Reino Unido Fotos: Universidade de Cambridge/Divulgação
Seminário e acordo de cooperação estreitam laços com Universidade de Cambridge VANESSA SENSATO
U
Especial para o JU
ma delegação da Unicamp esteve nos dias 1 e 2 de março como convidada na Universidade de Cambridge (Reino Unido) para uma visita e para participar do seminário “Colaborações de pesquisa: Oportunidades, Política e Prática”, organizado pela Cambridge Enterprise, agência de inovação da Universidade de Cambridge, em parceria com a Agência de Inovação Inova Unicamp. O seminário foi realizado em uma das “Old Schools”, como é chamada a parte mais tradicional da universidade britânica, na qual são realizados somente eventos de grande relevância estratégica para a universidade, o que evidencia o destaque atribuído à parceria com a Unicamp. Financiado pelo Prosperity Fund, fundo do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, e coordenado pelos Escritórios de Estratégia Internacional e de Pesquisa de Cambridge, além do Instituto de Produção da Universidade, o evento contou com a presença do reitor da Unicamp, professor Fernando Costa, bem como do vice-chanceler de Cambridge, professor Sir Leszek Borysiewicz, além da presença de Sir Adrian Smith, diretor-geral de Conhecimento e Inovação do Departamento para Negócios e Inovação do Reino Unido (BIS-UK), e de professores das duas universidades. Além do reitor, integraram a comitiva da Unicamp o pró-reitor de Pesquisa, Ronaldo Pilli; o diretor executivo da Inova Unicamp, Roberto Lotufo; e os professores Rubens Maciel Filho, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ), e Gonçalo Pereira, do Instituto de Biologia (IB). Para o reitor Fernando Costa, a parceria Unicamp-Cambridge corrobora o reconhecimento internacional da Universidade. “A Unicamp tem condições para estabelecer colaborações com as melhores universidades do mundo. Isso é fundamental para o processo de internacionalização da Universidade”, afirma. A visita e o seminário são parte de uma parceria mais ampla entre Unicamp e diversas instituições no Reino Unido que vem sendo estreitada principalmente por ação da Inova Unicamp em cooperação com o Consulado Britânico em São Paulo. Patricia Magalhães de Toledo, diretora de propriedade intelectual e de transferência de tecnologias da Inova Unicamp, conta que o início da aproximação ocorreu a partir de 2008, quando o Departamento de Ciência e Inovação do Reino Unido veio buscar universidades renomadas do país que tivessem interesse em aproximar os laços em ciência e inovação. “O consulado britânico objetivava ampliar a cooperação entre os dois países e, como parte dessas atividades, uma delegação inglesa realizou uma missão no Brasil em 2008 para conhecer nos-
O reitor Fernando Costa, Leszek Borysiewicz, vice-chanceler da Universidade de Cambridge, e Jennifer Barnes, pró-vice-chanceler de Estratégia Internacional: cooperação na pauta
Complexo de Old Schools, onde ocorreu o seminário “Colaborações de pesquisa: Oportunidades, Política e Prática”: local abriga eventos estratégicos da Universidade de Cambridge
CRONOGRAMA Próximas atividades de cooperação Unicamp-Cambridge Ainda como parte do projeto aprovado no escopo do Prosperity Fund, alguns professores da Universidade de Cambridge visitam a Unicamp nos meses de março e abril com o objetivo de estabelecer cooperações científicas. Conheça a agenda dessas visitas: 21/03 a 23/03: prof. Andy Woods, departamento de ciências da terra. 26/03 a 30/03: prof. Paul Dupree, departamento de bioquímica. 31/03 a 03/04: prof. Tom Blundell, departamento de bioquímica. 01/04 a 05/04: prof. Shailendra Vyakarnam, diretor do Centro de Ensino de Empreendedorismo da Universidade de Cambridge. sa realidade e estreitar laços”, relata. Desde então, a aproximação da Unicamp com o Consulado Britânico foi se firmando e tem sido fortalecida, com a realização de eventos em cooperação e outras missões em ambos os países, e mais recentemente com o estabelecimento de dois projetos em 2011. Patricia explica que os projetos são de fundamental importância e foram aprovados com recursos do BIS UK – departamento britânico que visa impulsionar a inovação e alavancar negócios – e do Prosperity Fun – fundo do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido voltado para a promoção do desenvolvimento sustentável que opera em 14 países prioritários, dentre os quais o Brasil. “Os dois projetos nos proporcionaram maior aproximação especificamente
com a Universidade de Cambridge e seu ecossistema de inovação”, ressalta Patricia. Damian Popolo, que foi vicecônsul de Ciência e Inovação do Reino Unido no Brasil e atualmente é gerente de tecnologia na empresa BG, explica que as parcerias firmadas entre Brasil e Reino Unido antes de 2011 foram importantes, contudo mais focadas em ciência do que em inovação. Segundo ele, desde 2006, Brasil e Reino Unido vêm fortalecendo seus laços em ciência, com resultados positivos como o aumento da colaboração entre os dois países em termos de quantidade e qualidade de publicações. Com estes resultados, o Reino Unido tornou-se o segundo maior parceiro do Brasil em pesquisa científica, sendo ultrapassado apenas pelos Estados Unidos.
Entretanto, de acordo com Popolo, em 2011 os países incluíram na parceria uma estratégia mais voltada para a inovação, com o fortalecimento da troca de experiências em incubação de empresas de base tecnológica e em transferência de tecnologias, bem como na cooperação entre agências de inovação. “O Reino Unido iniciou um trabalho com países e instituições que possuem núcleos de inovação mais avançados, como a Unicamp”. Segundo Popolo, a Universidade foi escolhida para a parceria justamente por possuir a agência de inovação mais tradicional e avançada do Brasil, além de ser uma referência no âmbito científico-inovador. Já no Reino Unido, foi destacado como parceiro mais indicado para a cooperação neste âmbito, a Cambridge Enterprise, agência de inovação da Universidade de Cambridge, que é fomentadora de um polo fortemente inovador. Patricia, que esteve na Cambridge Enterprise este ano, conta que a universidade foi muito bem sucedida na criação de uma cultura empreendedora diferenciada na região em seu entorno. “Podemos tomar a experiência da Universidade de Cambridge e da Cambridge Enterprise como exemplos para seguirmos na Unicamp e na região metropolitana de Campinas, já que existem diversas similaridades nos dois ecossistemas”, avalia Patricia. Para a diretora, não só a região de Campinas pode ser comparada com a de Cambridge em termos de potencial inovador, mas também as chamadas “Empresas Filhas da Unicamp” possuem pontos semelhantes com as empresas de base tecnológica na região de Cambridge. Entretanto, a diretora relata algumas iniciativas ainda não implantadas na Unicamp que impactaram fortemente na construção do principal polo de inovação acadêmico do Reino Unido. Segundo Patricia, além dos eventos de networking entre os empreendedores, que a Unicamp também tem fomentado mais recentemente, a Universidade de Cambridge possui fundos de investimento para empresas nascentes, criadas no contexto da academia, que têm um papel importante no estímulo ao empreendedorismo de base tecnológica. Para a diretora, nossa região tem potencial para, como Cambridge, diversificar a economia de base tecnológica. “As Empresas Filhas da Unicamp são concentradas no setor de Tecnologia da Informação. Para seguir o exemplo do polo de Cambridge
também temos que aproveitar nossos excelentes resultados em produção científica para fomentar a criação de empresas de biotecnologia, energia e outras áreas”, pondera a diretora. Sobre a parceria com a Unicamp, Jennifer Barnes, pró-vice-chanceler de Estratégia Internacional da Universidade de Cambridge, relata que a instituição é cautelosa em relação à busca de parceiros. “Explorar oportunidades de parceria com a Unicamp nos agrada imensamente, pois é uma universidade de classe mundial, que complementa nossos pontos fortes e coincide com a nossa visão”. Segundo Jennifer, o envolvimento com o Brasil é uma prioridade estratégica para a universidade nas próximas décadas. Assim, além da parceria com a Unicamp, Cambridge possui acordos com agências brasileiras de fomento, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), para oferecer bolsas de estudo para cidadãos brasileiros. Esses acordos também foram tratados na visita à Cambridge, uma vez que um dos objetivos da delegação da Unicamp à universidade britânica foi explorar a possibilidade de enviar alunos de pós-graduação e pós-doutores por meio do programa brasileiro de mobilidade de pesquisadores, o Ciência sem Fronteiras, anunciado no ano passado pela presidente do Brasil, Dilma Rousseff. O professor Rubens Maciel, da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, participou da visita e dos seminários, e avalia que a parceria Unicamp-Cambridge impulsiona naturalmente o contato com universidades do exterior, abrindo caminhos para pesquisas e avanços científicotecnológicos. “Cambridge é uma universidade de excelência e preza as pesquisas multidisciplinares, o que auxilia na resolução de problemas imprescindíveis à sociedade”, explica.
Seminário Uma das propostas do seminário no Reino Unido foi explorar meios pelos quais as relações entre Unicamp e Cambridge possam ser fortalecidas e desenvolvidas. Para o diretor executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp, Roberto Lotufo, o projeto revelou o interesse real por parcerias em pesquisas acadêmicas. “Isso ficou constatado pela participação de um expressivo número de professores da Universidade de Cambridge neste seminário e por ter sido realizado na Old Schools, lugar reservado apenas para eventos estratégicos da universidade”, ressalta. O One Day Seminar, como é conhecido o seminário, dividiuse em duas sessões paralelas para discutir oportunidades e desafi os para pesquisa colaborativa. “Nossos pesquisadores identificaram no Brasil possíveis áreas para projetos colaborativos, como células-tronco e câncer. Também temos que ressaltar o progresso dos cientistas brasileiros nas áreas de energia e conservação”, ressalta a doutora Jennifer Barnes, pró-vice-chanceler de Estratégia Internacional de Cambridge. Ao longo dos trabalhos, os convidados do Reino Unido abordaram tópicos como oportunidades de financiamento para pesquisa colaborativa com universidades brasileiras e compartilhamento de experiência acadêmica. Para o reitor da Unicamp, o seminário foi muito produtivo e deve ter consequências concretas. “Acredito que o evento foi o começo de uma crescente e verdadeira cooperação entre a Universidade de Cambridge e a Unicamp”, prevê Fernando Costa.
Campinas, 19 a 25 de março de 2012
Meu mundo é outro
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Literatura utópica na
Editora da Unicamp lança dois primeiros títulos
A
■ SERVIÇO
Obra: A cidade feliz Autor: Francesco Patrizi da Cherso Tradução, introdução e notas: Helvio Moraes Edição: 1a Páginas: 136 Preço: R$ 32,00
Obra: A terra austral conhecida Autor: Gabriel de Foigny Tradução, introdução e notas: Ana Cláudia Romano Ribeiro Edição: 1a Páginas: 248 Preço: R$ 45,00 Lançamento Dia: 20 de março Horário: 18 horas Local: Empório do Nono, Barão Geraldo, Campinas
CRISTIANE KÄMPF Especial para o JU
capacidade de imaginar outros mundos ou maneiras de viver – com diferentes formas de organização política, econômica e social – é primordial em tempos de crise ou quando se busca analisar a própria realidade vivida. O Humanismo permitiu ao homem renascentista entender que sua existência individual, assim como o viver associado, são históricos, ou seja, variam e dependem de ações humanas e não da vontade divina, como se acreditava na era medieval. O homem percebeu então que poderia tomar para si seu destino e construir sua história com as próprias mãos – noção que deve ser sempre relembrada, em qualquer época histórica. Neste sentido, a coleção Mundus Alter (Editora da Unicamp), organizada por Carlos Eduardo Ornelas Berriel, professor do Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, chega em boa hora. “A coleção Mundus Alter é composta de uma série de utopias literárias, essenciais para a compreensão
Jornal da Unicamp – Para começar, o que podemos entender como utopia? Carlos Eduardo Berriel – Atualmente existe uma discussão bastante avançada sobre o sentido histórico e literário da utopia, e tivemos inclusive um grande congresso internacional, aqui na Unicamp, visando avançar neste sentido. Indubitavelmente, a utopia é um gênero literário, de composição mista, pois engloba os campos de reflexão da política, da ética, da religião, etc. Ao contrário da crença comum, a utopia não é, dominantemente, uma visão ficcional do futuro, e sim uma reflexão sobre o presente, considerado este como o complexo de graves problemas sociais e políticos que alarmam o ambiente cultural do utopista. A Utopia de Morus, por exemplo, é uma reflexão satírica sobre os graves problemas que a Inglaterra vivia com a dissolução da comunidade feudal e o surgimento da sociedade capitalista. A série das obras utópicas, que principia com Thomas Morus, surge quando da substituição da comunidade feudal pela sociedade moderna. De forma muito breve, podemos dizer que a comunidade é uma forma de vida coletiva em que seus membros possuem um lugar pelo simples nascimento em seu âmbito. Pobres ou privilegiados, há lugar para todos. Ao contrário, na sociedade moderna, este lugar deverá ser obtido por um processo de concorrência e eliminação dos derrotados. Na comunidade prevalece o costume e as normas da tradição, na sociedade prevalece o interesse econômico. Nas utopias clássicas não há propriedade privada e, consequentemente, nem ricos nem pobres. Este fato, entretanto, não deve ser visto como um prenúncio
do imaginário político moderno. Trata-se de uma coleção de traduções para a língua portuguesa desses textos, inéditos em português, que inventaram e descreveram mundos outros, que são na verdade imagens invertidas do nosso próprio mundo. Longe de servirem para o escapismo político, as utopias são, comumente, retratos irônicos, cáusticos e satíricos da época de seus autores. Adotando a forma de relatos de viagens imaginárias, de tratados e projetos sociais, as utopias foram, em seu meio milênio de história, interlocutoras contínuas das sociedades que as produziram e de suas teorias políticas, sendo muitas vezes ela própria uma teoria e uma proposição política”, explica o docente. Os dois primeiros livros da coleção serão lançados dia 20 de março, em Campinas: A cidade feliz, de Francesco Patrizi da Cherso, traduzido por Hélvio Moraes, e A terra austral conhecida, de Gabriel de Foigny, vertido para o português por Ana Cláudia Romano Ribeiro. Ambos tradutores são doutores em teoria e história literária pela Unicamp, pesquisadores do Centro de Pesquisa sobre Utopia (U_Topos), do IEL, e coeditores da Revista Morus – Utopia e Renascimento, editada por Berriel. A coleção Mundus Alter
do socialismo, embora este movimento, muitas vezes, o considere uma forma de ancestralidade. Já na República de Platão há o comunismo de bens, e mesmo o cristianismo primitivo é fortemente considerado pelos autores utópicos. A utopia nasce, no começo do século XVI, interessada em sopesar os efeitos desta nova forma de vida associada, com a qual nascia o Estado e a sociedade burguesa. As utopias, então, experimentam virtualmente, através de uma composição de traços satíricos e metafóricos, formas possíveis de Estado que possam conviver com a comunidade dos homens. Este desenho imaginário assume a forma de um ideal político, de uma sociedade onde todos estarão bem. Muitas são as indagações implícitas às utopias clássicas, dos séculos XVI e XVII: como será o Estado que nasce da traumática superação do mundo feudal? Que características terá, se incorporar o máximo da racionalidade cientíbfica em processo de criação? Diante de um Estado alargado ao limite, como viverá o indivíduo? Mantida a religião na nova sociedade, qual será a sua feição? Absorvida e confundida com o Estado, que então terá uma face sagrada? Será possível ao indivíduo construído pelo Humanismo subsistir diante de um Estado absoluto, sustentado pelo racionalismo burguês? Estas e muitas outras questões, postas pela realidade, são respondidas pelas utopias – e basta isso para dizer que este gênero se alimenta da realidade mais concreta, e não por devaneios sociais, como afirmam seus detratores. O peso da herança platônica e de outros autores, como Aristóteles, Luciano de Samósata e Santo Agostinho, é enorme. Comumente uma
obra utópica traz em si, de forma criptografada, toda a biblioteca de seu autor. Embora lamentem a perda histórica da comunidade, as utopias iniciais costumam ser otimistas com o Estado moderno, vendo neles um instrumento de superação da miséria material e dos vícios societários, como a preguiça, a exploração e a injustiça. Este é apenas um dos paradoxos típicos da utopia. Há nisso uma junção imaginária entre a justiça da comunidade e as conquistas científicas. A utopia nasce também daquele otimismo sobre as possibilidades humanas de escrever seu próprio destino, individual e coletivo, que é a face mais marcante do Humanismo da Renascença. JU – Qual é a função social da utopia nos dias de hoje? O homem atual é capaz de produzir utopias? Berriel – Historicamente, e dentro de seu estatuto literário, as utopias sempre puderam ajudar a compreensão dos quadros culturais, sociais e políticos que as geraram. Se a utopia tiver uma função social hoje, será a mesma de sempre: criar uma imagem do mundo a partir das opções históricas postas pela realidade. Acredito que atualmente – e há mais de um século – a utopia “típica” não é mais escrita. Em seu lugar existe sua irmã gêmea, a distopia, que é a obra que mostra uma sociedade perfeita em sua malignidade. Desta série podemos citar as obras de George Orwell, 1984 e Fazenda de Animais, e a de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo. Toda a consciência crítica do século XX dependeu, decisivamente, destas distopias. Uma outra forma da distopia pode ser a ficção científica, um galho da árvore utópica, e que se caracteriza pela dilatação ao extremo
dos efeitos que a tecnologia desprovida de controle ético tem sobre a sociedade. JU – Até que ponto o individualismo atrapalha ou inibe a formação de utopias coletivas na sociedade contemporânea? Berriel – Curiosamente, a noção de indivíduo, que nasce na Antiguidade grega, teve um grande desenvolvimento no Renascimento e, inclusive, na obra dos pensadores que foram centrais para a utopia, como Pico della Mirandola e Erasmo de Rotterdam. Entretanto, o indivíduo que eles conceberam não era anti-social, e viam a polis (isto é, o ambiente de civilidade em que viviam) como substrato irrenunciável à sua própria existência individual. Se o indivíduo da Renascença considerava possível considerar sua vida como auto-construção autônoma – o homem como autor de si mesmo – estava a um passo de considerar a vida coletiva como passível de ser fruto de uma deliberação racional e livre. É esta mentalidade que tornou possível a utopia, isto é, a ideia de uma polis construída a partir da livre razão de seus cidadãos. O individualismo, que é contemporâneo, aparece como uma supressão da individualidade da Renascença justamente por sua negação congênita do interesse social. JU – Uma utopia é ou deve ser algo realizável? Berriel – Sou da opinião de que as utopias, pelo menos nos seus primeiros dois séculos, existem como obras de ficção política, não sendo diretamente propostas de realização efetiva. Possivelmente, nos entornos da Revolução Francesa, elas poderão ter assumido este caráter
Razão e ciência na berlinda Helvio Moraes apresentou a primeira versão da tradução da utopia de Francesco Patrizi da Cherso, A cidade feliz, em 2005, quando concluiu o mestrado em Teoria e História Literária do IEL, sob a orientação do professor Carlos Berriel. “Levei, portanto, cerca de três anos para concluir a tradução comentada e o estudo que a acompanha. No entanto, venho revisando periodicamente este pequeno tratado e concordo plenamente com Ana Claudia Ribeiro quando afirma tratar-se de uma atividade infinita. Quando voltar a ler minha tradução, tenho certeza de que encontrarei outras alternativas, talvez mais interessantes e adequadas do que aquelas por que optei”, afirma o doutor em história literária pela Unicamp e professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). A Cidade Feliz é um tipo de utopia
pouco conhecida, já que nela apresentase outro modelo utópico e não um relato de viagem, comum em inúmeras obras utópicas. Francesco Patrizi apresenta uma imagem de cidade, no qual a razão e a ciência são fundamentais para que o homem alcance a felicidade. A tradução é acompanhada de uma introdução que vai da página 13 à 57 e é essencial para a compreensão do texto. Nela, Helvio apresenta o ambiente intelectual de Veneza na época em que Francesco Patrizi escreveu a obra, publicada em 1553. “Penso que a tradução de A Cidade Feliz, por si só, não é capaz de fornecer ao leitor brasileiro todos os elementos para uma compreensão mais ampla do pensamento político de Patrizi, primeiramente, por se tratar de um autor ainda pouco conhecido no Brasil e cuja fortuna crítica tem se consolidado em
preenche uma lacuna não só nas universidades, mas também nas estantes dos leitores brasileiros, já que há pouquíssimos títulos utópicos à disposição em português. O professor explica que, “dependendo do critério, é possível listar muitas centenas de obras que podem ser consideradas utopias. No entanto, em português, existe no máximo uma dúzia. Além disso, as utopias já publicadas no Brasil muitas vezes têm problemas de tradução, pois frequentemente são vertidas não a partir do idioma original, mas de uma outra tradução.” Berriel acredita que há um interesse crescente sobre o tema e que a prova disso seria um número cada vez maior de publicações em todos os países sobre as utopias. Ele lembra que existem vários centros de estudos utópicos nas grandes instituições acadêmicas, e muitas coleções como a que a Editora da Unicamp está lançando. Nesta entrevista, o professor discute a função social da utopia nos dias de hoje, analisa os pontos em comum entre ficção científica e utopia, argumenta sobre a influência do individualismo na formação de utopias coletivas na sociedade contemporânea e apresenta as próximas obras a serem lançadas pela coleção.
anos relativamente recentes. Em segundo lugar, acredito que as considerações sobre os círculos intelectuais dos quais o jovem filósofo participava, o ambiente socio-político veneziano e a relação de seu texto com outros gêneros do discurso político do Renascimento podem complementar e dar uma direção mais precisa à leitura dessa utopia que, por tantos aspectos, se esquiva a classificações muito rígidas de gênero”, explica. Sobre a importância de se disponibilizar esta obra em português, Helvio afirma que “o nome de Francesco Patrizi, é hoje relacionado a pensadores do porte de Bernardino Telésio, Galileu e Campanella” e que ele acredita “ser relevante colocar à disposição dos leitores de língua portuguesa o texto de um importante autor da Itália ContraReformista”.
de propositura, somado à reflexão ético-política. Mas estou certo de que as utopias mais arquetípicas não oferecem um roteiro estrito para ser seguido por engenheiros sociais – que, aliás, surgem apenas após a Revolução Industrial. As utopias são essencialmente ficções nutridas pela filosofia política. JU – Autores brasileiros já produziram obras que poderiam ser classificadas de utópicas? Há alguma produção atual neste sentido? Berriel – Se considerarmos a utopia em sentido mais largo, menos rigoroso em sua definição, então a resposta é sim. Há mesmo uma interessante biblioteca neste sentido, com obras de Graça Aranha, Monteiro Lobato, Joaquim Felício dos Santos, Menotti del Picchia e muitos outros. Alguns preferem vêlos como autores de ficção científica, o que é todo um outro problema. A ficção científica brasileira, entretanto, é bastante vigorosa. JU – Se a ficção científica está ligada à utopia, quais são seus pontos em comum? Berriel – Há um substrato temático comum à utopia e à ficção científica: ambas as manifestações tratam, com o recurso dos mundos imaginários, das mais urgentes questões da época que as produziu. Os dois elementos constituintes do nome devem ser sublinhados: a Ciência e a Ficção. É possível que a ficção científica tenha se constituído sobre o trauma histórico trazido pelo progresso científico, cujo início pode ser localizado no âmbito do Romantismo, contemporâneo da revolução industrial e do consequente divórcio entre o poder avassalador da nova
Ana Cláudia Romano Ribeiro, que verteu A terra austral conhecida para o português: “Tradução é uma atividade infinita”
Helvio Moraes, tradutor da obra de Francesco Patrizi da Cherso: introdução é fundamental para a compreensão do texto
Campinas, 19 a 25 de março de 2012
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as estantes brasileiras
s de coleção que reúne obras inéditas em português Fotos: Antoninho Perri/Divulgação
O professor Carlos Eduardo Ornelas Berriel, coordenador da coleção Mundus Alter: interesse sobre a utopia é crescente
técnica e uma ética insuficiente para estes tempos. O paradigma do problema é, sempre, Frankenstein – o Moderno Prometeu, de Mary Shelley (1818), obra infinitas vezes retomada: afinal, poderá o homem substituir Deus como criador da vida e de outros mundos? A ficção científica percebeu a dessacralização promovida pela Revolução Industrial ao criar a máquina, esta criatura que opera em um tempo dessemelhante ao do homem, e ao devassar a natureza, anteriormente concebida como mistério. A quebra da ordem cósmica arcaica, de alto valor para o romântico, gera um poder sobrenatural, desprovido, entretanto, de uma ética correspondente. A ética, entendida como o controle humano sobre a vida, foi suplantada pela eficácia econômica, que não se subordina aos ditames e valores humanos. Esse poder técnico cria sem a hesitação de um vestíbulo moral um mundo sem justificativas para suas construções e personagens: o mundo dos simulacros, do homem sintético, sem alma, a cidade das máquinas, o terror nuclear, a realidade paralela, as criaturas de código incompreensível para a razão humana, já em vias de ser descartada. O tempo, como História, aparece desgovernado. Em sua abundante série a ficção científica registra, como os mitos e as tragédias de outro tempo, a irrupção do grotesco no mundo, dos monstros que são o sintoma da quebra da ordem do cosmo, da dissolução do homem como medida de todas as coisas. Visto isso, é possível perceber conexões entre o procedimento utópico e o da ficção científica. O que não impede, entretanto, que uma e outra manifestação possa seguir seu destino de forma independente. JU – Há planos para um IV Congresso de Estudos Utópicos da Revista Morus? Quais são as expectativas? Berriel – Estamos trabalhando, com
Ilustração de P. Morillier para o capítulo III de A Terra austral conhecida,in Voyages imaginaires, coletânea organizada por Charles G. Garnier (Amsterdã, Paris, 1788, vol. XXIV)
Página da edição de 1676 de A terra austral conhecida,com o alfabeto austral
Mapa anônimo de 1630, Bibliothèque Nationale de France
JU – Quais são atualmente os convênios estabelecidos entre a Unicamp e universidades estrangeiras para a linha de pesquisa sobre utopia? Berriel – Mantemos atualmente convênios formalmente constituídos com a Universidade del Salento/Lecce (Itália), que possui o Centro Interuniversitario di Studi Utopici, e com o Dipartimento di Studi sullo Stato da Universidade de Florença. Mesmo sem um vínculo formal, temos acordos vivos de parceria com o Centre d’Études Supérieures de la Renaissance da Universidade François Rabelais de Tours, França, com o qual acabamos de realizar, agora em janeiro, o III Congresso Internacional de Estudos Utópicos, dedicado aos temas do consenso e do livre-arbítrio nas utopias, cujas comunicações encontram-se disponíveis em vídeo e áudio no site do CESR e em breve serão publicadas na Morus. Mantemos constante contato também com o Centro Interdipartimentale di Ricerca sull’Utopia da Universidade de /Bologna (Itália). Somos também membros da Utopian Studies Society. Temos uma relação muito viva com outras revistas sobre utopia, como a Moreana e a Bruniana&Campanelliana. A Revista Morus reúne pesquisadores de mais de 50 universidades nacionais e estrangeiras, com quem estabelece parcerias na forma de colaborações individuais ou de projetos coletivos mais abrangentes, como congressos organizados em parceria. JU – Há planos para se criar um programa de pós-graduação em utopia na Unicamp, a exemplo do que já existe em Portugal? Berriel – Por enquanto não. Isso talvez possa ser pensado dentro de alguns anos, com o crescimento no Brasil das leituras sobre utopias. Isso poderá ser viabilizado, entre outras iniciativas, pela coleção Mundus Alter. JU – Além dos recém-lançados A cidade feliz e A terra austral conhecida, quais outros livros da coleção Mundus Alter já estão no prelo?
Frontispício da edição de 1692 de A terra austral conhecida, em que o nome do protagonista foi alterado de Nicolas Sadeur para Jacques Sadeur
Do pastiche à sátira dos devotos “Traduzir esta obra é produzir um objeto cultural passível de ser discutido, tanto em sua forma [a tradução] quanto em seus diversos estratos de significados. É tornar acessível ao público de língua portuguesa um tipo de ficção essencialmente política, chamada de utopia literária, e contribuir para os estudos referentes à língua e à literatura do século XVII”. É assim que Ana Cláudia Romano Ribeiro, tradutora da obra A terra austral conhecida (1676), define seu trabalho de verter para o português a utopia de Gabriel de Foigny, originalmente escrita em francês. “Um francês, em vários aspectos, diferente do francês atual, que mescla registros diversos, passando do coloquial ao formal, do pastiche do relato de viagem à sátira
os colegas da Universidade de Florença, visando um congresso em fevereiro de 2014. O tema central desta vez será a posição das utopias dentro dos embates políticos e revolucionários na História. O título provisório é: Utopias do Renascimento, Utopias das Revoluções.
dos devotos, um francês repleto de expressões circunscritas historicamente”, explica a doutora em teoria literária pela Unicamp e professora de Literatura. Ana Cláudia é pesquisadora do Centro de Pesquisa sobre Utopia (U-Topos), do grupo Renascimento e Utopia, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL–Unicamp) e coeditora da revista Morus — Utopia e Renascimento. Seu interesse pelo tema da utopia surgiu em 2002, quando participou de um curso ministrado pelo professor Berriel e dedicado ao estudo do Renascimento, do Humanismo e de algumas obras específicas, como O príncipe, de Maquiavel, e Utopia, de Thomas Morus. “Interessei-me principalmente pela articulação entre ficção,
história, literatura e filosofia nessas obras e temas, e fiquei particularmente intrigada com Utopia, obra ao mesmo tempo enigmática e concreta, que trata de questões absolutamente centrais à vida humana por meio de uma ficção paradoxal, que mistura verossímil e inverossímil”, diz a pesquisadora. O trabalho de tradução de A terra austral conhecida se iniciou em 2005, quando Ana Cláudia ingressou no doutorado sob a orientação do professor Berriel e a última versão ficou pronta no segundo semestre de 2011. Ela conta que as revisões foram incontáveis e que “se não tivesse publicado agora, creio que continuaria revisando a tradução, cotejando o original com o português – pois esta é uma atividade infinita.”
Berriel – Planejamos trazer para as estantes brasileiras novas edições de textos já disponíveis, como A cidade do sol, de Campanella (1602), e a Utopia, de Thomas Morus, assim como textos pouco conhecidos, mas importantes dentro do gênero, como os títulos recémlançados. Há muitos títulos em perspectiva, em diversos estágios de realização. Em breve deverão ser publicados uma coletânea de utopias italianas do século XVI, por mim traduzidas, além de A ilha dos hermafroditas (1605) publicada anonimamente em Paris e traduzida por Ana Claudia Romano Ribeiro – que também planeja traduzir do latim a Utopia do Morus e Epigone, histoire du siècle futur, de Michel de Pure e a Viagem ao sol (Histoire comique des états et empires du Soleil), do Cyrano de Bergerac. Para este ano planejamos publicar ainda as Cartas da malásia, de Paul Adam (1896), traduzida por Laura Cielavin Machado e O homem na Lua (1638) de Francis Godwin, traduzido por Bruna Caixeta. Estão em níveis diferentes de elaboração Alector ou le coq, de Barthélemy Aneau, em tradução de Yvone Greis, A ilha dos Pinheiros de Henry Neville, por Helvio Gomes Morais, que também vai traduzir The machine stops, de E. M. Foster, e Oceana, de Harrington. Ivone Gallo está preparando uma edição da obra de Fourier, Le nouveau monde amoureux.
Nas n bas Software otimiza atendimento ca 8
Campinas, 19 a 25 de março de 2012
de pacientes com problema urinário
Fotos: Antoninho Perri
Ferramenta compila, registra e analisa dados, além de ajudar na tomada de decisões RAQUEL DO CARMO SANTOS
A
kel@unicamp.br
gora é a vez da prática clínica em enfermagem contar com o auxílio da informática. Um software, criado para apoiar a tomada de decisões nos cuidados e diagnóstico de disfunções do trato urinário inferior, foi desenvolvido no Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) pela enfermeira e analista de sistemas Anna Carolina Faleiros Martins. Trata-se, segundo a autora do estudo, de uma ferramenta que compila, registra e analisa dados de um paciente, possibilitando desta forma melhorar a qualidade no atendimento. “O programa pode auxiliar a tomada de decisões daqueles profissionais generalistas e que não tenham experiência na área ou frente a casos complexos e diferenciados. Ele permite a coleta, armazenamento, busca e análise de dados com maior agilidade e facilidade”, argumenta. A pesquisa de mestrado faz parte de um projeto iniciado pela orientadora, a professora Maria Helena Baena de Moraes Lopes, em parceria com o professor urologista Carlos Arturo Levi D’Ancona e outros dois profes-
A enfermeira e analista de sistemas Anna Carolina Faleiros Martins: análise de dados com maior agilidade e facilidade
sores da Universidade de São Paulo (USP) – Neli Regina Siqueira Ortega e Paulo Sérgio Panse Silveira. A primeira etapa consistiu no desenvolvimento de um modelo matemático de apoio à decisão baseado em lógica Fuzzy testado com sucesso em 100 casos de diagnóstico de incontinência urinária. O que a analista de sistema fez foi programar o modelo e criar um software com vários benefícios no atendimento. “Todo o processo de enfermagem foi informatizado no Laboratório de Pesquisas Clínicas em Urologia, em fase final de organização. Consultas clínicas, sintomas do paciente e diagnóstico, bem como ferramentas de apoio à decisão, foram contempladas e, desta forma, é possível proporcionar
cuidado individualizado ao paciente”, destaca. O diferencial das ferramentas criadas na FCM, explica a analista de sistemas, é o desenvolvimento da plataforma em um sistema denominado Shell. Isto faz com que o próprio usuário final tenha autonomia de construir os formulários que desejar, além de permitir a criação de outros softwares, desde que, é claro, estudo prévio seja realizado com as características das outras patologias. Segundo Anna Carolina, o sistema foi testado em casos reais e disfunções do trato urinário e depois comparados os resultados “Chegamos a 100% de concordância com os resultados do modelo”, comemora.
O trabalho apresentado pela enfermeira une duas temáticas importantes que seriam a informática e saúde. Como ela possui a formação nas duas áreas – o que é muito raro de se encontrar – abriu-se o leque de possibilidades da criação de ferramentas para serem utilizadas na pesquisa em enfermagem. O software permite também reduzir o tempo de análise de três questionários sobre qualidade de vida: SF36, King’s Health Questionnaire e ICIQ-SF. Ele processa os dados de forma rápida e isto faz com que possa ser usado pelos pesquisadores da área para incrementar a pesquisa acadêmica. Anna Carolina prossegue o estudo no doutorado ao avaliar o software
quanto à qualidade interna, externa e em uso, de acordo com normas da ISO, a partir dos questionários que ela mesma formulou e validou: “O objetivo é expandir o uso do sistema para outros profissionais, inclusive externos à Universidade, uma vez que foi totalmente desenvolvido para funcionar em plataforma web”, declara.
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Tese: “Desenvolvimento e avaliação de um software de controle de atendimentos e apoio à decisão para diagnóstico diferencial de disfunções do trato urinário inferior, baseado em lógica Fuzzy” Autor: Anna Carolina Faleiros Martins Orientadora: Maria Helena Baena de Moraes Lopes Unidade: Departamento de Enfermagem - Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Financiamento: CNPq
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Programa detecta páginas de conteúdo suspeito na internet Sistema faz análise de sites de forma dinâmica, além de monitorar chamadas
Sabe aqueles links da internet que são enviados por e-mail ou aparecem de repente quando se está navegando em determinadas páginas? É sabido pelos especialistas que muitos deles são utilizados por invasores para instalar programas suspeitos (denominados “maliciosos” ou malware por especialistas) e, por isso, consistem em uma grande ameaça à segurança de sistemas. Neste sentido, o cientista da computação Vitor Monte Afonso desenvolveu uma ferramenta capaz de detectar essas páginas suspeitas em que um usuário comum poderia saber se é seguro acessar determinado site. “É de suma importância desenvolver mecanismos de proteção contra essas páginas de conteúdo malicioso. Mas, um dos principais desafios seria estudá-las e entender profundamente como funciona. Daí a iniciativa de criar um programa”, destaca Afonso, que apresentou dissertação de mestrado no Instituto de Computação (IC),
tamentos suspeitos em quatro etapas e utiliza técnicas de aprendizado de máquina e assinaturas. Foram realizados testes que atestaram a eficácia do sistema nas taxas de detecção e ainda com a vantagem de fornecer mais informações a respeito dos sites. O cientista da computação destaca também que o sistema só pôde ser criado graças a uma etapa anterior realizada por Dario Fernandes, que desenvolveu um sistema híbrido de análise de malware, denominado BehEMOT. Desta forma, o sistema foi totalmente feito nos laboratórios do Instituto de Computação. Apesar de oferecer vantagens para o usuário comum, o sistema desenvolvido no IC é mais voltado para pesquisadores de segurança que precisam estudar o comportamento das páginas maliciosas. A próxima etapa da pesquisa consiste em colocar uma interface online no BroAD para que as pessoas possam submeter o endereço de algum site e verificar se possui algum código malicioso e obter informações sobre o comportamento deste código, pois atualmente só em um equipamento o programa está instalado. (R.C.S.) O cientista da computação Vitor Monte Afonso: “A taxa de detecção é bem maior”
sob orientação do professor Paulo Lício de Geus. Denominado BroAD (Browser Attacks Detection), o sistema faz análise de sites de forma dinâmica e monitora tanto as chamadas de sistemas feitas pelo navegador, enquanto processa,
quanto as ações realizadas pelo código JavaScript contido na página. Ou seja, este é justamente o diferencial do sistema em relação aos programas convencionais que possuem apenas um método para detecção. “A taxa de detecção de páginas maliciosas é bem
maior no sistema proposto porque em outras ferramentas de análise observamos várias limitações a respeito do tipo de código e aos tipos de ataque que podem ser detectados”, explica. De acordo com Vitor Afonso, o BroAD faz a detecção dos compor-
.............................................................. ■ Publicação
Tese: “Um sistema para análise e detecção de ataques ao navegador Web” Autor: Vitor Monte Afonso Orientador: Paulo Lício de Geus Unidade: Instituto de Computação (IC)
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Fotos: Antoninho Perri
Pesquisa demonstra que busca de jovens por ‘corpo ideal’ pode causar transtornos MARIA ALICE DA CRUZ
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halice@unicamp.br
usculatura bemdesenvolvida e definida e baixo teor de gordura, especialmente na parte superior do tronco. Este é um dos traços característicos aos quais o profissional de educação física de academia precisa estar atento, na opinião da doutora em educação física Ângela Nogueira Neves Betanho Campana. O excesso de Drive for Muscularity, relativo à busca deste tipo de musculatura, pode causar, segundo Angela, a dismorfia muscular (transtorno dismórfico corporal que ocorre em homens que apesar de grande hipertrofia se consideram pequenos e fracos). Tese de doutorado sanduíche defendida por ela sob orientação da professora Maria da Consolação, da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp resultou na validação de seis escalas para avaliação da imagem corporal entre homens brasileiros jovens e uma modelagem de equações estruturais para determinar a relação do Drive for Muscularity com outros componentes atitudinais da imagem corporal desses homens, entre os quais satisfação com o corpo, ansiedade físico-social e valorização do ideal de corpo. Parte do trabalho, referente à validação psicométrica, foi desenvolvida na University Wetminster, em Londres, sob orientação do professor Viren Swami. Na validação das escalas no Brasil, com uma amostra de 878 homens jovens de 18 a 39 anos e de variados níveis educacionais, perfis profissionais, sedentários ou fisicamente ativos, Angela observou que ser mais forte e mais musculoso está associado a valores como ser mais bonito, feliz, saudável, realizado e confiante. Para a construção do modelo teórico usado na modelagem de equações estruturais, ela contou com um grupo focal formado por estudantes de educação física, que responderam a temas como a importância do corpo musculoso, os caminhos para a construção do corpo musculoso, o preço para atingir o padrão ideal e o preço que se paga por estar fora do ideal. De acordo com a autora, o ideal de corpo masculino manifestado pelo grupo fez eco com o ideal de corpo comumente referido pela literatura, que envolve musculatura desenvolvida e bem-marcada, baixo percentual de gordura, sendo que o tórax, braços e abdome são os alvos de maior investimento. O descanso, a boa alimentação, o treino regular são os caminhos reconhecidos como adequados para a construção deste corpo ideal, de acordo com as constatações do trabalho. Entre os participantes dos grupos, a suplementação alimentar, devidamente orientada por nutricionista, é uma forma lícita de “driblar” os limites ou mesmo acelerar o crescimento muscular. De acordo com Angela, seu uso e disseminação na
Jovem se exercita em academia: excesso de Drive for Muscularity pode desencadear quadro de dismorfia muscular
À imagem e semelhança?
Ângela Nogueira Neves Betanho Campana, autora do estudo: “Proposição teórica explica melhor os dados reais observados”
academia são amplos, mesmo entre aqueles não-atletas – para quem a princípio foram desenvolvidos os suplementos alimentares. Já o uso do esteroide anabolizante, na opinião da pesquisadora, é uma situação controversa. “Quem usa não diz que usa; quem vende não diz que vende; o corpo que resulta dele é ao mesmo tempo admirado e olhado com desconfiança, uma vez que não é considerado fruto da disciplina ascética da academia, mas como resultado de uma ‘trapaça’. O fato é que ele existe fora das academias de fisiculturismo, nas academias ‘comuns’, e o corpo
olhado com desconfiança é ao mesmo tempo associado como o símbolo da masculinidade hegemônica”, acrescenta Angela. Para Angela, o grupo focal também revela uma face cruel do mercado profissional. “Em nossos grupos focais ficou explícito o reconhecimento da expectativa que há sobre a aparência, já que são profissionais que terão uma ação direta sobre os corpos de seus alunos (especialmente em academias de ginástica)”, analisa. No corpo do profissional de educação física do sexo masculino, a obrigatoriedade do baixo percentual de gordu-
FEF valida novas escalas
A tese de Ângela foi desenvolvida no Laboratório de Imagem Corporal da FEF, criado em 2006 e coordenado pela professora Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. De acordo com a pesquisadora, a parte da linha de pesquisa voltada para o desenvolvimento de metodologias, onde a tese se insere, tem interesse no desenvolvimento de protocolos de avaliação de imagem corporal,
criação e adaptação cultural de escalas e validação de instrumento. Na página do Laboratório, podem ser feitos downloads dos instrumentos já validados pelo grupo e do software de avaliação perceptiva da imagem corporal, criado no Laboratório. No momento, estão sendo finalizadas outras pesquisas metodológicas, adaptando transculturalmente e validando no Brasil instrumentos
internacionais de avaliação da imagem corporal para idosos, mulheres de meia idade e com câncer de mama. Além disso, está sendo criado no Brasil um instrumento para avaliar a imagem corporal de cegos congênitos e um instrumento para avaliar a checagem corporal em homens. “Nosso foco está em trabalhos de intervenção que desenvolveremos futuramente, por isso este envolvimento
ra e da musculatura definida, o corpo “sarado”, marcaria sua capacidade de trabalho. “Os estudantes já sentem esta pressão sobre sua própria forma física e a expectativa sobre o corpo do profissional de educação física é real e perversa”, considera Angela. As novas escalas, intituladas Swansea Muscularity Attitudes Questionnaire , Drive for Muscularity Scale, Body Esteem Scale, Body Appreciation Scale, Social Physique Anxiety Scale e Masculine Body Ideal Distress Scal estão à disposição de pesquisadores brasileiros para avaliação da imagem entre homens jovens.
Apreciação influencia outros conceitos Ao testar outros modelos de relações com uma amostra de 1.202 homens com o mesmo perfil dos participantes da validação, Angela constatou que o modelo que melhor explica as relações entre os conceitos estudados é aquele em que a aceitação do corpo influencia todos os demais construtos. Ela explica que também propôs uma influência direta da ansiedade físico-social e do desconforto em relação ao corpo masculino ideal sobre as atitudes em relação à musculatura e sobre os comportamentos em busca da musculatura. Porém, apesar de os modelos testados atenderam aos parâmetros de qualidade de ajuste, escolheu o de aceitação corporal por apresentar um menor número de resíduos. “Isso indica que sua proposição teórica explica melhor os dados reais observados.” A constatação do efeito positivo da apreciação corporal foi inesperada, pois se esperava uma relação negativa, já que a imagem corporal positiva “protegeria” o sujeito de dar demasiada importância à musculatura, da mesma forma que protege do excesso de busca pela magreza, segundo Angela. “O perfil de nossa amostra tinha maior tendência a ter uma Imagem Corporal Positiva e a ter baixa a moderada ansiedade físico-social, com moderado a alto desconforto em relação ao corpo masculino ideal, assim como baixa a moderada Drive for Muscularity”, explica. De acordo com a pesquisadora, desde a década de 1990, a insatisfação corporal é considerada como um continuum, e não uma variável do tipo “tudo-ou-nada”. Assim, a Drive for Muscularity varia desde níveis muito baixos – que não são interessantes, pois a pessoa pode ter menos disposição para cuidar de sua dieta, manter um peso corporal adequado e de seus exercícios – a níveis muito elevados – que podem ser encontrados na dismorfia muscular –, passando por um nível ótimo, que se refletiria num estilo de vida ativo, com alimentação balanceada, sem excesso de gordura abdominal e um peso adequado.
inicial com protocolos de avaliação. A experiência corporal é base para o desenvolvimento da imagem corporal. Compreender isso permite que os profissionais de educação física .............................................................. Publicação tenham uma oportunidade não só ■ Tese: “Relações entre as dimensões da Imagem de desenvolver pesquisas coerentes, Corporal: um estudo em homens brasileiros” Autora: Angela Nogueira Neves Betanho Campana mas de oferecer ao seu aluno a oporOrientadora: Maria da Consolação Gomes Cunha tunidade de reconhecer-se melhor Fernandes Tavares em suas potencialidades e limites”, Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF) finaliza Angela. ..............................................................
10 Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp
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Painel da semana Proext 2013 - Já está publicado o Edital nº 2 (http://portal.mec.gov.br/index. php?option=com_content&view=article&id=1 2241&Itemid=487) do Programa Nacional de Apoio à Extensão Universitária (Proext 2013), voltado ao financiamento de programas e projetos de extensão com ênfase na inclusão social e que contribuam para a implementação de políticas públicas. Podem ser financiados projetos até R$ 50 mil e programas até R$ 150 mil. As propostas da Unicamp a serem submetidas ao Ministério da Educação e Cultural (MEC) são institucionais e serão previamente selecionadas pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), até 30 de março. Outras informações podem ser obtidas pelo e-mail silvamel@reitoria.unicamp.br (EA)² recebe inscrições para o programa Tope -Projeto desenvolvido pelo Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)² com o apoio das Pró-reitorias de Graduação (PRG) e de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), o programa “Tope: Todos podem ensinar e todos podem aprender” objetiva oferecer cursos informais de curta duração, de segunda a sexta-feira, das 12 às 14 ou das 18 às 19 horas. Os cursos podem ser voltados para qualquer assunto que desperte o interesse da comunidade: aviões de papel, filmes de “stop motion”, ábacos, mágica, vídeo games, etc. A participação é voluntária e aberta para a comunidade da Unicamp. Interessados em ministrar e/ou assistir aos cursos podem se inscrever, até 30 de março, no link http://www. ea2.unicamp.br/joomla/index.php/eventos/ projetos/31-tope-todos-podem-ensinar Fórum de Arte e Cultura - Evento ocorre no dia 20 de março, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Tratará do tema “Perspectivas da WEB Rádio na comunicação atual”. Programação e outras informações no site http://foruns.bc.unicamp.br/arte/foruns_arte.php Fórum de Empreendedorismo e Inovação – Evento discutirá o tema “Gestão para a inovação na indústria eletrônica: ecossistemas organizacionais e capital intelectual”. Será realizado no dia 21 de março, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Programação e outras informações no link http://foruns.
bc.unicamp.br/empreen/foruns_empreen.php Doador Universitário 2012 - A primeira coleta de sangue da edição 2012 do Projeto Doador Universitário ocorre no dia 21 de março, das 8 às 12 horas, no Estacionamento do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW). Para efetuar a doação, o voluntário deve apresentar documento de identidade com foto (RG) e endereço completo (inclusive CEP). A doação é um ato voluntário de amor, de solidariedade e de garantia de vidas. O ato de doar não acarreta qualquer risco ao doador. As doações também podem ser feitas no Hemocentro, de segunda a sábado, inclusive feriados, das 7h30 às 15 horas. Conheça o cronograma coletas de 2012 em http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ sala_imprensa/cronograma2012.php Lançamento 1 - Aparecida do Carmo Miranda Campos, Celso Ribeiro de Almeida e Francisco Hideo Aoki são os organizadores do livro Saúde da População Negra HIV/Aids – Pesquisas e Práticas. A publicação será lançada no dia 21 de março, ás 14 horas, no Anfiteatro do Hospital de Clínicas (HC). Na ocasião, a professora Anna Zolochko, do Instituto de Saúde, proferirá a palestra “Política de Saúde da População Negra no Estado de São Paulo”. Para participar do evento, as inscrições devem ser feitas no site do Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS), www.gr.unicamp.br/ggbs unidade da Unicamp que apoiou o projeto do livro. Lançamento 2 - Cristina Iwabe-Marchese, doutoranda pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, é a organizadora do livro “Fisioterapia Neurofuncional: aspectos clínicos e práticos” (Editora CRV). A publicação será lançada no dia 21 de março, às 19 horas, na Livraria Cultura em Campinas. O evento é aberto ao público. A livraria fica no andar térreo do Shopping Center Iguatemi-Campinas. Informações: 19-3751-4033. Fórum de Ciência e Tecnologia - Evento com o tema “O engenheiro, a Universidade e o Sistema Confea-CREA” acontece no dia 22 de março, às 9 horas, no Centro de Convenções. Mais detalhes podem ser obtidos no site http:// foruns.bc.unicamp.br/tecno/foruns_tecno.php Fórum de Meio Ambiente e Sociedade - Com a temática “A produção de alimentos, energia e serviços ambientais no espaço rural e a resiliência dos ecossistemas do planeta”, o encontro será realizado no dia 23 de março, às 9 horas, no Centro de Convenções. Mais informações na página eletrônica: http://foruns. bc.unicamp.br/energia/foruns_energia.php Caminhada noturna - Com o objetivo promover a prática do exercício físico em horários alternativos, os funcionários da RTV-Unicamp, Geraldo Camargo e Humberto Prado realizam uma caminhada noturna no dia 23 de março. A saída ocorre às 18 horas, em frente ao Centro de Saúde da Comunidade (Cecom). Mais detalhes: 19-35212063 ou e-mail: geraldoj@ unicamp.br Semana de Pesquisa da FCM - Até 25 de março, a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) receberá trabalhos para serem apresentados na Semana de Pesquisa da FCM. O evento ocorre de 28 a 31 maio com a participação de todos os seus departamentos. A semana foi proposta pela Câmara de Pesquisa e visa promover a divulgação da produção científica da FCM entre os docentes, alunos de graduação, de pós-graduação e residentes. Os pôsteres serão apresentados no Espaço das Artes e haverá visita guiada e premiação de trabalhos. Mais informações no site: http://www.fcm.unicamp. br/semanapesq/index.php
Eventos futuros
Tese da semana
Fórum da SEH - O Fórum “Processar artigos de uso único - uma polêmica de saúde” ocorre no dia 26 de março, das 8h30 às 17h30, no auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA). A organização é da Seção de Epidemiologia Hospitalar da Unicamp (SEH). Outras informações: 19-3521-7054. Simpósio Lean Enterprise e Lean Healthcare – Os simpósios Lean Enterprise e Lean Healthcare serão realizados no dia 29 de março, a partir das 9 horas, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A primeira videoconferência contará com a participação de Earll Murman, diretor do Lean Advancement Initiative (LAI) Educational Network (EdNet) do MIT e autor do livro - “Lean Enterprise Value: Insights from MIT s Lean Aerospace Initiative”. A segunda videoconferência terá a participação de Richard B. Lewis II, diretor-executivo do LAI no MIT e ex-diretor de operações da Rolls-Royce Corporation. A organização é do Laboratório Logística em Ensino, Pesquisa e Divulgação Científica (Lepedic). Inscrições online até 26 de março. Programação e valores de investimento estão disponíveis no link http://www.lepedic.com.br/ eventos/simposiolean/ Bolsas de iniciação científica - A PróReitoria de Pesquisa (PRP) recebe, de 2 a 15 de abril, as inscrições ao processo seletivo para bolsas de iniciação científica dos programas PIBIC/CNPq, PIBIC-AF, PIBITI e SAE/ Unicamp. As inscrições podem ser feitas no endereço eletrônico www.prp.unicamp.br/pibic SisPot 2012 - Encontro de Pesquisadores em Sistemas de Potência será realizado entre 2 e 4 de abril, na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC). O evento tem ocorrido regularmente desde 2001 com a apresentação de trabalhos de pesquisa em andamento ou recentemente concluídos na FEEC e com palestras sobre temas atuais e relevantes para a área de sistemas de potência. Mais informações no link http://www.fee. unicamp.br/SisPot2012/ Dislexia e TDAH - O Laboratório de Pesquisa em Dificuldades, Distúrbios de Aprendizagem e Transtorno de Atenção (Disapre) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) realiza no dia 12 de abril, das 9 às 17 horas, no auditório-5 da FCM, o Fórum de Dislexia e TDAH: evidências científicas. A abertura do evento contará com a participação da professora e pesquisadora Maria Valeriana Leme de Moura-Ribeiro e do professor Joseph A. Sergeant, da Universidade de Amsterdam (Holanda). As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 10 de abril com o envio de e-mail (tdahcampinas2012@gmail.com) contendo nome completo, endereço, profissão e telefone de contato. As vagas são limitadas. Mas informações: 19-3521-7372. Gestão em Propriedade Intelectual - A Unicamp sedia, de 24 a 27 de abril, o Curso Avançado de Gestão em Propriedade Intelectual, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). As inscrições devem ser feitas diretamente pelo site (http://www.inova. unicamp.br/paginas/inovanit/curso48_inscricao.php) da Inova Unicamp, até 30 de março. Para participar é necessário ter o certificado do curso intermediário. O curso é gratuito e a realização é da Agência de Inovação Inova Unicamp, por meio do projeto InovaNIT.
Alimentos - “Oxidação de lipídios e proteínas no café cru durante o armazenamento e sua relação com a perda da qualidade da bebida” (doutorado). Candidata: Mery Yovana Rendón Mamani. Orientadora: professora Neura Bragagnolo. Dia 19 de março, às 14 horas, no Salão nobre da FEA. - “Estudo da descristalização térmica do mel sob influência da agitação” (mestrado). Candidata: Luana Reis Vieira. Orientador: professor Flávio Luis Schmidt. Dia 19 de março, às 14 horas, no Anfiteatro do DTA/FEA. Biologia - “Secreção e ação da insulina em camundongos knockout para o receptor de LDL (LDLR-/-) alimentados com dieta padrão ou hiperlipídica” (doutorado). Candidata: Jane Cristina de Souza. Orientador: professor Antonio Carlos Boschero. Dia 19 de março, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IB. Computação - “Text recognition and 2D/3D object tracking” (doutorado). Candidato: Rodrigo Minetto. Orientador: professor Jorge Stolfi. Dia 19 de março, às 10 horas, no auditório do IC (sala 85) IC 2. - “Técnicas heurísticas de escalonamento paralelo em Workflow.” (mestrado). Candidato: Leonardo Garcia Tampelini. Orientador: professor Jacques Wainer. Dia 21 de março, às 14 horas, no auditório do IC (sala 85 - IC 2). Economia - “Os organismos geneticamente modificados e os impactos no comércio internacional agrícola: um estudo do caso da soja” (mestrado). Candidato: Paulo Ricardo da Silva Oliveira. Orientador: professor José Maria Ferreira Jardim da Silveira. Dia 22 de março, às 14h30, na Sala 23 (pavilhão da Pós-graduação) do IE. Educação - “Estudo comparativo das políticas nacionais de formação de professores da educação infantil no Brasil e na Argentina (1990 - 2010)” (doutorado). Candidata: Janayna Alves Brejo. Orientador: professor Luis Enrique Aguilar. Dia 19 de março, às 14 horas, na FE. - “Compromisso com o graduar-se, com a instituição e com o curso: estrutura fatorial e relação com a evasão” (mestrado). Candidato: Edgar Pereira Junior. Orientadora: professora Elizabeth Nogueira Gomes da Silva Mercuri. Dia 23 de março, às 9 horas, na FE. Engenharia Química - “Síntese e caracterização de nanocompósitos compostos por Poli (L-lactídeo) e Hidróxido duplo lamelar” (mestrado). Candidata: Núria Angelo Gonçalves. Orientadora: professora Liliane Maria Ferrareso Lona. Dia 19 de março, às 14 horas, na sala de defesa de teses (bloco D) da FEQ. Elétrica e de Computação - “Implementação e análise de desempenho de sistemas rádio sobre fibra em redes WSN e Wi-Fi.” (mestrado). Candidato: Daniel Grandin Lona. Orientador: professor Hugo Enrique Hernandez Figueroa. Dia 20 de março, às 14 horas, na sala PE-11 - térreo/Prédio CPG. - “Desenvolvimento de eletrodos cilíndricos de diamante para tratamento de águas” (doutorado). Candidato: Hudson Giovani Zanin. Orientador: professor Vitor Baranauskas. Dia 20 de março, às 10 horas, na Sala da Congregação da FEEC. - “A novel high sensitivity single probe heat pulse soil moisture sensor base ona single npn bipolar junction transistor” (mestrado). Candidato: Pedro Carvalhaes Dias. Orientador: professor Elnatan Chagas Ferreira. Dia 22 de
março, às 14 horas, na sala de teses da CPG. Engenharia Química - “Método da minimização da energia de Gibbs para a modelagem do equilíbrio químico e de fases no processo reacional do Biodiesel” (mestrado). Candidato: Daison Manuel Yancy Caballero. Orientador: professor Reginaldo Guirardello. Dia 23 de março, às 10 horas, na sala de defesa de teses - Bloco “D”. - “Influência de Peptonas Vegetais no cultivo de Streptococcus zooepidemicus para a produção de Ácido Hialurônico” (mestrado). Candidato: Leandro Junqueira Benedin. Orientadora: professora Maria Helena Andrade Santana. Dia 23 de março, às 14 horas, na sala de aula PG 05 (bloco D) da FEQ. - “Modelagem e simulação do processo de destilação molecular centrífuga reativa: desenvolvimento, avaliação e aplicação para o “Upgrading” de frações pesadas de Petróleo” (doutorado). Candidata: Laura Plazas Tovar. Orientadora: professora Maria Regina Wolf Maciel. Dia 23 de março, às 14 horas, na sala de defesa de teses (bloco D) da FEQ. Física - “Confecção e calibração de filmes finos de boro para a medida da taxa da reação 10B(n,a)7Li na terapia por captura de nêutrons pelo boro” (Mestrado). Candidata: Bárbara Smilgys. Orientador: professor Sandro Guedes de Oliveira. Dia 19 de março, às 10 horas, no auditório Méson Pi do Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia do IFGW. - “Padrões de Tuning e processos dinâmicos em redes complexas” (mestrado). Candidato: Lucas Dias Fernandes. Orientador: professor Marcus Aloizio de Aguiar. Dia 23 de março, às 14 horas, na sala de seminários do DFMC/IFGW. Linguagem - “No spa com Deus: uma análise discursiva da revista Visão Missionária” (mestrado). Candidata: Daiane Rodrigues de Oliveira. Orientador: professor Sirio Possenti. Dia 22 de março, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. - “O resto do sertão: faces da modernidade em “Grande sertão: veredas” (mestrado). Candidato: Felipe Bier Nogueira. Orientador: professor Márcio Orlando Seligmann Silva. Dia 23 de março, às 14h30, na sala de defesa de teses do IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica - “Ações de grupos e identidades para a álgebra de lie simples sl 2 (C)” (doutorado). Candidata: Alda Dayana Mattos. Orientador: professor Plamen Kochloukov. Dia 23 de março, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. - “Representações de quivers e fibrados vetoriais sobre espaços projetivos” (doutorado). Candidata: Daniela Moura Prata dos Santos. Orientador: professor Marcos Benevenuto Jardim. Dia 23 de março, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. Química - “Efeitos do tensoativos na polimerização em emulsão” (doutorado). Candidato: Ziarat Shah. Orientador: professor Fernando Galembeck. Dia 21 de março, às 14 horas, no Miniauditório do IQ. - “Dipirrometenos, 2-ariloilpirróis e derivados de bis-imidazol: síntese, caracterização e seus compostos de coordenação” (mestrado). Candidata: Stella de Almeida Gonsales. Orientador: professor André Luiz Barboza Formiga. Dia 23 de março, às 14 horas, na sala IQ-14. - “Estudo calorimétrico da influência de xenobióticos na atividade microbiana de alguns solos cultivados por algodão” (doutorado). Candidato: Hameed Ullah. Orientador: professor José de Alencar Simoni. Dia 23 de março, às 14 horas, no Miniauditório do IQ.
DESTAQUES do Portal da Unicamp
Nepp faz balanço do primeiro ano do Profis 12/3/2012 – O Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Unicamp está apresentando um balanço do Profis – Programa de Formação Interdisciplinar Superior, que completou um ano de existência com uma turma inicial de 120 alunos das escolas públicas de Campinas, selecionados a partir das notas do Enem. Com um forte caráter de inclusão social, o Profis é um curso de dois anos de duração, período em que os estudantes recebem uma sólida formação geral, para depois ingressarem diretamente, conforme o desempenho, em um dos 61 cursos de graduação da Universidade. “Creio que este é o único programa na Unicamp que está sendo avaliado juntamente com sua implementação”, afirma Ana Maria Carneiro, que coordena o estudo do Nepp e do qual participam as pesquisadoras Cibele Yahn de Andrade e Mírian Lúcia Gonçalves. “Criamos uma metodologia em que procuramos avaliar os primeiros resultados do Profis, que tem a proposta de expor os alunos a todos os conteúdos ofertados na Universidade, desenvolvendo habilidades básicas para qualquer formação específica que venham a escolher. E temos a pretensão de acompanhar seus desdobramentos por um longo tempo, de cerca de dez anos, até a conclusão do curso de graduação e o ingresso desses alunos no mercado de trabalho.” Logo na matrícula para o Profis, as pesquisadoras do Nepp constataram que 40% dos estudantes são de não brancos (pardos e pretos), um percentual 2,7 vezes superior ao de matriculados através do vestibular e ligeiramente acima da distribuição de raça/ cor da população de 18 a 24 anos do estado de São Paulo (36%). Em relação à renda fa-
miliar per capita, eles apresentam uma renda média 3,6 vezes menor que da população naquela faixa etária do estado. E, quanto à escolaridade dos pais, 77% representam a 1ª geração de suas famílias no ensino superior. Em seu relatório, as pesquisadoras concluem que, tendo em vista o perfil socioeconômico da primeira turma do Profis, os propósitos de inclusão social foram plenamente alcançados. “É um perfil bem diferente do público que a Unicamp recebe normalmente. E já constatamos, em relação aos ingressantes de 2012, que esses índices praticamente se mantiveram, como por exemplo, de 80% dos alunos formando a primeira geração da família no ensino superior e de 41% de não brancos”, acrescenta Ana Carneiro. Entretanto, como acesso não é sinônimo de inclusão, a pesquisa do Nepp também vai focar quantos permanecerão no programa, bem como o peso da assistência oferecida pela Universidade através de bolsas, auxílios e outros suportes. “Dos 120 matriculados na primeira turma, 20 deixaram o curso e 100 estão iniciando o terceiro semestre. Quanto aos egressos, tentamos verificar que caminhos tomaram e soubemos que seis ingressaram na graduação através do vestibular (cinco na própria Unicamp). Há um grupo que também tentou o vestibular, mas ainda não sabemos quem passou, e outro do qual não temos informações. Paralelamente, acompanharemos alunos que receberam notas muito próximas dos aprovados no Profis, verificando suas trajetórias.” Desafios simultâneos A pesquisadora Cibele de Andrade afirma que o Profis enfrenta dois desafios simultâneos, um deles em relação à heterogeneidade
Foto: Antoninho Perri
Ana Maria Carneiro: programa está sendo avaliado juntamente com sua implementação
da turma, havendo um grupo com desempenho muito e outro com grandes deficiências, o que oferece um panorama da qualidade do ensino nas escolas da cidade; o outro desafio vem da própria inovação de oferecer, ao mesmo tempo, uma formação geral e multidisciplinar, experiência que não existe em outra universidade brasileira e que é rara mesmo internacionalmente. “É difícil inclusive para nós, avaliadores, pois não sabemos se o problema mais está na heterogeneidade da turma ou nas disciplinas.” Segundo as pesquisadoras do Nepp, em várias disciplinas a deficiência é anterior ao ensino médio, como em matemática básica.
“Essa deficiência é apontada de maneira enfática pelos professores, que já esperavam por isso, principalmente na área de exatas, mas não imaginavam que fosse tanta”, diz Ana Carneiro. “Em alguns casos, os alunos que têm dificuldade em matemática são aqueles que não se interessam por exatas e estão menos motivados a correr atrás do prejuízo”, pondera Cibele de Andrade. Um aspecto enaltecido pelas autoras do estudo é o enorme empenho dos professores para o sucesso do Profis, a começar pela definição de uma grade com disciplinas inéditas, com base nas habilidades consideradas essenciais a todas as áreas de conhecimento
da Unicamp. E, depois, lidando com uma turma grande e de diversificada bagagem educacional. “Os professores dizem que foi o curso mais trabalhoso para preparar, mas que trouxe maior satisfação pelo contato com uma realidade diferente”, lembra Ana Carneiro. A pesquisadora observa que a própria proposta de formação geral ainda está sendo digerida pelos alunos, que no primeiro semestre foram apresentados a disciplinas como matemática básica, química, produção de texto, língua inglesa e promoção da saúde. “Há alunos que ficaram um pouco assustados e questionam por que precisam aprender matemática se querem fazer história. Outros gostariam que o Profis fosse dividido por grandes áreas, como de exatas e de humanas, o que vai contra o desafio colocado no programa, que é justamente o incentivo para que todos se interessem e sejam capazes de dar conta da variedade de disciplinas oferecidas.” Mudando de opção O balanço do Nepp também indica uma mudança significativa na escolha vocacional pelos alunos, por influência da diversidade da grade curricular, das aulas e do contato com professores de diferentes áreas. Se no momento da matrícula 80,5% deles apontaram algum curso de preferência, um segundo questionário aplicado no final do ano registrou que 49% mudaram a opção para outra área do conhecimento. “Esta migração pode reforçar que o Profis realmente tem contribuído para a definição vocacional de seus alunos, ou pode ser uma adequação à real oferta de vagas ou mesmo frente ao desempenho (bom ou ruim) em disciplinas específicas”, conclui o relatório. (Luiz Sugimoto)
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Fotos: Antoninho Perri
O vice-presidente do Banco Mundial para Redução da Pobreza e Gestão Econômica, Otaviano Canuto: “O setor industrial não vinculado a recursos naturais está sendo imprensado”
ISABEL GARDENAL
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bel@unicamp.br
primeira lição que se deve aprender com a crise econômica é que não se pode brincar com as bolhas e com os ciclos de euforia que acompanham processos de alavancagem excessiva do sistema financeiro. A segunda lição é que uma janela de oportunidade está se abrindo no mundo de desenvolvimento para se incorporar a redução da pobreza como um objetivo da política econômica, dada a importância assumida pela dinâmica de expansão dos mercados domésticos. Estas duas receitas partiram do vice-presidente do Banco Mundial para Redução da Pobreza e Gestão Econômica, Otaviano Canuto, que concedeu uma entrevista especial para o Jornal da Unicamp no contexto de um workshop sobre economias emergentes e a crise econômica global, realizado no último dia 9 no auditório do Instituto de Economia (IE). Segundo o economista, o Brasil soube responder bem à crise por não ter incorrido em excessos financeiros no período anterior e por dispor de margem de manobra fiscal, monetária e creditícia possibilitada pela gestão macroeconômica responsável dos anos anteriores. Otaviano Canuto foi professor do IE da Unicamp até 2003, deixando-a para assumir a Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda. Depois foi diretor-executivo no Board do Banco Mundial, representando o Brasil e mais sete países. Em seguida, foi vicepresidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento e, desde 2009, tem sido um dos vice-presidentes do Banco Mundial. Leia sua entrevista a seguir. Jornal da Unicamp – Qual tem sido a ajuda fornecida pelo Banco Mundial para os países mais pobres? E para aqueles que estão em crise? Otaviano Canuto – O Banco Mundial tem um trabalho de parceria e de ajuda de várias formas. O tipo de cooperação do Banco com cada país é definido em estratégias individualizadas. Para um país como o Brasil, não é o volume dos empréstimos fornecidos que é o essencial hoje em dia, mas principalmente o tipo de operação que acompanha tais recursos. Por exemplo, no período mais recente, a ênfase das operações do Banco Mundial no Brasil tem sido com Estados e municípios, mais do que com o Governo Federal, porque é no caso dos primeiros onde existe uma maior necessidade hoje de capacitação técnica e gerencial. Logo, a cooperação técnica facilitada por aquelas operações de empréstimos tornou-se um dos principais meios pelos quais o Banco pode adicionar valor e contribuir para o desenvolvimento no país. O Banco traz experiência de outros países e, na outra direção, leva a esses a experiência do Brasil. Esse é o caso também de países como a Rússia, a Índia ou a China. Agora, é importante diferenciar o caso desses países – que são de renda média – dos países de renda
O receituário de Canuto para a crise baixa. Para os países de renda baixa, o Banco Mundial opera sobretudo com empréstimos altamente subsidiados ou doações. Aí o dinheiro importa mais do que para os países de renda média. E o Banco tem alguns critérios que premiam o bom desempenho macro, gerencial, de qualidade de governança no país e sua ênfase em políticas de redução da pobreza. Tudo isso faz parte de um conjunto de critérios que definem quanto dos recursos disponíveis o Banco coloca individualmente para os países. JU – Como o Banco Mundial enxerga o Brasil neste momento? Canuto – O Brasil é visto como um parceiro fundamental naquele duplo sentido. O Banco Mundial tem que ser bem mais seletivo naquilo que ele oferece para o país, porque o Brasil adquiriu capacidade em muitas áreas. Também é um parceiro no sentido inverso, porque o Banco aprende muito com o Brasil. O sucesso brasileiro, nos últimos anos, em termos de redução da pobreza e de melhora no perfil de distribuição da renda, faz do país uma fonte de aprendizagem muito importante para o restante do mundo, para outros países em desenvolvimento. O Banco Mundial serve como uma espécie de beija-flor, polinizando o conhecimento.
preservação da competitividade da indústria brasileira e nos aumentos de produtividade nos diversos setores, que muito dependem das ações de políticas no próprio país. Não é tudo culpa do resto do mundo. JU – O que precisa ser feito para que o PIB retome o seu crescimento? Canuto – Acho que, para além do que se faz hoje, é avançar mais rapidamente na direção de melhor qualidade na educação. Avançamos muito no lado quantitativo – no acesso –, mas falta melhorar na qualidade; cabe uma revisão dos gastos públicos para encontrar espaço para o aumento da parcela disponível para o investimento em infraestrutura; e ajudaria muito uma reforma tributária que fosse inteligente o suficiente para diminuir o custo tributário para empresas e que fosse mais racional e melhorasse a competitividade do sistema produtivo brasileiro.
Canuto – Eu diria duas coisas, ambas aproveitando a oportunidade aberta pelo momento favorável no preço de commodities. Uma delas é aproveitar o período de bonança para construir reservas para a época de vacas magras e a outra é utilizar parte desse ganho, do período de bonança, para criar outros ativos na economia, tais como educação, infraestrutura e capacidade em outros setores, diversificando a economia. Temos que aproveitar para a acumulação de capital e para formar reservas fiscais e de divisas que serão necessárias nos momentos menos favoráveis.
JU – Para situar, quando se dá o marco do crescimento econômico do Brasil? Canuto – O que mais se realça é definitivamente a sedimentação da estabilidade macroeconômica, combinada com políticas agressivas de redução da pobreza. Esse é o marco distintivo da política econômica brasileira.
JU – Como situa a inovação do Brasil face à economia e qual é a participação da universidade? Canuto – A inovação é fundamental em qualquer experiência de desenvolvimento. O Brasil apresenta um paradoxo. Quando você olha a pesquisa básica, ele até que sai bem na fotografia, isso quando se trata da produção científica. As prateleiras das universidades estão cheias de bons resultados de pesquisa científica aplicada. Porém, na outra ponta, quando chega o momento da absorção criativa dessa tecnologia em nível empresarial, aí a fotografia do país é completamente oposta. Então temos essa esquizofrenia: de um lado, uma pesquisa básica que vai muito bem e, do outro lado, a pesquisa incorporada no meio empresarial muito aquém do que seria o ideal. Para resolver esse paradoxo, deve haver uma maior aproximação entre os dois universos porque também não serve ter uma universidade fechada em si mesma, fazendo produção científica de qualidade se ela não se desdobra em absorção pelo aparelho produtivo.
JU – O aumento do PIB menor do que o esperado para 2011 vem sendo justificado pelo Governo Federal como decorrente da crise europeia. O senhor concorda com isso? Canuto – Concordo com o governo nos seguintes termos: o cenário nas economias avançadas não tem sido favorável a um crescimento mais rápido da economia brasileira; ao mesmo tempo, se sabe que as dificuldades para um crescimento mais acelerado do PIB no Brasil se deve também a fatores domésticos. Há problemas e obstáculos na
JU – Nacionalmente, a mão de obra no setor industrial está diminuindo. Dos países que compõem o Brics, qual deles, depois dos asiáticos, tem maior capacidade de resiliência? Canuto – Na indústria manufatureira, fora da Ásia, poucos países estão conseguindo manter dinamismo no emprego industrial. Isso não quer dizer que esses outros países estejam em situação de desemprego elevado, mas a mão de obra tem sido absorvida em outras atividades, como é o caso do Brasil. Contudo, a tendência à absorção da mão de obra pela indústria tem sido decrescente e concentrada principalmente
JU – É sabido que boa parte das fontes de riqueza do Brasil advém das commodities. Essa fonte não está muito sujeita a riscos e a intempéries? O que deve ser feito para que o Brasil entre de vez para o ciclo virtuoso?
“Da inovação é fundamental em qualquer experiência de desenvolvimento”
na Ásia, algo que já está colocando desafios para o restante do mundo. JU – Estudos realizados na Unicamp nos últimos anos já davam conta de que o setor industrial brasileiro enfrentava uma forte retração, fato que se comprovou ao longo de 2011. A que se atribui essa desindustrialização e em que medida acredita que isso pode interferir no crescimento do país? Canuto – Isso se atribui à perda de competitividade em relação a outros produtores industriais decorrente da valorização cambial (mas não apenas), do aumento dos custos e da redução na margem de setores industriais, por conta dos preços de serviços que vão subindo junto com o enriquecimento que tem acompanhado os elevados preços de commodities. O setor industrial não vinculado a recursos naturais está sendo imprensado, dado que seus preços vêm ficando para trás em relação aos demais, e, além disso, a produtividade industrial brasileira vem aumentando em ritmo lento, comparativamente aos demais países emergentes, aos novos concorrentes do mercado. Não se deve permitir que esse longo boom, possibilitado pelos recursos naturais, leve ao desaparecimento completo da capacidade na indústria. Paralelamente ao longo boom, o país tem que garantir, a meu juízo, que se conquiste e se preserve competitividade em segmentos industriais com requisitos de tecnologia, de educação e de mão de obra qualificada. JU – Quais são as perspectivas de crescimento do PIB? Canuto – As perspectivas do crescimento do PIB são boas, enquanto se mantiver esse longo boom de preço de commodities. Mas os riscos e o foco maior de interesse dizem mais respeito ao país depois desse boom. O importante é aproveitar o período de bonança para dar um salto no país para, quando chegar o momento em que acabar o boom de recursos naturais, o país possa estar num outro patamar, no tocante à educação, à capacidade local de absorção tecnológica, à infraestrutura e à competitividade em segmentos produtivos intensivos em tecnologia e mão de obra qualificada. JU – O que os países têm a aprender com essa crise? Canuto – A primeira lição é que não se pode brincar com as bolhas e com os ciclos de euforia que acompanham processos de alavancagem excessiva do sistema financeiro. Essa é uma lição claríssima. O Brasil soube responder bem à crise por não ter incorrido em excessos financeiros no período anterior e por dispor de margem de manobra fiscal, monetária e creditícia possibilitada pela gestão macroeconômica responsável dos anos anteriores. A segunda lição é que uma janela de oportunidade está se abrindo no mundo de desenvolvimento para se incorporar a redução da pobreza como um objetivo da política econômica, dada a importância assumida pela dinâmica de expansão dos mercados domésticos.
12 Jornal daUnicamp Campinas, 19 a 25 de março de 2012
Foto: Antoninho Perri
Manual do
improviso
O músico Almir Côrtes, autor da tese: relação do frevo, do choro e do baião com a música instrumental
MARIA ALICE DA CRUZ
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halice@unicamp.br
tese “Improvisando em Música Popular: um estudo sobre o choro, o frevo e o baião e sua relação com a música instrumental brasileira”, de autoria do multiinstrumentista Almir Côrtes, oferece um conjunto de sugestões para a utilização de elementos musicais destes três gêneros na prática da improvisação idiomática (específica de cada gênero). O material deve auxiliar estudantes e novos profissionais ligados à música instrumental brasileira, na qual a improvisação é prática comum. “Como os músicos da geração atual ainda bebem da fonte deixada pelos precursores do choro, do frevo e do baião, a proposta é oferecer aos jovens instrumentistas possibilidades que levem a conhecer melhor estes gêneros e adquirir ferramentas para improvisar sobre eles”, explica Côrtes. A tese foi orientada pelo professor Esdras Rodrigues Silva, do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. Por meio da audição, da execução, da transcrição e da análise de um repertório selecionado, Côrtes demonstra que a “música instrumental” produzida no Brasil no período que compreende as décadas de 1970 a 1990 utiliza elementos musicais (melódicos, rítmicos e de articulação) advindos do período de 1920 a 1950, próximo da chamada “época de ouro” do rádio. Nessa época, instrumentistas e compositores como Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Levino Ferreira, José Menezes, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira estavam em plena atuação dentro do circuito rádio-disco. De acordo com Côrtes, a proposta de escrever um “passo a passo” para o desenvolvimento da improvisação idiomática sobre o choro, o frevo e o baião surgiu da preocupação com a carência deste tipo de material na área de educação musical no Brasil. O autor começa sugerindo linhas melódicas simples, com poucas notas, aumentando o nível de dificuldade e ampliando as possibilidades com o acréscimo de elementos recorrentes nos gêneros estudados. O ideal, segundo o instrumentista, é não obrigar o aluno ou o instrumentista
a seguir uma metodologia rígida, mas estimulá-los a desenvolver sua própria forma de aperfeiçoar a improvisação referente aos três gêneros estudados. “Eu pego progressões harmônicas dos gêneros, destaco os principais elementos rítmico-melódicos e, a partir deles, ofereço sugestões para a prática. Mostro que existem várias formas de conectar os elementos e realizar variações com os mesmos”, exemplifica. Diferentemente da composição, que pode ser repensada, a improvisação acontece em tempo real, o que exige do músico um conhecimento amplo de procedimentos musicais, padrões melódicos e rítmicos que fazem parte do vocabulário de um determinado gênero. Conforme Côrtes, o instrumentista incorpora esses elementos e improvisa com eles, realizando combinações diferentes. É preciso investir mais em trabalhos acadêmicos voltados para a improvisação no Brasil, na opinião do autor. “Quanto mais esses jovens músicos conhecerem a música daquela época, mais liberdade terão para dialogar com seus elementos musicais, ao invés de reproduzir literalmente o que já foi feito”, acrescenta. A observação de aulas, entrevistas com professores e estudo sobre a metodologia desenvolvida para o ensino do jazz durante doutorado-sanduíche no Departamento de Jazz da Universidade da Indiana, nos Estados Unidos, ajudaram a enriquecer o passo a passo preparado por Côrtes. Segundo o autor, na universidade norte-americana, a improvisação é realizada em disciplinas
obrigatórias, que se dividem em improvisação 1, 2, 3 e assim por diante. No curso de música da Unicamp, o estudo da improvisação geralmente se dá em aulas individuais de instrumentos ou dentro da disciplina “prática de conjunto”, quando os alunos se reúnem para desenvolver trabalhos em grupo. “Observa-se que aos poucos algumas universidades e os professores estão desenvolvendo pesquisas e voltando sua atenção para a improvisação idiomática no Brasil”, pontua. O artista espera que a partir dessas sugestões ocorram alguns desdobramentos, como o desenvolvimento de métodos e a elaboração de disciplinas ligadas à improvisação. O instrumentista também reflete a respeito do ambiente em que a improvisação será executada. Ao contrário da composição, esta prática, segundo ele, depende também da interação com o público. “Procuro falar de coisas que estão fora do ambiente acadêmico. Juntar toda essa atividade metódica como ato de improvisar em si. A necessidade de se arriscar, cometer erros, experimentar caminhos diferentes, a interação que sua prática exerce com o ambiente, entre outros. Porque a improvisação não é composta apenas pelos elementos musicais que o instrumentista dispõe, mas também da sua relação com a audiência: o bar, teatro, o que o público espera ouvir. O músico interage com isso tudo”, acrescenta.
Tradição A tendência ao nacionalismo “folclorizante” evidenciada na política populista do segundo período de go-
verno de Getúlio Vargas (1951-1954) desvalorizava a música contemporânea, elegendo determinados gêneros como representativos do que seria a “autêntica música nacional”, segundo Côrtes. Entre os gêneros considerados autênticos estavam os ligados à “época de ouro do rádio”. Neste período, o rádio representava o maior meio de comunicação de massa, a indústria fonográfica estava consolidada e os diferentes estilos musicais precisavam ser claramente denominados, a fim de facilitar sua assimilação e venda ao grande público. Apesar de toda a atuação de músicos e intelectuais em prol do que seria a “autêntica música brasileira”, tal predomínio passa a ser questionado em virtude, principalmente, do surgimento da bossa nova, que se impõe como estilo moderno, justamente em uma época na qual vigorava uma política voltada para o desenvolvimento e modernização nacional, promovida pelo governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960). Por estabelecer um novo parâmetro de escuta, devido principalmente ao tratamento harmônico-melódico diferenciado e a estilização do samba, a bossa nova é considerada um divisor de águas, demarcando os estilos “tradicional” e “moderno” de se fazer música no Brasil. Nas décadas de 1970 e 1980, além do samba, outros gêneros tradicionais como o frevo, o choro e o baião passam por um processo similar de “atualização” ou transformação, segundo Côrtes. Mudam as formações, inserem-se novos instrumentos, como bateria e
O Recôncavo e a mistura de gênero Côrtes lembra que mesmo na época em que a música popular não estava institucionalizada dentro das universidades, muitos músicos já transitavam entre o popular e o erudito. Ele mesmo afirma que quando estava cursando violão clássico na Universidade Federal da Bahia (UFBA), dedicava-se também a trabalhos de música popular tocando guitarra. O multi-instrumentista fala com propriedade sobre a improvisação idiomática, pois conhece bem esse
terreno. Vem do Recôncavo Baiano essa experiência em misturar gêneros. Em Santo Antônio de Jesus (BA), o menino de 12 anos já se animava a experimentar alguns acordes em rodas de amigos e tocando guitarra em bandas locais. Ao chegar à UFBA, dedica-se à formação em música erudita, mas ao mesmo tempo se envolve em projetos de música instrumental popular, começando pelo choro, presente na Bahia na época de sua formação. Em seguida, empresta seus dedos mágicos ao trio
elétrico, executando frevos, baiões e choros, inspirado pela musicalidade de Armandinho, Dodô e Osmar. São esses fazeres musicais que o conduzem ao bandolim e ao cavaquinho, encontrando posteriormente a Unicamp, onde dedica sua dissertação de mestrado a Jacob do Bandolim e, por último, sua tese de doutorado à improvisação, que o permite ir mais fundo nas combinações de gêneros “tradicionais” e outras musicalidades dentro do universo da música instrumental brasileira.
guitarra elétrica, elementos do jazz e do rock são incorporados, mas o diálogo com a tradição dos mestres é inevitável. “As novas gerações dialogam com o que está presente hoje, como elementos do jazz, da música erudita, da música afrocubana, entre outros, mas quando querem fazer improvisações que remetam ao que é considerado idiomático em relação ao choro, o frevo e o baião, vão buscar referências naquele período”, acrescenta Côrtes. Os elementos dos “áureos tempos da música brasileira”, estão presentes atualmente no choro de Nailor Proveta, no frevo de Antonio Nóbrega e no baião de Dominguinhos. Ao mesmo tempo, são recorrentes também em interpretações de nomes ligados à música instrumental contemporânea, como Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Guinga, Dori Caymmi, Victor Assis Brasil, Spock e Heraldo do Monte. Antes de proceder à transcrição e análise do repertório, Côrtes já trazia na bagagem a vivência desses gêneros populares. Ele gravou dois discos, um dedicado à música instrumental brasileira e outro dedicado à canção, gravado em parceria com a cantora paulistana Bel Dias. Durante seu estudo, Côrtes mostra como algumas composições mais experimentais fogem um pouco do choro considerado tradicional. “Tem os tradicionalistas que vão dizer que choro é somente aquele produzido por Pixinguinha, Jacob do Bandolim e que a música feita por Guinga e Hermeto Pascoal hoje não é mais choro. É preciso entender que tais compositores trabalham numa perspectiva contemporânea que dialoga com o tradicional”. Este experimentalismo já tinha acontecido pelas mãos de Radamés Gnattali, que propunha a mistura do choro e a música erudita e utilizava guitarra elétrica e bateria em seu grupo. Em seguida, segundo Côrtes, surge a banda A Cor do Som, também utilizando instrumentos elétricos e misturando o choro com procedimentos do rock e da black music.
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Tese: “Improvisando em música popular: um estudo sobre o choro, o frevo e o baião e sua relação com a música instrumental brasileira” Autor: Almir Côrtes Orientador: Esdras Rodrigues Silva Unidade: Instituto de Artes (IA)
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