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Campinas, 23 de abril a 6 de maio de 2012 - ANO XXVI - Nº 524 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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CORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

Fotos: Antoninho Perri

última parada de Holly Cavrell

Achados na NATUREZA

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Fotos: Antoninho Perri

Holly Cavrell

Nos palcos, no HC e nas quadras Página 6

Lobby comercial é barreira para TV pública

A natureza forneceu matériaprima para pesquisas inovadoras desenvolvidas na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) e no Instituto de Química (IQ). A química Laís Pellizzer Gabriel (acima), em pesquisa que fundamentou dissertação apresentada à FEQ, desenvolveu poliuretano à base de açaí para ser usado como prótese óssea, principalmente nas regiões do crânio e da face. O trabalho foi orientado pelo professor Rubens Maciel Filho. No IQ, a química Nathália Christina Gonçalves Yamakawa (abaixo), em dissertação de mestrado coordenada pelo professor Fernando Coelho, sintetizou a substância fitoesfingosina, encontrada no Mar Vermelho. A molécula apresenta propriedade antiepiléptica. A metodologia deve render patente e medicamento. Páginas 3 e 9

Sistema pode aquecer banho em prédios Página 5

Foto: Divulgação

Regina Dias

CLOWN

nos passos de Chaplin Página 12

Esponja marinha da qual foi isolada a substância

Tecnologia faz de celular ferramenta de ensino Página 4

Academia e sociedade a serviço da preservação em Ilhabela Erika Lenk

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Campinas, 23 de abril a 6 de maio de 2012

Interesses privados jogam contra a ascensão de TV pública, prega tese Para autor de tese, é preciso rever a legislação e estabelecer novas regras MARIA ALICE DA CRUZ

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halice@unicamp.br

a década de 1950, as imagens em preto e branco que tornavam mais acessíveis os ídolos do rádio ocupavam lugar de destaque no Brasil. A novidade, porém, já nascia comercial, pelas mãos do jornalista Assis Chateaubrind. O curioso é que nesses 60 anos de criação da TV, o Brasil não conseguiu estabelecer um sistema público de comunicação, o que dificulta a manutenção da TV pública no país. Na opinião do autor da tese “A TV Pública no Brasil”, Nordahl Christian Neptune, para se chegar a uma televisão capaz de atender mais aos interesses sociais que comerciais, é preciso rever a legislação e, principalmente, estabelecer regras, já que no Brasil os interesses foram elaborados sem elas. Para o orientador da tese, professor Adilson Ruiz, a falta de regras desde a origem da TV no Brasil faz com que os detentores dos canais não admitam ser controlados por uma legislação. Ruiz acrescenta que na Europa não há qualquer possibilidade de isso acontecer. Um exemplo é a proteção à produção independente, cujos produtos devem ser comprados pelas emissoras de TV para veicular. No Brasil, as emissoras comerciais tentam manipular, dizendo que isso poderá interferir no interesse público. “Eles dizem que é ditadura. Preferem repetir um filme a semana inteira à exaustão, pois, apesar de não terem produto audiovisual para preencher

a grade, não adquirem trabalhos de produtoras independentes pelo fato de essas gerarem um novo mercado”, explica Ruiz. Ao comparar o desenvolvimento da TV pública no Brasil ao de outros países, Neptune observa que na Europa e nos Estados Unidos a TV já nasceu pública, enquanto no Brasil os interesses comerciais e de poder ainda emperram as discussões sobre políticas voltadas para o campo público da televisão. “Na Europa, a TV comercial aparece somente na década de 1980 e mesmo assim a pública não perde seu espaço”, compara Neptune. Ele pontua que, apesar de começar a ser discutida com a participação de diferentes setores da sociedade, a TV pública ainda não contempla uma excelência na grade de programação. Mesmo com a criação da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) durante o 1º Fórum de TV Pública, em 2007, os canais públicos ainda conquistam de forma tímida seu lugar na grade. Segundo o orientador Adilson Ruiz, a criação da EBC é um marco importante na história da TV pública por contar com um conselho de personalidades de diversos setores da sociedade. A empresa tem em seu bojo a NBR, que dá conta do dia a dia da Presidência da república, mas tem também a TV Brasil que tem uma programação autônoma supervisionada por seu conselho. De acordo com Neptune, nos Estados Unidos e em toda a Europa, a TV surge pelas mãos da iniciativa pública, com regras estabelecidas e aperfeiçoadas ao longo do tempo, mas no Brasil, a origem da TV diferenciase do resto do mundo. Ele lembra que no país, a primeira TV educativa nasceu em 1967, na Universidade Federal de Pernambuco, mas, apesar dos avanços, muitas delas ainda estão atreladas a interesses do governo. Para o orientador da tese, Adilson Ruiz, naquela época não havia entendimento de que a televisão é um serviço público. “Sem normas e regras, existe uma TV comercial absurdamente verticalizada. Este fenômeno só tem no Brasil”, pondera Ruiz. O professor acrescenta que tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, as questões referentes à

Foto: Antoninho Perri

O professor Adilson Ruiz (à esq.), orientador, e Nordahl Christian Neptune: TV comercial é verticalizada

TV pública estão legisladas, mas no Brasil, a legislação não é suficiente para organizar um sistema de comunicação pública. Na Europa, segundo o orientador, a TV comercial ganha espaço somente na década de 1980, mas as emissoras públicas mantêm papel importante no sistema de comunicação. No Brasil, a discussão de uma TV com interesse público começa a ter força somente perto da década de 1990, com a Constituição Cidadã de 1988, quando o conceito de cidadania começa a ser discutido. Para Neptune, a discussão é dificultada pelo fato de os próprios legisladores não conseguirem definir os conceitos de TV pública e TV educativa. “Hoje, esses conceitos estão mais estabelecidos. Mesmo assim, precisam ser intensificados”, pondera.

Obsolescência Com a mudança do sistema analógico para o digital, não somente a tecnologia está obsoleta, mas também a legislação é ultrapassada. Muitas emissoras comunitárias enfrentam dificuldade para converter o sistema por falta de recursos, segundo Neptune. A TV Brasil, inclusive, ainda está adequando seu parque tecnológico, de acordo com o pesquisador. As regras que dizem respeito ao financiamento precisam ser revistas,

pois, segundo Neptune, para chegar num nível de excelência, entre muitos gargalos a serem preenchidos, a TV pública precisa ser financiada não apenas pelo governo, pois busca recursos para se atualizar e aprimorar suas produções. Outra dificuldade de algumas emissoras que têm o governo como principal financiador é a propriedade na escolha de sua programação, sem estar atreladas aos ditames do governo. As possibilidades de apoio, em sua opinião, precisam ser estendidas a empresas interessadas em apoiar produções culturais. Para Ruiz, é preciso distinguir a veiculação de produto da veiculação do nome da empresa como um dos apoiadores de determinada produção. “Se uma empresa com responsabilidade social, com foco na proteção ambiental, tem interesse em apoiar uma produção com conteúdo ambiental, qual o problema de ter seu nome incluído nos créditos entre um dos apoiadores? Não estaria veiculando a imagem de um produto, mas sim da empresa”, explica Ruiz. Segundo Nordahl, as produções poderiam receber recursos também de órgãos de cultura federais, como a Agência Nacional do Cinema (Ancine). Agências de fomento também poderiam entrar na equação financeira de uma produção, na opinião de Nordahl.

Ruiz explica que assim como a TV Cultura, de São Paulo, a EBC tem como mantenedor o Estado, mas tem autonomia de gestão por meio de conselho próprio. “Há na TV Cultura momentos em que o Estado interfere demais, mas ela reage mais porque tem a administração pública de não responder aos mandatários. No Brasil ainda se misturam os interesses públicos, privados e políticos. Essa é uma cultura que vamos demorar para superar”, lamenta. O professor acrescenta que a TV paga é mais cara no Brasil porque não há predisposição para investimentos. “O capital é mal-aplicado. O mercado não cresce porque os pacotes são caros, quando na verdade, quanto maior a demanda, menor teria de ser o preço. Se tivessem pacotes de TV paga a preços acessíveis ao grande público, não teriam uma base de 10 milhões, mas de 50 milhões de espectadores. Mas eles querem ganhar dinheiro com zero de investimento”, acentua Ruiz. Para Ruiz, mais que avançar no conceito de cidadania, é preciso enfrentar interesses de poder para que o espaço do sistema comercial seja colocado na dimensão que deve ter. A legislação, porém, não é suficiente e, quando se tenta melhorá-la, as entidades investem fortunas em seus departamentos jurídicos para embargar questões pertinentes ao interesse público. Um exemplo disso é a campanha empreendida por uma concessionária privada contra a Lei 12.485/2011, que criou o Serviço de Acesso Condicionado (SeaC), o qual obriga as emissoras que operam a TV paga a veicular, três horas e meia por semana, produções independentes brasileiras. “Fiz parte da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) e vivenciei momento em que a representação dos empresários se retirou da organização na tentativa de frear a Confecom, que só não teve êxito por não ter conseguido a unanimidade das suas entidades”, lamenta Ruiz.

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Tese: “A TV Pública no Brasil” Autor: Nordahl Christian Neptune Orientação: Adilson José Ruiz Unidade: Instituto de Artes (IA)

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FEQ faz polímero à base de açaí Foto: Antoninho Perri

Material está sendo usado na produção de próteses ósseas para as regiões do crânio e face MANUEL ALVES FILHO

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manuel @reitoria.unicamp.br

uito comum na dieta dos moradores da região Norte do Brasil, especialmente os do Estado do Pará, o açaí apresenta atributos que o tornam um alimento funcional, ou seja, oferece ao organismo humano mais do que “apenas” nutrientes. Segundo pesquisas recentes, o fruto tem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e analgésicas, entre outras. Estudo desenvolvido para a dissertação de mestrado da química Laís Pellizzer Gabriel, apresentado à Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, desenvolveu um poliuretano à base de açaí para ser usado como prótese óssea, principalmente nas regiões do crânio e da face. “Ensaios in vitro têm demonstrando que o material obtido a partir do fruto é biocompatível e apresenta excelentes propriedades mecânicas e biológicas”, afirma a autora do trabalho, que foi orientada pelo professor Rubens Maciel Filho. A pesquisa conduzida por Laís no âmbito do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Biofabricação (Biofabris), que está sediado na FEQ, teve um caráter marcadamente multidisciplinar, contando com as participações das professoras Cecília Zaváglia (FEM-Unicamp) e Carmen Dias, da Universidade Federal do Pará (UFPA). As amostras de despolpados (sementes e bagaço) de açaí necessárias ao estudo foram fornecidas pelo Laboratório de Engenharia Mecânica da UFPA, que vem investigando as qualidades do fruto há vários anos. Além disso, os testes in vitro contaram com a colaboração dos professores Rovilson Giglioli, do Centro Multidisciplinar para Investigação Biológica na Área da Ciência em Animais de Laboratório (Cemib), e Paulo Kharmandayan, chefe da área de cirurgia plástica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), ambos da Unicamp. De acordo com André Jardini, pesquisador que também trabalhou no projeto de desenvolvimento do poliuretano, o material é uma espuma rígida e porosa, que facilita o crescimento ósseo. O polímero é obtido a partir de uma substância extraída dos despolpados do açaí, chamada poliol. Esta é submetida a uma reação química na presença de outros compostos. “O polímero é obtido diretamente. Um dado interessante é que o açaí possui um catalisador natural, o que dispensa o uso de catalisadores químicos no processo. Isso é positivo, dado que nem sempre esses catalisadores químicos são biocompatíveis”, destaca a autora da dissertação. Jardini explica que o poliuretano é um material já consagrado para a fabricação de próteses ortopédicas, sendo inclusive aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O polímero desenvolvido na Unicamp é mais indicado para as regiões do crânio e da face, que não exigem grande esforço mecânico. “No caso de uma prótese para a cabeça do fêmur, por exemplo, há outros materiais mais resistentes, como o titânio”, diz. Ainda segundo ele, o polímero é obtido inicialmente na forma de fios. Depois, é transformado em pó

O professor Rubens Maciel Filho (centro) junto com os pesquisadores Laís Gabriel e André Jardini: material obtido a partir do açaí é biocompatível e apresenta excelentes propriedades mecânicas e biológicas

Detalhe do polímero: por ser rígida e porosa, espuma facilita o crescimento ósseo

e por último, na prótese. O processo de fabricação da peça faz lembrar cenas de filmes de ficção científica. As etapas são as seguintes. Primeiro, os pesquisadores da FEQ recebem uma imagem tomográfica da região que precisa da prótese. Esta imagem é processada por um software específico, o InVesalius, desenvolvido em Campinas pelo Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI). “Nesse momento, nós fazemos a segmentação, ou seja, separamos o que é tecido mole (pele, músculos, artérias) do que é tecido duro (osso). O passo seguinte é gerar uma imagem tridimensional do tecido duro, que mostra a parte faltante. Em seguida, por espelhamento, nós ‘desenhamos’ a prótese. O último passo é enviar essa informação para um equipamento de prototipagem rápida, que fará uma réplica anatômica fiel, camada por camada, do osso inexistente. Trata-se de uma prótese customizada, com precisão milimétrica”, assegura Jardini. Assim que esse material estiver à disposição para uso médico – por enquanto ainda está na fase de testes clínicos -, ele deverá proporcionar diversas vantagens em relação às próteses convencionais, conforme os pesquisadores da Unicamp. “Como a prótese é personalizada, muito provavelmente os médicos precisarão de menos tempo para realizar a cirurgia, o que também deverá representar menor tempo de anestesia e menor risco de infecção”, infere Jardini. Graças

à tecnologia empregada na produção do poliuretano de açaí, prossegue o pesquisador, será possível chegar à seguinte situação. Um médico do Pará, por exemplo, enviará uma imagem tomográfica, via sistema webservice, para a FEQ, solicitando uma prótese. Os cientistas produzirão, então, uma peça customizada com base nessa imagem e a enviarão, pelos Correios ou avião, de volta ao solicitante. Todo o processo não deverá levar mais do que três ou quatro dias. “Isso cria a possibilidade de termos algumas unidades capazes de produzir esse tipo de prótese, situadas em pontos estratégicos do Brasil. Tal estrutura agilizaria o atendimento dos pacientes que precisam desse tipo de cirurgia”, aventa Jardini. O professor Maciel informa que o processo de produção do polímero à base de açaí foi objeto de um pedido de depósito de patente por parte da Unicamp. “No momento, estamos ingressando na etapa clínica dos testes. Nossa expectativa é que o material possa ser certificado e posteriormente licenciado para alguma indústria interessada na produção desse tipo de prótese”, esclarece o docente. A demanda pelo produto, acreditam os pesquisadores da FEQ, deverá ser grande, uma vez que o país registra um alto índice de acidentes urbanos, principalmente no trânsito das médias e grandes cidades. Além disso, com a ampliação da expectativa de vida dos brasileiros, é provável que as pessoas precisem cada vez mais de reparos

ósseos em razão da idade avançada. “Esse tipo de pesquisa é muito gratificante. Se nós não nos ocupamos de buscar soluções na área, a tendência é que o país se torne dependente tecnologicamente. A consequência dessa dependência, não raro, é a limitação do acesso das pessoas às próteses, visto que muitas delas são importadas e têm altos custos. No nosso caso, ainda temos a vantagem adicional de usarmos como matéria-prima um produto abundante e renovável, que é o açaí”, detalha o professor Maciel. Laís, a autora da dissertação, afirma que dará continuidade à linha de pesquisa no doutorado. Um dos desafios que ela se impôs é investigar se as propriedades funcionais do açaí são transferidas para o poliuretano e consequentemente ao organismo. “Esse é um dos diferenciais no nosso trabalho. Buscamos materiais que tenham excelentes propriedades térmicas e mecânicas, mas que também ofereçam uma função extra, como, por hipótese, favorecer a redução da carga de antibióticos utilizada no tratamento”, pormenoriza a pós-graduanda.

Linhas de pesquisa Os pesquisadores da FEQ e Biofabris conduzem diversas linhas de pesquisa que trabalham com diferentes famílias de materiais voltados ao uso médico. Além de polímeros, há também cerâmicas. “Em razão das características dos estudos, todas as nossas abordagens são marcadamen-

te multidisciplinares. Trabalhamos com conhecimentos da Química, da Engenharia Química, da Engenharia Mecânica, da Biologia e da Medicina. Precisamos somar competências para poder entender o que é necessário fazer para contribuir com os estudos e aplicações nas intervenções que fazem uso de biomateriais no tratamento da saúde humana. Isso é extremamente estimulador e profícuo, pois cada especialista tem a oportunidade de ampliar seus conhecimentos e também de aprender a atuar de forma cooperativa com pessoas de outras áreas”, considera o professor Maciel. Além de buscar o desenvolvimento de produtos e processos inovadores, acrescenta o docente, outra missão da FEQ e do Biofabris é formar recursos humanos altamente qualificados. “Nessa linha, estamos formando mestres e doutores, que, como já foi dito, são treinados para atuar de forma multidisciplinar. Ainda este ano, se tudo correr como planejado, pretendemos ampliar o número de disciplinas oferecidas na área de Biofabricação, visto que a procura é muito grande. Atualmente, nós não temos aceitado o ingresso de mais estudantes porque não temos espaço físico adequado para acomodá-los. Além de ser uma área muito interessante, ela nos permite trabalhar na fronteira do conhecimento. Felizmente, nesse aspecto nós não perdemos o bonde da história. Temos pesquisado de forma conjunta com muitos países desenvolvidos, inclusive mantendo projetos em parceria.”, afirma o professor Maciel. Os estudos contam com financiamentos e bolsas concedidas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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Dissertação: “Caracterização de poliuretano à base de açaí formulado para construção de dispositivos biomédicos” Autora: Laís Pellizzer Gabriel Orientação: Rubens Maciel Filho Unidade: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)

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Sistema permite uso educacional de mensagens de texto via celular

Fotos: Antoninho Perri

Questões respondidas por SMS possibilitam avaliar compreensão de conceitos pelos alunos CRISTIANE KÄMPF

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Especial para o JU

uso dos celulares em sala de aula é assunto polêmico. Em 2010, o exdeputado federal Pompeo de Mattos (PDT-RS) apresentou à Câmara um projeto de lei que proibia o uso dos aparelhos por alunos e professores nas salas de aula de todas as escolas públicas do país. A proposta foi aprovada pela Comissão de Educação e Cultura, mas acabou sendo arquivada. Recentemente o Projeto de Lei 2806/11, de autoria do deputado Márcio Macêdo (PT-SE), retomou a proposta, permitindo porém a presença destes equipamentos, desde que relacionados ao desenvolvimento de atividades didáticas e pedagógicas e após a autorização dos professores ou da diretoria da escola. O uso das novas tecnologias de informação, como lousas eletrônicas, iPads e e-readers, para citar alguns poucos exemplos, parece estar sendo cada vez mais incorporado ao ambiente escolar e, ao mesmo tempo, alimenta discussões pedagógicas sobre qual seria a melhor forma de utilizar tais tecnologias para que elas representem um benefício real ao processo de ensino e aprendizagem. A tese intitulada “Um ambiente virtual de aprendizagem que utiliza avaliação formativa, a tecnologia de mensagens curtas e dispositivas móveis”, de autoria de Samira Muhammad Ismail, aluna da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), vem contribuir para este debate. O trabalho trata do desenvolvimento de um sistema chamado SMS2E (Short Message Service To Educate), o qual permite a possibilidade da utilização da tecnologia SMS como uma ferramenta de apoio à educação. Segundo Samira, o SMS2E oferece uma solução que facilita o uso da avaliação para a formação, e não para a punição. Este procedimento, que pode ser aplicado em aulas presenciais ou a distância, utiliza os celulares, o serviço SMS e os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) – como o TelEduc, elaborado pela Unicamp – para permitir que professor e aluno possam verificar instantaneamente os resultados do processo de ensino e aprendizagem. “O professor formula uma questão de múltipla escolha relativa ao conceito apresentado em sala e os alunos, então, respondem utilizando seus celulares e escolhendo a alternativa que lhes parece correta. Em poucos segundos, as respostas são consolidadas através do sistema e os resultados são apresentados imediatamente aos alunos e professores em forma de gráficos. Esta apresentação, feita durante a aula, permite aos alunos e ao professor identificar possíveis falhas de ensino ou aprendizagem, a tempo de serem corrigidas”, explica Samira. Sendo assim, o próprio aluno pode fazer uma auto-avaliação e o professor é capaz de decidir sobre

SMS2E é testado em aula na FEEC: professor e aluno podem verificar instantaneamente os resultados do processo de ensino e aprendizagem

Samira Muhammad Ismail, autora da tese, e seu orientador, professor Gilmar Barreto: complementando o aprendizado

a necessidade de reapresentação do conceito ou mudança na estratégia de ensino. A pesquisadora lembra que a avaliação é um recurso extremamente importante em qualquer processo de ensino e aprendizagem e que, quando preparada e executada com inteligência, pode contribuir para a melhoria do processo. Entretanto, segundo ela, a avaliação mais utilizada atualmente é aquela classificada como somativa, que é realizada somente ao final de

certo período escolar, quando o professor atribui uma nota para o aluno, ou seja, quantifica o conhecimento adquirido por ele. “O problema é que, quando este é o único tipo de avaliação realizado, o processo pode se tornar punitivo, porque não dá chance para qualquer reação – nem por parte dos alunos e nem do professor. O ideal é que o aluno possa ser avaliado constantemente, mas isto não se faz porque, sem o apoio da

Como funciona o SMS2E

O professor apresenta uma questão relativa ao conceito ensinado durante a aula. Os alunos a respondem, enviando uma mensagem de texto através de seus próprios celulares com a alternativa que julgarem correta. As respostas são consolidadas em um gráfico que fica em uma página WEB e que pode, portanto, ser facilmente consultado pelo educador ou aluno, a partir de qualquer local através da internet. São necessários somente o acesso à internet, um gateway e o provedor de serviços de SMS.

tecnologia, fica muito difícil para o professor, já que se criaria uma carga extra de trabalho, pois ele teria que constantemente preparar e corrigir estas avaliações adicionais, além de analisar seus resultados. O SMS2E vem para facilitar todo este processo e permitir que o professor possa fazer avaliações constantes e interferir no processo de ensino e aprendizado. Esta é a vantagem da avaliação formativa”, afirma Samira. A proposta da tese, realizada dentro da linha de pesquisa “Ensino de Engenharia e Inovações Tecnológicas”, com orientação do professor Gilmar Barreto, levou em conta o fato de que a tecnologia SMS é inclusiva, pois está presente em todos os modelos de celulares, desde os mais simples, é fácil de utilizar e não requer a incorporação de nenhuma tecnologia nova, ou seja, não representa a adição de nenhuma dificuldade ou trabalho extra ao ambiente do educador. Ademais, tem um baixo custo de implantação, utilização, manutenção e substituição. Barreto coloca que a ideia principal do trabalho é sempre usar a tecnologia no sentido de facilitar a educação. “O celular deve ficar ‘bem ligado’ dentro da sala de aula e tem que ser utilizado como uma ferramenta que complementa o aprendizado. A tese da

Samira foi feita com os celulares mais simples possíveis. Mas, se pensarmos nos smartphones, que tendem a ficar mais baratos e vão, eventualmente, substituir os mais simples, o professor vai poder utilizar esta tecnologia também com imagens, por exemplo, numa aula de trigonometria do segundo grau. O professor poderá enviar a questão ‘Aponte neste triângulo qual é o ângulo reto’ acompanhada da imagem do triângulo. O aluno, por meio da tecnologia touchscreen, vai apontar diretamente no celular qual é o ângulo reto e imediatamente o professor saberá quantos alunos aprenderam aquele conceito ou não. A mesma ideia vale para várias disciplinas”, aponta o orientador. O trabalho foi apresentado em vários congressos e seminários, entre os quais o Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia (Cobenge, em Blumenau⁄SC); o Congresso Internacional de Educação em Engenharia (Educon 2011, em Aman ⁄Jordânia); e o Seminário de Inovações Curriculares, em 2011, na Unicamp. Também foram publicados artigos relacionados ao assunto da tese em revistas conceituadas, como a IEEE - Multidisciplinary Engineering Education Magazine e a International Journal of Interactive Mobile Technologies.

Docente e aluno aprovam iniciativa Tiago Médici, aluno do 4º ano do curso de Engenharia Elétrica da Unicamp, atualmente utiliza o SMS para manter contato com a família e se comunicar com os amigos, mas aprova a ideia do uso da tecnologia durante as aulas. “Acho que seria uma oportunidade interessante de interação com o professor e de auxílio no aprendizado”, afirma. Luis Carlos Kretly, professor titular da FEEC, testou o SMS2E e aprovou o resultado: “É uma ferramenta bastante interessante e fácil de ser utilizada. Eu, com certeza, adotaria o SMS2E durante minhas aulas na faculdade”. Durante o doutorado, Samira pretende continuar aperfeiçoando a ideia e o sistema. “Agora, pretendemos desenvolver um gateway SMS dedicado

à universidade, oferecendo alguns novos recursos e visando o melhor aproveitamento do sistema. No entanto, devemos preservar os benefícios de baixo custo total de propriedade, que envolve a aquisição, operação, manutenção, substituição e expansão do sistema. Além disso, devemos manter uma arquitetura aberta, facilmente integrável às plataformas de software educacionais já existentes”, finaliza a pesquisadora.

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Tese: “Um ambiente virtual de aprendizagem que utiliza avaliação formativa, a tecnologia de mensagens curtas e dispositivas móveis” Autora: Samira Muhammad Ismail Orientador: Gilmar Barreto Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)

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Campinas, 23 de abril a 6 de maio de 2012

Banho sustentável FEM desenvolve sistema ‘limpo’ e economicamente viável para substituir chuveiro elétrico em prédios SILVIO ANUNCIAÇÃO

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silviojp@reitoria.unicamp.br

chuveiro elétrico é um dos vilões do consumo de energia nas residências brasileiras. Como agravante, o seu uso coincide, principalmente, com os horários de pico da utilização de eletricidade no país. Quatro pesquisas conduzidas na graduação e pós-graduação da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp têm resultado em um sistema energético para aquecimento de água para banho que pode substituir o equipamento popularizado no Brasil na década de 1930. A diferença é que o sistema projetado possui ótima eficiência energética, além de ser ecologicamente correto e viável do ponto de vista econômico. Trata-se de uma bomba de calor para aquecer a água do banho, desenvolvida com base em metodologia computacional. O sistema seria utilizado, especialmente, em prédios, onde a aplicação da energia solar se torna inviável devido à falta de espaço nos telhados para comportar a quantidade suficiente de coletores para abastecer todos os moradores. “A geladeira residencial é um exemplo típico de bomba de calor, só que com efeito inverso ao que buscamos”, exemplifica o professor José Ricardo Figueiredo, do Departamento de Energia da FEM. O docente coordena os estudos, que são desenvolvidos na Unicamp no âmbito de linha da pesquisa “Simulação de sistemas termofluido-mecânicos”. “O sistema permite a transferência de calor de um espaço mais frio para outro mais aquecido, necessitando apenas de um complemento energético na forma da eletricidade consumida por um compressor. No caso da geladeira residencial, o espaço mais frio é o interior do próprio eletrodoméstico, e o espaço mais quente é o ambiente externo, que recebe calor através daquele conjunto de tubos pretos que existem atrás do aparelho, denominado condensador. Na geladeira, interessa o efeito de resfriamento. No nosso caso, interessa o efeito de aquecimento no condensador”, explica. Sob orientação do docente, o engenheiro Obed Alexander Córdova Lobatón concluiu, em mestrado apresentado em fevereiro último, que a bomba de calor aquece a água pela metade do custo de um chuveiro elétrico. Enquanto o dispêndio do sistema proposto é de 0,145R$/kWh (reais/

quilowatt hora), o do chuveiro elétrico chega a 0,32R$/kWh. Obed Lobatón estimou para os cálculos os custos de investimento inicial e de operação por um período de 15 anos, tempo estimado para a vida útil da bomba de calor projetada. O pesquisador contou com bolsa de estudo concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Por um lado temos uma redução do consumo de energia elétrica, que é evidente. Mas, em contrapartida, o investimento inicial na bomba de calor é maior. A dificuldade da popularização das bombas de calor é justamente essa. O trabalho do Obed envolveu estudos sobre a parte técnica e econômica. As equações da termodinâmica e da transferência de calor foram acopladas às equações econômicas para definir o custo global do projeto – custo inicial mais o custo de operação de 15 anos. A novidade foi tornar o projeto viável não somente tecnicamente, mas também economicamente, para enfrentar o problema da popularização da bomba de calor”, avaliou o docente. Além disso, de acordo com Figueiredo, o sistema consome cerca de quatro vezes menos energia do que o chuveiro elétrico, como demostrou artigo do seu orientado na graduação, o aluno Bruno Fagundes Flora. O trabalho de Flora foi publicado em 2010, em conferência internacional, durante evento da Federação Internacional de Controle Automático, realizado em Portugal. O aluno recebeu apoio financeiro por meio do Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão (Faepex) da Unicamp. Outra contribuição importante para o desenvolvimento do sistema foi dada pelo também aluno de graduação Luís Sérgio Wilke Mühlen, que iniciou o projeto detalhado de dois componentes fundamentais da bomba de calor: o evaporador e o condensador (trocadores de calor). A partir deste estudo, o engenheiro Obed Lobatón fez uma análise térmica e econômica, que permitiu reduzir custos de investimento e de operação por meio do desenho e dimensionamento de cada um dos trocadores. Foi utilizada a metodologia SQP (Programação Quadrática Sequencial) por meio do software MatLab®.

Acessível, mas ineficiente Apesar de acessível, o chuveiro elétrico é um equipamento com enorme irreversibilidade termodinâmica, implicando em um alto gasto energético. Praticamente um kW elétrico é gasto para produzir um kW térmico. No Brasil, cerca de 80% dos domicílios utilizam a energia elétrica como fonte de aquecimento de água para banho, segundo dados do Sistema de Informação de Posses e Hábitos de Uso de Aparelhos Elétricos (Sinpha), da Eletrobrás. O aquecimento de água para banho e para uso doméstico corresponde a 10% de toda a energia elétrica consumida no país, conforme os indicadores do Sinpha, utilizados na pesquisa de Lobatón. “Os sistemas de bombas de calor para aquecimento de água tornam-se imperativos no momento em que os custos de energia continuam crescendo no mercado mundial. É indispen-

Reservatório acoplado otimiza funcionamento Os estudos envolvendo a bomba de calor na FEM incluem também o desenvolvimento de um reservatório acoplado para otimizar ainda mais o funcionamento do sistema. Este reservatório está sendo elaborado pelo engenheiro Bruno Gimenez Fernandes. O trabalho de Gimenez

aprimora a simulação da bomba de calor desenvolvida por Obed Lobatón, incluindo as perdas de carga internas à máquina. O reservatório acoplado à bomba de calor permitirá, segundo o orientador José Figueiredo, um armazenamento de calor, de modo que o

5 Fotos: Antoninho Perri

Modelos de chuveiro expostos em loja: um dos vilões do consumo energético Foto: Antonio Scarpinetti

O professor José Figueiredo, orientador : “O sistema permite a transferência de calor”

sável buscar, sistematicamente, mecanismos sustentáveis, para fornecer às pessoas os serviços energéticos de que necessitam a custos acessíveis”, defendeu, por e-mail, o engenheiro Obed Lobatón, que após a defesa do mestrado na Unicamp, voltou ao Peru, sua terra natal, para trabalhar em uma companhia energética do país. Em certo momento, na década de 1990, a Companhia Paulista de Luz e Força (CPFL) chegou a considerar a viabilidade das bombas de calor como forma de reduzir o consumo residencial, lembrou o professor da

O engenheiro Obed Lobatón, autor da dissertação: otimização térmica

FEM. “A CPFL , quando era estatal, chegou a pensar em financiar bombas de calor para as pessoas reduzirem o consumo, porque um chuveiro elétrico consome muita energia. E o custo inicial de você aumentar 5 kW na rede elétrica é muito alto. Mas a ideia foi abandonada”, lamentou Figueiredo.

Princípio Funcionando com base em um dos fundamentos da termodinâmica, a bomba de calor é uma máquina que extrai calor de uma fonte térmica e transfere esta energia para outra fonte,

de maior temperatura e em diferente proporção. Geladeiras, freezers, aparelhos de ar condicionados são exemplos de bombas de calor presentes no dia a dia. O princípio de funcionamento deste sistema provém do postulado do engenheiro francês Nicolas Léonard Sadi Carnot (1796-1832) e da concepção teórica posterior de Lord Kelvin (1824-1907). Conforme José Figueiredo, as tecnologias das bombas de calor são amplamente utilizadas, principalmente para fins industriais, devido ao custo dos equipamentos, que são importados.

............................................................. sistema possa trabalhar em horário distinto do de consumo. “Isso pode funcionar muito bem, por exemplo, com os casos de tarifa elétrica diferenciada. Pode-se usar a bomba de calor no momento de tarifa baixa e usar o calor gerado a qualquer outro momento. Essa é uma alternativa para diminuir o pico de energia elétrica, que para o chuveiro coincide fortemente com o pico de consumo no geral”, propõe. No futuro, as pesquisas devem ganhar um novo fôlego com a mo-

delação de uma bomba de duplo efeito, anima-se Figueiredo. “São quatro pesquisas com possibilidade de continuação, quando incluirmos a bomba de duplo efeito. Seria o uso de uma única máquina para produzir frio e calor. Em um prédio residencial, você pode usar o calor para o chuveiro e o frio para o condicionamento de ambiente. É uma questão de estudar e verificar a viabilidade de uma máquina só ou duas. Temos que pesquisar, modelar, simular…”, suscita o docente.

■ Publicações

Artigo Flora, B. F., Figueiredo, J. R. Heat pump for heating water for domestic purposes using a varying speed in Conferência sobre Metodologias e Tecnologia de Controle para a Eficiência Energética, promovida pela International Federation of Automatic Control (IFAC), Portugal, 2010. Dissertação: “Otimização térmica e econômica de bomba de calor para aquecimento de água, utilizando programação quadrática sequencial e simulação através do método de SubstituiçãoNewton Raphson” Autor: Obed Alexander Córdova Lobatón Orientador: José Ricardo Figueiredo Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) Financiamento: Capes

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Campinas, 23 de abril a 6 de maio de 2012 Fotos: Divulgação/Antoninho Perri

Regina Dias, entre o HC e os palcos

Enfermeira da pediatria do Hospital de Clínicas brilha em shows e nas quadras MARIA ALICE DA CRUZ

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halice@unicamp.br

em “madame” no samba. E desta vez não é para proibir que ele aconteça, como faz a madame cantada por Haroldo Barbosa e Janet Almeida em 1956. Pelo contrário, a cantora e enfermeira Regina Dias quer mais é pedir passagem para o samba em dias de folga da UTI pediátrica do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. No programa do show “Madame no Samba”, apresentado em bares e espaços culturais das regiões de São Carlos e Ribeirão Preto, a madame abrilhanta o ambiente com todo quanto é tipo de samba (raiz, sincopado, partido alto e outros). “Sou branquinha, não integro os grupos exclusivamente masculinos do gênero, mas amo cantar samba e venho para somar”, brinca Regina Dias, que divide o coração entre a enfermagem, a música e o vôlei. Como conciliar? “Eu sou assim”, resume Regina. Sua carreira começou na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde se formou, cantando para colegas e amigos de vários cursos. Mas nem só de samba vive essa “madame” da UTI e das quadras. Versátil, canta vários gêneros musicais brasileiros. “De qualidade”, já se adianta, enquanto relembra o ambiente familiar da infância, sonorizado com muita música boa feita por Glenn Miller (1904-1944), Ray Conniff (1916-2002), Pixinguinha (1897-1973), entre outros compositores e intérpretes da música brasileira e das baladas internacionais das décadas de 1950, 1960 e 1970. Regina acredita que para toda temática há uma música, seja na novela, no filme, no teatro e até mesmo na vida. “Há sempre uma música marcando uma época, um episódio, um momento. Quando ouço One day in your life, lembro do encanto de amor adolescente embalado por essa e outras baladas e de uma professora no colegial que articulava acentuadamente as palavras nos ensinando a pronúncia correta do inglês”, recorda. Outra imagem que lhe vem à lembrança é a interpretação de Mário Montarroyos (1949-2007) para a música Carinhoso, de Pixinguinha, na abertura da novela de mesmo nome, aguçando o romantismo nessa fase. As audições privilegiadas ao longo da vida interferem até hoje na escolha de repertório de Regina, que em 2002 foi convidada pelo Sesc São Carlos para a programação do evento “20 anos sem Elis” com o espetáculo “Regina canta Elis”. “Poucas cantoras da região tinham um acervo cronológico montado com o repertório dela e, como sabiam que eu a tinha como uma das minhas referências musicais, me convidaram para abrir a programação de um mês de homenagens e fiquei surpresa com a repercussão e a lotação na estreia”, alegra-se. A “casa cheia” fez ver o quanto as pessoas estavam saudosas de ouvir um repertório de Elis e o quanto o show valia a pena. Durante um mês, o Sesc promoveu espetáculos com vários artistas da música brasileira que se relacionaram com Elis durante sua carreira, entre eles Jair Rodrigues, Pedro Mariano, filho da cantora, Zuza Homem de Melo, Denise Stokclos, entre outros. Até hoje, mudando a formação de piano e voz – com o músico Toninho Diniz – para quarteto e voz, Regina é aplaudida pelo espetáculo. Em temporada recente apresentou o show “30 anos sem Elis” no Almanaque Bar, no distrito de Ba-

Regina Dias em ação no palco e na UTI pediátrica do Hospital de Clínicas da Unicamp: sem abrir mão da família e das áreas de atuação

rão Geraldo, em Campinas (SP). O repertório já foi apresentado em várias unidades do Sesc, no Estado de São Paulo e em centros culturais. Quando se deu conta de que o que fazia recebia o nome de produção, Regina passou a escrever e produzir espetáculos grandes como “Nelson Cavaquinho”, um de seus ídolos centenários. Apresentado inicialmente no mês de maio de 2011, dentro do projeto Palavra Cantada da 11º Feira do Livro de Ribeirão Preto, num formato bem mais simples, em outubro, Nelson mereceu tratamento especial em todos os aspectos, com uma produção mais arrojada desde o cenário até o formato do show, para sua estreia no Teatro Municipal de São Carlos. O palco do teatro foi transformado em calçada de bar, com mesas da década de 1930, adquiridas em um bar estilizado de São Carlos, caracterizando a ambiência que marcou a carreira do compositor. “Foi um sucesso. Vi como ainda hoje as pessoas amam Nelson Cavaquinho, um músico brasileiro centenário. E observei como amam a música brasileira e seus grandes poetas.” Outro gênero absorvido na infância, a bossa nova, faz parte do portfólio de produções oferecido por Regina a centros culturais, Sescs e projetos de incentivo cultural. Quando a bossa nova completou 50 anos, ela criou e apresentou o show “A bossa ainda é nova”, no qual, ao lado de músicos de São Carlos e Ribeirão Preto, mostra como o gênero ainda recebe diferentes tipos de interpretação. “Apresentamos a bossa e suas mais variadas leituras: do banquinho e violão, o jazz americano, ao drum and bass e o som eletrônico, mostrando o quanto ela foi e continua sempre moderna”, afirma. A decisão em aliar o prazer de cantar ao de produzir seus próprios espetáculos, fez com que Regina os documentasse em vídeos. Isso gerou material em mídia (DVD) do centenário de Nelson Cavaquinho, “A História de um Valente”, de “A bossa ainda é nova” e do espetáculo “Elas por ela”, em que Regina interpreta canções de Maysa Matarazzo, Márcia, Nana Caymmi e Elis Regina. O show foi apresentado em teatros do interior de São Paulo e unidades do Sesc. “Neste espetáculo, tenho de me transformar a cada mudança de intérprete. É gratificante ver o resultado de uma produção própria”, declara Regina. Para a artista, show não tem prazo de validade e pode ser apresentado a qualquer momento. “Quando oferecemos nosso trabalho, enviamos uma proposta com diferentes opções temáticas”, reforça. Com tudo documentado, músicos selecionados, partituras prontas, fica mais fácil responder “sim” a um convite, segundo a cantora. Mesmo com a dedicação à UTI

pediátrica e à seleção máster da Associação Paulista de Vôlei, o samba não precisa parar, segundo a “madame”. Em abril deste ano, ela estreou o Grupo Gafieira São Carlos. “A banda teve seu show de estreia no Sesc São Carlos e na semana já fomos convidados para integrar a programação do Almanaque Musical, da TVE, consolidando a nova proposta de seleção de sambas, boleros, baião, entre outros fazeres, enfim, músicas para dançar”, declara, sem qualquer sinal de cansaço, a enfermeira que logo após a entrevista assumiria o plantão.

Apoio Entre tantos compromissos, Regina consegue garantir com maestria a atenção à família, formada por ela, o marido e dois filhos. O apoio da família é fundamental para continuar sendo quem é: cantora, produtora, enfermeira e esportista. “E não consigo abrir mão de nenhuma das áreas.” A família sabe que nada é capaz de frear a “multiprofissional”, segundo a artista, e que nem mesmo um problema grave de saúde, enfrentado em 2010, lhe obrigou a descansar. A ele, Regina respondeu com música, alegria, mesmo em momentos de reflexão. Diante da relutância entre se recuperar de uma cirurgia repousando ou defendendo um samba em um

festival importante, Regina não teve muita dúvida: “Descobri o quanto a música ameniza a descoberta e o tratamento de uma doença grave. Ela me deixou otimista e me fez esquecer um momento que pareceu trágico”, recorda. O incentivo para subir ao palco e sair premiada partiu de uma de suas médicas, que, sabendo da importância do canto na vida de Regina, disse: “Vá cantar”. Orientação seguida à risca: “Fui recém-operada e deixei o corpo e a alma falarem, contemplando enfim, uma premiação que somou com uma recuperação esplêndida. O vídeo está no Youtube, aliás, muitos estão lá”, comemora. Outro aspecto importante em sua recuperação foi o apoio da família e também dos amigos da área de saúde da Unicamp, segundo Regina. “Não me deixaram ficar triste, pelo contrário, sentia uma retaguarda muito positiva. Fui conduzida por uma equipe extremamente competente, pontual e acessível, ‘top de linha’ do Hospital da Mulher Caism e do HC”, diz, ao mesmo tempo em que sorri. Há 22 anos, o convívio com a equipe da UTI Pediátrica tem garantido grandes amizades. A chegada antecipada ao plantão, à noite, faz com que se relacione com profissionais do turno anterior. Ao fim do plantão, gosta de se

A enfermeira e cantora durante entrevista na Unicamp: “A música me deixou otimista”

Para conhecer melhor o trabalho de Regina Dias, visite as páginas: Regina Dias — http://www.myspace.com/reginadias Regina canta Elis — (http://youtu.be/IO2JIOFbRnA) Nelson Cavaquinho — Quando eu me chamar saudade (http://youtu.be/djkiQJxvrkk) Elas por ela — (http://youtu.be/Lktbkd9-v1U) FAM - Credo e Cruz — (http://youtu.be/ViGrT7DR4oI).

relacionar com as pessoas que chegam para a jornada matutina. “Este relacionamento fez com que eu participasse da organização das confraternizações do setor”, comenta. Agora, a paulista nascida em Ribeirão Preto e adotada por São Carlos, onde iniciou a carreira na década de 1980, canaliza suas energias para a gravação do primeiro CD solo, Fantástico Urbano, no qual interpreta vários compositores da música brasileira. O título do primeiro álbum é uma homenagem à tia Odilla Mestriner (1928-2009), artista plástica de Ribeirão Preto, autora da série de quadros Fantástico Urbano. “Ela era uma das incentivadoras para que gravasse o meu CD”, relembra. Uma homenagem composta pela irmã de Regina, Bia Mestriner, integra o repertório. A estrada de quase 30 anos, iniciada na década de 1980 com o grupo Sassafrás, da UFSCar, proporcionou pontos de encontro com grandes nomes da música brasileira, críticos e profissionais da imprensa regional, como Paulinho Nogueira, Guinga, Juarez Moreira, Sizão Machado, Filó Machado, Simone Guimarães e Leandro Braga, Dimi Zumquê, o artista plástico Guto Lacaz, Maria Butcher, Paula Santoro, Márcia Tauil, Rodrigo Zanc, entre outros. Ao longo do percurso, algumas paradas para a participação, classificação e premiação nos festivais Femuarte – Garanhuns/PE (finalista por três anos consecutivos); FEM de Rio Preto (segundo lugar); Fenafro de Araraquara (melhor intérprete e segundo lugar); I Festimais de São Carlos 2008 (terceiro lugar); FAM – Ribeirão Preto em 2010 (terceiro lugar). “Mas tenho participado de muitos outros que sejam interessantes para a música que defendo”. Com a canção Três Apitos, de Noel Rosa, Regina integra o documentário da EPTV São Carlos Sertão Paulista, lançado em 2007, ao lado do violonista Hamilton Silveira. A artista também interpreta uma das faixas do CD da Rádio USP de Ribeirão Preto, lançado em abril de 2008, e do CD promocional do Femucic, promovido pelo Sesc Maringá em 2009. E, entre tantas atuações, Regina só manda recado aos desavisados: “Não cantei ao lado de nenhum centenário, como Nelson Cavaquinho”, brinca. “Mas sou uma madame que ama os centenários.”


Campinas, 23 de abril a 6 de maio de 2012

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Ilhabela é parâmetro para a preservação da costa brasileira Foto: Antoninho Perri

Linha de pesquisa desenvolvida na FEC adota conceito de serviços ecossistêmicos CARMO GALLO NETTO

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carmo@reitoria.unicamp.br

s preocupações com a manutenção da segurança ecológica da costa brasileira se justificam por sua intensa ocupação e expansão desde a colonização. A professora Rozely Ferreira dos Santos, do Departamento de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, mantém há mais de dez anos linha de pesquisa dedicada ao planejamento de sistemas costeiros através da ecologia da paisagem. Bióloga de formação, com doutorado em ecologia e livre docência em engenharia civil, ela vem orientando trabalhos que visam aprimorar conceitos e metodologias a serem utilizados no planejamento de sistemas costeiros, com o objetivo de encontrar respostas mais sensíveis e que permitam melhor comunicação com a comunidade. “Nossas pesquisas têm a preocupação de desenvolver um estudo acadêmico que conduza a respostas sobre a qualidade ambiental de um território e que leve a indicadores de fácil compreensão pela sociedade, de modo que ela possa estabelecer debates com a academia e outros segmentos sociais. Análises essencialmente técnicas não sensibilizam a comunidade. É fundamental o diálogo entre planejador e sociedade em uma linguagem acessível ao cidadão comum, pois dele depende o sucesso de quaisquer empreitadas envolvendo o meio ambiente. É nisso que acreditamos e para isso trabalhamos”, afirma. As preocupações de Rozely se revelam extremamente pertinentes na discussão do novo Código Florestal do País. Os mais recentes trabalhos orientados pela professora, alguns dos quais com a participação do professor Sérgio Meirelles, da USP, baseiam-se no conceito de serviços ecossistêmicos, que correspondem aos benefícios oferecidos pela natureza e utilizados pelo homem tais como água, alimentos, combustíveis, matérias-primas e todos os recursos fundamentais para a sobrevivência humana. Trata-se de um conceito muito utilizado atualmente e pressupõe uma interação dinâmica entre pessoas e ecossistemas, que direta ou indiretamente impulsiona mudanças mútuas. Nessa perspectiva, a tese orientada pela professora Rozely e desenvolvida pelo oceanógrafo Guilherme Theodoro Nascimento Pereira de Lima apresenta estudos realizados na Ilha de São Sebastião, município de Ilhabela, que teve como objetivo identificar a relação histórica, ao longo de 500 anos, entre as forças indutoras das mudanças de uso e de ocupação da terra e os impactos decorrentes sobre a oferta de alguns serviços ecossistêmicos. O pesquisador investigou, também, de que forma a complexidade de uma paisagem e sua trajetória de uso podem refletir na oferta de serviços ecossistêmicos. Correlacionando as estruturas da paisagem e a qualidade da água, ele mediu a degradação da

O oceanógrafo Guilherme de Lima e a bióloga Vivian Hackbart, respectivamente, autores de tese e dissertação orientadas pela professora Rozely Ferreira dos Santos Foto: Divulgação

À direita na imagem, Ilhabela fotografada por satélite: falsa impressão de vegetação densa e intocada

oferta de três serviços ecossistêmicos – uso da água, controle da erosão e utilização para a recreação – relacionados aos recursos hídricos de cinco microbacias de diferentes características dentro de um gradiente de evolução história da paisagem. Com efeito, esclarece a docente, a ilha observada por imagem de satélite dá a falsa impressão de possuir uma floresta boa, contínua e uniforme. Na realidade essa floresta resulta de um mosaico que abrange desde áreas bem preservadas, sem registro de ocupação humana, até outras que se recuperaram em diversos tempos ou ainda se recuperam, ou que se alteraram mais recentemente, caracterizando uma dinâmica muito grande entre espaços desiguais, de forma que cada fração do território corresponde a uma realidade histórica.

Metodologia Diante desse quadro, Guilherme preocupou-se em entender qual seria a melhor forma de fazer o planejamento de áreas costeiras e desenvolver uma metodologia para avaliação dos serviços ecossistêmicos relacionados aos recursos hídricos, às forças motoras e aos vetores de mudanças em uma paisagem costeira. Como a floresta não é uniforme e sofreu várias interferências em suas variadas frações e chegou mesmo a ser praticamente devastada em algumas delas, emerge uma questão fundamental: quanto em cada

fração do território se perdeu em relação aos recursos florestais e hídricos e como dimensionar essas perdas pela medida dos serviços ecossistêmicos? Mais: como as diferentes dinâmicas que envolveram a mata interferiram nos serviços ecossistêmicos para quem mora ou frequenta a Ilha? E ainda: como situar esses serviços em relação à própria conservação ambiental? A perda de serviços pode ser avaliada monetariamente, como tradicionalmente se faz. No caso, o valor monetário está relacionado com o custo, por exemplo, do tratamento da água destinado a torná-la utilizável. No entanto, essa conta pode ser feita de outra forma. Comparando, por exemplo, as águas das microbacias nunca utilizadas com as extremamente usadas consegue-se medir o serviço perdido ou a distância do serviço ideal. Esse raciocínio vale para outros serviços ecossistêmicos como o estoque de carbono representado pela biomassa florestal. Essa lógica foi utilizada por Guilherme para o desenvolvimento da metodologia, que inova o cálculo dos serviços ecossistêmicos e sua aplicação em planejamentos de áreas costeiras.

Perda de recursos Para responder mais detalhadamente às questões suscitadas por esse trabalho, a bióloga Vivian Cristina dos Santos Hackbart propôs verificar se a conservação de corredores fluviais

e suas microbacias hidrográficas garantem a disponibilidade de serviços ecossistêmicos. O trabalho, orientado também pela professora Rozely e centrado na mesma região, deu origem à dissertação de mestrado. A pesquisadora revela que os recursos hídricos são bastante sensíveis às perturbações causadas pelas ações humanas e estão significativamente relacionados à paisagem. Por isso, acha fundamental estabelecer as relações entre gradiente de conservação florestal de microbacias hidrográficas e disponibilidades de serviços relacionados ao rio, para então estabelecer o ponto crítico da degradação, ou seja, aquele a partir do qual as perdas de serviços seriam irreversíveis. Na ilha ela procurou entender como funciona a dinâmica nas mesmas cinco microbacias hidrográficas em diferentes fases de evolução histórica estudadas por Guilherme. O gradiente de fases utilizado pelos pesquisadores descrevem as fases de: urbanização – áreas urbanizadas desde o início da colonização; exploração – áreas de expansão da urbanização em períodos recentes e que foram utilizadas para o plantio de cana e depois café; regeneração – áreas que no passado foram ocupadas por plantios, mas que atualmente apresentam florestas em recuperação em diferentes estágios de sucessão evolutiva; conservação – correspondente às regiões ocupadas no passado, depois abandonadas como campo, e que atualmente se encontram em bom estado de conservação florestal; e preservação – formadas por áreas sem registro histórico de ocupação. Enquanto Guilherme trabalhou com essas microbacias inteiras, Vivian dividiu e analisou-as em duas zonas: a jusante e a montante da conta de cem metros, que em geral delimita a ocupação humana na ilha. Comparou então os serviços das duas zonas de uma mesma microbacia e correlacionou os dados dentro do gradiente de fases. Através de análises de amostras de água coletadas acima e abaixo da cota estabelecida e na foz dos rios, em quatro épocas ao longo do ano, foram determinadas as concentrações de Carbono Orgânico Total (COT), Fósforo Total, Nitrogênio Total Kjeldhal (NTK), Turbidez, Condutividade, Sólidos Totais e Zinco. A variação da quantidade dos elementos químicos selecionados para análise identifica a ação humana ao longo dos cinco rios e nas diferentes fases de evolução de forma a indicar a perda de serviços. A ocupação humana nas regiões mais próximas à orla e suas atividades (domésticas e ligadas ao turismo) podem ser medidas pela elevação nas quantidades dos parâmetros analisados, em especial fósforo, Zinco, NTK, carbono, turbidez e condutividade. Nas áreas

onde a vegetação apresenta um bom estado de conservação tanto o NTK quanto o COT estão, provavelmente, relacionados à degradação da matéria orgânica originada da floresta. Esse tipo de informação que relaciona ocupação e qualidade da água é de grande importância, uma vez que apenas 4% do esgoto de Ilhabela é coletado e, deste total, apenas 10% são tratados segundo dados da Sabesp (2010) e da Cetesb (2009). Vivian concluiu que valores inferiores a 70% de cobertura florestal nas bacias hidrográficas, seja montante ou jusante, geram um ponto crítico, em que a degradação é grandemente acelerada, ocorrendo uma perda de 40% dos serviços ecossistêmicos relacionados aos recursos hídricos. Mais grave, talvez, seja a constatação de que essas perdas não estão ligadas apenas à manutenção dos 30 metros de mata ciliar em cada lado dos fluxos d’água previstos na legislação, mas à conservação da floresta como um todo. Por isso, diz ela: “Constatamos que a qualidade da água depende não apenas da manutenção da mata ciliar, mas exige um olhar sobre toda a microbacia para que não ocorra diminuição tão expressiva de serviços ecossistêmicos hídricos. Não há dúvida de que o Parque, que se estende pela maior parte da ilha, cumpre muito bem os objetivos de conservar os recursos hídricos, para sorte da população”.

Resultados Um dos objetivos dessa linha de pesquisa é o de fornecer subsídios para auxiliar os planejadores ambientais e contribuir para a tomada de decisões dos gestores públicos. A professora Rozely enfatiza, entretanto, a importância de algumas outras contribuições dos trabalhos. A primeira delas é a constatação de que quantidade de floresta não é sinônimo de qualidade, fundamental quando se sabe que no Brasil áreas de conservação são definidas com base na quantidade de florestas. A segunda refere-se ao estabelecimento de uma forma de comparação que possibilita mostrar para a população, através de um índice extremamente simples, quanto as interferências humanas ao longo da historia causaram de perdas. “O dado não se atém a valores monetários, mas mostra a distância em relação à situação original. Se, em uma comparação hipotética, atribuirmos a uma situação original o valor um, o eventual 0,2 de hoje permite que o cidadão se dê conta da perda, e isso ajuda no debate com a comunidade”, afirma ela. A terceira diz respeito à caracterização das interferências e às pressões das fronteiras sobre a floresta, nem sempre levada em conta, e que podem determinar sua extinção inexorável. A quarta, que ela considera o ponto crítico, está ligada à quantificação da perda de serviços: “Perder 40% de um serviço ecossistêmico é muito drástico para uma população e esse ônus só pode ser evitado em Ilhabela com a manutenção de 70%, ou mais, da floresta”. O estudo mostra que, para essa ilha, com 86% das atividades econômicas ligadas ao turismo, a manutenção dos serviços hídricos e florestais é primordial para a sobrevivência socioeconômica da população local.

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Tese: “Metodologia para avaliação de forças motoras e vetores de mudança na determinação de serviços ecossistêmicos. Estudo de caso: Ilha de São Sebastião – SP/Brasil” Autor: Guilherme Theodoro Nascimento Pereira de Lima Dissertação: “A conservação de corredores fluviais e suas microbacias hidrográficas garantem a disponibilidade de serviços ecossistêmicos?” Autora: Vivian Cristina dos Santos Hackbart Orientadora: Rozely Ferreira dos Santos Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)

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Campinas, 23 de abril a 6 de maio de 2012

Nas n bas deficientes ca

Envelhecimento de intelectuais é objeto de estudo Foto: Antoninho Perri

Pesquisadora entrevistou nove cuidadores e mais 798 pessoas para fundamentar trabalho ISABEL GARDENAL

O

bel@unicamo.br

envelhecimento da população brasileira está sendo tão urgente e rápido que já se fala do envelhecimento dos deficientes intelectuais como uma outra questão que deverá aproximar-se mais do campo da Gerontologia. “Estamos fazendo força para conquistar um campo teórico centrado nas grandes problemáticas brasileiras, pois a pessoa com este tipo de deficiência está vivendo mais e por isso ela tem que garantir os seus direitos agora. Os gestores de políticas públicas precisam levar em conta os anseios dos cuidadores e saber ouvi-los”, conclui a assistente social Maria Eliane Catunda de Siqueira na sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Educação (FE). O trabalho, orientado pela professora Anita Liberalesso Neri, foi composto de duas partes, tendo como campo de estudo a cidade mineira de Poços de Caldas. Ao escolher a cidade em que reside, Maria Eliane admitiu que foi pelo fato dela congregar um dos estratos populacionais mais envelhecidos do país: 13% dos seus moradores têm idade acima de 60 anos. Na primeira parte do trabalho, a autora procurou levantar as atitudes das pessoas em relação à deficiência intelectual. A sua casuística envolveu 798 entrevistados. A eles foram indagados os atributos positivos e negativos da deficiência. Na segunda, chamada ‘ou-

A assistente social Maria Eliane Catunda de Siqueira: “Os gestores de políticas públicas precisam levar em conta os anseios dos cuidadores e saber ouvi-los”

vindo a família’, seguiu-se uma linha da Organização Mundial da Saúde (OMS) que lida com a deficiência e o envelhecimento do deficiente intelectual. A assistente social ouviu nove cuidadores (também idosos, que tinham idade entre 56 e 80 anos) de deficientes que estão envelhecendo (de 30 a 51 anos) acerca das expectativas futuras e das providências que deverão ser tomadas a favor deles. A definição de deficiência intelectual usada na tese enveredou pela perspectiva de inteligências múltiplas e de comportamento adaptativo. Essa visão, que se escorou no pensamento da OMS, está atrelada ao comportamento adaptativo, que versa sobre a possibilidade da pessoa atuar no seu ambiente, o qual reconhece as suas limitações e as suas potencialidades. Na pesquisa, foram listadas as limitações que as pessoas têm em relação à sua capacidade de adaptação e de convivência social. Nos parâmetros de atividades de vida diária, que incluem tarefas rotineiras como alimentação, vestir-se e despir-se, banho e higiene pessoal, por exemplo, foram levantadas, além das limitações, as potencialidades

e os recursos do ambiente. Todas as organizações que trabalham com a deficiência intelectual principalmente, menciona a autora, estimulam que se faça um inquérito das atitudes frente à deficiência em diversos contextos. A partir desse conhecimento é que se poderá trabalhar com a inclusão social. Por isso Maria Eliane procurou ouvir a cidade e a família a fim de conhecer a sua posição sobre o deficiente intelectual. De todos os atributos investigados, sobretudo três sobressaíram como os principais. Eles foram avaliados por meio de uma análise de conteúdo e categorizados como atributos relacionais (amorosos, amigos, afetuosos, carinhosos e amáveis); de capacidade (inteligente, esperto, capaz, esforçado), emocionais negativos (agressivos, nervosos, irritados) e emocionais positivos (carentes, vulneráveis, frágeis); e de incapacidade (limitados, ignorantes, incapazes). Notou-se que os entrevistados conseguiram perceber a deficiência intelectual tanto pela capacidade quanto pela incapacidade. “Este é um fato extremamente positivo, pois é relevante saber que a pessoa com deficiência tem

limitações e também potencialidades que lhe possibilitam avançar”, ensina Maria Eliane. Essa percepção ‘do outro’ permitiu inclusive observar se essas pessoas convivem, ou não, com a pessoa portadora de deficiência intelectual. Maria Eliane considerou convivência qualquer aproximação, seja através de trabalho, de relações familiares e de vizinhança. A amostra também empregou uma composição por gênero da população. Neste caso, foi apurado que as mulheres se aproximam mais da deficiência e dão provas de ter maior clareza sobre as limitações e potencialidades da deficiência intelectual. Apesar de terem citado alguns atributos de incapacidade, ao mesmo tempo citaram os relacionais positivos, sinalizando uma maior predisposição para as situações que envolvem os atributos positivos, diferentemente dos homens. O estudo, na sua primeira parte, indicou que as pessoas com menor grau de escolaridade tenderam a mencionar mais atributos de capacidade, ao passo que, as com maior nível de escolaridade, os atributos negativos. Por outro lado, ter convivido com os deficientes intelectuais foi fator determinante para

se lembrarem mais facilmente dos atributos positivos. Já na segunda parte o trabalho apontou para a perspectiva dos cuidados de longa duração, realçada pelos nove cuidadores que foram ouvidos pela autora do trabalho. De acordo com ela, num ciclo de vida regular, os filhos crescem e num dado instante vão cuidar da vida, buscando a sua autonomia. É uma situação completamente inversa à que ocorre com os deficientes intelectuais, com os quais se trabalha mais com a ideia dos cuidados de longa duração (que, aliás, não terminam). Os cuidados de longa duração, conforme ela, acabam ficando até mais difíceis de serem administrados com o passar dos anos, uma vez que o ônus físico do cuidador é muito maior com a perda do vigor. “A despeito disso, a relação com o filho, o neto ou o irmão que recebe os cuidados redunda em benefícios emocionais inestimáveis. A pessoa se sente útil e exercendo um importante papel social”, dimensiona. Dos entrevistados, dois eram homens, o que denota haver necessidade de existirem outros tipos de cuidadores. “Temos um pai viúvo que continua cuidando e um casal de avós que cuida de dois deficientes intelectuais, em razão da morte dos pais em acidente automobilístico”, posiciona Maria Eliane. Pelo que viu, a deficiência intelectual é melhor encarada no dias atuais, principalmente por haver uma maior convivência e cumplicidade com ela. Uma iniciativa encorajada pela doutoranda é a criação de espaços de convivência, já que a própria política educacional tem sido afável à causa da inclusão nas escolas. Uma das tarefas que julgou fundamental no seu percurso de pesquisa foi evidenciar o papel das políticas públicas para a velhice e para a deficiência intelectual, de modo a haver interação com os cuidados de longa duração.

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Tese: “Envelhecer com deficiência intelectual: ouvindo a cidade e a família” Autora: Maria Eliane Catunda de Siqueira Orientadora: Anita Liberalesso Neri Unidade: Faculdade de Educação (FE)

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Tese resgata a história de cursinhos alternativos

Geógrafo defende investimentos na expansão dos sistemas públicos de ensino

O que falta para democratizar o acesso ao ensino superior no país é acelerar o ritmo de expansão dos sistemas públicos e a execução de políticas públicas para corrigir desigualdades, pensar políticas para pôr fim ao exame vestibular e refletir alternativas de acesso para atender à diversidade. Foi o que apurou o geógrafo Cloves Alexandre de Castro em sua tese de doutorado, defendida no Instituto de Geociências (IG), que refletiu os últimos 25 anos dos cursinhos alternativos e populares do Brasil. O trabalho teve orientação da professora Regina Célia Bega dos Santos. O geógrafo resgata na tese a or-

ganização dos cursinhos populares (MSU, Rede Emancipa, Educafro e Uneafro) e alternativos (cursinhos de universidades e prefeituras) como movimentos socioespaciais urbanos. Esse conceito é resultado de um intenso debate na Geografia brasileira sobre os movimentos sociais há 30 anos, com implicações naqueles que não lutam pelo espaço em si e sim pelos usos dos serviços e infraestrutura. Nesse sentido, os cursinhos são movimentos sociais, espaços e canais em torno de uma demanda pelo acesso ao ensino superior. Essa demanda cresceu a priori entre 1990 e 2000. E o movimento por acesso ao ensino tende a ampliar mais, verifica ele. Os alternativos e populares se constituíram com a reelaboração de experiências educacionais e práticas dos movimentos populares. É raro, hoje, ter um campus de universidade pública sem o seu próprio cursinho. A primeira versão do Cursinho da Poli-USP é de 1948. Mas não se tratava, aponta Cloves, de um cursinho de ‘excluídos’. Também não se tratava de um cursinho de mercado, até porque estava situado dentro do espaço público. Foi nesse momento, diz, que se criou o tronco dos cursi-

nhos alternativos e populares. O doutorando diferencia o cursinho popular do alternativo. O alternativo, informa, pode se tornar um cursinho de mercado. Normalmente o alternativo, que opera nas universidades e prefeituras, é um movimento que enfrenta limites, embora execute suas pautas e estratégias junto aos populares. Os populares em geral estão em escolas públicas e em salões de igrejas. Com a diferença espacial que há entre ambos, observa-se também a diferença de concepção. Enquanto o cursinho de elite é só a continuidade de um processo que o educando seguiu em sua história escolar, o popular e o alternativo buscam uma inversão, por não haver vagas para todos. O comprometimento dos alunos pode ser visto como superação das desigualdades na educação brasileira, dimensiona o geógrafo, que estudou a fundo os movimentos MSU, Educafro, Uneafro, Cursinhos da Unesp, Fórum de Cursinhos de Ribeirão e região, e Rede Emancipa. Resgatou algumas histórias, a construção de suas pautas, os interlocutores, suas agendas e ações, e os seus espaços. Notou que as práticas espaciais dos

Foto: Antonio Scarpinetti

O geógrafo Cloves Alexandre de Castro, cuja tese foi defendida no IG: movimentos socioespaciais urbanos

movimentos são muito interessantes. É como e quando eles se mostram para a sociedade. Isso ocorreu em manifestações públicas por uma universidade pública no lugar onde funcionou o Carandiru ou em lugares históricos com usos associados ao castigo de negros lutando por liberdade. Foram criados outros espaços para discutir a memória da cidade e a instalação de equipamentos públicos. Nos momentos de expansão do ensino médio, a pressão sobre as universidades por mais vagas foi respondida com aumento do caráter meritocrático do acesso, por meio da instituição do exame vestibular e da facilitação da abertura de instituições privadas. Desse descompasso sur-

giram demandas por uma formação alternativa fora do privado. Também por conta dela surgiu a disposição de construir outra prática de educação, para incluir as camadas mais pobres. O engajamento encontrou uma forte demanda dos jovens de baixa renda, que passaram a ver nos cursinhos populares chances de aprovação nos vestibulares. (I.G.)

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Tese: “Movimento socioespacial de cursinhos alternativos e populares: a luta pelo acesso à universidade no contexto do direito a cidade” Autor: Cloves Alexandre de Castro Orientadora: Regina Célia Bega dos Santos Unidade: Instituto de Geociências (IG)

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Campinas, 23 de abril a 6 de maio de 2012 Fotos: Antoninho Perri

A substância sintetizada: cientistas usaram matérias-primas simples Nathália Christina Gonçalves Yamakawa, autora da dissertação, e o professor Fernando Coelho, orientador: novos achados em desvio de rota

Pesquisadores sintetizam substância do mar com propriedade antiepiléptica Metodologia desenvolvida em dissertação de mestrado pode resultar em patente e medicamento

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ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br

athália Christina Gonçalves Yamakawa foi buscar no mar a resposta para a atividade biológica da fitoesfingosina – molécula da classe das ceramidas que tem aplicação em produtos cosméticos como o xampu. Essa substância, primeiramente isolada no Mar Vermelho por um grupo de cientistas egípcios, mostrou ter propriedade antiepiléptica, experiência que acaba de ser reproduzida no Laboratório de Síntese de Produtos Naturais e Fármacos do Instituto de Química (IQ). A tarefa foi possível graças ao uso de uma metodologia de síntese concebida pela pesquisadora durante a sua investigação de mestrado. Os autores do estudo já planejam fazer um pedido de patente. Mais do que isso, ela também conseguiu sintetizar, no meio do processo, algumas moléculas semelhantes a açúcares que sinalizam potencial de uso para o desenho de inibidores de glicosidase, importantes no tratamento do diabetes. “Reunimos conhecimento químico para ir em direção à área de tecnologias, sobretudo farmacêutica”, constata Fernando Coelho, docente do IQ e orientador da pesquisa. Particularmente, a descoberta envolvendo a epilepsia, realça ele, “abre perspectivas para a criação de uma nova linha de pesquisa cujo objetivo será desenvolver produtos que irão beneficiar os seus portadores”. Esta doença afeta mundialmente cerca de 50 milhões de pessoas, sendo 90%

em países em desenvolvimento. O docente expõe que a molécula de origem natural é muito grande e que não se sabe exatamente o que nela é responsável pela atividade biológica. “Mas conhecendo-se em que lado do fragmento há atividade biológica, será possível pensar em novas sínteses para ter outros compostos, protótipos e medicamentos”, acentua. As drogas antiepilépticas mais empregadas no momento são, entre outras, a vigabatrina, a carbamazepina, o diazepam, o fenobarbital, a primidona e o valproato de sódio (ácido valproico), embora todas elas apresentem muitos efeitos colaterais, incluindo danos graves ao fígado, tanto que às vezes até precisam ser combinadas para atingir uma boa resposta. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% da população mundial convive com a realidade de não ter um medicamento para o controle das convulsões, evento que em geral pode se repetir com regularidade num quadro de epilepsia, descreve Nathália Yamakawa.

Mar No trabalho, a partir de moléculas muito simples, foram realizadas moléculas extremamente sofisticadas que revelaram um grande potencial para emprego como novos modelos para medicamentos antiepilépticos. Na síntese, foram usadas matérias-primas simples, como por exemplo o acrilato de metila, insumo produzido em grandes quantidades no setor químico para fazer polímeros plásticos. “Desenvolvemos estratégias que permitirão chegar a um medicamento usando-se matériasprimas baratas e de fácil obtenção no mercado nacional”, comenta Fernando Coelho. Ao se observarem os medicamentos utilizados nos dias de hoje no tratamento da epilepsia, relata Nathália Yamakawa, será fácil constatar que eles são normalmente antigos em sua grande maioria. Espera-se, esclarece o professor, o desenvolvimento de novas moléculas as quais sejam menos agressivas, com novos mecanismos de ação, maior eficiência e que permitam ser consumidas em menores doses. É o caso de desvendar novas moléculas no mar, comenta, fato relativamente novo no Brasil, mas que já existe há algum tempo

em outros países. Apesar de Nathália Yamakawa não ter perdido de vista a síntese total da molécula, reproduzindo-a em laboratório, ela foi sintetizada pelo organismo marinho. Também se interessou por chegar a pedaços dessa estrutura. Esse tipo de busca vem sendo bastante comum, conforme o docente. Uma das estratégias é alcançar uma molécula complexa da natureza, tentando realmente saber o que, dentro dela, é responsável pela atividade biológica. Em seguida, faz-se a simplificação do processo tirando tudo aquilo que a molécula tem e que não é relevante para essa atividade. Tal simplificação, informa o orientador, tem uma vantagem econômica, porque o trabalho de síntese fica mais fácil, bem como a sua preparação comercial. Outra vantagem é que a presença de vários grupamentos desnecessários em cima de uma molécula pode aumentar o grau de toxicidade de tal estrutura. “Logo, no momento em que se faz essa simplificação, vou numa direção de ter uma melhor eficiência comercial associada, na maioria das vezes, a um melhor perfil farmacológico da substância.” Fernando Coelho conta que a escolha dessa molécula reuniu uma importante motivação, por se tratar de uma estrutura nova para a atividade antiepiléptica, uma classe completamente diferente daquelas substâncias tradicionalmente empregadas no tratamento da epilepsia. “Ela é uma substância razoavelmente complexa e que demonstra um desafio de ser feita exatamente como a natureza faz, com o grau de controle que a natureza promove. Isso realmente faz os nossos olhos brilharem”, garante ele. Uma outra derivação da metodologia de trabalho foi desenvolvida por Nathália Yamakawa e por seu orientador para chegar à molécula-alvo. Visando resolver um problema químico que surgiu no laboratório, a pesquisadora fez um desvio de rota. Foi assim que “caiu em cima” de moléculas sobre as quais foi buscar correspondente na literatura. “Vimos que elas correspondem a moléculas empregadas como inibidores de glicosidade. Dado o seu valor no metabolismo dos açúcares, estas enzimas integram alvos moleculares ao desenvolvimento de novos fármacos

voltados à terapêutica de diversas doenças, com destaque ao diabetes”, salienta a pesquisadora. Acontece que essas moléculas são novas e ainda não se sabe ao certo se elas de fato serão eficazes nesse tratamento. “A intenção é fazer contato com centros de pesquisa e universidades brasileiras que possuam especialistas dedicados a efetuar alguns testes nessa linha. Pretendemos testar essas novos compostos para ampliarmos esses achados”, menciona o docente. Por outro lado, ele ressalta que, como são moléculas isoladas de organismos marinhos, quando se faz pesquisa nessa área, é preciso conviver com a dicotomia de obter a substância química associada à não destruição do meio. Fernando Coelho responde há 17 anos pela linha de pesquisa de síntese de moléculas com atividade biológica e síntese de fármacos, com vários resultados de pesquisa e patentes, além de vários trabalhos em andamento.

A doença A epilepsia foi vista em animais filogeneticamente mais antigos que o homem, sugerindo que já existiam animais epiléticos antes que o homem surgisse. As mais remotas descrições da epilepsia, porém, são dos egípcios e dos sumérios e datam de 3.500 a.C. Por volta de 1.700 a.C., o principal documento que trata de Neurologia no Egito antigo, o Papiro de Smith, citou possíveis crises convulsivas nos trechos que descrevem ferimentos na cabeça. Foi René Descartes (1596-1650) quem abriu as portas para a pesquisa neurofisiológica experimental, fazendo vários estudos fisiológicos e anatômicos com animais, investigando exaustivamente o sistema nervoso. Ele afirmou que a epilepsia originava-se no cérebro. Mas foi no século XVIII que o neurologista John Hughlings Jackson ressaltou que a disfunção era causada por uma descarga anormal das células nervosas.

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Dissertação: “Epilepsia e Morita-Baylis-Hillman: uma abordagem sintética para ceramidas antiepiléticas” Autora: Nathália Christina Gonçalves Yamakawa Orientador: Fernando Coelho Unidade: Instituto de Química (IQ) Financiamento: Fapesp

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10 Vida Teses da semana Painel da semana Teses da semana Livro da semana Destaques do Portal da Unicamp

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Campinas, 23 de abril a 6 de maio de 2012

Painel da semana  Vestibular 2013 – A Comissão Permanente para os Vestibulares recebe, de 23 de abril a 31 de maio, pela Internet, os pedidos de isenção da taxa de inscrição do Vestibular.  Propriedade intelectual - A Unicamp sedia, de 24 a 27 de abril, o Curso Avançado de Gestão em Propriedade Intelectual, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). O curso é gratuito e organizado pela Agência de Inovação Inova-Unicamp, por meio do projeto InovaNIT. Outras informações: http://www.inova.unicamp. br/paginas/inovanit/curso48_inscricao.php  Fórum de Ciência e Tecnologia - Com o tema “Educação Profissional e Tecnológica no Brasil”, o evento será realizado no dia 24 de abril, às 9 horas, na Faculdade de Tecnologia de Limeira. Inscrições e outras informações no site http://foruns. bc.unicamp.br/tecno/tecno51.php  Design e iluminação - Valmir Perez, lighting designer responsável pelo Laboratório de Iluminação do Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, lança no dia 24 de abril, às 14 horas, na Feira Internacional da Indústria da Iluminação (Expolux 2012), o livro “Luz e arte - um paralelo entre as ideias de grandes mestres da pintura e o design de iluminação” (De Maio Comunicação e Editora). A publicação é resultado de artigos publicados na Revista Lume Arquitetura, no período de 2007 a 2011. Mais informações: 19-3521-2444.  Doador Universitário - No dia 25 de abril, das 8 às 12 horas, no Estacionamento da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), acontece a segunda coleta de sangue da edição de 2012 do Projeto Doador Universitário. Para efetuar a doação, o voluntário deve apresentar documento de identidade com foto (RG) e endereço completo (inclusive CEP). A doação é um

ato voluntário de amor, de solidariedade e de garantia de vidas. O ato de doar não acarreta qualquer risco ao doador. As doações também podem ser feitas no Hemocentro, de segunda a sábado, inclusive feriados, das 7h30 às 15 horas. Conheça o cronograma de coletas no link http:// www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ sala_imprensa/cronograma2012.php  Lançamentos - No dia 25 de abril, às 15h30, no auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), serão lançados os livros “História Militar do Mundo Antigo – Guerras e identidades”, “História Militar do Mundo Antigo – Guerras e representações”, “História Militar do Mundo Antigo – Guerras e Culturas” e “Jesus Histórico”. Pedro Paulo Funari (IFCH), André Chevitarese (UFRJ) e Cláudio Umpierre Carlan (Unifal) são os organizadores das publicações.  Fórum de Esporte e Saúde - Evento com o tema “Estudos Avançados em Esporte Adaptado” será realizado no dia 26 de abril, no Centro de Convenções da Unicamp. Programação e outras informações podem ser obtidas na página eletrônica http://foruns.bc.unicamp.br/ saude/saude43.php  A democratização das instituições – No dia 26 de abril, das 9 às 12 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, acontece o seminário “A democratização das instituições e a luta por uma sociedade justa e democrática”. O seminário é organizado pelo Departamento de Saúde Coletiva e o Coletivo de Estudo Apoio Paidéia. Participam como debatedores o médico epidemiologista da Unicamp, Gastão Wagner, e a socióloga da USP, Helena Singer. Não é necessária inscrição. Entrada gratuita. Mais detalhes: 19-3521-8968.  Palestra com Evely Boruchovitch No dia 26 de abril, das 12 às 13 horas, na sala CB 18 do Ciclo Básico I, a professora Evely Boruchovitch, do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Continuada da Faculdade de Educação (FE), profere a palestra “Trabalhos Acadêmicos em Grupo: Como maximizar a sua aprendizagem?”. O evento faz parte do Programa Saiba Mais do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE). A palestra é gratuita e aberta ao público. Mais informações: 19-3521-6539.  Thomson desliga Espectrômetro de Massas - Será desligado no dia 27 de abril, o último Espectrômetro de Massas Pentaquadrupolar com fonte de Ionização Química ainda em funcionamento no mundo. Alocado no Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, o “Penta”, como é apelidado carinhosamente pela equipe do Thomson, é um “herói da resistência”. Segundo o coordenador do laboratório, professsor Marcos Eberlin, “este instrumento foi fundamental para que Espectrometria de Massas brasileira

alcançasse um lugar entre o primeiro time da comunidade acadêmica/científica internacional na área”. Adquirido em 1992 através de recursos oriundos de um projeto temático da Fapesp coordenado pela professora Concetta Kasheres (atualmente aposentada pelo IQ), o Penta deu origem a grandes conquistas.  Circuito das Artes - O Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) organiza no dia 27 de abril, o evento “Circuito das Artes Final (edição 2011-2012)” com uma série de apresentações culturais. A abertura oficial ocorre às 10 horas, no Saguão do Ciclo Básico II. As atividades fazem parte do Programa Aluno-Artista do SAE. Mais informações: 19-3521-7016.  Barbie na educação de meninas: do rosa ao choque - Livro de Fernanda Roveri, doutoranda pela Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, será lançado no dia 27 de abril, às 16h30, no Salão Nobre da FE. No evento haverá uma mesa-redonda com as professoras Carmen Lúcia Soares (FE), Helena Altmann (FEF) e Cláudia Trevisan, da Prefeitura Municipal de Campinas. A publicação é da Editora Annablume. Outras informações: ferdth@ yahoo.com.br  Pós-graduação em Neurociências - O Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) recebe, até 30 de abril, inscrições ao processo seletivo para o curso de pós-graduação (lato sensu) em divulgação científica e saúde: neurociências 2012/2013. Mais detalhes no link http:// www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ sala_imprensa/neurociencias.doc  Escola São Paulo de Estudos Avançados - A Unicamp está recebendo inscrições para a Escola São Paulo de Estudos Avançados. Trata-se de um seminário de uma semana, que abordará “A Globalização da Cultura no Século XIX”, entre os dias 20 e 24 de agosto, em Campinas. A Escola São Paulo permitirá que estudantes de pós-graduação travem contato com renomados especialistas da área, aprofundem seus conhecimentos sobre a circulação transatlântica dos impressos e discutam seus próprios projetos de pesquisa. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) financia o seminário e oferece passagens e diárias aos estudantes selecionados. Mais detalhes no site http://www.espea. iel.unicamp.br  Mostra de trabalhos do Cotuca - O Colégio Técnico de Campinas (Cotuca) abre as inscrições para a II Mostra de Trabalhos de Cursos Técnicos. Podem se inscrever alunos de cursos técnicos e de nível médio de todo o país. O evento integra a programação da Semana do Ensino Médio e Técnico (SeEMTeC’2012), que ocorrerá em setembro deste ano. As inscrições para a mostra de trabalhos estarão disponíveis de 1 a 15 de maio no endereço eletrônico http://seemtec2012.

cotuca.unicamp.br/.  Seminário Internacional de Carreira Docente - No dia 3 de maio, na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), acontece o I Seminário Internacional de Carreira Docente. O evento é organizado pala Comissão de Valorização da FCM. As inscrições são gratuitas. Programação e outras informações no site do evento http:// www.fcm.unicamp.br/seminario_docente/

Livro

da semana

Tese da semana  Engenharia Elétrica e de Computação - “Representação trifásica de desequilíbrios estruturais e operacionais em sistemas de média tensão de distribuição” (mestrado). Candidato: João Vitor de Araújo Guilhoto. Orientador: professor Anésio dos Santos Júnior. Dia 27 de abril, às 9h30, na CPG/FEEC.  Engenharia Mecânica - “Estudo da corrosão do aço inox AISI 304 em Álcool Etílico hidratado combustível” (doutorado). Candidato: Rytney Santos Costa. Orientador: professor Rodnei Bertazzoli. Dia 18 de abril, às 14 horas, no Auditório ID2 da FEM. - “Estudo da corrosão da liga de Alumínio 7050 em Etanol combustível” (doutorado). Candidato: Edison Almeida Rodrigues. Orientador: professor Rodnei Bertazzoli. Dia 19 de abril, às 14 horas, na sala de seminários da FEM. - “Produção enxuta e produção mais limpa: proposta metodológica integrada” (mestrado). Candidato: Gina Paola Vera Rizzo. Orientador: professor Antonio Batocchio. Dia 4 de maio de 2012, às 9 horas, no auditório da FEM.  Linguagem - “Meu nome agora é Zé Pequeno: apelidos e posições-sujeito” (mestrado). Candidata: Joice Mensato. Orientadora: professora Carmen Zink Bolonhini. Dia 2 de maio, às 9h30, na sala de defesa de teses do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica - “FGM e suas generalizações sob um ponto de vista bayesiano” (mestrado). Candidato: José Adolfo de Almeida Schultz. Orientadora: professora Verónica Andrea González-López. Dia 29 de abril, às 11 horas, na sala 253 do Imecc.  Química - “Síntese assimétrica de pirrolizidinonas e pirrolizidinas substituídas a partir da reação de Morita-Baylis-Hillman” (doutorado). Candidato: Kristerson Reinaldo de Luna Freire. Orientador: professor Fernando Antônio Santos Coelho. Dia 29 de abril, às 14 horas, no Miniauditório do IQ. - “Água e carboidratos: aspectos macroscópicos e moleculares de suas interações” (doutorado). Candidato: Marcus Vinicius Cangussu Cardoso. Orientador: professor Edvaldo Sabadini. Dia 27 de abril, às 14 horas, no Miniauditório do IQ.

A reivenção da classe trabalhadora (1953-1964) Autor: Murilo Leal Ficha técnica: 1a edição, 2011; 520 pág; formato 16 x 23 cm ISBN: 978-85-268-0956-7 Área de interesse: História Preço: R$ 72,00 Sinopse: A reinvenção da classe trabalhadora revê de maneira inovadora vários dos temas clássicos da história brasileira do trabalho. Os dilemas da industrialização periférica, a saga das migrações internas e seu impacto no processo de (re)formação da classe trabalhadora, o movimento sindical e as principais reivindicações trabalhistas são todas questões pacientemente apresentadas e articuladas às experiências cotidianas de operárias e operários. A atuação dos trabalhadores no cenário público em um dos momentos de maior efervescência política e mobilização social da história nacional é um dos destaques principais deste trabalho. Autor: Murilo Leal é doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de história do Brasil na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Publicou À esquerda da esquerda: trotskistas, comunistas e populistas no Brasil contemporâneo (1952-1966), pela Editora Paz e Terra, em 2002.

DESTAQUES do Portal da Unicamp

Sai o calendário do Vestibular 2013 A Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) está divulgando o calendário do Vestibular Nacional Unicamp 2013. As inscrições serão feitas entre 20 de agosto e 14 de setembro, exclusivamente pela internet, em formulário disponível na página eletrônica da Comvest. A primeira fase será realizada em 11 de novembro de 2012 e a segunda fase, nos dias 13, 14 e 15 de janeiro de 2013. As datas foram definidas em reunião que ocorreu no dia 10 de abril, na sede da Fuvest em São Paulo, com representantes da Fuvest, Unicamp, Unesp, Unifesp, ITA, PUC - São Paulo e PUC- Campinas. A programação dos principais vestibulares de São Paulo foi estabelecida conjuntamente para permitir aos candidatos interessados a participação nesses processos seletivos.

Isenção A Comvest abre, no próximo

dia 23 de abril, as inscrições para os candidatos interessados em solicitar a isenção da taxa de inscrição do Vestibular Unicamp 2013. As inscrições devem ser realizadas até dia 31 de maio, exclusivamente pela internet, em www.comvest. unicamp.br. Para finalizar o processo de inscrição, o candidato deve enviar a documentação necessária (descrita no Edital), pelo correio, para a Comvest até o dia 31 de maio. As isenções são oferecidas em três modalidades: 1- para candidatos provenientes de família de baixa renda (renda líquida máxima de R$ 700,00 por morador do domicílio); 2 - funcionários da Unicamp/ Funcamp; e 3 - para aqueles que se candidatarem aos cursos de Licenciatura em período noturno (Ciências Biológicas, Física, Letras, Licenciatura Integrada Química/ Física, Matemática e Pedagogia)

Foto: Antoninho Perri

Candidatos durante prova do Vestibular 2012: inscrições para a edição de 2013 devem ser feitas entre 20 de agosto e 14 de setembro

DATAS Inscrições e pagamento da taxa de inscrição

20/8 a 14/9/2012

1ª fase

11/11/2012

2ª fase

13, 14 e 15/1/

Provas de habilidades específicas

21 a 24/1/2013

Divulgação da lista de convocados em 1ª chamada

4/2/2013


Campinas, 23 de abril a 6 de maio de 2012

O corpo como espelho social

11 Fotos: Antoninho Perri

A professora Holly Elizabeth Cavrell, do IA, dança durante a defesa de tese e à esq., no destaque: dialogando com outras gerações

Pesquisa de professora do IA mostra por que a dança é um experimento de resistência ISABEL GARDENAL

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bel@unicamp.br

oi abordando a transformação do corpo ao longo da História da Dança que a dançarina, coreógrafa, intérprete e professora da Unicamp Holly Elizabeth Cavrell concluiu que somente é possível criar essa história fazendo um percurso, “mesmo não se conhecendo o final da trajetória”. A constatação resulta de sua tese de doutorado, defendida no Instituto de Artes (IA), à qual ela dedicou anos de estudo e um exaustivo trabalho para vertê-lo da língua inglesa para a portuguesa. Nessa pesquisa, orientada pela professora Cássia Navas, Holly fala de perímetros como variante de um percurso subterrâneo que empurra o corpo para a frente sem a necessidade de definir um destino. Ela conta que a dança é um experimento de resistência, tal como aquele que procurou desenvolver em 2009 em Nova Iorque. Com uma bolsa Capes, foi fazer pesquisa na New York University, no Departamento de Performance Studies. Passou oito horas no metrô de NY, a maior cidade dos Estados Unidos. Sentou-se dentro de um vagão e ficou alerta aos ‘músicos de ocasião’ que, do lado de fora, tocavam nas plataformas. Em cada estação, observava tudo e, quando a porta se abria, seguia em frente na direção do som. Seu ponto de vista era explorar o corpo e suas possibilidades. A ideia original era ater-se ao século XX. Mas, movida pela curiosidade, conheceu as raízes da dança, os corpos que dançam e dançaram, como se modificam e como mudaram no percurso. A autora, para quem a história se move em ciclos, assim como a dança, retrocedeu então ao século XV. Era o momento em que a primeira forma de dança foi codificada, o balé. Buscou saber mais sobre os formadores do corpo, os conceitos fixados nele e o que foi eliminado. Fez a tessitura daquela história.

O balé, informa ela, começou na Itália e migrou para a França. Suas raízes começaram como pompa – o corpo apresentado com ornamentos. Holly explorou o seu desenvolvimento, quem foram os seus modelos e o momento em que a linguagem foi sistematizada. As descobertas prosseguiram ao longo das quase 300 páginas da tese. Não obstante isso, a pesquisadora sente que, mesmo considerando vários pontos de vista, os quais dão uma ideia compreensível dos períodos, a tese toca apenas a ponta do iceberg. No século XVII, relembra a autora, os modelos eram os corpos dos nobres, como o de Luís XIV, o “rei sol”. Dele emanavam as formas de se movimentar – cujos passos vinham em geral da dança social dos camponeses. A aristocracia seguia o rei até nas vestimentas para ensinar a maneira correta de se movimentar. Usavam-se armações que limitavam os movimentos, pela postura nobre. Não era fácil se curvar, devido aos espartilhos. A cabeça movia-se pouco por causa da peruca. As partes expressivas eram a mão, o busto das mulheres e as panturrilhas masculinas. Naquele tempo, apenas homens dançavam, e o uso de máscaras auxiliava na composição de papéis femininos. A Revolução Francesa rompeu com o padrão aristocrático. Foi quando a mulher ganhou status, dominando os palcos como dançarina. No século XX, ela começou a se liberar também fora dos palcos, na luta pelo voto, estabelecendo a voz feminina no campo da igualdade intelectual e como indivíduo na sociedade. Misturaram-se os assuntos

sociais, econômicos e culturais. O corpo era o espelho social. Às vezes, nota Holly, alguns contextos agem como catalisadores na mudança do artista e em outros têm o artista como catalisador. As coreografias dão a dica sobre o que o artista tirou do seu tempo e, com o rastreamento histórico, também é possível detectar ritmo, espaço, peso e dinâmica de uma época, o que pode alterar a percepção categórica, uma vez que a história é tudo, menos linear, e parece ondulatória ou cíclica quando se mapeia o fluxo das tendências artísticas. “O nosso corpo é a fusão de experiências. Carregamos uma história que não nasce de um dia para o outro. Acreditamos ser uma geração única, todavia esses momentos se repetem”, ensina. A autora recorda que, ao longo da História, grupos responderam à crise com arte, como os Futuristas – um movimento artístico e literário que surgiu em 1990 com a publicação do Manifesto Futurista no jornal Le Figaro. Eram contra o governo e usaram a arte como porta-voz. Queriam explorar o que significa ser um artista do futuro. Suas obras baseavam-se na velocidade e na tecnologia. Os futuristas inspiraram outros artistas, que depois fundaram novos movimentos modernistas como Dadá, em resposta à Primeira Guerra Mundial. Para eles, a arte tinha se tornado banal. “Os corpos que cresceram com a opressão são uma resposta através da arte”, realça Holly, citando ainda outro grupo, o Fluxus, que surgiu da década de 1950, após a Segunda Guerra. Mas como um corpo responde a uma determinada época? O seu valor só é reconhecido pela resposta

da próxima geração, garante a pesquisadora. “E nossos modelos atuais não serão necessariamente fixados no tempo.”

Imbricações No século XV, a dança era mais estática e mais alusiva aos mitos. Tudo exaltava a posição do rei. Eventualmente ele, em particular Luís XIV, queria disseminar como o seu corpo se expressava. Como era o modelo de divindade, esta foi a maneira que os nobres e as pessoas mais chegadas ao rei acharam de ‘estar mais próximas de Deus’. Nessa época, as danças foram codificadas, transformadas em livros e distribuídas na Europa. “Eram uma forma ‘hegemônica’ de mostrar como a França tinha importância assim como esse corpo francês, retratado pelo rei”, salienta Holly. Com a Revolução Francesa, o corpo passou a se modificar com a sua ajuda: infiltrando novas maneiras de se movimentar. Muitos decidiram se refugiar em outros países. A dança começou a entrar no corpo da mulher, que passou a dominar o palco no século XVIII. Já o homem chegou a produzir uma dança baseada na técnica, porém tão exageradamente que foi reprovado pelo público, criando-se uma virtuosidade “monstruosa”. As mulheres que adquiriam a técnica conquistaram mais olhares com sua presença etereal no século XIX. Maria Taglioni, uma famosa bailarina da era romântica, assistiu em Viena – onde treinava – os acrobáticos fazendo truques, subindo nas pontas dos pés. Então o trabalho de ponta foi uma apropriação dos truques e, com isso, foi capaz de idealizar a ponta que hoje está nas sapatilhas do balé.

Da Broadway ao inusitado Holly, americana de Nova Iorque, começou a dançar aos oito anos na Juilliard School, incentivada pela mãe. Era um curso preparatório com formação musical e em dança. Aos 11 anos, interessou-se por ‘construir’ a dança, tanto que reservava uma aula de composição sempre após a de técnica. Ficava olhando outros bailarinos coreografando. Foi então que decidiu conversar com a professora para fazer o mesmo. Ela riu, mas lhe deu a chance de se apresentar na semana seguinte. Preparou uma coreografia por meio de um poema. Recitou-o, depois

dançou o poema e dançou-o novamente recitando. De imediato, a professora a convidou para ser estagiária em sua companhia. Sempre buscando uma ligação entre a criação e a técnica, fez uma trajetória como criadora e intérprete. Dançou na companhia da Martha Graham quando tinha 17 anos e vivenciou uma carreira desde os palcos da Broadway até espaços alternativos e inusitados. Na década de 1970, existiam várias fusões em Nova Iorque. Entretanto, muitos grupos eram refratários à técnica. Holly foi convidada a ir ao México, onde trabalhou como professora no balé

folclórico. Depois foi à Venezuela e à Suécia, onde permaneceu oito anos. Trabalhou na França, Finlândia, Dinamarca e América Central. Estando na Suécia, preencheu um formulário e recebeu uma bolsa Fulbright para pesquisa e troca de conhecimentos em dança. Escolheu o Brasil, que já conhecia graças a algumas imagens feitas pelo seu pai, cineasta. Chegando aqui, sentiu-se em casa. Isso faz 22 anos. Professora concursada em 1999 pela Unicamp, naturalizou-se brasileira, casou-se e constituiu família e, de quebra, reuniu tudo o que queria.

A bailarina romântica, a despeito de apresentar uma qualidade de leveza, tinha uma musculatura enorme. É difícil imaginar, sem ajuda do sapato, o que o musculatura tinha que fazer para correr na ponta dos pés pelo palco. A mulher ideal virou um modelo etereal e esquivo, apesar de ter um corpo robusto, resultado de treinamento pesado. No século XX, surgiram as mulheres mais representativas da vida urbana e interessadas na autoexpressão. Além do corpo social da mulher que tirou o espartilho e se despiu, muitas peculiaridades em seu corpo foram reparadas. Holly escolheu algumas personalidades para falar das duas gerações da dança moderna. Na primeira geração, lembrou Isadora Duncan, Ruth St. Denis e Loie Fuller. Duncan era contra o que reprimia a mulher, como o casamento por exemplo. Denis era mais interessada na dança mística e a relação do corpo como sagrado. Fuller foi muito imitada na virada do século, ao usar varas e tecidos de seda, formando imagens efêmeras com luz. Além de ser uma química e fazer suas misturas sozinha, era iluminadora e uma artista completa. Conforme a pesquisadora, essas personalidades não estavam associadas a grupos, como era o costume até o século XIX, como a Ópera de Paris. Na Rússia, também o desenvolvimento era feito a partir de uma escola e companhia ligada ao governo imperial. A artista singular rompeu com isso, evidenciando as mulheres como pioneiras da dança. Na segunda geração da dança moderna, do final da década de 1920 para a de 1930, conseguiu-se ver no corpo que as pessoas começaram a trabalhar com assuntos reais do seu lugar. A depressão e a falta de alimentos foram assuntos que o povo viveu na pele. O momento marcou a presença da mulher autoexpressiva falando de sua época e abandonando os códigos anteriores do corpo. Nessa transição, em que se apresentou um objetivismo estético, a política, informa Holly, era um setor conservador, fato que se refletiu no corpo e saiu um pouco da autoexpressão. A história, para a autora, era sempre a vida das pessoas, contudo em sua pesquisa viu também que é o agora. E essa história envolve pessoas nas intervenções, escolhas e destinos.

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Tese: “Dando corpo à história” Autora: Holly Elizabeth Cavrell Orientadora: Cássia Navas Alves de Castro Unidade: Instituto de Artes (IA)

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12 Jornal daUnicamp Campinas, 23 de abril a 6 de maio de 2012

GAG GENUÍNA

Foto: Antoninho Perri

A atriz Erika Lenk, autora da dissertação, com algumas das marcas de Carlitos: memória abriu novos caminhos

PATRÍCIA LAURETTI

G

patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

enuína se propõe a tocar sanfona. Vai buscar a partitura, tropeça. Tenta montar o banquinho para se sentar: quebrado. Dá o primeiro acorde, desafina. São cenas típicas de um palhaço, ou clown, do estilo mais tradicional. Genuína é uma criação inspirada no “vagabundo”, a personagem principal da dissertação de mestrado da atriz Erika Lenk: “Carlitos: história de vida e obra de Charles Chaplin”, orientada pela docente Ana Angélica Medeiros Albano, da Faculdade de Educação (FE). No dia da apresentação, a atriz vestiu calças largas e paletó apertado, pôs na cabeça um chapéu-coco e, para completar, usou também como adereços o bigode-de-broxa e a bengala de bambu. “Não era Carlitos. Era Erika ‘sonhando’ com Carlitos. Durante a defesa, ela fez teatro, e esse risco foi bastante elogiado pela banca”, comenta a orientadora. A primeira lembrança de Chaplin é da infância de Erika. Sentada em frente à tevê, quando ainda morava em outra cidade, tinha menos de cinco anos de idade e dava gargalhadas das gags – termo que se tornaria familiar anos depois – de Carlitos. Já em Campinas, se lembra da primeira vez que assistiu a Tempos Modernos no ginásio, e depois na graduação em Artes Cênicas na Unicamp, quando “descobriu” toda a obra do ícone do cinema, estudando o clown na iniciação científica. No mestrado, debruçou-se sobre a história de vida de Charles Chaplin, como ele se formou, e de que maneira as experiências da infância e adolescência influenciaram a criação de sua obra artística, especialmente a personagem Carlitos. Erika partiu do estudo das biografias de Chaplin, entre as quais a escrita pelo crítico de cinema David Robinson, Chaplin, uma biografia definitiva, a de autoria de Stephen Weissman, Chaplin, Uma Vida, e a autobiografia Minha Vida, publicada nos anos 60. As linhas de pesquisa que investem nesse tipo de material bibliográfico estão ganhando força, de acordo com a professora Ana Angélica Medeiros Albano. “Especialmente na formação de professores, mas também de artistas e pesquisadores”. É o caso de Erika. Mergulhar nas experiências que formaram Carlitos foi, também, uma maneira de imergir no universo próprio da atriz na realização do clown. “A grande inspiração da Erika foi Carlitos. Quando tomamos consciência da importância do clown de Charles Chaplin para ela, a direção da pesquisa tornouse clara. Trabalhamos com a memória para entender o presente e potencializar a descoberta de novos caminhos. Minha intenção foi ajudá-la a despertar para isso, perceber como, a partir do Carlitos, o mundo do clown se abriu para ela”.

Infância e juventude Filho de artistas do music-hall, ou

teatro de variedades britânico, do final do século 19 e início do século 20, Chaplin passou a infância no East End londrino vendo a mãe se apresentar, eventualmente o pai, de quem não era tão próximo, e tantos outros cantores, mágicos, malabaristas, palhaços e comediantes, talentosos ou não. Estas imagens e impressões de criança foram essenciais para o processo criativo do artista maduro. Entusiasmada, Erika se transforma em contadora das histórias pesquisadas. A “estreia” de Chaplin no teatro, por exemplo: “aos cinco anos ele acompanhava a mãe em uma apresentação quando ela precisou sair do palco com um problema na voz. O empresário da casa, que já conhecia Chaplin, o chamou aos palcos para cantar. Choveram moedas e Chaplin já aproveitou e fez uma gag. Ele parou para pegar o dinheiro e brincou com o público, simulando que o empresário poderia pegar as moedas”, interpreta. A pesquisadora destaca a presença e influência da mãe de Chaplin em vários momentos. “Mesmo quando ela se afastou da vida artística por problemas de saúde, continuou representando para os filhos e era muito engraçada, segundo a autobiografia de Chaplin”, afirmou Erika. A pantomima de Chaplin teria sido aprendida na infância, por meio de uma qualidade ressaltada pela autora do trabalho: a observação. Esta é uma das conclusões da dissertação de mestrado. “Com o pai e a mãe ele ingressou no mundo artístico, aprendeu a observar, conheceu o tempo cômico. Chaplin levou essa qualidade de grande observador por toda a vida. O

olhar que temos hoje para a criação artística, que se baseia no conhecimento acadêmico, não pode esquecer que a criação e a arte vêm da forma de olhar o mundo além do que se vê”, observa. A tese evolui para o Chaplin que segue a carreira do teatro, refinando as técnicas de acrobacia, malabares e bufonaria: como cair, escorregar, bater a cabeça na parede e não se machucar. Dançar era algo que já sabia muito bem, desde os tempos que integrou a trupe infantil do The Eight Lancashire Lads, também na infância na Inglaterra. Ainda no teatro, é a companhia de repertório Fred Karno que o levará para os Estados Unidos, quando começa a fazer mais sucesso e inicia a carreira no cinema-mudo. “Quando Chaplin estreia no cinema, em um filme dos Estúdios Keystone, ele já é um artista completo, com um conhecimento muito grande da comédia e, muito seguro de si, começa a dar sugestões. Esse comportamento quase o leva à demissão, não fosse pelo sucesso cada vez maior que seus filmes faziam. O que Chaplin queria na realidade era um refinamento das ações cômicas, um aprofundamento na arte”, acrescenta Erika.

Nasce Carlitos Um teste do diretor Mack Sennett, dos Estúdios Keystone: Chaplin deveria compor um personagem com uma

rápida visita ao camarim apenas com o que encontrasse por lá. “Ele pensou nos contrastes. Se a calça é larga, o paletó é curto e apertado. A bengala, o chapéu e o bigode foram o que ele achou e, quando saiu, era Carlitos que, na realidade, já morava na imaginação de Chaplin desde criança. Carlitos não é um mendigo da cidade como nós o conhecemos; é um vagabundo, um errante”, diz Erika. Luis Otávio Burnier (1956-1995), o fundador do Lume (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp) escreve em um de seus textos: “Carlitos é o clown de Chaplin, pessoal e único, não importando se desempenha o papel de O Grande Ditador, do vagabundo de O Garoto ou do operário em Tempos Modernos”. De acordo com a pesquisadora, Carlitos, ao longo de suas aparições, vai se transformando. “A partir da consolidação do trabalho de Chaplin, também como diretor ele se torna um personagem menos de ‘bater e levar’ em cena para alguém mais humano e romântico”. Depois de O Grande Ditador, em 1940, que seria o último filme de Carlitos, Chaplin responde ao desconforto da opinião pública por suas posições políticas com a apropriação do mito do Barba Azul, em Monsieur Verdoux. “Pois a opinião pública foi a primeira a se encarregar de fazer de Chaplin um Barba Azul, antes mesmo que ele criasse Monsieur Verdoux”, segundo a análise do crítico de cinema e teórico André Bazin no livro Charlie Chaplin, de 2006, que também está na bibliografia da dissertação. Para Érica este é um filme bastante emblemático, e Carlitos continua lá, encarnado em Verdoux. A pesquisadora não procurou analisar os filmes da carreira de Chaplin e por isso a dissertação não avança nesse sentido. A ênfase é a infância e juventude e a criação do clown de Chaplin: Carlitos. Mas, sobre o aparente consenso sobre a classificação “gênio criativo”, a autora adverte: “é claro que concordo, ele foi um grande gênio, um artista gigante. No entanto, que a palavra ‘gênio’ não nos iluda, dando a entender que as ideias, as gags, os filmes de Chaplin surgiram como um insight ‘que caía do céu’. Chaplin encontrou o gênio da sua criação com o exaustivo trabalho de desenvolver todas as suas potencialidades, com muito suor, às vezes até mesmo com temporários e longos períodos de bloqueios criativos. Mas ele procurava e ia burilando sua obra, refinando até a perfeição. E pagou alto preço por isso, pois foi fiel a si mesmo. Aliás, ele não chamava sua obra de ‘minha arte’, mas de ‘meu trabalho’. Com seu trabalho, Chaplin transformou as dolorosas memórias de infância em inspiração para as aventuras de Carlitos, e transformou o seu conhecimento do mundo e da humanidade em conhecimento em arte”.

Charles Chaplin: pantomima construída por meio da observação

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Dissertação: “Carlitos: história de vida e obra de Charles Chaplin” Autora: Erika Lenk Orientadora: Ana Angélica Medeiros Albano Unidade: Faculdade de Educação (FE)

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